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MINHAS PÉROLAS

Somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam.
Confúcio

domingo, 29 de agosto de 2010

UMA ESCOLA CRIATIVA DIZ MENOS “NÃO” ("EDUCAR NÃO É CORTAR AS ASAS, E SIM ORIENTAR O VOO.!!!" – Madre Maria Eugênia)




CRÔNICA

UMA ESCOLA CRIATIVA DIZ MENOS “NÃO” ("EDUCAR NÃO É CORTAR AS ASAS, E SIM ORIENTAR O VOO.!!!" – Madre Maria Eugênia)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela manhã, ao cruzar os corredores da Escola Senador Canedo, deparei-me com um cartaz provocador: “É proibido mini-saia e micro-saia”. Embora a grafia estivesse distante das normas ortográficas, a mensagem taxativa permanecia clara. O aviso arrancou-me um sorriso irônico e despertou reflexões profundas. Qual seria, afinal, a diferença entre mini e micro? Será que algum colegiado pedagógico mediu com rigor os centímetros dessas peças? Contudo, percebi que a questão ia além das medidas: tratava-se de poder, moralidade imposta e da vigilância constante sobre os corpos, em especial os femininos.

Enquanto olhava o cartaz, meus pensamentos se voltaram para as adolescentes, essas jovens em construção, divididas entre insegurança e ousadia. Para muitas delas, vestir-se é mais do que um ato cotidiano: é uma expressão silenciosa, uma busca por aceitação e pertencimento. Porém, o cartaz parecia enviar uma mensagem oposta: “Você não pertence. Não assim, não desse jeito.” Quantas dessas jovens se sentiriam apagadas, reduzidas a regras que ignoram sua singularidade e seus anseios?

A escola, por essência, deveria ser um espaço de acolhimento e construção, não de castração. A máxima “educar não é cortar as asas, mas orientar o voo” ressoava em minha mente, em contraste com as normas arbitrárias e moralismos que podam o potencial criativo e emocional dos alunos. É provável que os idealizadores do cartaz não compreendam que a verdadeira falha está em negligenciar os vazios existenciais desses jovens, preferindo soluções simplistas para problemas complexos.

Essa situação me fez refletir sobre o papel da escola, constantemente sobrecarregada com funções que extrapolam seu escopo original. Em vez de priorizar o desenvolvimento do pensamento crítico, a curiosidade e a construção do conhecimento, as escolas se tornam espaços de controle e vigilância. Os resultados de avaliações como a Prova Brasil e o Saeb ilustram bem essa crise: alunos que enfrentam dificuldades básicas em leitura, escrita e raciocínio lógico, mas que estão cientes das regras para o comprimento de suas saias.

Apesar desse cenário, conheço educadores que desafiam a lógica do controle, apostando na criatividade e no diálogo para transformar o ambiente escolar. Uma professora de matemática, por exemplo, utiliza a calculadora do celular como ferramenta pedagógica. Outra, de sociologia, criou a “colinha educativa”, incentivando os alunos a registrar ideias e insights em seus aparelhos. Essas iniciativas mostram que a inovação é possível quando se prefere o “sim” ao “não”. Concordo com Nathalia Goulart quando diz: “O celular é isso, é uma forma de transmitir conhecimento. Claro que algumas escolas proíbem-no porque não sabem o que fazer com o aparelho.”

Nesse contexto, a adoção de uniformes pode ser uma solução viável para atenuar desigualdades e evitar a imposição de regras sobre vestimentas. Padronizar as roupas ajuda a neutralizar diferenças sociais visíveis, dispensando proibições que muitas vezes alienam mais do que educam. No entanto, mais do que uniformizar, é indispensável investir em uma educação que resgate a autoestima dos jovens, preparando-os para enfrentar os desafios do mundo com autonomia e confiança.

Ao sair da escola naquele dia, as palavras de Madre Maria Eugênia ecoavam em minha mente: “Educar não é cortar as asas, mas orientar o voo.” O cartaz, no fim das contas, era apenas um sintoma de algo maior: uma educação que se desviou de seu propósito essencial. Ainda assim, acredito que é possível resgatar esse propósito, trocando proibições por diálogo e regras por acolhimento. A reflexão da psicóloga Élide Camargo Signorelli também me acompanhava: “Uma verdadeira preparação para a vida reservaria lugar para certo despreparo no sentido de se estar aberto para o desconhecido e para os mistérios.” E, diante dos avanços tecnológicos, atrevo-me a acrescentar: talvez, em breve, os computadores sejam nossos novos professores.


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. Qual a crítica central do autor em relação ao cartaz que proíbe o uso de mini e micro-saia na escola?

2. De que forma o texto relaciona a questão do vestuário com a busca por identidade e pertencimento entre os jovens?

3. Como o autor contrapõe a visão de uma escola como espaço de controle e punição à ideia de uma escola como espaço de acolhimento e desenvolvimento?

4. Quais exemplos de práticas pedagógicas inovadoras são apresentados no texto e qual a mensagem transmitida por esses exemplos?

5. Segundo o autor, qual o papel do uniforme no contexto escolar e qual a solução mais abrangente para os problemas educacionais apontados?



almaquio disse..

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Olá professor Claudeci, esta semana "a escola" ganhou espaço na mídia, mas, como quase sempre acontece, os motivos não são para serem comemorados. Infelizmente, escola virou caso de polícia e o acordo "nota azul" entre Secretaria de Educação e Secretaria de Segurança Pública, recentemente assinado, já carrega uma mancha. Acredito no acordo,na sua necessidade e que o incidente na Escola Alberto Sabin seja um caso isolado, afinal o ambiente escolar tem se tornado em um favorável reduto de marginais. Concordo com seu ponto de vista sobre os "nãos", o problema é que os professores perderam a autoridade que lhes fora tirada e que se tenta resgatar com os "nãos" quase sempre ridículos e infrutíferos. Espero que o problema da educação no Brasil já tenha atingido o fundo do poço, pois caso contrário, ai de nós. A terceirização da educação (preparação para a vida) que você falou em seu texto, feita pelas famílias que renunciaram suas responsabilidades, realmente representa o grande câncer da educação brasileira. Problema está agravado pela desvalorização do professor que é mal remunerado e, vexatoriamente, desrespeitado pelos alunos, pelos pais dos alunos e pelas autoridades. Abraços do amigo Almáquio.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigXUEwKCONQ9NQq-0m0BL0c_tAWT2aZgYazv7BbsRyG5wI8TpSJnqUL4Ye935YepJBKVyi8OF8JGZDyMCXHZqVJr0IC3FjcnqXlmoI53LOOFaEngWlNHlK0RYAJcMlGijj05UHfkV5RzU/s45/1.jpg
Silvana Marmo disse...

Parabéns professor pelo seu blog e escolhas das postagens, esta particularmente me chamou a atenção.

Todos acham que as escolas não devem ter regras, mas a nossa sociedade é feita de regras, por que na escola elas não podem valer?

Bom Domingo!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

CARÁTER CORROSIVO (Cuidado com o vício do não querer saber para não ter responsabilidade!)

Crônica

CARÁTER CORROSIVO (Cuidado com o vício do não querer saber para não ter responsabilidade!)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Por Claudeci Ferreira de Andrade
             Já é uma situação maçante, todas as tentativas de aconselhamento aos meus alunos coletivamente, desestimulando-os do comportamento contraproducente educacional, eles me tratam com desdém, zombam das máximas da filosofia dos grandes mestres que costumo citar e me desanimam dizendo ironicamente: – “Momento do Claudeko”, “Cala a boca Claudeko”, esta última, parafraseando o “Cala boca Galvão”, foram criativos, referindo-se ao locutor esportivo da Rede Globo. Denominei essa perturbação mental de: O vício do não querer saber para não ter responsabilidade.
         Por força da justiça, ninguém pode exigir de uma pessoa mais do que lhe foi ensinado. De quem muito foi ensinado se cobrará muito, para ser justo. O conhecimento toma posse do indivíduo, daí em diante, ele determina o seu modo de viver: sábio ou tolo. A vida tem muito a dizer sobre responsabilidade, mas ela dosa a efetividade ao cobrar o conhecimento do julgado. A questão central aqui é o bom uso do conhecimento adquirido. O mal não é a responsabilidade em si. Porém, o mau desempenho dela, sim, é prejudicial ao caráter! Quem vai fazer qualquer coisa, faça-o bem na medida de todo conhecimento disponibilizado. Nesse ponto, não há diferença entre o receptor de muito conhecimento e o receptor de pouco. Seja perfeito em sua esfera!         Há duas possibilidades: ser um aluno sedento do aprender ou não. Quando nós professores precisamos tratar com alunos, preferimos a primeira classe: os que querem. Não somos atraídos por alunos desinteressados do saber, acarretando em o cumprimento minimamente das suas responsabilidades, desperdiçadores de energias úteis demais para outros. Do tipo de Jeca de Monteiro Lobato: "Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço". São alunos ladrões de nossa paciência, da vocação e até da vontade profissional, ainda que tenhamos direito do respeito e atenção no papel de professor.         Por outro lado, procuram chamar a atenção dos colegas promissores que têm objetivos nobres com sua indiferença. Todavia os carentes de atenção se preocupam em desviar os olhares para si mesmos, só com a desvirtude de atrapalhar o bom andamento da aula, com direito a admiradores,  isso torna se um vício. O perigo está, pois, na perversão de um desejo normal de obter prestígio.         Infelizmente não tenho como embasar meu argumento com um caso especial, pois são tantos que na minha mente estão generalizados. Talvez, minhas aulas não sejam tão estimuladoras, é verdade, mas uma coisa puxa outra. O desânimo deles dilui o meu. E ainda jogam a culpa em mim, estando eu profissionalmente no exercício do meu dever, tendo que suportar também colegas carentes de poder!         O incidente é pleno de adversidades. Desperdiçam o tempo por fugir das responsabilidades. Traem seu senso do direito por faltar com suas obrigações. Ou como disse o John Lennon: "A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor."
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 24/08/2010
Código do texto: T2456286

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

ComentáriosComentar


28/08/2010 22:08 - Miralva Viana
Olá!Claudeko, Essa "sorte" não é só sua, centenas de educadores passam por isso. Não desanime. Procure conversar fora da sala de aula com eles para saber dos seus anseios e sonhos, depois, ajude-os. Gostei do texto, poeta. Abraços!


24/08/2010 10:45 - Erty
muito bom,abraço.

sábado, 14 de agosto de 2010

AULA PREFERIDA ("AI DA ESCOLA SE NÃO FOSSE A BOLA")










AULA PREFERIDA ("AI DA ESCOLA SE NÃO FOSSE A BOLA")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma sexta-feira, 13 de agosto de 2010, um dia que ficaria gravado na minha memória. A expectativa dos alunos do 8º ano "A" era alta, pois acreditavam que teriam aula de Educação Física no último horário daquela tarde. No entanto, para surpresa deles, a aula que se seguiu foi de Língua Portuguesa. Quando cheguei à sala, a confusão se instalou e a gritaria tomou conta do ambiente. Inconformados, os alunos levaram o caso até a secretaria da escola, exigindo explicações.

Recordo-me dos meus tempos de estudante, quando as aulas de Educação Física eram vistas como qualquer outra disciplina. Jogávamos bola, sim, no pátio, mas sem o fanatismo que vejo hoje. Lamento dizer, mas nunca me inspirei nos meus professores de Educação Física, a maioria deles estava acima do peso, desde aquele tempo.
O perigo surge quando os alunos começam a valorizar mais o lazer do que o estudo. No ano passado, presenciei uma rebelião no pátio do colégio, tudo porque os jogos interclasses foram adiados. A inversão de valores na educação é preocupante. Vivemos em uma sociedade que cada vez mais se apega às futilidades, e a escola parece seguir o mesmo caminho.
"Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes..." (2 Tm 3:1-9). Quando as pessoas estão dispostas a sacrificar a integridade para satisfazer seus desejos, a vida perde o significado. Lembro-me das palavras do professor João José da Silva: "É um absurdo um professor trabalhar nos dias que a Seleção brasileira entra em campo!" Segundo ele, é uma questão de educação! Lembrando que ele nem é professor de Educação Física...
Por aqui, alunos que raramente aparecem nas aulas tornam-se assíduos na última semana do ano letivo, pois é época do torneio interclasse. Alunos que não gostam de estudar, porém, adoram as aulas de Educação Física. Neste ano, é determinação da Seduc para que os colégios realizem o interclasses logo no início do ano letivo, na esperança de diminuir a evasão escolar, mas isso só reforça essa tendência... Matam aula dentro da escola! O ano estará comprometido.
No final das contas, o que fica é a reflexão: estamos formando cidadãos produtivos ou apenas jogadores de futebol? A resposta a essa pergunta pode definir o futuro da nossa educação.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

EGOÍSMO, A ESSÊNCIA SALVADORA DA INDIVIDUALIDADE ("No fundo no fundo, somos todos egoístas e insensíveis." — João Brito)



Crônica

EGOÍSMO, A ESSÊNCIA SALVADORA DA INDIVIDUALIDADE ("No fundo no fundo, somos todos egoístas e insensíveis." — João Brito)

domingo, 28 de fevereiro de 2010
Por Claudeci Ferreira de Andrade

       Deus existe para Si em Sua plenitude, porque não tem outro Deus com quem partilhar. E em Sua onipresença e expansibilidade não há espaço fora de Si para olhar, senão dentro de Si mesmo. Assim sendo, o egoísmo é tudo de bom restante de Deus no homem. Valorização totalitária da exclusividade. Mas, há mal em o homem se perguntar: quem sou eu? Não significa estamos fora de um plano existencial! Ou temos medo de nos percebermos deuses e não precisarmos de Deus? Ou ainda de não dar conta da consciência de nossa própria identidade! E mais, O que acontecerá ao homem ao almejar posições elevadas entre os outros (status) e alimentar desejos de reconhecimento, e até exagerar em expor sua própria importância?
       O que é autoestima, senão a exaltação exagerada do ego! Entre meus alunos, estamos sempre premiando os melhores; nas empresas, o melhor funcionário; no esporte, o campeão! Enfim, tudo isso inspira a sã inveja: querer ser melhor sobre o outro.  Assim a religião é senão uma forma de buscar exaltação e glória pessoal! Em suma, o culto ao próprio eu!
       O destino está sempre nos oferecendo oportunidade a fim de massagearmos nosso eu, toda aventura da vida é um contínuo desafio sobre alimentarmos o eu e virarmos para dentro de nós mesmos. Já faz muito tempo que pratico essa "masturbação"! Depois de ler na Bíblia sobre não ser bom o homem estar só, estou mais procurando agradar os outros, mesmo sendo por motivo egoísta: minha felicidade!
       Taxaram-me de egoísta por não querer ter filhos. Também me criticaram por eu tentar descobrir sabre o dia em que vou morrer para usufruir do meu patrimônio e não deixar aos parentes! Afinal, esses críticos idiotas entendem de egoísmo? Nada! Senão, deixar liberar inconscientemente seu avolumado egoísmo, tentando se mostrar melhores seres humanos.
       A humildade é a mais requintada manifestação de egoísmo, o padecente tenta vencer pelo caminho mais difícil, Já pensaram se todos fossem humildes! Que seria da boa medida do egoísmo ou não seria egoísmo demais ser o único a morrer pelos outros?
       O sentido da vida é o egoísmo! Eu estava a beira do suicídio, contudo desisti de morrer, porque achei um grande amor só para mim e, agora, estou seguro. Não vejo longe, mas agora cada dia de minha vida me considero um único milagre de mim mesmo. 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 28/02/2010
Código do texto: T2112003

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