O dia começou como qualquer outro, mas logo se transformaria em um pesadelo. A escola, que deveria ser um espaço de aprendizado e crescimento, tornou-se palco de um ato de violência brutal. Um aluno, movido por uma fúria inexplicável, atacou o coordenador do Programa Mais Educação, desferindo-lhe uma facada fatal no abdômen. Era 30 de agosto de 2019, e a banalidade do motivo por trás desse crime evidenciava a crescente desvalorização da vida.
Lembro-me de outros incidentes semelhantes, cada um mais perturbador que o anterior. Em 28 de agosto de 2018, um adolescente de 14 anos esfaqueou outro de 13 no Centro de Ensino Fundamental 19, em Ceilândia. A discussão entre os dois escalou rapidamente, resultando em ferimentos graves no peito e no pescoço da vítima. Pouco tempo depois, em 24 de setembro do mesmo ano, um jovem de 17 anos foi baleado na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. A briga começou próximo ao colégio, e a vítima foi atingida no braço, no peito e no tórax. E como esquecer a tragédia de 3 de dezembro de 2018, quando uma desavença entre duas mulheres terminou em morte na Escola Municipal do Pedregal, em Novo Gama? Jéssica Oliveira invadiu a escola e assassinou Fernanda Xavier a facadas, após uma briga iniciada nas redes sociais.
A violência nas escolas tornou-se um triste reflexo da nossa sociedade. Em 30 de abril de 2019, o professor e coordenador Júlio César Barroso de Sousa foi baleado e morto por um aluno no Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso. O aluno o atacou após uma briga com uma professora, prometendo vingança e cumprindo sua ameaça de forma cruel. Esses incidentes, cada vez mais frequentes, transformaram as escolas em verdadeiros campos de batalha, onde a educação e a segurança são constantemente ameaçadas.
Enquanto isso, dentro das salas de aula, as cenas são igualmente perturbadoras. Professores amarram alunos às cadeiras; outros colocam caixas de papelão sobre suas cabeças para evitar que colem nas provas. Houve até um caso em que uma comemoração festiva terminou com vários alunos no hospital, vítimas de "boa noite Cinderela" na bebida. A pergunta que fica é: como chegamos a esse ponto?
O que testemunhei e vivi nas escolas vai além da minha compreensão. Ninguém merece uma facada, mas até o presidente Bolsonaro foi alvo de um ataque por motivos políticos. Eu mesmo carrego uma cicatriz no abdômen, resultado de uma cirurgia para remover um câncer no intestino (mas esta foi de alguém bem-intencionado). No entanto, a escola, ao aceitar marginais comprovados como parte de seu corpo discente, provoca a ira da comunidade escolar com futilidades didáticas, como a proibição de bermudas, bonés e celulares, tentando disciplinar o indisciplinável.
A cada novo caso de violência, questiono o futuro da educação. A Secretaria de Educação obriga as escolas a matricular e paparicar reincidentes, transformando a vida escolar em um verdadeiro inferno. As consequências disso são advogados caros e indenizações para os "inocentes". E nós, os educadores, apenas lamentamos e recolhemos os mortos, tanto física quanto emocionalmente.
"Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo." Estas palavras de Mateus 23:23-24 ecoam em minha mente enquanto reflito sobre as injustiças e a hipocrisia que permeiam nosso sistema educacional. A raiva e o estresse minaram minha saúde, e o câncer, um adenocarcinoma, fez seu ninho em meu corpo já exausto. Minha persistência é uma prova da minha dedicação. Mas agora, só posso esperar que meu fim seja melhor do que o de outros professores que já morreram nas escolas.
Abaixo a pedagogia da facada! Não preciso disso para ser o que Deus quer que eu seja: professor de quem não quer estudar. Não sei no que me tornei, apenas sou. E minha esperança é que Deus não precisa de mim para fazer algo por mim, então peço-Lhe socorro. As pessoas insistem em ajudar o Deus delas, defendendo-O com argumentos humanos. Que suas preces, também, servissem para me curar.
E assim, resta-nos refletir sobre o preço da indiferença e da violência. A sociedade precisa olhar para dentro e se perguntar: como tratamos os mais vulneráveis entre nós? Como podemos transformar a educação em um verdadeiro instrumento de paz e crescimento? Essas são as perguntas que deixo, esperando que, um dia, encontremos as respostas.
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Questões Discursivas sobre Violência nas Escolas e o Futuro da Educação:
1. Violência nas Escolas: Reflexo da Sociedade e Ameaça à Educação
a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, analise os seguintes pontos:
A banalização da violência: Como a banalização da violência na sociedade se reflete no ambiente escolar, culminando em atos brutais como o assassinato do coordenador do Programa Mais Educação?
A escola como campo de batalha: Quais os fatores sociais e culturais que contribuem para a transformação das escolas em ambientes de insegurança e medo, onde a educação cede espaço à violência?
A culpabilização das vítimas: De que forma a culpabilização das vítimas de violência, como a punição com medidas disciplinares rigorosas, contribui para a perpetuação do ciclo de violência nas escolas?
b) Propondo soluções:
Prevenção da violência: Que medidas podem ser tomadas no âmbito escolar, familiar e social para prevenir a violência nas escolas, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para todos os alunos?
Educação para a paz: Como a educação pode ser utilizada como ferramenta para promover valores como o respeito, a tolerância e a resolução pacífica de conflitos, combatendo a cultura da violência na sociedade?
O papel do Estado: Quais as responsabilidades do Estado na garantia da segurança nas escolas e na promoção de uma educação de qualidade para todos os cidadãos?
2. O Desafiante Papel do Educador em um Cenário de Violência e Injustiças
a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, explore as seguintes questões:
A sobrecarga e o desamparo dos educadores: Como a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos e o desamparo institucional contribuem para o sofrimento dos educadores, como no caso do autor do texto que enfrenta um câncer e ainda precisa lidar com a violência nas escolas?
A hipocrisia e as injustiças no sistema educacional: De que forma a hipocrisia e as injustiças no sistema educacional, como a obrigatoriedade de matricular alunos reincidentes em atos de violência, afetam a saúde mental e emocional dos educadores?
A busca por um futuro melhor: Que medidas podem ser tomadas para valorizar a profissão docente, garantir melhores condições de trabalho e criar um ambiente educacional mais justo e humanizado?
b) Reflexões sobre o papel do educador:
A missão do educador: Qual o papel fundamental do educador em um contexto social marcado pela violência e pelas desigualdades? Como os educadores podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica?
A importância do autocuidado: Como os educadores podem cuidar de sua saúde mental e emocional para lidar com os desafios da profissão e manter a força para continuar sua missão?
A busca por apoio e solidariedade: Quais os mecanismos de apoio e solidariedade que podem ser disponibilizados aos educadores para que se sintam amparados e acolhidos em sua árdua missão?