VELHO TARADO E SAFADO ("Prostituição não é vender o corpo. É vender a dignidade." — Adriana Cristina Razia)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Há dias em que me pergunto por que continuo nessa profissão. O sinal toca, e lá vou eu, arrastando meus pés cansados pelos corredores da escola, carregando não apenas meus livros, mas também o peso de anos de experiência e desilusões.
Entro na sala de aula e sou recebido por olhares entediados e alguns xingamentos murmurados. Finjo não ouvir. Afinal, o que esperar de adolescentes que estão ali por obrigação, não por vontade própria? Finjo precisar ir ao "banheiro", olho para o espelho quebrado no miquitório masculino e vejo o reflexo de um homem envelhecido, com rugas que contam histórias de noites mal dormidas corrigindo provas e preparando aulas.
"Professor, o senhor tá fedendo!" grita um aluno que passou por mim. Alguns riem, outros fingem não ouvir. Respiro fundo e retorno à sala. Meu "feromônio podre", como costumo chamar, parece incomodar até os cachorros de rua. Mas hoje, ele é minha proteção, ele se protegem de mim, então não preciso me proteger dele. Num mundo onde professores jovens e bonitos são alvo fácil de acusações infundadas, minha aparência e idade se tornaram meu escudo. Apesar de que, não falta quem acusaria um velho feio e sem atrativos de assédio ou pedofilia!
Já ouvi alunos me xingarem até de "velho tarado e safado". Não me dei ao trabalho de me preocupar com a acusação indireta. Esses desrespeitadores são tão ignorantes que nem são capazes de perceber a contradição de sentido entre essas duas características: velho e tarado, sendo que existindo uma não existe mais a outra.
Finalmente começo a aula, tentando ignorar os comentários maldosos. Falo sobre história, literatura, sobre a vida. Poucos prestam atenção. A maioria está mergulhada em seus celulares, absortos em um mundo virtual que parece muito mais interessante que o real. Eles não confiam em nossos ensinamentos, sabem que não fazem por merecer e continuam com seus maus comportamentos, pois têm certeza de que não serão punidos.
Às vezes, em momentos de fraqueza, me pego pensando, se não seria melhor desistir. Cheguei a dizer que preferia ir para o inferno em vez do céu cheio de crentes fanáticos de mente suja. Como é possível ser um bom professor para o sistema educacional público sem comprometer a minha dignidade?
Mas então, no meio da aula, acontece. Um olhar curioso, uma pergunta inteligente, um sorriso de compreensão. E lembro por que estou aqui. Por aquele único aluno que se interessa, que aprende, que cresce.
O sinal toca novamente. Fim da aula. Saio da sala, carregando comigo não apenas meus livros, mas também a esperança de que, talvez, tenha feito alguma diferença hoje. No caminho para casa, um cachorro late para mim. Sorrio. Meu "feromônio podre" continua funcionando. E enquanto ele existir, continuarei sendo o professor que sou. Imperfeito, cansado, mas ainda acreditando que a educação pode mudar o mundo. Mesmo que seja um aluno de cada vez.
1. O texto apresenta uma visão complexa e desafiadora da profissão docente, expondo as dificuldades e frustrações do dia a dia, mas também revelando momentos de esperança e realização. Através da narrativa do professor, quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais da educação no contexto atual?
2. Em meio às dificuldades e desilusões, o autor encontra motivação para continuar atuando como professor ao presenciar momentos de aprendizado e crescimento em seus alunos. Descreva esses momentos e explique como eles reavivam a esperança do professor e o impulsionam a seguir em frente.
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