"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O NOVO BRASIL DAS REVOLTAS ("O gigante acordou" mais pobre, brigando por vinte centavos!)
























O NOVO BRASIL DAS REVOLTAS ("O gigante acordou" mais pobre, brigando por vinte centavos!)

Quinta-feira, 26 de junho de 2013
Por Claudeci Ferreira de Andrade
          Desejaram-me um feliz Brasil velho. O velho Brasil  de outrora com sua carga de boas recordações que perdurará para a eternidade, e continuará sendo sempre o melhor. Que todo pensamento, todo sentimento, agora sejam das boas lembranças do que passou. Tenho uma feliz lembrança após a outra; só assim amenizo as algozes interrogações do presente momento: Que novo Brasil das revoltas é esse!? O PASSADO NÃO RECONHECE O SEU LUGAR. Então, tenho que concordar com Simeyson Silveira quando disse: "Não consigo entende quem procura obter pela força o que pode ser conseguido pela persuasão, nem quem prefere a violência, quando a concórdia é igualmente eficaz. Onde reina a violência, a razão se aniquila." (Brasil. O povo vai às ruas em busca de quê? DM-OP 26/06/2013).
          A evidência da necessidade que tenho, do cuidado e do amor de Deus em dose dupla, a cada instante vindouro, é expressa na desestruturação causada pela já prevista destruição do patrimônio físico e moral dos brasileiros. O meu olhar calejado demora-se sobre um vácuo, ou melhor, num vazio e num horizonte novo e incerto, onde tudo me faz desejar a situação anterior. Como diz o outro: "eu era feliz e não sabia". Ouço sobre maldição, sobre a pobreza que tem sido provida tão abundantemente para dificultar nossa sobrevivência neste mundo de bonança e me pergunto: em que consiste a minha parte na grande trama da politicagem reinante? É que, ainda, contudo, me desejaram um feliz ontem! Eu também como peregrino, como estrangeiro em busca da estabilidade, trago-lhes a alegria do velho Brasil, e digo-lhes que busquem razões para praticar bons princípios inabaláveis e depois podem me esquecer se puder. Considerando as provisões feitas por nós, e falando sobre os benditos momentos passados, não se esqueçam também dos novos aborrecimentos e aflições desta vida vindoura. Nesse particular  parecemos respirar a mesma atmosfera destes últimos dias: o melhor, porque ainda nos resta este! Assim ficamos aliviados e confortamo-nos uns aos outros; mais do que isso, regozijamo-nos em Deus.
          Não poderíamos conhecer o que nos acontecerá no futuro, a não ser pelas experiências do passado, pois é somente por elas que sabemos o que está preparado como uma colheita infalível. Como as flores, na sábia disposição de Deus, estão constantemente extraindo as propriedades do solo rico de restos mortais, assim é conosco. Extraímos das vivências passadas toda a paz, conforto e esperança que desenvolverão em nós os frutos da alegria e da fé. Ao trazer essas cicatrizes à nossa vida presente, sempre as comunicamos à vida dos outros, por isso, também, desejo-lhes um feliz passado. Devo me aquietar esperando do novo, desconhecido, uma melhor saída das tribulações? Que preciosas lições de otimismo, ética e cidadania vocês têm para me ensinar do meio dos tumultos e gritarias das ruas? Outra coisa que temos em comum: confiamos serenamente em Deus e O louvamos por nos ter dado tais revelações de sua vontade e propósitos, através da Bíblia Sagrada: "Os homens escarnecedores abrasam a cidade, mas os sábios desviam a ira. Um tolo expande toda a sua ira, mas o sábio a encobre e reprime." (Pv. 29:8,11).  Para que prossigamos nesta vida com segurança, apesar do caos: Pós-revoltas; é preciso obediência e disciplina. Disse Platão: "Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado."

Encaminhamento de percepção

 1-Devemos nos aquietar esperando do Novo Brasil uma melhor saída das tribulações presentes, com a metodologia das revoltas?
 2-Que preciosas lições de otimismo, 
ética e cidadania  você tem para ensinar do meio de uma passeata dessas?
 3- Depois de assistir aos noticiários sobre o acordar do gigante, se você fosse saudado  com um “feliz Brasil velho” ainda sentiria dificuldade para dizer que era feliz e não sabia?
 4- O que o texto revela sobre as implicações da transição dos tempos, considerando a passagem de uma “era velha” para uma “era nova”?
 5- Justifique o título com a situação dos que receberam pedradas, tiros com bala de borracha, comércio depredado, a moral vilipendiada, a isolação, o afastamento e o desemprego.
7- O que aconteceu digno de repetição do impeachment de Collor até o passe livre no transporte público?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 23/07/2009
Código do texto: T1714555

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

HIERARQUIA ÀS AVESSAS



 

 

 

 

 

 

 

 

HIERARQUIA ÀS AVESSAS

Por Claudeci Ferreira de Andrade


           Ouvi de minha coordenadora pedagógica, que ali, naquele colégio, havia professor que fazia um rascunho de suas provas com respostas, porque não as sabia e precisaria “colar” para corrigir as respostas dos seus alunos. Fiquei indignado. Seria essa uma forma pedagógica de orientar um professor!? Eu sempre fiz gabarito para facilitar a correção das provas de meus alunos, que são muitas. Minha preocupação foi tamanha, que me levou a entrevistar alguns colegas. Contei o incidente à professora de sociologia e perguntei se ela entendeu a observação da professora-coordenadora. Ela pensou e disse:
           — Eu a comparo com uma assistente social de uma grande cidade, que descobre um homem velho e andrajoso, vivendo na mais completa miséria, num escoadouro abandonado. Essa assistente resolve, então, fazer algo por esse ancião; ela lhe proporciona um banho e novas vestimentas, coloca-o num confortável lar para a velhice. Alguns dias depois, o velho desaparece. Volta para o seu abrigo anterior, alegando ter acostumado a viver naquele lugar. Assim é um professor de muitos anos de classe.
           Seria verdade que ela falou de mim! Sou um professor de um bom nível (Pós-graduado), cheio das titularidades, apesar de mergulhado numa rotina: é assim que sempre funcionou.
           Desta vez, fui ter com o professor de história. Contei o incidente, a comparação da socióloga e perguntei o que ele pensava disso:
           — Por isso penso que, na escola, ainda, estamos há alguns séculos, durante o feudalismo no Japão, quando era costume um homem carregar seus idosos pais ao alto de uma montanha e deixá-los ali, para morrerem de fome e frio. De acordo com esse costume, quando uma pessoa completava setenta anos de idade e não era mais produtiva, a sociedade não tinha mais nenhuma obrigação para com ela. O sistema vai lhe vomitar, é só uma questão de tempo.
           É, se bem que a coordenadora devia ter um pouco de paciência comigo. Vai ver, talvez, nem seja eu! Ela sempre fala a mesma coisa para muita gente. Até porque eu sou um professor tradicional e um tradicional gosta do outro!
           No dia seguinte, falei com o professor de ciências e contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador e perguntei o que ele pensava disso:
           — No meu tempo de aluno no colegial, conheci um mágico. Um de seus truques consistia em esvaziar reiteradas vezes um jarro de água sem acrescentar-lhe a menor quantidade desse líquido. Não sei exatamente como ele fazia isso com um jarro de vidro transparente; mas, se estou bem lembrado, toda vez que ele esvaziava o jarro, a quantidade de água despejada era menor do que na vez anterior. Esvaziar-se do próprio eu assemelha-se em alguns aspectos com o que o mágico fazia: você é o jarro do mágico; um velho profissional que se mostra cheio, mas oferece um conteúdo cada vez menor.
           Eu não sou egoísta, apenas não deprecio a mim mesmo e não estou centralizado no meu próprio eu. Será que minha própria pessoa não deve, portanto, receber a mínima consideração?
           Outra vez, falei com alguém; contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador, a ilustração do professor de ciências e perguntei o que ele pensava disso:
           —Acho que para um escultor deve ser um problema dificílimo pegar um pedaço de mármore recusado, há anos, por um outro escultor mais talentoso, com uma figura parcialmente acabada e transformá-lo naquela que ele tem em mente, uma perfeita estátua. Você veio de outras mãos que desistiram, depois de tanto tempo precisa-se de um milagre para fazê-lo um espetáculo.
           Não, não me acho intratável, além do mais, quero melhorar. Bastava ela dizer que era eu o tal professor e eu não faria mais gabarito.
           Naquela noite, falei com o Cristo e contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador, a ilustração do professor de ciências, a fala do alguém e perguntei o que Ele pensava disso:
           —Eu, com esse incidente, ampliei sua capacidade de amar, porque, tanto para ensinar quanto para aprender, precisa-se de amar. Ninguém jamais deu tão grande lição de amor como Eu: ao deixar sem condenação a mulher adúltera; ao fazer do ladrão um amigo crucificado ao Meu lado; ao perdoar alegremente a Pedro que Me negara; ao orar pelos que Me crucificaram. A minha norma de amor prefere um pecador que ama a um “santo” que não ama. O amor vem de outra demonstração de amor. Sua capacidade de amar a outrem está na medida em que deixe que Eu o ame, ou melhor, está na raiz de nosso relacionamento. Aprouve-Me redimi-lo a fim de torná-lo uma pessoa amorável. O Meu amor perdoa todos os seus pecados: triunfa sobre todo o egoísmo do coração, sobre sua impaciência, hostilidade, ressentimento, inveja, ciúmes. Eu sou o professor de todos os tempos. Também sou tradicional.
           Depois desse encontro, nunca mais falei sobre o incidente. Lembrei dele quando assisti ao retorno da coordenadora à regência em sala de aula. Posteriormente, soube que ela solicitou uma vaga para a coordenação novamente, pois não conseguia mais lecionar (Os coordenadores pedagógicos são assim, põem-nos na sala de aula, e eles contratam um substituto atrás do doutro) — A indisciplina estava demais.

 Encaminhamento de percepção

 1- Segundo a coordenadora pedagógica, o rascunho para colar é prática de quem não tem capacidade. Você concorda?
 2- Um professor com experiência de muitos anos em sala de aula(tradicional) está inadequado para “dar aulas” nos dias de hoje?
 3- A que se atribue a atual indisciplina em sala de aula e a falta de vontade do aluno para o aprendizado?
 4- Por que as ações de um coordenadora pedagógica transformam tanto sua unidade escolar, tornando-a obsoleta quando no futuro esta retorna à regência em sala?
5- Pedagogo lecionando para o Ensino Médio é leigo, e o Licenciado em outra área, exercendo função de coordenador pedagógico é o quê?
6- Se a escola existe para hierarquizar as pessoas na sociedade ascendentemente, por que um graduado em pedagogia coordena um doutor em linguística que está em sala de aula lecionando?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 22/07/2009
Código do texto: T1713722

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)



PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)

segunda-feira, 29 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade


          Às vezes, sem querer, ouvimos comentários constrangedores. Eles vêm, quase sempre, de quem aplicou alguma desforra em alguém. Para esse ostentador, independente de quantas pessoas estejam ouvindo, é um culto ao seu ego. Em uma dessas circunstâncias, na biblioteca de uma das escolas em que trabalho, ouvi o seguinte diálogo entre duas pedagogas, coordenadoras de duas escolas vizinhas:

          — Menina, você não sabe o que me aconteceu ontem no matutino! Uma turma lá fez bagunça demais, e a diretora, como castigo, me convocou para dar a sexta aula nessa turma. Eu disse não; imagina compartilhar o castigo com eles! Então, ela chamou um professor que passava por ali, exatamente aquele comissionado que não pode perder o emprego. Coitado, os alunos saíram da sala, e ele ficou falando sozinho! Agora pense se isso acontecesse comigo, eu hein!? Mas, eu sou de sorte mesmo, sabe que o próximo sábado é letivo, né?! Como sexta-feira é feriado, Paixão de Cristo, quando a maioria dos professores viajará, então a “Parada Pedagógica” já ficou agendada para o primeeeeeeeiro de abril!

          — Ah, não! Melhor foi a minha de ontem no noturno! Como você sabe, já estava instalada uma pequena desavença entre a diretora e todos os demais professores, uma espécie de resistência à substituição do bom diretor que nós tínhamos. Mas, para completar, sabe aquele tal professor técnico de apoio para disciplina de Língua Portuguesa, lá da Secretaria de Educação? Você conhece a peça! Pois é, dessa vez, ele trouxe uma advertência à gestora, dizendo que depois de três meses de aulas, ainda, tinha uma professora ali que não a conhecia. Como a diretora fazia-se de inocente, negando-se a acreditar; o clima estava ficando morno, prontifiquei-me de imediato a chamar a tal professora para esquentar mais ainda, afinal sou a coordenadora. Não é nem por que não goste dela, mas é que eu não gosto mesmo é dele, porém, antes então, adiantei algumas coisinhas para Rosetear a professora em questão. Quando chegamos, ela já entrou na diretoria possuída pelo Demônio, disse tudo como se desferisse uma rajada de metralhadora. A diretora coitada, amoral, só concordava com os negativos e positivos, não ficou um naquele local sem que não fosse atingido pelos espinhos Letíficos de quem não temia consequência alguma. Você não imagina como ficou o representante da Secretaria de Educação. Senti pena; ele nem sequer levantou a cabeça, estava arrasado, mesmo que quisesse retrucar alguma coisa, não houve jeito, a protagonista não queria ouvir mais nada. Saiu de supetão, assim como entrou, largando todos nós na sala em uma atmosfera de pós-guerra, só destruição. Achei muito bom! Maravilhoso! Esse tipo de pessoa, que se acha melhor que a gente, só porque trabalha na Secretaria e, por isso, quer nos enfiar tudo de “goela a baixo”, merece o pior! Olha, ela fez o que eu sempre quis, porém nunca tive coragem, ou melhor, oportunidade. Agora estou, como se diz, "de alma lavada".

          Lamentei por estar ali, aquele era o local errado e o momento errado. Mas onde seria certo? As coordenadoras queriam-me como público ou, talvez, como uvas no lagar, esmagando-me indiretamente, mas a escola é um lugar público e político, portanto democrático. E em nome dessa democracia, digo que por sermos apenas colegas é que não guardei seus segredos.

Encaminhamento de percepção

 1-Na primeira locução, que atitude foi mais ética: da diretora que determinou o castigo para os alunos com a sexta aula, ou da professora coordenadora que se recusou ir para a sala de aula, ou do professor que não impôs autoridade sobre a turma, cumprindo a ordem da direção? Justifique.
 2-Todo bom profissional defende sua categoria, mesmo considerando algumas falhas. Nesse sentido, o que está incoerente no texto?
 3-Se você estivesse no lugar do narrador personagem, que atitude tomaria como bom profissional? Por quê?
 4-Que lições de ética podemos aprender com esses personagens? Comente.
 5- Existe uma distinção no texto entre profissionais “apenas colegas” e profissionais "amigos". Até que ponto devemos ser leais a este ou aquele que trabalha conosco?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/07/2009
Código do texto: T1688191

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

O SISTEMA DA MARIA (Se a Maria não vai com as outras, o sistema não anda)










O SISTEMA DA MARIA (Se a Maria não vai com as outras, o sistema não anda)

por Claudeci Ferreira de Andrade
  
Conhecemos a palavra grega Paidagwgos da qual veio, em transliteração aceitável, a nossa palavra Pedagogo. Essa no original é formada por duas outras palavras pais (Criança) e agwgos (Conducente). No sentido etimológico dessa palavra, o antigo pedagogo era um escravo incumbido de conduzir as crianças à escola.

  Não faz muito tempo assim, surgiu o novo papel do pedagogo: aquela pessoa da equipe escolar que responde pela operacionalização da proposta pedagógica da escola, pelo acompanhamento e orientação do trabalho desenvolvido pelos professores, pela qualidade do processo de ensino e pelo sucesso da aprendizagem dos alunos. Mas, a Maria prefere não ir com as outras. Ela é efetiva e com Licenciatura em Pedagogia; prefere orientar os seus professores de Matemática, Línguas e Ciências Biológicas por velhas metodologias. Ela tem experiência de muitos anos no magistério e prefere não se atualizar. Maria é reconhecida na comunidade escolar como uma profissional comprometida com o sucesso da escola, mas prefere emperrar os projetos, substituindo-os pela improvisação. Ela tem liderança expressa na capacidade de interagir com os vários segmentos da escola, mas prefere se valer disso para articular fofocas, mediante um processo marcado pela desconfiança. Ela revela capacidade de motivar os outros profissionais da escola, de modo a formar neles o gosto pelo estudo, pela troca de experiência e pela discussão coletiva, mas prefere lhes entregar os velhos livros didáticos e dizer: — se vire. Maria é autoconfiante, mas prefere demonstrar vaidade, presunção e arrogância. Ela tem domínio do conhecimento pedagógico e dos processos de investigação que possibilitam o aperfeiçoamento da aprendizagem, mas prefere não se envolver com cursos de capacitação e novas tecnologias. A última que ela aprontou, contou-me a própria professora da Educação de Jovens e Adultos, para a disciplina de ciências. — Proibiu-nos de passar qualquer filme para nossos alunos, pois “ela já não aguentava mais enrolação”; então usou seu respaldo profissional e tomou essa decisão. Só porque eu havia passado “O auto da Compadecida”, e um aluno pediu para sair, pois precisava chegar em casa mais cedo, ela interpretou isso como motivador de evasão, e eu: professora do ócio. O que você acha?

  Bem, o que eu acho é muito particular, mas penso que este é um caso de crise de identidade profissional, de fácil resolução. O tempo encarregar-se-á disso, assim como um adolescente torna-se adulto automaticamente. Porque a Maria também é do Sistema.

Encaminhamento de percepção

 1-Ao perfilar a coordenadora pedagógica Maria que atributos consideraria ideais?
 2-Em que circunstâncias, usar o vídeo em sala de aula pode prejudicar a aprendizagem?
 3-Que motivos teria um coordenador pedagógico para agir dessa forma?
 4-Cursos de capacitação e aperfeiçoamento em novas tecnologias possibilitam a qualidade do ensino? Por que Maria não se submetia a isso?
 5-A busca de identidade por um adolescente o leva a muitas aventuras, com essa analogia o narrador pretende uma escola aventureira? Em que sentido?
 6-A Maria é do sistema, ou é o sistema da Maria, ou a Maria é o próprio sistema?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/07/2009
Código do texto: T1686437


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.” Bertolt Brecht)
























BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.” )

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã ensolarada de fevereiro quando cruzei os portões da Escola Municipal Monteiro Lobato pela primeira vez. O ar estava carregado com o cheiro de giz e expectativas, típico do primeiro dia de aula. Enquanto caminhava pelos corredores em direção à sala dos professores, minha mente vagava entre memórias de outras escolas e a curiosidade sobre o que me aguardava neste novo capítulo.

Ao entrar na sala, fui recebido por um burburinho animado. Meus novos colegas estavam reunidos em torno da diretora, Dona Marta, uma senhora de óculos de tartaruga e ar severo. Aproximei-me silenciosamente, captando fragmentos da conversa sobre as normas para o bom andamento dos trabalhos daquele ano.

"...e lembrem-se, o uso de bonés está terminantemente proibido nas dependências da escola", declarou Dona Marta, seu tom não deixando margem para discussão.

Senti um nó se formar em minha garganta. Aquela regra, aparentemente inofensiva, trouxe à tona uma lembrança que eu havia guardado no fundo de minha mente. A história de Luzito, um aluno do sexto ano da minha última escola, começou a se desenrolar diante de meus olhos como um filme.

Luzito era um garoto franzino, de olhos vivos e sorriso fácil. Seu boné inseparável, estampado com o emblema de seu time do coração, era como uma extensão de seu ser. No terceiro dia de aula, ele foi mandado de volta para casa com uma advertência: só poderia retornar acompanhado do pai.

No dia seguinte, presenciei uma cena que mudaria para sempre minha perspectiva sobre regras escolares. O pai de Luzito, Sr. Ignácio, um homem de mãos calejadas e olhar cansado, entrou na sala da diretora. Sua voz, rouca e emocionada, ecoou pelos corredores enquanto ele contava sua própria história.

"Eu também fui expulso da escola por causa de um boné", disse ele, com os olhos marejados. "Disseram que eu poderia esconder drogas nele, que eu usava para cochilar na aula, que provocava violência. Mas sabe o que esse boné realmente escondia? Minha insegurança, minhas espinhas, meu medo de não ser aceito."

Sr. Ignácio continuou, explicando como aquela experiência o afastou dos estudos: "Estudei só até a quinta série! Depois que acabou minha adolescência, deixei de usar aquele boné que tampava as espinhas horrorosas de minha testa, porém não pude mais estudar, tive que trabalhar para sustentar minha família."

As palavras do Sr. Ignácio reverberaram em minha mente enquanto eu observava meus novos colegas assentirem em concordância com a proibição dos bonés. Senti um conflito interno crescer. Deveria eu compartilhar a história de Luzito? Questionar uma regra que parecia tão estabelecida?

O sinal tocou, anunciando o início das aulas. Engoli em seco, optando pelo silêncio naquele momento. Mas enquanto me dirigia à minha primeira turma, fiz uma promessa silenciosa a mim mesmo: encontraria uma maneira de abordar esse assunto, de fazer a diferença, mesmo que fosse um aluno de cada vez.

Naquela noite, deitado em minha cama, refleti sobre o poder que nós, educadores, temos nas mãos. Não é apenas sobre ensinar conteúdos, mas sobre moldar vidas, quebrar ciclos, e às vezes, questionar regras que podem inadvertidamente marginalizar nossos alunos.

A história do boné de Luzito e do Sr. Ignácio me ensinou que por trás de cada regra, por mais bem-intencionada que seja, pode haver uma história não contada, uma ferida não cicatrizada. Como educadores, nossa missão vai além dos livros didáticos. Estamos aqui para construir pontes, não muros.

Hoje, reflito sobre aquele momento e sobre o quanto pequenas regras podem ter grandes impactos nas vidas dos alunos. Luzito e seu pai me ensinaram uma lição valiosa: a importância de questionar e, às vezes, desafiar normas que podem parecer arbitrárias. Afinal, a educação deve ser um caminho de crescimento e compreensão, não de barreiras e limitações.

E assim, com o coração cheio de determinação e a mente repleta de ideias, adormeci, sonhando com um futuro onde cada aluno, com ou sem boné, se sentiria verdadeiramente acolhido e compreendido em nossas salas de aula. Que me desculpem os intrépidos, mas às vezes, é preciso coragem para desafiar o status quo em nome de algo maior – a verdadeira compreensão e empatia.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1-Comente a velha proibição ao uso de boné nas dependências da escola. Que influência tem essa medida no processo ensino/aprendizagem?

2-Como professor, você não se oporia às normas infundadas de sua escola em nome de sua reputação?

3-Que contribuição os pais prestariam à escola se adotassem o comportamento do pai Ignácio?

4-Até que ponto a escola tem culpa no alto índice de evasão escolar?

5-Segundo o senhor Ignácio, a proibição arbitrária do uso do boné

na escola foi uma violência praticada a ele. Que outros tipos de violência a escola está praticando aos seus alunos sem perceber?

6-Você já vivenciou algum fato em que o uso do boné atrapalhou o bom andamento escolar?

7-Faça uma ilustração para crônica que acabou de ler.

8-Relacione com o texto o pensamento de Bertold Brechet: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.”

Comentários

UMA ROSA QUASE ALGUÉM (Crianças reclamando de maus-tratos)




















Crônica

UMA ROSA QUASE ALGUÉM (Crianças reclamando de maus-tratos)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Eu sou uma Rosa, daquelas feita com carinho. Não me considero artificial e apesar de nascida de uma gravidez planejada, levaram-me para ornamentar uma mesa que, bem à vista, no melhor local do salão, faria jus a apreciação de um conviva refinado. Afinal, era o aniversário do subsecretário de Educação. Uma celebridade! Então pensei que, naquele bem trabalhado arranjo, por horas, daria minha contribuição para somar às motivações de quem já está acostumado com fortes emoções.
Chegavam-se de dois em dois, quando não de três ou quatro; sentavam-se aqui e acolá nas mesas próximas, tão próximas que dava para ouvir elogios sem medida aos arranjos das outras rosas; no entanto, nenhum para mim. Não compreendia. Será que não tinha saído do jeito encomendado? Talvez, se eu fosse de outra cor! Mas, não era, fazer o quê! Oba, uma professora estava vindo em minha direção! Estava sem companhia. Era uma senhora loura, tinha os olhos claros, estava bem trajada; que perfume! Como gostaria que ela me acariciasse, só assim o cheiro de suas mãos passaria para minhas pétalas de tecido comum, então me aproximaria mais de uma posição social da qual é digna uma rosa de verdade. Por que estava sozinha? Comportamento estranho para uma festa de professores! Mas deixei que viesse; iria presenteá-la com minha maciez, e não havia melhor presente numa noite como aquela do que uma rosa para uma rosa. Com certeza queria minha companhia! — Se se sentar nesta mesa, vou fazê-la feliz com minha graciosidade — dizia eu em meu coração infantil.
Sentou-se finalmente, e olhava freneticamente para os lados. Tudo foi um sonho! Antes mesmo que eu pudesse ver o aniversariante, ou melhor, antes de começar a programação, senti suas mãos de súbito me agarrarem com força brutal e me enfiaram em sua bolsa surrada de couro áspero, sem dó, como se estivesse roubando alguma coisa. Não se importou em me deformar. Será que ela não gostou de meu aspecto? E o pior, os componentes da mesa vizinha viram e nem chamaram sua atenção. Será que ninguém se engraçou por mim? Ou sou mais uma vítima dos comportamentos de etiqueta!? Dos que veem e fazem de conta que não viram, dos que roubam e fazem de conta que não foram eles, dos que fingem que ensinam enquanto outros fingem que aprendem? Ai! Que dor! E não pude nem gritar.
Fui condenada ao regime do inferno, não pude nem ornamentar uma estante empoeirada, num lugar reservado de sua casa, porque ela achava que não era seguro. Por isso me eliminou no fogo do quintal deste mundo, para não deixar vestígio. Agora falo, como uma alma despetalada, a você que só me escuta: tenha cuidado com os que cobiçam suas virtudes sem medir consequências para usufruí-las, meu mal foi ser bela e acalentar objetivos nobres.
Encaminhamento de percepção
1– Como as motivações podem fabricar as emoções? Dê exemplos:
2– O autor insinua que a Rosa é uma criança em idade escolar, culpando o sistema educacional por seu fracasso social, como legitimar essa leitura?
3– Essa senhora de “fino trato” não correspondeu com as expectativas. Qual deveria ser seu comportamento enquanto professora?
4– Qual foi o pecado dessa bela rosa?
5– É normal alguém carregar um arranjo no final da festa. Por que se faria isso bem no início?
6-Faça uma ilustração para crônica que acabou de ler.
7– Em que parte do texto resvala no social?
(Claudeci Ferreira de Andrade, pós-graduado – Língua Portuguesa; professor – Gramática e Redação/Senador Canedo; funcionário público)
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/07/2009
Código do texto: T1683146

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
Comentários

O SÁBIO MEDO DE UM TOLO MEDO (O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo. Léon Tolstoi)















Crônica

O SÁBIO MEDO DE UM TOLO MEDO (O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo. Léon Tolstoi)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

  Claudeci Ferreira de Andrade


             Com a barbárie do mundo, até a escola, em nossos dias, nos causa medo, a começar por alguns termos próprios de seu meio, como: Delegacia de Ensino, Grade Curricular, Chefe de Departamento, Parada Pedagógica, Ronda de inspetor; até a violência praticada a seu patrimônio e ameaças externas de invasão. Que tipo de segurança nos ensina um agente escolar amedrontado?
          Estávamos em três funcionários da Secretaria de Educação: eu, o professor Cláudio e o motorista. Saímos para fazer um trabalho de monitoramento ao Ensino Noturno, com um certo medo de não darmos conta das três visitas em tempo hábil; já passava das vinte e uma horas, e aquela ainda seria a segunda visita da noite, quando o motorista disse:
          — Pronto, chegamos!
           Pulamos para fora da Kômbi como quem não sentia nenhum tipo de medo e rapidamente estávamos batendo no portão. De repente, a cinquenta metros dali, alguém gritou de uma forma indistinguível; era o guarda motivado por um tolo medo, tentando fazer o seu melhor:
            — Quem são você?§ºª£%$#@!
          — Ele falou blá blá bláááaa? – Perguntou o Cláudio, com os olhos arregalados para mim.
          — Venha nos atender, rapaz. – Berrei com tal competência que fiz meu chefe franzir a testa.
          — Não, vão embora, senão chamo a polícia. – O guarda continuou impertinente, gritando de longe.
           Eu, com um sábio medo da situação agravar-se, sugeri ao Cláudio que apelasse para a sua autoridade, pois estávamos representando a Secretaria de Educação, embora parecêssemos sem...!
           Então, já nervoso, meu chefe, de forma um tanto mais desprezível, por não saber mais o que fazer, esbaforiu.   — Nós somos da Secretáriiiiiiiiiiiia.
           — Não tem ninguém da secretaria aqui, nããããããooo. – Insistiu o guarda no mesmo tom.
         — Então vem assinar nosso relatório aqui. – Ordenou o comissário da inspeção.
           Afinal de contas, simultaneamente  ao ouvir esse último apelo do Cláudio, o guarda, em fração de segundo, viu a possibilidade da secretaria referida por nós ser a Secretaria de Educação e não a secretaria da escola. À vista disso, deslocou-se, ainda meio precavido, à nossa direção. Apesar de ter se desculpado muito, deixou claro que o sábio medo de perder o emprego era maior do que o tolo medo de perder a vida. Por último gaguejou suas palavras finais:
          — Se fosse onze horas, eu não colocaria nem a minha cabeça aqui fora!
          Aquela foi uma noite proveitosa para mim. Ao chegar em casa, depois de contar o acontecido, como uma história de vida digna de ser escrita, finalizei à minha esposa, dizendo que tinha um sábio medo do tolo medo de amedrontar quem lesse um texto assim. Ela confortou-me, assegurando que todos os seres têm medo, mas só os sábios transformam sua coragem em medo, enquanto os tolos transformam o seu medo em coragem. Citou ainda o pensamento de Léon Tolstoi: "O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo."
         Então entendi que os sábios dignificam a morte temendo a vida, mas os tolos estragam a vida temendo a morte. Os sábios temem a luz por esta lhes negar as trevas, e os tolos temem as trevas por estas lhes negarem a luz. Portanto, o medo é uma condição intelectual ou emocional, virtude de quem sabe usufruí-lo. É uma condição intelectual para os evoluídos, aqueles que sempre reagem cantando, orando e encarando os problemas de frente, e, emocional para os retrógrados, aqueles que reagem falando sem parar, sem pensar e chorando muito quando a morte aparece para eles.

Encaminhamento de percepção:

  1-Em que momento o guarda mostrou-se tolo, e qual é a participação educativa de um guarda noturno na vida da escola?
 2-Explique o sentido do título: “Sábio medo de um tolo medo”;
 3-Com que segurança ensinará um professor amedrontado?
 4-Em que momento os dois professores demonstraram tolice?
 5-Se você fosse o guarda, qual seria sua atitude diante desse fato? Você se deixava levar por um sábio medo ou um tolo medo?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/07/2009
Código do texto: T1681649


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários