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segunda-feira, 29 de junho de 2009

PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)



PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)

segunda-feira, 29 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade


          Às vezes, sem querer, ouvimos comentários constrangedores. Eles vêm, quase sempre, de quem aplicou alguma desforra em alguém. Para esse ostentador, independente de quantas pessoas estejam ouvindo, é um culto ao seu ego. Em uma dessas circunstâncias, na biblioteca de uma das escolas em que trabalho, ouvi o seguinte diálogo entre duas pedagogas, coordenadoras de duas escolas vizinhas:

          — Menina, você não sabe o que me aconteceu ontem no matutino! Uma turma lá fez bagunça demais, e a diretora, como castigo, me convocou para dar a sexta aula nessa turma. Eu disse não; imagina compartilhar o castigo com eles! Então, ela chamou um professor que passava por ali, exatamente aquele comissionado que não pode perder o emprego. Coitado, os alunos saíram da sala, e ele ficou falando sozinho! Agora pense se isso acontecesse comigo, eu hein!? Mas, eu sou de sorte mesmo, sabe que o próximo sábado é letivo, né?! Como sexta-feira é feriado, Paixão de Cristo, quando a maioria dos professores viajará, então a “Parada Pedagógica” já ficou agendada para o primeeeeeeeiro de abril!

          — Ah, não! Melhor foi a minha de ontem no noturno! Como você sabe, já estava instalada uma pequena desavença entre a diretora e todos os demais professores, uma espécie de resistência à substituição do bom diretor que nós tínhamos. Mas, para completar, sabe aquele tal professor técnico de apoio para disciplina de Língua Portuguesa, lá da Secretaria de Educação? Você conhece a peça! Pois é, dessa vez, ele trouxe uma advertência à gestora, dizendo que depois de três meses de aulas, ainda, tinha uma professora ali que não a conhecia. Como a diretora fazia-se de inocente, negando-se a acreditar; o clima estava ficando morno, prontifiquei-me de imediato a chamar a tal professora para esquentar mais ainda, afinal sou a coordenadora. Não é nem por que não goste dela, mas é que eu não gosto mesmo é dele, porém, antes então, adiantei algumas coisinhas para Rosetear a professora em questão. Quando chegamos, ela já entrou na diretoria possuída pelo Demônio, disse tudo como se desferisse uma rajada de metralhadora. A diretora coitada, amoral, só concordava com os negativos e positivos, não ficou um naquele local sem que não fosse atingido pelos espinhos Letíficos de quem não temia consequência alguma. Você não imagina como ficou o representante da Secretaria de Educação. Senti pena; ele nem sequer levantou a cabeça, estava arrasado, mesmo que quisesse retrucar alguma coisa, não houve jeito, a protagonista não queria ouvir mais nada. Saiu de supetão, assim como entrou, largando todos nós na sala em uma atmosfera de pós-guerra, só destruição. Achei muito bom! Maravilhoso! Esse tipo de pessoa, que se acha melhor que a gente, só porque trabalha na Secretaria e, por isso, quer nos enfiar tudo de “goela a baixo”, merece o pior! Olha, ela fez o que eu sempre quis, porém nunca tive coragem, ou melhor, oportunidade. Agora estou, como se diz, "de alma lavada".

          Lamentei por estar ali, aquele era o local errado e o momento errado. Mas onde seria certo? As coordenadoras queriam-me como público ou, talvez, como uvas no lagar, esmagando-me indiretamente, mas a escola é um lugar público e político, portanto democrático. E em nome dessa democracia, digo que por sermos apenas colegas é que não guardei seus segredos.

Encaminhamento de percepção

 1-Na primeira locução, que atitude foi mais ética: da diretora que determinou o castigo para os alunos com a sexta aula, ou da professora coordenadora que se recusou ir para a sala de aula, ou do professor que não impôs autoridade sobre a turma, cumprindo a ordem da direção? Justifique.
 2-Todo bom profissional defende sua categoria, mesmo considerando algumas falhas. Nesse sentido, o que está incoerente no texto?
 3-Se você estivesse no lugar do narrador personagem, que atitude tomaria como bom profissional? Por quê?
 4-Que lições de ética podemos aprender com esses personagens? Comente.
 5- Existe uma distinção no texto entre profissionais “apenas colegas” e profissionais "amigos". Até que ponto devemos ser leais a este ou aquele que trabalha conosco?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/07/2009
Código do texto: T1688191

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