"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 2 de outubro de 2010

(RE)PERDENDO O PROFESSOR (O que mais causa o Síndrome de Burnout em Professores?)




CRÔNICA

(RE)PERDENDO O PROFESSOR (O que mais causa o Síndrome de Burnout em Professores?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Fechou-se a porta da sala dos professores, era o momento reservado ao nosso recreio, mas de forma alguma foi pensando em desfrutar melhor, simplesmente aconteceria mais uma reunião daquelas... Foi a coordenadora que a fechou, como os alemães fechavam as câmaras de gás cheias com judeus a serem exterminados. Ali, ela nos acusava de matar aula dentro da sala de aula, e ainda ordenava aos professores passassem uma atividade paralela a fim de manter os alunos ocupados, enquanto os "lentes" vistassem os cadernos deles (Eles poderiam está lendo outras coisas, mas preferem ficar fora da sala sem fazer nada, mas nem eles e nem a coordenadora tem como alvo o bom emprego do tempo, visto que ela nunca quer mesmo é o aluno fora da sala, mesmo que estivessem ali lendo, fora da bagunça dos desocupados). Na pauta, constavam só dois itens apenas, isso parece pouco, porém foi gás suficiente para me deixar engasgado de forma a sentir necessidade de me desengasgar nesta crônica terapêutica (por isso ainda não morri de estresse). No momento, tampouco pude dizer algo, apesar dos estímulos e dos ânimos carregados, todos estavam cabisbaixos, eu também permaneci assim: cúmplices.
          Nem sei se falei ou só pensei com muita força, mas em uma unidade escolar que leva muito a sério o planejamento (anual, semanal e alternativo) dos professores, “marcando em cima”, jamais podia acontecer tal “lambança”. Como pode um professor esbaldar-se em planejar para depois nunca executar? Coerente seria se o professor matasse aula dentro da sala de aula quando ele não tivesse planejado nada! Talvez ela esteja insinuando isso! Ou o mestre está só fazendo pirraça? Será compensador investir num planejamento "desfuncional"? Pois, o exemplo que nos deu foi, como se estivesse vistando os nossos caderninhos de plano, e nos forçando uma atividade paralela em nosso recreio (reunião desnecessária)!
          “De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília), Iône Vasques-Menezes, no caso do professor, a razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento. ‘A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência do Burnout’, explica. O Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas. Para a pesquisadora, especialmente aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem resolvidas. ‘Existem problemas que estão muito além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência é mais acentuada’, revela.”  ( apud http://letrabydani.blogspot.com/2010/10/estresse-do-professor.html ). (11/06/2016).
          Copiei o trecho a seguir, isolado com aspas, do blog do Prof. Pedro: “Por que tantos professores escrevem sobre seus fracassos no trabalho docente e não comentam nada sobre seus sucessos? Por que as piores condutas viram notícia e as conquistas ficam escondidas? Por que tantas pessoas passam a vida criticando a educação em nosso país, e tão poucas procuram discutir alternativas para melhorá-la?
Talvez se deixarmos de ficar olhando o problema e nos concentrarmos em achar uma solução, o estresse diário diminua. É necessário analisar os erros, mas também é necessário comemorar os acertos do cotidiano, para que a vida possa ter sabor!”
          Será se esse professor Pedro (grego Pétros=pedra) está nos sugerindo o comportamento da ema, segundo a lenda: diante de qualquer dificuldade, ela corre e enterrar a cabeça em um buraco. Será se o professor acha que por fechar os olhos, não vendo o perigo, está isento dele! Assim, seriamos apenas "Emas" a morrer do "Síndrome de Burnout", por que ninguém nasceu para virar pedra!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/10/2010
Código do texto: T2533312

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SEMANA DE PROVAS (O que prova a prova afinal?)




Crônica

SEMANA DE PROVAS (O que prova a prova afinal?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Esta semana é “a semana de provas”! Logo no início, senti-me acaçapado, pois já tinha avaliado meus alunos através de suas apresentações em grupos e vistado as atividades corriqueiras da disciplina, de acordo combinado com eles. Mas, não teve jeito, fui impostamente encaixado no horário especial de prova. Tive também de aplicar prova de outras disciplinas, ajudando os colegas, e, depois, ter de aplicar um exercício do livro, tentando preencher a hora reservada a mim. O mais deprimente foi assistir aos alunos, ao invés de fazerem a atividade de Língua Portuguesa, valendo um pontinho, estavam absortos, com o livro de história na mão, estudando para prova seguinte. O pior em aplicar a prova do colega é ser obrigado a corrigi-la! Já passei por isso na tal semana de prova!
           Tudo isso, levou-me a perguntar: os professores abriram mão da autonomia na conveniência de avaliar? Ou é essa a verdadeira autonomia? Também, não entendi quando foi decretado sobre as folhas de prova passarem primeiro pela inspeção da coordenadora! Quem melhor elabora uma prova convincente, a "gregos e troianos", senão o catedrático na disciplina? O que deve ser cogitado sobre a eficácia de uma avaliação, diz os grandes cientistas da educação, é mais o processo e menos o instrumento forjado para punir! Qual o limite da avaliação contínua, tão pensada nas escolas modernas, se apesar dela, o aluno ainda é submetido à tortura de ficar três horas sentado, tentando merecer de 30% a 60% da nota bimestral, necessária à promoção dele? Pois, afirmo desde já, a avaliação contínua — valorização de todo passo positivo do aluno — serve suficientemente e pedagogicamente para a aprovação do aluno dedicado, só ela basta para o observador formular conceitos justos e coerentes! Às vezes, fazemos distinções pedagógicas muito sutis, nos perdemos em meio a instrumentalização e nos arriscamos em aspectos fúteis das provas de "múltiplas escolhas", fingindo aferir níveis reais. Todavia, nada tem importância, no final, deve resultar na "progressão continuada"! Esta foi prevista na LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96, artigo 32, parágrafo segundo). “Respondendo a este desafio, tem sido defendida a necessidade de se substituir uma concepção de avaliação escolar punitiva e excludente por uma concepção de avaliação comprometida com o progresso e o desenvolvimento da aprendizagem.”  Observa a Professora Zilma é Chefe de Gabinete da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo, Membro do Conselho Estadual de Educação, Professora dos Programas de Pós-graduação da FEUSP e da FFCLRP de Ribeirão Preto – USP.(http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=10032&chapterid=9145) - acessado em 29/05/2016. 
          Ou ainda, a tal autonomia dos professores tão defendida firma-se em pagar cópias de provas ao aluno e ver muitos deles amassá-las na sua frente? Ou ainda, depois guardá-las no armário, pois não tiveram tempo de corrigi-las embrulhados na burocracia, só restando inventar uma nota boa para enfeitar os índices tão desejados por coordenadores imp(r)udentes, garantindo-lhes a aparência de "bons carrascos"?  Na verdade, nem podemos devolver as provas corrigidas para os alunos, porque os que tiram nota baixa destrói a folha de prova e diz que o professor não devolveu a dele! O que significa nota boa no final. pois o professor tem de assumir a culpa, o aluno não vai fazer outra. E também, o que diagnostica uma prova, da qual o professor dá as questões e as respostas na véspera da aplicação? E este dito cuja ainda elogia os alunos que acertaram as questões de ontem!
          O que é mais proveitoso para o aluno: ter suas atividades diárias valorizadas com alguns décimos até formar uma nota satisfatória ou enfrentar a constante ameaça sobre isso ou aquilo vai cair na prova? Eu poderia enumerar algumas das poucas vantagens de ameaçá-lo diariamente com os conteúdos ministrados. Mas, compreendo também as consideráveis vantagens em formar a nota do aluno valorando as atividades diárias bem concluídas. Não estou aqui condenando completamente a avaliação, porém estou falando sobre a instrumentalização, quero método geradores de maiores notas aos mais dedicados, assíduos e os que se negam a colar. Porque os que colam, achando que suas respostas estão iguais as do colega que tirou nota maior, eles acusam o professor de ter julgado pela cara!
          Reservar uma semana de prova requer um horário especial e massantes lembretes, assim só "deixa o aluno apreensivo, fazendo-o sentir-se como alguém não aprovado, no sentido de recusado, deixado de fora, não apropriado, julgado, com sérios resultados negativos para a autoestima e futuras aprendizagens. A cobrança institucional esvazia o jovem do poder de concentração e criatividade". É valorizar demais uma prova escrita em detrimento das outras diagnosticações. 
          Essa semana institucional, não interpelada por aluno algum, bem pudera, pois força o sair mais cedo, o que deveria ser bom, assim os professores terão tempo de corrigir suas provas, na hora regular de trabalho. Mas, alguns coordenadores não gostam de vê-los folgados, determinam, na tal semana, que se tenham três aulas iniciais e só depois do recreio, seriam aplicadas as provas! Não sabem os organizadores que assim, forçam os alunos, que usam o trasporte escolar, a devolver uma prova de múltiplas escolhas às carreiras, sem lê-la direito. Não há como evitar, "jogam no bicho".
           Discute o professor do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá (UEM); Editor da Revista Espaço Acadêmico e Revista Urutágua, Antonio Ozaí da Silva: “O que prova a prova afinal? Nada. Ela é um instrumento burocrático de controle que legitima o poder da instituição e, em decorrência, dos professores. Afinal, como controlar a turma sem a “prova”? E o pior é que parece não ter como romper com o esquema. Mesmo quem discorda, tem que “dar a nota”. Não obstante, é preciso avaliar. Como fazê-lo de uma maneira justa e que estimule a solidariedade e o aprendizado?” (https://antoniozai.wordpress.com/2007/11/21/o-que-prova-a-prova/) - acessado em 28/05/2016.
          Então, não me venha pedagogo algum apresentar a ideia na qual o professor deve encarar a prova como um indicador de qualidade; pois ela nada pode fazer pelo sucesso do aluno se ele não tiver uma afinada capacidade de memorização. E as inteligências múltiplas e outras competências não visadas por ela? E não me diga sobre o aluno que não faz prova não aprender nada! E o sistema pare também de exercer pressão ao professor para passar o aluno de série, mesmo sem mérito algum, pois por medo de ter de refazer diário de classe, faz do seu método de avaliação uma generosidade doentia ao invés de adotar critérios justos. Deus me perdoe!
          A semana de prova, quando é só provas, para uma coisa presta: os alunos saem mais cedo, ficam na porta da escola vulneráveis à violência da rua, esperando o transporte escolar até mais tarde; enquanto isso, brigam e tumultuam. O maior número de ocorrências vergonhosas da escola, refiro-me também às desavenças entre professores, ocorre exatamente na semana de provas! E "pelo andar da carruagem", por aqui, toda semana é de "provas". Estão até confundido prova substitutiva com "prostitutiva"! 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 17/06/2009
Código do texto: T1652808

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Comentários               Comentar


15/09/2015 11:07 - Fran Oliveira [não autenticado]
Uma visão pequena, embora o texto seja bem amplo. A semana de avaliação, horários estabelecidos, disciplina, rigor e outros elementos que envolvem o momento da avaliação depende muito dos profissionais envolvidos, de como são trabalhados. Absurdo algumas partes do texto, visão alienada da realidade. Perplexo! Considero este tipo de depoimento, típico de professor que não gosta do que faz, que não quer ter trabalho, que se esconde atras do "oba, oba"!!!


18/06/2009 10:31 - Kênia Ribeiro
O principal objetivo da escola de hoje é ensinar o aluno a ser avaliado, o conhecimento e as habilidades ficaram em segundo e terceiro planos.O importante é preparar o aluno para ser testado, não para se realizar como ser humano. O lema agora é: "seja um bom fazedor de prova!A qualquer custo consiga uma boa nota e você terá sucesso!" Triste realidade...


17/06/2009 19:08 - Jô Costa
Excelente reflexão. Avaliar vai além de medir conhecimentos por escores, mas infelizmente nosso sistema de ensino pede notas e acabamos, como professores, nos escravizando ao sistema que criticamos.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESPINHOS NA PELE (Entre o berço e caixão, este recorte prepara-te para o quê?)


Crônica

ESPINHOS NA PELE (Entre o berço e caixão, este recorte prepara-te para o quê?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Professor, nunca ouses deslizar mesmo quando pensas, estás falando só às paredes, pois inclusive, elas têm ouvidos! Há na minoria o teu observador, sempre o orgulhoso, arrogante, prepotente e despótico, querendo te provar que és indigno do posto!  Ele é um inútil e luta a fim de te reduzir à medida dele. Jamais significa o fim quando erras, só porque o livro do professor já vem respondido e não tiveste tempo em conferir as respostas do mesmo. Os erros ensinam mais aos errantes, aliás os erros são fatais só para quem se nega aprender com eles. Veneno ou remédio, depende da dose e da frequência! Eles te induzem a acerta na próxima vez!
          Atrasam-te as experiências da vida se cada momento vindouro é inédito? Pelo contrário, entre o berço e caixão, este recorte no tempo, é teu espaço de exploração. Prepara-te, todo instante, objetivando o novo, sê criativo. Se "Tudo que se vê não é Igual ao que a gente viu há um segundo" (Lulu Santos). Tu tampouco és uma pessoa perfeita, só por que tuas experiências sempre estarão com a data de validade vencida? Iludes-te! Depois da morte, olhando daqui, tudo é mais volátil ainda, ou melhor, é desconhecido, intato. Agora só fazes o dever. Nunca temas, pois qualquer fórmula aplicada, para te resguardar do fim, é estacionamento, é regressão, fazendo frente ao pouco da vida estante! O certo é seguires o caminho novo à luz do momento ("quem não arrisca não petisca"). O combustível da vida está nos erros. Quando tu erras é porque acertaste muito: felicidade igual por etapas vencidas. O especialista é aquele que já errou em todos os pontos perante sua carreira.
           Vejas, os mandacarus, os quais plantei, ao longo do caminho, têm flores, porque se tornaram parte da natureza! Mas, também, produzem espinhos grossos, fortes e pontiagudos, muito mais ainda, é bem verdade, ferirão outros, pois me furaram primeiro. Foram preparados e ganharam resistência, todavia de jeito nenhum estarei mais ali, quiçá estivesse, para eu te mostrar minha dor educativa. Todavia a dor dos ferimentos dos espinheiros também espinhados, dessa nem tomarei parte mais, jamais desta distância. Outrossim, dói mais agora a dor das furadas dos espinhos plantados pelos outros, tais quais os encontro em meu caminho! Porém, ainda assim, é bom por não ter o sabor de suicídio, pelo contrário, estimulam-me o caminhar fazendo curvas, desviando-me de quase todos, eles são muitos. Assim como caminhar é viver, prossigo, a dor impulsiona o movimento, é o importante.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 27/09/2010
Código do texto: T2523534

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sábado, 25 de setembro de 2010

PROFESSOR IMATURO ("...a única solução apaziguadora será o suicídio ?")








CRÔNICA

PROFESSOR IMATURO ("...a única solução apaziguadora será o suicídio ?")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Não há um só dia em que o retorno para casa não venha acompanhado de cansaço físico e, sobretudo, de exaustão emocional. A alma parece carregar o peso de um dever inacabado — a sensação constante de transgressão ou, mais precisamente, de inadequação. É o incômodo de sentir-se um professor imaturo, ferido pelo desrespeito e pelo descumprimento de acordos no ambiente escolar. O anseio é por um tempo em que já não seja necessário defender-se, justificar obrigações ou mendigar aceitação e reconhecimento; um tempo em que o conhecimento e a competência bastem por si. Talvez a paz chegue apenas quando o silêncio substituir a reclamação e o incômodo cessar. O caminho até lá, contudo, ainda é incerto.

Que ofício é este em que se espera amor e se recebe escárnio? A sala de aula tornou-se um campo de embates incessantes, onde todas as relações — com alunos, colegas, coordenadores, diretores, pais e funcionários — são atravessadas pela tensão. Jamais a categoria esteve tão exposta à insegurança e à fragilidade emocional. Pequenas futilidades do cotidiano, como a interrupção de uma aula para cobrar a formatação de um “simulado”, ferem tanto quanto o assédio moral e o ambiente desumano que consomem lentamente os docentes. Não é de espantar que muitos, acuados pela burocracia e pela solidão, cheguem à trágica decisão de pôr fim à própria vida. Casos como os de L.V.C., Jailton Graciliano, Paulo Lesbão e Jucélia Almeida ilustram o desespero e a desesperança — o “assassinato” simbólico promovido pela negligência institucional. O número de suicídios entre aqueles que dependem da escola para viver é alarmante, embora permaneça oculto sob o silêncio das estatísticas, enquanto a mídia volta seus olhos apenas aos “professores do mal” que se tornam manchete por atos de violência.

A cada dia, o professor sente que morre um pouco, sufocado pela necessidade de silenciar sua voz interior na tentativa de escapar das perturbações. O lixo emocional se acumula, gerando uma consciência entorpecida que busca alívio na apatia. O desejo é por repouso — diante dos homens e de Deus — ou, quem sabe, por aceitação social em troca do próprio respeito. O risco desse “suicídio em prestações” é o de manchar o orgulho e corroer a dignidade. Talvez por isso, mesmo após anos de magistério, persista uma certa imaturidade: a ilusão de que é possível consertar os outros e, nesse processo, acabar desmantelando a si mesmo. A dura lição é que não se pode exigir dos outros amor constante nem favores sustentados por regras morais, pois cada um busca o próprio interesse — e o do professor raramente está entre eles.

Nesse cenário hostil, o verdadeiro professor maduro não é o dominador, o grosseiro ou o carrasco — figuras que, paradoxalmente, hoje parecem as mais bem-sucedidas e admiradas. O professor maduro assemelha-se antes ao Bom Samaritano contemporâneo: veste uma camiseta simples, carrega provas não corrigidas e caminha exausto pelos corredores. Não cura com azeite e vinho, mas tenta estancar hemorragias emocionais com palavras de incentivo, bilhetes improvisados ou o simples gesto de ouvir em silêncio. Em vez de uma hospedaria, oferece seu tempo e sua saúde mental. É ignorado, alvo de zombarias, mas insiste em estender a mão.

Ser “bom” nesse ofício é resistir com ternura quando tudo ensina a endurecer. A salvação da educação talvez resida na persistência dos poucos que ainda agem com compaixão, apesar de tudo. A história prova que os homens de fé e amor não temeram o esquecimento, pois a verdadeira bondade é sempre procurada. Resta a esperança de que o mal não continue vencendo o bem — basta ser bom, mesmo que a bondade pareça fraqueza.


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O texto levanta questões cruciais sobre as relações de poder, a burocracia e a crise de identidade na profissão.

Abaixo, seguem 5 questões discursivas e simples, elaboradas para estimular sua análise sociológica sobre as ideias apresentadas:


1 - Vocação e Realidade Profissional: O texto descreve um contraste entre o que se espera da profissão docente (ideal de "amor" e vocação) e o que se recebe ("escárnio" e "tensão"). De uma perspectiva sociológica, como essa dissociação entre o ideal e a realidade do trabalho pode ser analisada, e quais são as consequências para o indivíduo que vivencia o chamado "mal-estar docente"?

2 - A Escola como Instituição de Conflito: A escola é retratada como um ambiente de relações tensas e conflituosas entre todos os atores (alunos, professores, direção, pais). Analise o papel da instituição escolar, considerando sua estrutura e as relações de poder internas, na criação ou manutenção desse clima de insegurança e desrespeito generalizado.

3 - Burocracia e Violência Simbólica: O narrador menciona que "futilidades" burocráticas e o assédio moral corroem o professor, associando isso a desfechos trágicos ("assassinato simbólico"). Explique como a sobrecarga burocrática e o assédio, mesmo que não sejam violência física, podem ser interpretados como manifestações de violência estrutural ou simbólica que minam a dignidade do docente.

4 - Modelos de Sucesso e Autoridade: O texto contrapõe o professor "immaturo" (sensível e esgotado) à figura do "carrasco" (grosseiro, dominador), sugerindo que este último é, paradoxalmente, percebido como o mais "bem-sucedido" hoje. Como a crise de autoridade tradicional do professor pode ter levado à valorização de modelos de conduta mais agressivos em um ambiente de competição e desrespeito?

5 - Resistência e a Figura do "Bom Samaritano": O professor "Bom Samaritano" é apresentado como um modelo de resistência que age com compaixão ("ternura") em um ambiente hostil. Discuta a afirmação de que "ser 'bom' nesse ofício é resistir com ternura quando tudo ensina a endurecer", analisando se a persistência da compaixão pode ser vista como uma forma de resistência individual contra a desumanização do trabalho, em oposição a uma solução estrutural para o problema da educação.

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sábado, 18 de setembro de 2010

SOU FEIO, MAS NÃO COMO VOCÊ ( “Para nós, feios, tudo é duas vezes mais difícil. E ainda ganhamos a metade do que ganham os bonitos”, diz Gonzalo Otálora.)

CRÔNICA

SOU FEIO, MAS NÃO COMO VOCÊ ( “Para nós, feios, tudo é duas vezes mais difícil. E ainda ganhamos a metade do que ganham os bonitos”, diz Gonzalo Otálora.)

sábado, 18 de setembro de 2010
Por Claudeci Ferreira de Andrade
                 Eu gostava muito daquela camisa verde-escura, cor de folha madura até que um aluno do sexto ano me perguntou: — "Com a mesma roupa de outem, né professor!?" 
           Outro dia, tais foram os comentários naquela sala de professores aborrecidos! Diziam que os alunos querem professores bonitos, referindo-se apenas à estética enquadrada nos padrões das mídias. Tentei desviar o foco da conversa para higiene corporal e vestimentas, mas não saía da minha mente a solicitação irritante daqueles solicitadores de mais aulas de espanhol, pelos traços "abençoados" da professora. Aquele debate foi muito motivador, tanto, a ponto de, no outro dia, fazer-se visível a mudança visual de alguns “encarapuçados”, eles vieram, além de vestidos da melhor roupa, até bem perfumados graças aos representantes da Avon, constantemente vendendo perfume fiado por ali.  E venderam bem!
           São os professores belos melhores profissionais? Será a falta da beleza uma barreira à inteligência? Se tivéssemos de julgar os professores pela sua aparência física, como se julga modelos fotográficos, poucos alunos prosperariam para o futuro magistério. De certa forma, eles têm razão no exigir professores mais bonitos! Eles já não sabem mais o que cobrar, é lhes dado de tudo e, se assim continuar, num futuro não muito distante será um requisito eliminatório nos concursos da educação: a boa aparência física do candidato (como se isso já não influenciasse). Eles devem estar se perguntando: — Se estudar valesse para atenuar a desarmonia estética, por que os professores não são mais bonitos? – talvez seja esse o motivo dos alunos não se dedicarem aos estudos! A beleza de quem ensina não é inspiradora! A quem me chama de feio digo-lhe que nossa anomalias não podem ser as mesma.
           O sistema é feio e burocrático, aberto a abusos e aberrações está cheio de professores velhos e feios, esses sempre foram uma classe desprezada e odiada. Apenas um ou outro se destaca na admiração social por ter um intelecto muito avantajado. A falta da beleza sempre foi inimiga da ignorância. Todavia, a escola do futuro vai contratar só professor bonito! Porque é difícil demais cobrir a "deficiência" bancando o palhaço, além do mais, não funciona bem, querer ser simpático elogiando todo mundo, pois logo será acusado de assediador de "de menor"! E o feiura não tem lugar em meio de "intelectuais belos". E a beleza vulgar faz feia a bela gente! (http://super.abril.com.br/comportamento/estudantes-aprendem-melhor-com-professores-bonitos)- acessado em 02/09/2016.
            Nossos lideres procuram nos confortar com o perigo fatal da fermentação da autoestima, com leituras de autoajuda e capacitações; quando já estamos bem alto, acreditando no nosso potencial de empatia, a queda é repentina! Há sempre alguém bem disposto para “puxar nosso tapete”! E, então, continuamos perguntando como o eu lírico do poema, Retrato, de Cecília Meireles: — Em que espelho ficou perdida a minha face?
            Vejam o ponto a que cheguei, agora me ponho a falar-lhes no fato de nos regermos pelas aparências, ao invés da devida confiança na sabedoria. Qualquer pessoa bem esclarecida, de certa forma, se conhece bem, e desfruta de todas as coisas boas existentes nela, como dons de Deus. A escola precisa de professores confiante, mas confiantes no sentido de que a beleza é relativa, e se concebem escolhidos e especiais por outros dotes necessários. Todos nós precisamos de certa medida de respeito próprio profissional, então sejamos consistentes com a função ocupada, é o importante. Ninguém é totalmente desprezível!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 18/09/2010
Código do texto: T2505675

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domingo, 12 de setembro de 2010

O Sangue de Jesus Tem Poder ( Só o miserável suporta a sua miséria)







CRÔNICA

O Sangue de Jesus Tem Poder ( Só o miserável suporta a sua miséria)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ser cristão hoje é seguir o Cristo criado pelos "crentes," contraditório e confuso demais para o ideal. É o homem perfeito, cumpridor da lei moral, que, ao mesmo tempo, vestiu-se dos pecados dos homens imperfeitos. (Péssimo exemplo de disfarce!) e cujo sangue tem poder (Clichê de hipócrita). Assim, o fanatismo desenfreado de uma maioria que confunde fé com desejo é justificado. Pode Deus deixar de ser Deus? (Filipenses 2:7; Hebreus 2:17).

Esse naipe de gente é um perigo do ponto de vista social! Comem a carne de seu Deus e bebem seu sangue.

Ainda insistem em dizer que a Bíblia é a palavra de Deus, mesmo com tantas versões e traduções disponíveis (Bíblia da Mulher, Bíblia dos gays, Bíblia do pastor, Bíblia da criança, Bíblia de estudo etc.).

Os bons linguistas e qualquer estudioso honesto sabem que não há sinônimos no sentido de uma palavra em ter o mesmo significado de outra; existe apenas aproximação semântica. Um texto traduzido é outro texto. A palavra de Deus, também, não é a consciência; esta é apenas fruto da cultura.

A verdadeira palavra de Deus fala dentro de qualquer um em contemplação à natureza. O livro de Deus é a Natureza. Até analfabetos têm acesso, podendo compreendê-lo e interpretá-lo sem se submeter à classe dominante de intercessores, que cobram dízimos dobrados por seus serviços.

Um Deus perfeito e eterno, criador de Leis perfeitas e eternas, não pode transgredir suas próprias leis, nem permite transgressão alguma sem consequência. Do mesmo modo, Ele deixaria de ser Deus ao levar homens, criados para viver na Terra, ao espaço sideral, onde não teriam a condição lógica de sobreviver. Ele adaptaria-os em um céu só por caprichos de quem acredita nos méritos de Jesus?

Qual é a recompensa dos bons? (Bons por que obedeceram a leis de homens ou do universo?)

Pode uma célula do fígado migrar para o coração, fazendo parte de sua estrutura? Todo organismo obedece a leis naturais invioláveis, sob pena de atrair consequências. A rejeição de um órgão transplantado é a ação de um corpo fiel, e serve de prova de que ninguém conseguiria evitar as consequências danosas se fosse, de fato, à Lua ou a qualquer outro lugar fora de nossa atmosfera.

Imagine os transtornos se nos aproximarmos mais do Sol, ou se nos distanciarmos dele!

Então, onde estão o céu e o inferno? E se forem apenas espaço físico aqui mesmo na Terra? Mas, se forem estados de espírito, Pois é, misturam-se dentro do homem, aqui e agora! O futuro fica à frente, e a igreja é apenas depósito de enganadores de si mesmos.

Hoje, as mulheres enchem as religiões, reagindo contra a intolerância de outrora, quando eram excluídas da comunidade. Por que haveriam de defender ideologias que não exaltam substancialmente seus filhos? Eu recomendo o histórico filme de Alejandro Amenábar com a gloriosa Rachel Weisz: Ágora (no Brasil, Alexandria). https://www.youtube.com/watch?v=gHbOEg4QZPY


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Eu sou seu professor de Sociologia e o texto que apresento é uma crítica poderosa e radical à religião institucionalizada, tocando em pontos cruciais como autoridade, interpretação de textos, cultura e poder social. Com base nesses temas, preparei 5 questões discursivas simples para nosso Alinhamento Construtivo. Lembrem-se de que, em Sociologia, não buscamos o certo ou o errado teológico, mas a análise das relações sociais, de poder e da cultura presentes no texto.

1. Construção Social do Cristo e o Fanatismo

O autor critica o "Cristo criado pelos 'crentes'", considerando-o contraditório. Analise: como essa crítica se encaixa na ideia sociológica de construção social da realidade, onde os fenômenos religiosos são moldados pelas necessidades e desejos de um grupo social? Qual é o "perigo do ponto de vista social" advindo do fanatismo que confunde "fé com desejo"?

2. Consciência Moral e Determinação Cultural

O texto afirma: "A palavra de Deus, também, não é a consciência; esta é apenas fruto da cultura." Explique essa assertiva, discutindo a formação da consciência moral e do comportamento ético sob a perspectiva sociológica. De que maneira a cultura e as instituições sociais (como a família, a escola ou a própria religião) moldam aquilo que um indivíduo considera certo ou errado?

3. Poder e Hierarquia: A Crítica aos Intercessores

O autor defende que a Natureza é o "livro de Deus", acessível até a analfabetos, sem que precisem se submeter à "classe dominante de intercessores, que cobram dízimos dobrados". Que crítica sociológica está implícita nesta passagem sobre a estrutura de poder e a hierarquia econômica nas instituições religiosas?

4. Linguagem, Tradução e Autoridade

O texto traz uma crítica linguística fundamental: "Um texto traduzido é outro texto." e menciona as múltiplas "Bíblias" (da Mulher, dos gays, etc.). De que forma a existência de múltiplas traduções e versões, e a ideia de que a tradução altera o texto original, mina a autoridade inquestionável de quem se baseia em uma única interpretação do livro sagrado para pregar?

5. Gênero e o Espaço da Mulher nas Religiões

A crítica final menciona que "Hoje, as mulheres enchem as religiões, reagindo contra a intolerância de outrora". Analise este fenômeno a partir da Sociologia do Gênero e da mudança social. Por que as mulheres se tornam figuras centrais e ativas em muitas religiões hoje, e o que o autor quer dizer com a referência a "ideologias que não exaltam substancialmente seus filhos"?

Olá!Claudeko, Você tem razão, não precisa ser letrado para entender a natureza. Abraços!