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MINHAS PÉROLAS

Todos desejam viver muito tempo, mas ninguém quer ser velho.
Jonathan Swift

sábado, 10 de agosto de 2019

EUFEMISMO: BURRO! ("Se eu fosse burro, não sofria tanto." — Raul Seixas)



Crônica

EUFEMISMO: BURRO! ("Se eu fosse burro, não sofria tanto." — Raul Seixas)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em dias como aquele, a sala de aula se transforma em um ringue de gladiadores, onde o professor, munido de sua melhor didática, luta contra a fúria adolescente. Naquela manhã de terça-feira, a lista de chamada da secretaria já prenunciava uma batalha árdua: nomes sem acento gráfico, um convite irresistível para uma aula prática sobre a importância da acentuação.

"Pamela", pronunciei a palavra como um desafio, uma isca para fisgar a atenção da turma. O olhar de desdém que recebi em troca foi apenas o aperitivo do que estava por vir. Um aluno, daqueles que se julgam donos da razão, disparou com a agressividade de um pitbull faminto: — "Professor de português que não sabe nem o nome dos alunos!".

Respirei fundo, tentando manter a calma. A arrogância juvenil me atingiu como um golpe baixo. "Burro", retruquei, com a ironia cortante de um Machado de Assis. A palavra ecoou pela sala, seguida por uma gargalhada geral. Meus "queridos" alunos, ávidos por validação, transformaram a correção gramatical em um espetáculo grotesco.

Minutos depois, a situação se agravou. Em uma tentativa de me ridicularizar, tentaram me forçar a colocar um acento circunflexo em "pera". A zombaria era tanta que me senti como um palhaço de circo, alvo de dardos envenenados.

Foi então que a ficha caiu. A acentuação gráfica era apenas a ponta do iceberg. O verdadeiro problema era a desconfiança na figura do professor, a falta de respeito e a ilusão de que os "conhecimentos prévios" dos alunos bastavam para dispensar a sabedoria do mestre.

Paulo Freire, com sua pedagogia do oprimido, veio-me à mente. Seria eu o oprimido da vez, refém da prepotência juvenil? A horizontalidade das relações em sala de aula havia se transformado em terra de ninguém, onde a hierarquia era vista como imposição e a humildade, como fraqueza.

Refleti sobre a árdua missão de ensinar em um ambiente hostil, onde a arrogância ergue muros intransponíveis ao aprendizado. A pergunta que me assombrava era: como construir pontes quando a outra parte só quer cavar trincheiras?

Talvez a resposta esteja em um acento que nenhuma gramática ensina: o da humildade. Não a humildade servil, mas aquela que nos permite reconhecer que o conhecimento é uma troca, um diálogo entre diferentes saberes.

E assim, entre acentos e desafetos, sigo na luta incansável da educação, buscando o tom certo para harmonizar a sinfonia complexa que é a sala de aula — mesmo que, vez ou outra, algumas notas desafinem.


1. Qual a principal contradição apresentada no texto entre a intenção do professor de usar a lista de chamada como oportunidade de ensino sobre acentuação e a reação dos alunos, que transforma a aula em um "ringue de gladiadores"?

2. De que forma a escolha de palavras como "desdém", "arrogância", "pitbull faminto" e "palhaço de circo" contribui para a construção de um tom irônico e crítico em relação ao comportamento dos alunos?

3. Qual o significado da metáfora do "iceberg" utilizada no texto para descrever a relação entre a questão da acentuação gráfica e o problema maior da desconfiança na figura do professor e da falta de respeito em sala de aula?

4. Como o texto estabelece um paralelo entre a pedagogia do oprimido de Paulo Freire e a experiência do professor em sala de aula, e que reflexões essa relação suscita sobre o papel da humildade no processo de ensino-aprendizagem?

5. Qual a principal mensagem que o texto busca transmitir ao concluir que a "humildade" é um "acento" fundamental, mas que não é ensinado pela gramática, e como essa reflexão final se conecta com a problemática apresentada ao longo da narrativa?

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sábado, 3 de agosto de 2019

A PROFISSÃO DO FUTURO ("O Brasil é um país onde arrogância torna-se crime e delação virtude." — Nelson Barh)



Crônica

A PROFISSÃO DO FUTURO ("O Brasil é um país onde arrogância torna-se crime e delação virtude." — Nelson Barh)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O calor da manhã de verão refletia-se intensamente no telhado enquanto eu me dedicava à colheita dos cajus. As galhas do velho cajueiro, generosas, se estendiam sobre a casa, oferecendo seus frutos maduros. Absorvido pela tarefa e pelo calor do sol queimando minha pele, fui interrompido por um reflexo. Ao olhar para o quintal vizinho, percebi que minha vizinha me filmava com o celular. O gesto, aparentemente simples e corriqueiro na era digital, me causou um incômodo profundo. Não era a filmagem em si, mas a sensação de ser alvo de um olhar vigilante, pronto para julgar e, possivelmente, expor.

Esse episódio trivial me levou a refletir sobre a cultura da denúncia que permeia nossa sociedade. Em todos os cantos, proliferam os “paparazzi” amadores, ávidos por flagrar o deslize alheio, munidos de câmeras e uma sede insaciável por expor a vida do outro. A figura do denunciante, antes relegada às sombras, ascendeu aos holofotes, impulsionada pela lógica da “delação premiada” e pela voracidade das redes sociais. Mas a quem serve essa cultura de exposição? A quem beneficia a constante vigilância sobre o próximo?

Nunca vi um “dedo-duro” ser alçado ao status de herói. Pelo contrário, o delator carrega consigo um estigma de deslealdade. A busca pela “verdade”, muitas vezes, se transforma em um instrumento de vingança ou de autopromoção, distorcendo os fatos e alimentando um ciclo vicioso de fofocas e linchamentos virtuais. A mídia, ávida por audiência, se alimenta desse espetáculo, explorando a desgraça alheia e disseminando o medo e a desinformação.

O denunciante anônimo, protegido pelo véu do anonimato, age com irresponsabilidade, divulgando versões unilaterais dos fatos sem se preocupar com a veracidade ou com as consequências de seus atos. Essa covardia virtual se manifesta na ausência de disposição para o diálogo, para a busca por soluções pacíficas. É como assistir a um filme pirata: usufruímos do conteúdo sem arcar com as responsabilidades de nossos atos, fortalecendo um mercado ilegal.

A frase de Martin Luther King Jr., "O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons", ressoa com força neste contexto. Mas o que acontece quando os “bons” se calam por medo da exposição, receosos de se tornarem alvos da mesma cultura da denúncia que condenam? O silêncio, neste caso, não é apenas omissão, mas conivência com a injustiça.

O denunciante, o fofoqueiro, o “informante”, não é mais do que um reflexo da sociedade que cultiva a superficialidade e se alimenta do fracasso alheio. A busca pela perfeição virtual e a obsessão por expor as imperfeições dos outros revelam uma profunda fragilidade e uma incapacidade de lidar com a própria humanidade.

Enquanto a cultura da denúncia se fortalece, os verdadeiros problemas permanecem ocultos e negligenciados. A solução não está em apontar o dedo para o outro, mas em construir pontes de diálogo, em cultivar a empatia e a compreensão. Que possamos ter a coragem de enfrentar os desafios de frente, sem nos esconder atrás do anonimato ou da exposição alheia. Que a busca pela verdade seja guiada pela responsabilidade e pelo respeito, e não pela sede de vingança ou pela busca por audiência. Que o olhar indiscreto se transforme em um olhar compassivo, capaz de reconhecer a humanidade em cada um de nós.


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. De que maneira o episódio da vizinha filmando o autor com o celular serve como ponto de partida para a reflexão sobre a cultura da denúncia?

2. Segundo o autor, qual a relação entre a figura do denunciante e a lógica da "delação premiada" e das redes sociais?

3. O texto critica o anonimato dos denunciantes. Quais argumentos são utilizados para sustentar essa crítica?

4. Como o autor interpreta a frase de Martin Luther King Jr. ("O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons") no contexto da cultura da denúncia?

5. Qual a proposta apresentada pelo autor para superar a cultura da denúncia e construir uma sociedade mais justa?

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domingo, 14 de julho de 2019

SUPERSTIÇÃO ("Evitar superstições é outra superstição." — Francis Bacon)



Crônica

SUPERSTIÇÃO ("Evitar superstições é outra superstição." — Francis Bacon)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sexta-feira, 13. A data, carregada de simbolismo e superstição, pairava sobre mim como uma nuvem densa. Confesso minha inclinação para o lado supersticioso da vida, e em dias como esse, qualquer evento fora do comum assume ares de presságio. Aquele dia, em particular, começou com um pequeno desfile ciclístico em frente à minha casa: primeiro, o carteiro dos Correios, em sua bicicleta amarela vibrante; logo depois, uma figura veloz surgiu em uma bicicleta vermelha, cruzando a rua não uma, mas duas vezes, totalizando três aparições. Seria um prenúncio? A frase de Diderot, "Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo", ecoou em minha mente, intensificando a sensação de que algo estava por vir.

A apreensão, contudo, logo se dissipou diante de acontecimentos banais, até mesmo agradáveis. A visita do carteiro trouxe uma encomenda que eu aguardava ansiosamente, uma pequena vitória no mundo das compras online. A misteriosa figura da bicicleta vermelha, para minha surpresa, era a moça da limpeza, uma verdadeira bênção divina, considerando o estado “artesanal” em que minha casa havia chegado. A ironia da vida se manifestava ali, debochando dos meus temores infundados.

Apesar da aparente normalidade, minha mente insistia em buscar significados ocultos. A cor vermelha da bicicleta me levou a pesquisar a simbologia das cores. Descobri que o vermelho representa paixão e sensibilidade, mas também perigo, violência, sangue, rejeição e vergonha — um leque de interpretações que, ao invés de me tranquilizar, apenas intensificaram minha inquietação. O amarelo da bicicleta do carteiro, associado à autoconfiança, sugeriu-me a possibilidade de oposições e contrariedades, como se o universo conspirasse contra mim. "A imaginação é mais importante que o conhecimento", sussurrou Einstein em meu íntimo, incentivando-me a mergulhar ainda mais fundo nessas elucubrações.

Comecei a refletir sobre minhas próprias ações, questionando se a tensão que me acompanha constantemente não seria suficiente. Um pensamento ainda mais incômodo surgiu: a tesão pelo mito. Seria possível que o vermelho das vestes do Papai Noel, ainda recente em minha memória, tivesse me influenciado a esse ponto? A ideia me parecia absurda, mas reconheço a capacidade da mente humana de fazer associações surpreendentes.

Em meio a esse turbilhão de pensamentos, busquei refúgio em meus valores: a simplicidade das emoções, a importância da família e das amizades. Confesso minha aversão a presentes de Natal, um costume que me parece artificial e desprovido de significado. A presença constante do amarelo do cravo de defunto, com sua simbologia fúnebre, intensificava minha sensação de saturação.

Decidi, então, reavaliar o dia, buscando flexibilizar meus valores, mas sem radicalismos. Afinal, apesar de me considerar uma pessoa moderna e aberta a mudanças, reconheço a importância da prevenção, do amor e dos laços familiares. São essas raízes que me sustentam e dão sentido à minha vida. Nesse processo de reflexão, lembrei-me de um verso de Edílio Lima Bueno, que ecoava os dizeres de Castro Alves: "amor não existe apenas crendice, só em sua fantasia ela é real". Uma constatação melancólica, mas que, paradoxalmente, me trouxe uma certa paz. A vida, com suas bicicletas vermelhas e carteiros amarelos, segue seu curso, indiferente às nossas superstições e angústias. Resta-nos aprender a conviver com o mistério e a encontrar sentido nos pequenos detalhes do cotidiano.

Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:

1. De que forma a superstição influencia a percepção do narrador sobre os eventos que ocorrem na sexta-feira 13?

2. Como o narrador interpreta as cores das bicicletas e qual a relação dessa interpretação com a citação de Einstein sobre a imaginação e o conhecimento?

3. Além da superstição, quais outras reflexões o narrador apresenta sobre seus próprios sentimentos e valores?

4. O texto menciona a aversão do narrador a presentes de Natal e a presença do amarelo do cravo de defunto. Como esses elementos contribuem para a atmosfera da narrativa?

5. Qual a conclusão do narrador sobre a relação entre a vida cotidiana, as superstições e a busca por sentido?

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sábado, 6 de julho de 2019

AMIGO SECRETO SEM SEGREDO (Há outra "brincadeira", porém, em que ninguém pode revelar segredos: A vida real)

AMIGO SECRETO SEM SEGREDO (Há outra "brincadeira", porém, em que ninguém pode revelar segredos: A vida real)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Nos derradeiros dias do ano letivo, surge o famigerado “amigo secreto”, um costume quase tão arraigado quanto a tradicional “vaquinha” entre professores e funcionários. A premissa, em teoria, é de confraternização entre profissionais éticos e discretos. Mas a dinâmica da brincadeira, com suas etapas de revelação de detalhes da vida do outro para adivinhação, sempre me intrigou. A vida imita a brincadeira, ou vice-versa? A tênue linha entre a diversão e a realidade se esgarça, revelando um microcosmo das relações humanas.

A palavra “secreto”, conforme o dicionário Aurélio, remete ao oculto, ao escondido, ao que dificilmente se descobre. No “amigo secreto”, a revelação de um segredo alheio, mesmo que em tom de brincadeira, integra a dinâmica. Contudo, na vida real, a exposição de um segredo acarreta consequências muito mais profundas. O que julgamos saber sobre o outro, exibido como um trunfo, na verdade, expõe nossa própria fragilidade. A ilusão de dominar alguém pela posse de seus segredos se dissipa quando percebemos que tais confidências já circulam em outras conversas, tecendo uma rede de informações que nos escapa.

No ambiente de trabalho, essa dinâmica se intensifica, transformando-se em uma "guerra fria" nos bastidores, alimentada pela fofoca. Confidências, antes compartilhadas em momentos de suposta intimidade, convertem-se em munição, usadas seletivamente para inflar o ego ou denegrir a imagem alheia. Um movimento sutil parece proliferar, como se houvesse uma fábrica de fofoqueiros em operação. Quando uma fofoca chega aos meus ouvidos, sinto não apenas a tentativa de me diminuir, mas a confirmação de que, de alguma forma, estou em destaque, talvez um passo à frente. Eu poderia está melhor. Shakespeare já dizia: “Quem me rouba a honra priva-me daquilo que não o enriquece e faz-me verdadeiramente pobre”.

Existe, porém, uma contradição nessa lógica. O fofoqueiro, com sua visão limitada, foca apenas em quem está à sua frente, incapaz de contemplar um horizonte mais vasto. Ele não busca a própria superação, pois isso o privaria do objeto de sua observação constante. Sem a vida alheia para dissecar, ele se perderia em seu próprio vazio. Sua “burrice”, ou, parafraseando o Dr. Taylor em referência a II Crônicas 10:12, sua comparação consigo mesmo e com "suas próprias ideias insignificantes", o impede de alcançar conhecimentos mais profundos.

Os “pobres de ideias e desafortunados de espírito”, como o texto os descreve: fofoqueiros, perdem o rumo do crescimento ao se compararem incessantemente. Com esse método, a busca por honra e reconhecimento resulta em aridez espiritual. As conversas se tornam vazias, um festival de “fezes” alheias, como se a miséria do outro pudesse saciar a própria.

O “amigo secreto”, portanto, revela-se um microcosmo da vida, um espelho que reflete nossas piores tendências. A fofoca, a busca por poder através da informação alheia, a incapacidade de introspecção… tudo isso se manifesta nessa brincadeira aparentemente inofensiva. Que possamos aprender a valorizar os verdadeiros segredos da vida, aqueles que nos conectam com nossa essência e nos impulsionam ao crescimento, em vez de nos aprisionar na mesquinhez da comparação e da maledicência.


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. Qual a relação estabelecida no texto entre a brincadeira do "amigo secreto" e as dinâmicas da vida real, especialmente no ambiente de trabalho?

2. De acordo com o texto, como a posse e a revelação de segredos alheios influenciam as relações interpessoais?

3. Como o texto descreve a figura do fofoqueiro e qual a sua motivação, segundo a análise apresentada?

4. Qual a crítica central do texto em relação à comparação constante entre as pessoas e a busca por reconhecimento externo?

5. Em síntese, qual a mensagem principal do texto sobre a importância de valorizar os "verdadeiros segredos da vida"?

CRITÉRIOS FROUXOS ("Quando você concede a terceira chance ao incompetente, a responsabilidade pelo insucesso passa a ser sua." — Adriana de Souza).



Crônica

CRITÉRIOS FROUXOS ("Quando você concede a terceira chance ao incompetente, a responsabilidade pelo insucesso passa a ser sua." — Adriana de Souza).

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A época de avaliações sempre me traz uma sensação agridoce. A cada conselho de classe, uma nova reflexão sobre o papel da escola na formação do indivíduo se desenha. A doçura de ver o esforço de alguns alunos sendo recompensado contrasta com a amargura de perceber que, para outros, a aprendizagem parece ser uma batalha perdida.

A avaliação é um ato complexo, repleto de nuances e contradições. Por um lado, queremos ser justos e reconhecer o esforço de cada aluno. Por outro, sabemos que a vida não é feita apenas de boas intenções e que, em algum momento, todos teremos que enfrentar as consequências de nossas escolhas.

Tenho ouvido muito sobre a importância de considerar as "adversidades existenciais" dos alunos no momento da avaliação. É verdade que a vida de cada um é um mosaico único, repleto de desafios e particularidades. No entanto, me pergunto se estamos indo longe demais nessa direção.

A pressão para aprovar todos os alunos é grande. A frase "cada caso é um caso" ecoa nos conselhos de classe, mas pode ser perigosa. Afinal, se cada caso é um caso, como garantir a equidade na avaliação? Corremos o risco de criar uma geração de jovens que esperam ser aprovados por pena, e não por mérito.

Lembro-me das palavras de um antigo mestre: "A educação é um ato de amor, mas também de rigor". É preciso ter compaixão pelos alunos que enfrentam dificuldades, mas também ser firme e exigir deles o máximo de seu potencial. A escola deve ser um refúgio onde os alunos se sintam acolhidos, mas simultaneamente um espaço de crescimento e desenvolvimento.

A nota, por si só, não define o valor de uma pessoa. Mas ela é um indicador importante do nosso desempenho e empenho. Ao desvalorizar a nota, corremos o risco de desvalorizar o próprio processo de aprendizagem. No mercado de trabalho, não haverá um conselho de classe para avaliar nossas "adversidades existenciais" - a única coisa que valerá será nossa capacidade de entregar resultados.

É fundamental ter cuidado para não confundir empatia com permissividade. É possível sermos justos e compreensivos sem abrir mão dos nossos princípios. Quando concedemos múltiplas chances ao incompetente, a responsabilidade pelo insucesso passa a ser nossa.

Sinto-me como um navegador em alto-mar, à deriva em um mar de incertezas. Busco um porto seguro onde possa ancorar minhas dúvidas e encontrar respostas. Mas sei que essa jornada será longa e árdua.

Em última análise, o que realmente importa é que os alunos saiam da escola preparados para enfrentar os desafios da vida. E isso só será possível se oferecermos a eles uma educação de qualidade, que os prepare não apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida em sociedade.

Que possamos ser instrumentos dessa arte chamada educação, onde o conhecimento seja a ferramenta mais poderosa para transformar vidas e o mundo ao nosso redor.

1. Como a "sensação agridoce" mencionada no texto relaciona-se com as diferentes experiências dos alunos no processo de avaliação escolar?

2. De que forma o texto discute o equilíbrio entre empatia e rigor no processo educacional?

3. Explique o significado da expressão "adversidades existenciais" no contexto da avaliação escolar e seus possíveis impactos.

4. Qual a importância da nota como indicador de desempenho, segundo a perspectiva apresentada no texto?

5. Como o texto compreende o papel da escola na preparação dos jovens para os desafios da vida em sociedade?

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