No gozo de uma "licença-prêmio" ("Me dá licença que vou beijar o céu." — Jimi Hendrix)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Durante o gozo da minha licença-prêmio, simplesmente se esqueceram de mim. Os que sempre se mostraram insatisfeitos com meu trabalho parecem gostar da minha ausência com a mesma intensidade com que me rejeitam. A concorrência prosperou, e o salário veio seco — sem adicionais.
Pois bem, três meses antes de me afastar, um colega de trabalho, sabendo da minha licença, colocou-se no meu lugar e declarou: "O pior será quando você voltar ao trabalho e ver seus alunos melhores do que deixou... e se eles manifestarem o sentimento de que você não fará falta... sua ausência será mais produtiva... seu retorno será dispensável (riso)." Profecia maligna! Sim, meu amigo, essa possibilidade existe. Ainda assim, quero sinceramente que o meu substituto faça um trabalho ainda melhor que o meu — tudo em nome da boa educação.
É verdade que não se consegue desagradar a todos ao mesmo tempo. Deve haver, em algum canto da escola, alguém contando os dias para o meu retorno. Para equilibrar esse jogo de afetos, trago a fala da minha aluna Luana: "Devemos ser como uma raposa para reconhecer as armadilhas e como um leão para assustar os lobos. Aprendi na sua aula de filosofia. Volta logo, professor, tenho muito o que aprender ainda com o senhor." A esses, minha prece sincera e meu até breve — seis meses passam voando.
Minha ausência, aliás, talvez também seja uma oportunidade para que reconheçam, à distância, algum valor em mim. Enquanto falarem de mim pelas costas, estarei contribuindo até mesmo com o silêncio da minha ausência. É preciso muita coragem — ou, no mínimo, muito trabalho — para se tornar legalmente ausente. E já é uma virtude conquistar humildemente a paciência e a perseverança necessárias para merecer qualquer licença.
Justifico, então, meu comportamento retraído com as palavras de Denilson Fernandes: "Sou um ser odiado por muitos... Quando preciso e quero sou pessoa perturbada sem escrúpulo e sem clemência... Sou chato, por que eu gosto de mostrar seus erros, seus medos e corrigi-los... Você sentirá ódio de mim, mas se for inteligente me agradecerá depois. Quero seu bem, por isso sou chato. Olha seus pais, por exemplo, sempre são chatos porque lhe dão sermão... E eu tenho a mesma regra, pois aprenderam o que sabem hoje, por sermões que seus pais deram a você."
Nesse caso, os prós e os contras devem, sim, ser considerados. Qualquer professor que me substitua poderá ser um bom guia para minha aluna exemplar — afinal, os semelhantes se apoiam e crescem juntos na melhor direção.
Grato. Eu já ia dizer que o meio educacional ficaria vazio sem mim, mas... quando uma célula morre, outra nasce automaticamente em seu lugar.
Mas, se a célula morre, não é o fim — é o princípio de outra. Assim também é o educador: sua ausência nunca será um vazio absoluto, mas uma oportunidade para que outros cresçam, floresçam e até ocupem espaços que ele deixou. No entanto, nem toda célula é substituída com a mesma eficiência, e algumas deixam marcas profundas no tecido que compõem. Não se trata de vaidade, mas de compreender que certos vínculos não se refazem com a mesma força. Talvez por isso a ausência também ensine — silenciosamente, como o corpo que aprende a sentir falta de um órgão vital. E é nessa ausência que reside o meu contributo final: ser lembrado não por indispensabilidade, mas pela diferença que fiz enquanto estive.
A crônica que acabamos de ler nos traz uma reflexão superinteressante sobre o papel do professor, o ambiente de trabalho e as relações humanas no contexto escolar. O autor, em licença-prêmio, compartilha suas angústias, expectativas e até algumas provocações sobre sua ausência e o seu retorno. Vamos usar essas ideias para discutir alguns pontos de vista da Sociologia. Preparados para pensar um pouco?
1 - O autor relata que, durante sua licença, "os que sempre se mostraram insatisfeitos com meu trabalho parecem gostar da minha ausência". Discuta como essa percepção pode refletir as tensões e disputas por reconhecimento e espaço em um ambiente profissional, como a escola.
2 - A fala do colega que profetiza um "retorno dispensável" e a do aluno que pede "Volta logo, professor" demonstram diferentes visões sobre o papel do professor. Analise como essas expectativas contrastantes (de substituição e de insubstituibilidade) revelam a complexidade dos papéis sociais dentro de uma instituição como a escola.
3 - O cronista menciona que sua ausência pode ser uma "oportunidade para que reconheçam, à distância, algum valor em mim". Explique como a ausência ou o distanciamento podem, paradoxalmente, influenciar a percepção social e o valor atribuído a um indivíduo ou a uma função dentro de um grupo ou organização.
4 - O texto aborda a ideia de ser "odiado por muitos" por "gostar de mostrar seus erros, seus medos e corrigi-los". Reflita sobre como essa postura, embora visando o "bem", pode gerar conflitos interpessoais e resistência nas relações sociais e profissionais, especialmente em contextos onde a crítica é percebida como ameaça.
5 - A frase final, "quando uma célula morre, outra nasce automaticamente em seu lugar", traz uma reflexão sobre a dinâmica das instituições sociais. Como essa analogia biológica pode ser aplicada para entender a adaptabilidade e a continuidade de sistemas como o educacional, mesmo diante da saída ou substituição de seus membros?
Durante o gozo da minha licença-prêmio, simplesmente se esqueceram de mim. Os que sempre se mostraram insatisfeitos com meu trabalho parecem gostar da minha ausência com a mesma intensidade com que me rejeitam. A concorrência prosperou, e o salário veio seco — sem adicionais.
Pois bem, três meses antes de me afastar, um colega de trabalho, sabendo da minha licença, colocou-se no meu lugar e declarou: "O pior será quando você voltar ao trabalho e ver seus alunos melhores do que deixou... e se eles manifestarem o sentimento de que você não fará falta... sua ausência será mais produtiva... seu retorno será dispensável (riso)." Profecia maligna! Sim, meu amigo, essa possibilidade existe. Ainda assim, quero sinceramente que o meu substituto faça um trabalho ainda melhor que o meu — tudo em nome da boa educação.
É verdade que não se consegue desagradar a todos ao mesmo tempo. Deve haver, em algum canto da escola, alguém contando os dias para o meu retorno. Para equilibrar esse jogo de afetos, trago a fala da minha aluna Luana: "Devemos ser como uma raposa para reconhecer as armadilhas e como um leão para assustar os lobos. Aprendi na sua aula de filosofia. Volta logo, professor, tenho muito o que aprender ainda com o senhor." A esses, minha prece sincera e meu até breve — seis meses passam voando.
Minha ausência, aliás, talvez também seja uma oportunidade para que reconheçam, à distância, algum valor em mim. Enquanto falarem de mim pelas costas, estarei contribuindo até mesmo com o silêncio da minha ausência. É preciso muita coragem — ou, no mínimo, muito trabalho — para se tornar legalmente ausente. E já é uma virtude conquistar humildemente a paciência e a perseverança necessárias para merecer qualquer licença.
Justifico, então, meu comportamento retraído com as palavras de Denilson Fernandes: "Sou um ser odiado por muitos... Quando preciso e quero sou pessoa perturbada sem escrúpulo e sem clemência... Sou chato, por que eu gosto de mostrar seus erros, seus medos e corrigi-los... Você sentirá ódio de mim, mas se for inteligente me agradecerá depois. Quero seu bem, por isso sou chato. Olha seus pais, por exemplo, sempre são chatos porque lhe dão sermão... E eu tenho a mesma regra, pois aprenderam o que sabem hoje, por sermões que seus pais deram a você."
Nesse caso, os prós e os contras devem, sim, ser considerados. Qualquer professor que me substitua poderá ser um bom guia para minha aluna exemplar — afinal, os semelhantes se apoiam e crescem juntos na melhor direção.
Grato. Eu já ia dizer que o meio educacional ficaria vazio sem mim, mas... quando uma célula morre, outra nasce automaticamente em seu lugar.
Mas, se a célula morre, não é o fim — é o princípio de outra. Assim também é o educador: sua ausência nunca será um vazio absoluto, mas uma oportunidade para que outros cresçam, floresçam e até ocupem espaços que ele deixou. No entanto, nem toda célula é substituída com a mesma eficiência, e algumas deixam marcas profundas no tecido que compõem. Não se trata de vaidade, mas de compreender que certos vínculos não se refazem com a mesma força. Talvez por isso a ausência também ensine — silenciosamente, como o corpo que aprende a sentir falta de um órgão vital. E é nessa ausência que reside o meu contributo final: ser lembrado não por indispensabilidade, mas pela diferença que fiz enquanto estive.
A crônica que acabamos de ler nos traz uma reflexão superinteressante sobre o papel do professor, o ambiente de trabalho e as relações humanas no contexto escolar. O autor, em licença-prêmio, compartilha suas angústias, expectativas e até algumas provocações sobre sua ausência e o seu retorno. Vamos usar essas ideias para discutir alguns pontos de vista da Sociologia. Preparados para pensar um pouco?
1 - O autor relata que, durante sua licença, "os que sempre se mostraram insatisfeitos com meu trabalho parecem gostar da minha ausência". Discuta como essa percepção pode refletir as tensões e disputas por reconhecimento e espaço em um ambiente profissional, como a escola.
2 - A fala do colega que profetiza um "retorno dispensável" e a do aluno que pede "Volta logo, professor" demonstram diferentes visões sobre o papel do professor. Analise como essas expectativas contrastantes (de substituição e de insubstituibilidade) revelam a complexidade dos papéis sociais dentro de uma instituição como a escola.
3 - O cronista menciona que sua ausência pode ser uma "oportunidade para que reconheçam, à distância, algum valor em mim". Explique como a ausência ou o distanciamento podem, paradoxalmente, influenciar a percepção social e o valor atribuído a um indivíduo ou a uma função dentro de um grupo ou organização.
4 - O texto aborda a ideia de ser "odiado por muitos" por "gostar de mostrar seus erros, seus medos e corrigi-los". Reflita sobre como essa postura, embora visando o "bem", pode gerar conflitos interpessoais e resistência nas relações sociais e profissionais, especialmente em contextos onde a crítica é percebida como ameaça.
5 - A frase final, "quando uma célula morre, outra nasce automaticamente em seu lugar", traz uma reflexão sobre a dinâmica das instituições sociais. Como essa analogia biológica pode ser aplicada para entender a adaptabilidade e a continuidade de sistemas como o educacional, mesmo diante da saída ou substituição de seus membros?