- Crônica Social
LICENÇA PARA INTERESSE PARTICULAR. ("Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" — Amós 3:3)
Por Claudeci Ferreira de Andrade A vida, por vezes, exige mais coragem para recuar do que para avançar. Foi nesse limiar entre o esgotamento e a dignidade que decidi deixar o ofício que exerci com paixão por duas décadas. Recordei-me então da sabedoria contida em Provérbios: "Quem é prudente vê o perigo e se esconde, mas os inexperientes vão em frente e sofrem as consequências." Reconhecer esse perigo — velado, persistente, e muitas vezes disfarçado de progresso — foi o primeiro passo para minha retirada silenciosa.
Pedi uma licença para interesse particular, afastando-me da função de professor do ensino fundamental. Foi uma despedida sem festa, mas carregada de peso emocional. Como disse Bob Marley: "Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer." Essa frase traduziu o que minha alma tentava dizer em silêncio: eu não abandonei por fraqueza, mas por exaustão.
A sala de aula, outrora espaço de encontros, transformou-se num campo de tensão constante. As diretrizes mudavam mais rápido que as necessidades dos alunos. Diante da nova realidade, fui me tornando inadequado para traduzir a base curricular àqueles que pareciam viver em uma dimensão alheia à minha. Alunos "especiais", acompanhados por assistentes — muitas vezes mais vigilantes que colaborativos — passaram a dominar a cena, enquanto o professor se via acuado. Como alertou o MEC em 2020: "O direito de todos estarem juntos não é maior que o direito individual ao desenvolvimento."
Mas, dentro da escola, o som da trombeta se tornou confuso. “Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” (1 Coríntios 14:8). A tal inclusão, tão celebrada, revelava-se muitas vezes forçada, gerando desgaste para todos os envolvidos. Vi com clareza que a verdadeira aceitação não se dá pela imposição da convivência, mas pelo respeito à individualidade. Discriminar, nesse contexto, seria apenas reconhecer e valorizar o diferente — e não rejeitá-lo.
Com minha saída, alguns podem pensar que perderam um inimigo. Me acusam de tudo: homofóbico, racista, machista, incompreensivo frente à nova adolescência erotizada pelas mídias. Mas o que vejo é uma incoerência gritante: aqueles que exigem respeito são os primeiros a desrespeitar o diferente. Jogam sobre os outros a culpa que não querem assumir — uma transferência emocional que corrói a convivência. No fim, todos saem feridos. Medimos o mundo com a régua que temos em mãos.
Nesse palco, o etarismo também desempenhou seu papel. Professores experientes — vistos como “quadrados” — pagam o preço por não se adequarem às novas cartilhas comportamentais. Durante a pandemia, nos calaram com máscaras; agora, talvez queiram que usemos óculos escuros para evitar olhares que possam ofender. Fui acusado até disso. Hoje, muitos preferem adivinhar o que o professor pensa, do que aprender o que ele sabe.
Não tarda para que a docência se torne exclusividade de um grupo muito específico — apenas mulheres feministas, pessoas trans ou figuras domesticadas pelo desejo dos adolescentes. Como em Isaías 3:12: "Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele." Uma inversão que, longe de libertar, apenas instaura nova forma de servidão.
Não lanço maldições. Mas compreendo o Deus que impõe consequências justas e o papel do profeta, que anuncia, não condena. Lembro das palavras de Kacou Philippe (Kc 151:19): "As pessoas irão falar contra o profeta Kacou Philippe e a sua Mensagem (...) e o Anjo de 24 de abril de 1993 irá atingi-las. Alguns cairão mudos e inconscientes até à morte. Outros serão atingidos pela loucura, cegueira, epilepsia, paralisia e várias doenças que a medicina não conseguirá curar (...)." A história se repete. Não por acaso, 42 meninos zombaram de Eliseu e pagaram com a vida, mortos por duas ursas (2 Reis 2:23-24).
Se sou do Diabo, então me retiro educadamente, abrindo espaço para Deus e seus servos. Mas se minha missão ainda não terminou e fui forçado a sair, então confio que a justiça se manifestará. Nenhuma circunstância ruim surge sem provocação. Por isso, entrego-me ao Criador. Que a morte me alcance, se não estou do Seu lado. Caso contrário, que a destruição atinja os que causaram esse exílio. Porque, às vezes, o único caminho é fugir do perseguidor.
Talvez, nesse tempo de empoderamento ruidoso, sobrem apenas mulheres ou escravos emocionais lecionando nas escolas. Mas, até lá, levo comigo o que me resta: a certeza de que lutei até o último sino. E, ao sair, deixo não um grito, mas um silêncio que ecoa mais alto do que qualquer discurso.
Minha crônica é um desabafo profundo e multifacetado sobre a crise na educação, a sobrecarga do professor, e o que você percebe como a deturpação de valores e a ascensão de novas formas de intolerância. Como professor de sociologia, preparei cinco questões discursivas simples para explorar as principais ideias do texto.
1 - A crônica descreve a sala de aula como um "campo de tensão constante" e menciona a sensação de se tornar "inadequado para traduzir a base curricular" para certos alunos. Com base na Sociologia da Educação, como as mudanças nas diretrizes educacionais e a inclusão de alunos com necessidades diversas impactam a prática pedagógica e a saúde mental dos professores?
2 - O autor critica a "inclusão forçada", argumentando que ela gera desgaste e que "discriminar, nesse contexto, seria apenas reconhecer e valorizar o diferente". Sob a perspectiva da Sociologia das Minorias e da Diversidade, como podemos analisar a tensão entre as políticas de inclusão universal e a percepção individual sobre as necessidades específicas de desenvolvimento, e qual o papel do "respeito à individualidade" nesse debate?
3 - O texto aborda acusações de "homofóbico, racista, machista" e a percepção de que "aqueles que exigem respeito são os primeiros a desrespeitar o diferente". Do ponto de vista da Sociologia dos Conflitos e da Moral, como as guerras culturais e a polarização ideológica se manifestam no ambiente escolar, e como essa "transferência emocional" afeta as relações interpessoais?
4 - A crônica toca na questão do etarismo, mencionando que professores experientes são vistos como "quadrados" e pagam o preço por não se adequarem. Como a Sociologia do Envelhecimento e das Gerações pode analisar o choque entre diferentes visões de mundo na profissão docente e as implicações para a valorização de experiências e conhecimentos acumulados?
5 - Ao finalizar, o autor prevê um futuro onde a docência se tornará exclusividade de "mulheres feministas, pessoas trans ou figuras domesticadas pelo desejo dos adolescentes", citando Isaías 3:12. Sob a ótica da Sociologia de Gênero e da Juventude, como as transformações nas relações de poder entre gêneros e gerações podem influenciar a composição do corpo docente e as dinâmicas de autoridade na escola?


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