"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 15 de julho de 2023

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (61): A Jornada do Autoproclamado Pastor.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (61): A Jornada do Autoproclamado Pastor.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã cinzenta, daquelas em que o sol parece esconder-se timidamente por trás das nuvens. Enquanto folheava o jornal, deparei-me com uma notícia intrigante, um anúncio em letras garrafais: "Torne-se um pastor em apenas 20 meses!". A curiosidade tomou conta de mim, e mergulhei naquelas palavras que revelavam um universo obscuro e inquietante.

Segundo o jornal, qualquer pessoa poderia se tornar um pastor, sem maiores exigências além de um curso por correspondência. Bastava desembolsar uma quantia módica de R$ 8,00 por mês, durante um período de 20 meses, e as apostilas seriam entregues ao aspirante a líder espiritual. Assim, em um piscar de olhos, alugar uma sala e erguer uma nova igreja tornava-se uma realidade tangível. Porém, algo não parecia certo nessa história.

Refleti sobre as entrelinhas daquele anúncio e senti um profundo desconforto. O que havia acontecido com a solenidade do ofício religioso? Onde estavam os grandes estudos sobre os escritos sagrados, os cursos de teologia, as reflexões exaustivas sobre interpretações? Tudo parecia ter se dissipado no ar, como se a essência da religiosidade tivesse sido esquecida.

A jornada para se tornar um pastor, outrora marcada por um árduo caminho de aprendizado e aprofundamento espiritual, agora era resumida a uma série de pagamentos e apostilas. Não havia espaço para as discussões intermináveis sobre o apostolado, a fé, a religiosidade, a esperança e a crença no potencial transformador do ser humano. O sagrado, antes reservado a poucos escolhidos, parecia agora disponível a qualquer um disposto a pagar o preço em dinheiro.

Enquanto o mundo ao meu redor seguia seu ritmo frenético, eu me via imerso em uma profunda reflexão. A comercialização da fé, presente de forma tão escancarada, parecia desvirtuar a própria essência da religião. Afinal, como confiar em líderes espirituais cuja formação se baseia em meras apostilas? Como acreditar em discursos que não surgem de uma vivência profunda e de uma busca constante pelo conhecimento divino?

Percebi que a religião, em seu cerne, deveria ser uma busca sincera pela verdade, um refúgio para as almas sedentas por significado. Não se trata apenas de recitar palavras prontas ou ocupar um posto de liderança sem o devido preparo. A religiosidade é uma jornada de autodescoberta, de conexão com algo maior que nós mesmos.

Ao concluir a leitura daquele anúncio polêmico, senti um misto de tristeza e indignação. Não podemos permitir que a essência da religião seja banalizada, transformada em uma mera mercadoria. Cabe a cada um de nós, como buscadores de verdades espirituais, discernir entre a superficialidade e a profundidade.

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (60): A Anarquia Religiosa.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (60): A Anarquia Religiosa.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma época em que a liberdade parecia florescer em todos os cantos da sociedade. A democracia, com sua promessa de igualdade e direitos fundamentais, assegurava a todos o direito à liberdade religiosa. A Constituição Brasileira, com seus artigos claros e precisos, garantia essa prerrogativa. No entanto, em meio a essa aparente harmonia, surge uma pergunta inquietante: até que ponto essa disseminação, rotulada como religiosa, não se configura como um abuso da boa fé do povo? Até que ponto ela ultrapassa os limites legais e viola o verdadeiro propósito da religiosidade? O que presenciamos não é um genuíno uso da liberdade, mas sim uma anarquia religiosa.

Não há leis que proíbam tais práticas, é verdade. A liberdade religiosa é um direito inalienável de cada indivíduo. Contudo, ao nos depararmos com a realidade, é impossível não questionar os excessos que presenciamos. Oportunidades se transformam em abusos, e a religião se torna uma moeda de troca, uma forma de manipulação. Um instrumento de dominação.

É como se a fé, tão sublime e sagrada, estivesse sendo comercializada, diluída em promessas vazias e interesses mesquinhos. É um verdadeiro atentado à essência da religiosidade, um desvio do seu propósito mais nobre. Essa anarquia religiosa que testemunhamos coloca em xeque não apenas a boa fé do povo, mas também a própria integridade da religião.

Afinal, onde está a verdade na multiplicidade de líderes espirituais que surgem a cada esquina? Onde está a profundidade da experiência espiritual em meio à superficialidade dos discursos e rituais? São questões que me assombram, que me fazem questionar se essa diversidade aparente não passa de uma mera fachada para a ganância e a manipulação.

Não estou aqui para julgar crenças individuais ou negar o direito de cada um buscar sua própria conexão com o divino. No entanto, é preciso refletir sobre os limites éticos e morais que são ultrapassados em nome da religião. É necessário separar o joio do trigo, discernir entre os verdadeiros mestres espirituais e aqueles que apenas se aproveitam da vulnerabilidade alheia.

A anarquia religiosa não é sinônimo de liberdade, mas de caos espiritual. É preciso reavaliar o significado da fé em nossa vida, resgatar a verdadeira essência da religiosidade. A busca pelo divino deve ser um caminho de autenticidade, conhecimento e compaixão, não um terreno fértil para o oportunismo e a exploração.

Neste momento de reflexão, convido cada leitor a olhar além das aparências, a questionar as motivações por trás das práticas religiosas que testemunhamos. Que possamos buscar uma conexão verdadeira com o sagrado, baseada na integridade, no amor e na busca sincera pela verdade. "A ignorância, a cobiça e a má-fé também elegem seus representantes políticos." (Carlos Drummond de Andrade) .

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (59): A Facilidade de Inventar uma Nova Crença.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (59): A Facilidade de Inventar uma Nova Crença.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Tenho amigos que, em algum momento da vida deles, encontraram um novo caminho espiritual. Converteram-se ao evangelismo, como costumam dizer, e agora percorrem os dias com a Bíblia em mãos e uma nova religião no coração. Mas, não é deles que pretendo falar. Não é sobre a transformação pessoal de cada um e sua abordagem singular em relação à crença. Quero abordar, entretanto, a facilidade com que alguém, partindo de sua própria ignorância, ousa inventar uma nova crença desprovida do mínimo conhecimento das Sagradas Escrituras, destituída de qualquer base cultural religiosa e desprovida de autenticidade na fé cristã.

Que tipo de igreja é essa que surge do nada, como se o próprio pastor tivesse sido ungido pelo "Espírito Santo" durante a noite? É uma questão que me inquieta e me faz refletir sobre a natureza da religião em nossos tempos.

Na era em que vivemos, parece que qualquer pessoa com uma ideia, por mais absurda que seja, pode se proclamar líder religioso. Não há critérios, não há exigências, não há um processo de formação e aprofundamento espiritual. Basta que alguém se sinta inspirado, junte alguns seguidores e pronto: uma nova igreja nasce.

Fico a questionar a qualidade da fé que é cultivada nesses ambientes. É uma fé vazia, desprovida de qualquer visão de religiosidade verdadeira. O conhecimento das Sagradas Escrituras, tão fundamental para uma compreensão profunda da fé, é negligenciado em meio a essa onda de criações religiosas. A falta de embasamento torna-se evidente, e é preocupante testemunhar tantas pessoas seguindo cegamente uma liderança que se ergueu sem fundamentos sólidos.

Que mensagem estamos transmitindo para as gerações futuras? Estamos permitindo que a superficialidade e a falta de discernimento contaminem o campo sagrado da espiritualidade. Devemos questionar e discernir, buscar um entendimento mais profundo das verdades espirituais e não nos deixarmos levar por qualquer modismo religioso que apareça.

A religião, em sua essência, deveria ser um farol de luz, uma fonte de sabedoria e esperança. Não podemos permitir que a ignorância se sobreponha à verdade. Cada um de nós tem a responsabilidade de nutrir uma conexão profunda com o divino, de buscar o conhecimento e a compreensão de nossas crenças.

Enquanto observo essa enxurrada de novas igrejas, nascidas sem raízes sólidas, sinto um chamado para a reflexão e a ação. Devemos buscar um equilíbrio entre a autenticidade espiritual e a busca por uma comunidade que nos fortaleça e inspire. Que possamos discernir entre o verdadeiro chamado do Espírito Santo e as vozes que surgem da mera ambição e falta de conhecimento.

É chegada a hora de retomar o verdadeiro propósito da religião: buscar a conexão com o sagrado, enriquecer nossa espiritualidade e confiança em Jesus.

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (58): A Fabricação de uma Igreja.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (58): A Fabricação de uma Igreja.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma época em que a degradação ascendente se infiltrava sorrateiramente pela sociedade. O que outrora chamávamos de igreja, agora ganhava contornos obscuros, revelando um processo corrosivo e intrigante. Quem melhor para desvendar os segredos dessa engrenagem que fabrica igrejas do que o renomado escritor Edmundo Morais Neto?

Ele nos guia por um caminho sinuoso, revelando em sua obra, intitulada: "Como se Fabrica uma Igreja"; o câncer social que permeia essa construção. Afinal, se você deseja abrir uma igreja evangélica, basta seguir os passos indicados pela reportagem do Diário da Manhã, datada de 13 de janeiro de 2002. São ensinamentos detalhados sobre como criar e montar uma congregação, além dos requisitos necessários para tornar-se pastor.

Surpreendentemente, o jornal revela que aqueles que não conseguem abrir filiais de igrejas populares e tradicionais preferem trilhar o caminho da criação própria. Sim, você leu corretamente: aqueles que não encontram espaço nas instituições estabelecidas optam por erguer suas próprias estruturas.

Essa realidade ganha vida em nossa capital, onde numerosas igrejas evangélicas surgem como cogumelos após a chuva. Basta percorrer as ruas e observar os nomes peculiares que saltam das paredes de pequenos cômodos, casas modestas ou até mesmo barracos improvisados. A maioria desses locais de culto, acredite, surge de meras reuniões de quatro, cinco ou seis pessoas em qualquer aposento disponível de uma casa ou apartamento.

Vivi esses acontecimentos como testemunha impotente, enxergando a disseminação desenfreada de uma realidade perturbadora. A multiplicação desenfreada de igrejas, muitas delas desprovidas de fundamentos sólidos, desafia a nossa compreensão. Fico a refletir sobre o verdadeiro propósito dessas construções e o impacto que exercem em nossa sociedade.

Nessa reflexão profunda, a mensagem que ecoa é poderosa e inquietante. Devemos questionar a essência das nossas crenças e buscar a verdadeira conexão com o divino. Não permitamos que a superficialidade e a ganância obscureçam a essência da fé. Afinal, a grandeza de uma igreja não reside em suas paredes, mas sim na autenticidade do vínculo humano e espiritual que ela promove.

Que possamos abrir os olhos para o verdadeiro significado da igreja, transcendendo as construções físicas e abraçando a busca pela espiritualidade genuína. Não nos deixemos seduzir pelas armadilhas do status e do poder. Que possamos encontrar o sagrado nas mínimas expressões da vida e na conexão fraterna entre aqueles que buscam a verdade.

Assim, desvendaremos o mistério que permeia a fabricação das igrejas e resgataremos a essência de uma fé verdadeira.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (57): Espiritualidade Autêntica: Alicerces Invisíveis.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (57): Espiritualidade Autêntica: Alicerces Invisíveis.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Entre as páginas embaçadas do tempo, um mistério ancestral se desvela diante de nós: quando e como surgiu a primeira igreja? A resposta, por mais complexa que seja, pode ser encontrada nas entrelinhas da história. Alguns acreditam que o ponto de partida para a organização da primeira igreja ocorreu quando Jesus chamou os doze discípulos para segui-Lo. É um fato incontestável, mas a partir desse momento, algo se bifurcou. Sim, eles não possuíam edifícios grandiosos ou instituições pomposas. No entanto, ali se delineavam dois caminhos distintos: a igreja invisível e a igreja institucional e denominacional, uma dirigida por Cristo e a outra pelos homens, respectivamente.

A partir de agora, desvencilhemo-nos do termo "igreja" para descrever a comunhão universal dos fiéis. Abracemos, então, o conceito de Sociedade Espiritual de Cristo, cujos membros se destacam e se manifestam nos mais diversos cantos do mundo. Eles se reúnem sob as sombras de árvores centenárias, à beira de rios cristalinos ou nos aconchegantes lares daqueles que os acolhem. Pois, como disse Jesus: "Pois onde dois ou três se reunirem porque são meus, Eu estarei ali mesmo entre eles" (Mt 18:20 BV).

Esses remanescentes, alvo de Sua ternura e cuidado incessantes, não foram abandonados à deriva. Jesus, em Sua sabedoria e amor inesgotáveis, tornou-Se o único pastor, entregando-Se por eles e por nós. Sua promessa ressoa eternamente em nossos corações: "Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mt 28:20 BSEP).

Vivi esses acontecimentos descritos como um espectador privilegiado, testemunha da dualidade que permeia a espiritualidade. De um lado, a grandiosidade das estruturas e a influência dos homens; do outro, a simplicidade dos encontros íntimos, nos quais a presença divina se faz tangível. E é nesse contraste que percebo a importância de refletirmos sobre nossa jornada espiritual.

Nessa reflexão, uma mensagem impactante emerge: não devemos permitir que as estruturas humanas se sobreponham à essência da fé. A Sociedade Espiritual de Cristo, formada pelos indivíduos sinceros e devotos, transcende qualquer construção física. É um convite para nos reunirmos em comunhão, sem amarras institucionais ou denominações que nos dividem.

Que possamos resgatar a essência da nossa fé, encontrando a verdadeira união espiritual que transcende barreiras e diferenças. Que possamos enxergar, além das paredes frias das igrejas, a chama que arde no íntimo de cada um de nós, mantendo viva a conexão com o divino. E que, ao trilharmos esse caminho de autenticidade e simplicidade seja o elo.

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (56): Sobre a Transparência nas Instituições Religiosas.

 


ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (56): Sobre a Transparência nas Instituições Religiosas.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Desvendar os mistérios que se ocultam por trás dos rituais sagrados é um caminho repleto de questionamentos e inquietações. Encontro-me, agora, diante de uma questão que permeia os pensamentos dos fiéis: se os dízimos e ofertas são empregados de forma correta, por que então os membros da igreja são compelidos a adquirir, por conta própria, todo o material missionário, até mesmo um singelo folheto, das Associações, Federações e escritórios superiores?

A cada passo dado nessa jornada de fé, somos confrontados com um paradoxo desconcertante. Afinal, quando se trata de reformar um templo ou erguer novos santuários, somos convocados, em cada culto, a contribuir com ofertas extras. Isso não passa de uma imposição, uma circunstância forçada que incita os irmãos a darem além de suas possibilidades. É um pecado, sem sombra de dúvida.

Os versos sagrados ecoam em minha mente, ressoando com clareza inegável: "Levados pela cobiça, eles, pastores avarentos, vos explorarão com palavras artificiosas" (II Pd 2:3 BSV). O impacto dessas palavras é avassalador, revelando a trama que se desenrola nos bastidores das instituições religiosas. Uma dança perigosa, em que o sagrado se mistura com o interesse pessoal e o discurso se reveste de astúcia.

Vivendo os acontecimentos descritos, sou levado a refletir sobre a transparência que se faz necessária nesse contexto. Como podemos construir a confiança saudável entre os membros da igreja e seus líderes? Como podemos reverter essa situação em que a responsabilidade financeira é transferida para os ombros, daqueles que creem, já sobrecarregados?

É chegada a hora de exigirmos a verdade, de cobrarmos a prestação de contas que tanto anseia por respostas. Cada centavo doado, cada gesto de generosidade, deve ser honrado com integridade e respeito. Não podemos mais permitir que o sagrado seja vilipendiado e que a fé seja explorada por palavras sedutoras e manobras astuciosas.

Que a mensagem ecoe com força em nosso coração e mente, como um chamado à reflexão e à ação. Façamos valer nossa voz e exijamos a transparência que nos é de direito. Somente assim poderemos resgatar a verdadeira essência da religião, construindo uma comunidade em que a generosidade seja sinônimo de confiança e o compromisso com o divino esteja acima de qualquer interesse pessoal.

É hora de dançar uma nova melodia, em que a harmonia entre fé e justiça seja a coreografia que guia nossos passos.

ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (55): O Peso dos Projetos Fantasmas.

 


  • Crônicas
  • ANTOLOGIA DE CRÔNICAS REFLEXIVAS À LUZ DA SÃ CONSCIÊNCIA — Crônica (55): O Peso dos Projetos Fantasmas.

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Nas dobras do tempo, onde a fé e a busca por um propósito maior se entrelaçam, uma pergunta inquietante emerge: até que ponto estamos verdadeiramente cumprindo a obra de Deus na terra? As referências bíblicas, especialmente aquelas encontradas no Novo Testamento, ecoam como sussurros de sabedoria, revelando um caminho claro e inequívoco. Descubro, então, que esta jornada é uma trajetória pessoal, um chamado individual que clama por ação e comprometimento.

    Contudo, vejo com desalento os desvios que ocorrem em meio a essa busca espiritual. Os projetos fantasmas, alimentados por causas avarentas, se multiplicam como turvação que obscurecem a luz divina. É doloroso constatar que a tesouraria "sagrada" e aqueles que se autointitulam "profissionais da religião" se tornam peças-chave nesse cenário, abraçando um erro que tem atrasado o tão aguardado segundo advento de Cristo. A responsabilidade, que deveria ser assumida por cada um de nós, é transferida para outrem ou depositada em uma entidade abstrata, uma organização que se torna intermediária entre o indivíduo e sua relação com o Divino.

    Nessa teia de equívocos, vejo o desolador reflexo do nosso tempo. Observo, com uma mistura de perplexidade e tristeza, o "dinheiro de Deus" permanecer inerte, de braços cruzados, enquanto poderia ser transformado em auxílio para os pobres e necessitados. Em vez disso, testemunho sua má utilização, alimentando salários astronômicos e benefícios honorários concedidos a pastores e funcionários que, aos olhos de Jesus, se enquadram na categoria de mercenários. Como não perceber a desolação dessas palavras divinas: "O empregado foge porque trabalha somente por dinheiro e não se importa com as ovelhas" (Jo 10:13 BLH)?

    É chegada a hora de nos perguntarmos: onde reside a verdadeira essência da fé? Como podemos resgatar a pureza de nossos propósitos e a responsabilidade que nos é inerente? Cabe a cada um de nós assumir a tarefa árdua, porém essencial, de refletir sobre nossas próprias ações e escolhas. Não podemos mais delegar a outros aquilo que é nossa obrigação sagrada.

    Nesta crônica vivida, como quem caminha pelos eventos do passado, faço um apelo sincero a todos os leitores. Ergamos um olhar crítico para o sistema que nos rodeia, questionemos a validade de projetos que se desvanecem como miragens. Encontremos em nosso íntimo a coragem necessária para romper com os paradigmas estabelecidos e, assim, reconstruir a verdadeira relação entre o Divino e o humano.

    Que possamos, em nossas ações e escolhas, manifestar a luz da compaixão e da justiça. Somente então poderemos resgatar o verdadeiro sentido da fé, deixando para trás as máscaras de "santarrão.