"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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terça-feira, 30 de junho de 2009

O JOGO DE MESTRE




Texto

JOGO DE MESTRE

terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade

          Assisti a uma partida de futsal entre professores e alunos, acompanhei detalhadamente com uma certa angústia a superioridade física dos alunos, e os diferentes sentimentos que os levavam a mostrar suas habilidades. Uns queriam apenas exibir seu jogo, contribuindo, assim, com o time. Outros, tirar suas diferenças e quebrar toda barreira da hierarquia como forma de vingança pelas incompreensões em classe. Havia uma certa liberdade e descontração, um ambiente propício para se pronunciar um palavrão, um aqui, outro acolá, sem qualquer escrúpulo, que em outro lugar, alunos e professores não se atreveriam. Vislumbrei a última vez em que participei ativamente de um momento “lúdico” desses, quando ainda os professores ganhavam, pois a quadra era na verdade uma extensão do massacre da sala de aula.
           O jogo entre professores e alunos é um dos mais nobres métodos para nivelar mestres e discípulos, porque quando o professor perde, cai a diferença, promovendo assim uma disposição para o aprendizado; só assim, o Jogo ganha a oportunidade de tornar-se o método miraculoso para eternizar boas relações. O professor, em qualquer outro lugar, poderia ficar ressentido com uma ofensa verbal e/ou uma pancada injusta na canela, mas no jogo não. Ele não pode manifestar ressentimento algum contra os alunos que precisam aprender a viver. Deve aplicar suas energias em outra direção: na socialização. Nessa dinâmica educacional, manter-se leal ao ofício significa manter a desvantagem na partida.
           No caráter do professor “perdedor” há, porém, algo mais que é digno de imitação. Além de não ficar ressentido com alguns alunos adversários, escarnecedores, paranóicos e com a torcida frequentemente dominada pelo demônio, ele formou duradoura amizade consigo mesmo. Por quê? Os sentimentos que perpassam o seu coração são de que ele está naquela situação inferior porque é didática. Ou de que está se deixando levar como prova de seu domínio próprio! Pois, perder no jogo, o que parece ser uma escolha cruel, não significa um fracassado. Então, como posso ser um bom jogador, isto é, driblar, enganar todo mundo, e permanecer ao mesmo tempo leal ao magistério?
           Somente a ética possibilitará que o clássico - Professores X Alunos - sobreviverá, como um bom método pedagógico, enquanto o verdadeiro forte for dilacerado em nome da lealdade ao ofício.


EDUCADOR ou PROFESSOR (Na burocracia é assim: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo.)


EDUCADOR ou PROFESSOR (Na burocracia é assim: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo.)

Claudeci Ferreira de Andrade

          Em uma visita de rotina, numa das escolas do município, tive o desconforto de ouvir uma aluna que denunciava um de seus professores sendo que o mesmo saía da sala de aula, a cada dez minutos, para fumar; como se não bastasse, naquele mesmo instante, veio a confirmação, da delatação, por um dos “colegas” dele, dizendo que o dito cuja se comportava da mesma forma nas reuniões pedagógicas da escola.
           — Aqui o cheiro é insuportável – dizia eu para me mostrar compactuado com os reclamantes.
           Saí dali com a fumaça da indignação, questionando a mim mesmo, – o que é ser educador? Aliás, sempre aparece na tela de minha mente, um quadro aterrorizador quando ouço a palavra “educador”, ainda mais quando vem de dentro para fora, isto é, quando falo a mim mesmo. A maioria das pessoas crê que o indivíduo que frequentou a faculdade, e licenciou-se ao professorado, já é um educador, mesmo que seja um delinquente moral. Um professor é bem visto por seu preparo acadêmico e competência didática. Se ele é bem sucedido em seu trabalho, o mundo o considera uma sumidade, não importa se é ou não moralmente correto. O mesmo já não é verdade a respeito de um educador, por que as suas qualidades espirituais importam mais que sua popularidade e suas aulas tecnicamente interessantes.
           Então penso que quando se faz “vista grossa” ao caráter de quem ensina, a educação se transforma em poder egoísta. Poder para destruir a minoria! Poder para acabar com a paz! O homem instruído, porém viciado, simplesmente é potencializado seu poder de destruição.
           Depois, em reunião do departamento, debatendo sobre aquele tema, com o grupo de técnicos da Secretaria de Educação, alguém brincou, sem pesar muito suas palavras, dizendo:
           —É... nessa educação...! Eu preciso mesmo é de um remédio para deixar de ser “fumado”!
           Por aquela exclamação e por outras que apelam para valorização humana e profissional: coisas sem remédio! Fui obrigado a concordar que esta é a essência dos ideais de muitos professores e alunos: denunciar por meramente denunciar e contimuar vivendo sem razão. Entretanto, o que dizer de quem não tem “sangue” de educador, mas gestiona políticas públicas educacionais? O que dizer de mim, incentivador da denúncia, se aquelas, até hoje, não saíram do meu relatório de monitoramento? Apesar de tê-lo encaminhado para quem é de direito, retornou marrotado de tanto circular e esbarrar na burocracia.
          Parafraseando um lugar comum, concluo: Denuncia quem pode, espera quem tem juízo. E acrescento a chacota: Se "chiar" valesse de alguma coisa, Sorrisal não morria afogado!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/08/2009
Código do texto: T1736019

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O "MENTIRÁRIO" ( Diário de Classe: Corromperam meu instrumento de trabalho!)



CRÔNICA

O "MENTIRÁRIO" (Diário de Classe: Corromperam meu instrumento de trabalho!)


Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Alguns anos atrás, uma coordenadora pedagógica recusou-se a olhar meus diários de classe, no final do bimestre, alegando que as “notas quebradas”, ali registradas, dificultavam seu trabalho (A dita cuja se dizia licenciada em matemática). Fui, então, encaminhado para a outra, a principal da dupla, em um clima muito ruim de insatisfação pessoal, esta autorizou meus diários assim mesmo, se impôs sobre mim e sobre sua parceira de trabalho, sua intenção era de se redimir de outras ofensas do passado a mim cometidas. Pois, não era só esse o meu problema com os diários, eu me recusava assinar no final de cada linha escrita e no traço diagonal que eu mesmo fazia por recomendação pedagógica, era para inutilizar os espaços em branco. Além do mais, rubricava na linha subtraçada, própria para assinatura, no rodapé de cada folha, e elas queriam o meu nome por extenso. Obrigavam-me a falsificar a minha própria assinatura, uma vez que a minha carteira de identidade ostenta rubrica. Ainda hoje, fazem o mesmo, e há quem goste!
           Que "documento" tão sério é esse que somos obrigados a assinar todas as linhas utilizadas, nos forçando a crer que não há nenhuma chance de fraude? Que veracidade tem isso: lançar-se o dia primeiro de junho como letivo, para obrigar professores e alunos a participarem do evento, que é aniversário da cidade de Senador Canedo, validando as aulas que teriam naquele dia! Outra coisa, o que se chama de bimestre, no diário é registrado ora três meses, ora dois e meio! Os coordenadores inventaram isso. Ah, "hora aula" não é "hora relógio", e por aí vai! Todos os professores lançam o tal "sábado letivo" no diário como um dia normal, o conteúdo de um dia escolhido, se o Ensino Médio tem 11 disciplinas fica registrado que cada série teve 11 aulas naquele turno sabático. É possível?
          O diário demanda contra a própria coordenação de turno, que tem que dar conta do aluno dentro da unidade escolar, quando um aluno no mesmo período do mesmo dia tem falta com um professor e com outros, não; isto acontece frequentemente,  bastando apenas um ou outro professor deixar de fazer a chamada naquela aula, aí surge a pergunta: onde estava o aluno ausente da terceira aula que respondeu a chamada da primeira aula e da última? Sem falar que uns respondem a chamada por outros.  O professor devia está preocupado com isso, sabendo que falta, na prática, não reprova? ( pelos critérios da lei é impossível reprovar por falta, sendo a computação das mesmas no geral de horas letivas do ano - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 - em Art.24 inciso VI). Quem se candidataria a fraudar um diário de classe? Até porque não é índice de crescimento reprovar o aluno! Se simplificássemos esse “gerador de divergência profissional”, ou melhor, desprofissionalizador, acabar-se-iam todas as funções dos coordenadores pedagógicos? – Se isso é o que os faz tremer! O coordenador ainda teria de se preocupar com o cumprimento dos duzentos e nove dias letivos, driblando vários deles com eventos culturais, e conselhos de classe, etc. 
          Vejo que para os coordenadores, o diário de classe é mais importante do que o próprio professor, provando assim a coisificação do humano que trabalha na unidade escolar. Para castigar-nos, no mesmo colégio em que trabalho, em pleno século XXI, onde já aceitavam o diário totalmente digitado, bastando apenas trocarem de coordenadora, retroagiram, para um tempo do absurdo, obrigando o professor a fazer as folhas da frequência de aluno em manuscrito, o resto do diário continuaria digitado. Assim fica claro a desvalorização da boa estética e da uniformidade do "documento" (a beleza do inútil?). Para justificar a incoerência, a coordenadora explicou-nos que precisava verificar se a chamada era praticada rigorosamente todos os dias (como se ela tivesse disposição para isso), por causa dos professores "malandros" que fazem a chamada por amostragem. Pois é, mas esta mesma coordenadora, em reunião anterior, orientou os mesmos que não deviam lançar faltas para os alunos na última semana de janeiro e nem no mês de fevereiro (2011). De que parte do inferno estão vindo as orientações para o manuseio deste "ditoso" instrumento de trabalho do professor? Agora compreendo, por que uma boa parte dos professores pagam para outros mais inescrupulosos fazerem seus diários de classe. E não tem como não errar o preenchimento do diário, pois a maior parte de seu conteúdo é inventado!
          Corrigir provas com caneta de tinta vermelha pode, mas preencher diário de classe com essa caneta nem pensar. O que é mais importante? Já refiz diários sem rasura nenhuma, só porque estava em vermelho. Comprovaram as minhas suspeitas, porque tinha feito de propósito! Só as leis de Murphy explicam, especialmente estas: "Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora." "Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível."
         Sem falarmos que preencher diários de classe atrofia o cérebro dos professores pela falta de exercício criativo, pois a siste(mato)logia é sem motivação a novos sentidos. É uma rotina descomunal e toma uma grande parcela do seu tempo fora de classe, em que poderiam exercer imaginação fértil. Eu por exemplo só entrego meus diários atrasados, pois tiro um tempinho para exercitar meu cérebro, lendo temas diversificados e escrevendo sobre minhas desgraças (atualizo meu blog toda semana - Crônicas da vida escolar).           
           Se a escola pública tem fama de fingir ensinar, e o aluno fingir aprender, eu diria que seus documentos fingem uma seriedade impecável. Assim, vamos coniventemente, é claro, em busca da mentira perfeita! Portanto, culpados, mas ainda recebemos o tratamento dispensado aos mais altos escalões da sociedade: “Educadores”. Deveríamos ser chamados de políticos, e os políticos de professores, pois eles é que têm "moral" e merecem salários, cada vez, melhores.
           Deixemos de considerar leviano o dolo, e o Sistema Educacional em que estamos inseridos pagará por isso, aliás é um sistema cruel que se vinga de si mesmo. O que farão elas, funcionárias de "notas redondas", desprestigiadoras do computador, quando o "Diário de Classe Eletrônico" for-lhes metido de goela abaixo? Ou goela acima!? E assim como diz Sacha Guitry, vivemos (professores e coordenadores): "Uma das mentiras mais fecundas, interessantes e fáceis é fazer a pessoa mentirosa pensar que acreditamos no que ela nos diz".
           Seis anos depois, estou editando esta crônica, acrescentando este último parágrafo, pois o diário eletrônico chegou de fato e em todas as escolas que trabalho, cumpriu-se a profecia. Agora, faço o tal diário digital. A minha vingança foi satisfeita ao assistir as tais professoras com muita dificuldade para lidar com um computador. Mas, não sei se posso ficar feliz, acho que não: Justamente nesse ano, depois de ter digitado todo o conteúdo dos dois  últimos bimestres, de todas as salas, a coordenadora entrou em minha conta e apagou tudo, não sei se por incompetência ou de propósito para sacanear comigo, devido minhas críticas. O certo é que tive que digitar tudo novamente. Não sei o que acontece, se no conselho de classe são usadas a listas de notas digitadas na página eletrônica do professor, não falta nenhuma nota e depois aparecem alguns alunos sem nota no boletim ...?! Todos têm a senha de acesso ao diário do professor, só o professor não tem ao SIGE. Imagina se um professor traidor tiver acesso a página de notas do colega...! Nem se fala quando a internet está congestionada, e a plataforma em manutenção sem aviso algum, digita-se de duas a três vezes até salvar o conteúdo e haja tempo desperdiçado. Contudo, quero comemorar o cumprimento da profecia. E o "avanço" tecnológico na educação! E pelo fato de não preenchermos mais diário de papel, acham-se que podem nos encher de trabalho, pois agora estamos sobrecarregado de tantas pautas, projetos e formulários para enviar em tempo determinado. A secretaria bloqueia e desbloqueia o aplicativo quando bem quer, tornou-se a atual Coleira eletrônica: "Os demais que atrasarem a entrega irão ter advertência anexada à avaliação profissional e será prejudicado o recebimento integral do Bônus" - diz a gestora.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/08/2009
Código do texto: T1732260

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A POLÍTICA DA SOBREVIVÊNCIA (Alugam-se crianças a preço de banana!)




Texto

A POLÍTICA DA SOBREVIVÊNCIA (Alugam-se crianças a preço de banana!)

terça-feira, 30 de junho de 2009
Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Chorou-me a alma gotas de hormônio, o hormônio da compaixão. Foi isso, exatamente, o que senti! Eram apenas oito horas da manhã, daquele sábado, o transporte coletivo rumava cheio para Goiânia. Como muitos não costumavam comprar suas passagens com bastante antecedência, cinco senhoras ali tumultuavam o compartimento antecatraca. Eu também estava ali, prensado com pinto no ovo, mas a imprudência não era meu caso. Elas infelizmente estavam impedindo qualquer acesso ao interior do veículo, que, talvez bastasse um solavanco para caber só mais um. Até que elas tinham boa vontade, mexiam-se tentando facilitar a movimentação, mas não adiantava, o corredor era muito estreito, e como cada uma tinha um bebê nos braços, não podíamos fazer muita pressão, até porque, o cheiro nauseabundo, que combinava com a sujeira de suas vestimentas, nos repelia. Pés descalços e sacolas a tiracolo que podiam esfregá-las no chão sem nenhum ressentimento. Sem revelar os falatórios característico daqueles que tinham pressa, e se sentiam impedidos de passar, vou dizer apenas, que tive de reclamar também com algumas sugestões. Depois de muito custo, conseguimos rodar a “catraca” e no interior do ônibus, agora, já, mais confortavelmente  pude observar melhor àquelas cinco senhoras, que depois de uma pequena e rápida conferência, tomaram uma atitude para combater um inimigo comum: passar a catraca sem pagar e resolver, de vez, aquele problema. Continuei observando, quando uma movimentação, produto do amor materno, tomou conta daquele espaço, chamando a atenção de todos. Primeiro uma segurou duas crianças enquanto sua colega passava, e esta, ao conseguir se arrastar por baixo, retribuiu o favor para que aquela fizesse o mesmo. Porém, as outras preferiram caminhos diferentes. Pularam a roleta ou se espremeram na lateral interna do ônibus! Quando a última passou, olhei para o final da “nave”, e todas estavam sentadas! Como conquistaram os assentos numa fileira só? Que projeto bem elaborado!
           De uma forma bem discreta, comecei a olhar para as serenas criancinhas nos braços de quem parecia ser sua mãe de verdade. Mas, elas não precisavam saber disso. Fui eu quem imaginou, porque, a olho nu, não se pareciam, nem um pouco, com as suas respectivas amparadoras. Uma menina chorou, e recebeu uma mamadeira vazia na boquinha! Que mãe é essa? Todos os bebês com mais ou menos o mesmo tamanho! Que coincidência é essa?
           No destino final, todos os estranhos se perdem, refiro-me, não só ao desembarque da tripulação heterogênea que chegou à seu alvo, mas, pensando, também, na fusão dos distintos em algum momento no etéreo. Se é que os opostos se atraem!
           No dia seguinte encontrei, na feira de domingo, uma daquelas senhoras pedindo esmola, e a criança que ela conduzia não era a mesma que levava naquele ônibus. Não dei centavo algum, mas esperei que outros dessem na mesma fé daqueles que cederam seus assentos no ônibus (cenário do ontem). Com nada menos que um bom projeto, faz-se a política da sobrevivência.

            Nesse Brasil inescrupuloso, as crianças são usadas para assegurar casamento, e muitas das vezes, até para se evitar as grandes filas do comércio. Elas também são peças valiosas nos depósitos públicos educacionais, chamados Escolas de Tempo Integral,  para arrecadar mais dinheiro do FNDE. Isso não está escrito no ECA! 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 01/08/2009
Código do texto: T1730766

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INCOERÊNCIAS LICENCIADAS (Educação é polidez?)



Claudeci Ferreira de Andrade

          Um dia, fui à Câmara dos Vereadores para participar de uma capacitação do PES (Planejamento Estratégico da Secretaria), como cheguei um pouco depois do início, tive dificuldade para arranjar um assento, pois cada professor, ali, ocupava duas cadeiras, uma para se assentar e outra para colocar seus pertences. Ao entrar, quando empurrei a porta de vidro, soou um barulho que fez notória minha chegada, dei alguns passos para frente à procura de uma cadeira disponível, mas nenhuma estava.  Porém, não me restava outra opção, senão escolher uma das pessoas ali e o fiz; passaram-se uns dois a três minutos até que ela arrumasse, no colo, toda a sua papelada e outros objetos de uso pessoal, constrangeu-me muito pedir licença, eles estavam indiferentes. Contudo, eu já tinha compreendido a sua má vontade, ela entraria em prejuízo com relação aos demais! Sendo assim, eu também estava, somente procurei tirar a diferença, dirigindo a palavra àquela “virtual” cursista, digo virtual, porque estava cochilando, minha tão conhecida de outros encontros. É claro que apenas murmurei a seus ouvidos; a reunião estava a todo vapor:

          — Não me leve a mal, professora Ana, mas como estar o desempenho do palestrante?

          Na verdade, eu não queria saber do desempenho de ninguém. O que eu queria mesmo era quebrar o “gelo”. Ela demorou um pouco até retornar ao mundo real, então repeti a pergunta, foi quando o dirigente virou-se para a tela de projeção, criando oportunidade para o nosso diálogo, que me respondeu:

          — Estou gostando!

          — Você não acha uma incoerência paralisar todos os gestores e o pessoal da Secretaria para tratarem de um assunto pertinente só a uns poucos diretores de departamento? Falei sem muita propriedade, pois acabara de chegar e ainda não tinha pegado o “fio da meada”.

          Naquele momento, interessava-me apenas o momento, e ela teria que me aceitar em “sua cadeira guarda-volumes”, portanto, para isso, estava tentando lhe provar que eu seria uma boa companhia, que me ceder a cadeira foi um bom investimento. E me pareceu ter conseguido, porque ela preferiu desabafar-se comigo a assistir a reunião.

          — E o que não é incoerente na educação? – Perguntou-me sem muita meticulosidade e continuou enumerando outras contradições: — Os professores cobram da Secretaria cursos de aperfeiçoamento, e depois colocam mil dificuldades para participar. Veja quantas pessoas estão aqui!

          Na deixa, pensei e retruquei imediatamente: — Se todos os professores estivessem aqui como cumpririam o calendário letivos? Quando fariam a reposição das aulas?

          — Você tem razão, – disse ela – lembrando que um sábado letivo não serve para repor um dia letivo, sobra pouco espaço no calendário escolar! Que isso também é uma grande incoerência, não se discute.

          Conversa vai, conversa vem, e eu já preocupado com o desconforto que estávamos causando aos vizinhos de simpósio, com nosso zum-zum-zum, chamei sua atenção para o assunto da palestra:
          — Parece-me que este tal "PES" é igual ao "PDE"!?

          — É incoerente do mesmo jeito. — Disse ela com ares de descrença.— Elabora-se um plano de ações financiáveis no início do ano, com dados do ano passado, para se executar com o dinheiro já insuficiente que vai chegar no final do ano vigente.

          — Mas, com isso estamos acostumados, – asseverei – elaboramos nossas aulas em janeiro para os alunos que nem conhecemos!

          Eu tentei confortá-la; o que consegui foi apenas lhe apertar no amaranhado do infortúnio da libertinagem educacional. Fui, também, um exemplo de incoerência. Como pude ir a uma palestra e ficar tão ausente! Talvez a Ana seja apenas o prefixo de Analfabeto ou Anacrônico; eu, nesse caso, seria o morfema lexical de Claudicar, porém se damos mancadas, ou não sabemos das coisas, ou, ainda, estamos fora de moda, ninguém mais se incomoda com essas coisas! Educação é "polidez"?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 31/07/2009
Código do texto: T1728900

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SE NÃO SEI, EIS A QUESTÃO (A meus (ex)-alunos)


SE NÃO SEI, EIS A QUESTÃO (A meus (ex)-alunos)

por Claudeci Ferreira de Andrade

           Agora sei que sou um “péssimo” professor, pois eles me convenceram a isto, aqueles do terceiro ano do Ensino Médio, dizendo: — "Você é péssimo porque é muito certinho, formal, nunca falta e fala difícil, é velho e feio, não nos traga mais jornais, queremos aquilo que cai nos vestibulares."
           A verdade é que ensino a variedade padrão da língua portuguesa, com metodologias diversificadas. O que outros mais prendados diriam se eu fosse avacalhado e descompromissado como requerem os moldados pelas novelas: Rebelde, Malhação e Caminho das índias; incluindo nesse lixão outros programas humorísticos que caricaturizam as salas de aula?! Compreendo por que alguns colegas disseram que eu não sei dar aula e tenho pouco a contribuir para unidade escolar. É que estou do outro lado. Mas, consigo entender perfeitamente o que significa ter salário por fazer o que é correto. Pelo menos ainda tenho consciência!
           O aprendizado e a formalidade (disciplina), como experiência, são inseparáveis. Podemos separá-los pedagogicamente, mas na vida real da sala de aula, não se pode assimilar o conteúdo ensinado sem respeito e reflexão. Os grandes educadores, que também foram grandes alunos, mantiveram o devido equilíbrio entre o aprendizado e a disciplina.
           Se eu não tiver quem me ouça, as páginas da história apregoarão que o aprendizado só acontecerá mediante grande esforço. E isso é sintetizado no cotidiano. Só não sei aonde a escola pública quer chegar, dando tudo, gratuitamente, alimentando os alunos que nem valorizam. Nesse sentido, O bom aluno fica raro demais nos sistemas paternalistas. Como é difícil "criança criada por avó"!
           Meu conforto é que o mundo ensina, disciplina e corrige. É o mercado de trabalho, que  não dar nada a ninguém que nos habilita a obedecer. É o trabalho que paga nossa penalidade. É a vida que comunica seu poder para alcançarmos a vitória sobre nossos erros. Oxalá que meus ex-alunos, se fracassados, não me acusem de culpado porque não fui maioria, lembrando que a maioria nem sempre está certa.
            É porque me amo, acima de tudo, que aprendi a obedecer, bem cedo, na vida. Louvado seja o mundo por fazer o que a educação não consegue.
             Não existe péssimo professor para o bom aluno. Antes de ser aluno seja humilde, pois antes de ser professor fui aluno humilde.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 30/07/2009
Código do texto: T1727016


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NA CONTRA PERNA DA EDUCAÇÃO (“Só ensina quem aprende”)

Na contra perna da educação
Claudeci Ferreira de Andrade

         Era um congresso de professores, mas eles chamaram-no de movimento popular, por se tratar de um evento de educadores populares: 5º MOVA – BRASIL, este era o slogan utilizado, tudo a ver com o impulso da paixão que se elevava na alma daqueles Alfabetizadores. Como membro do Núcleo da Educação de Jovens e Adultos para a Cidade de Senador Canedo, propus-me a participar da comoção juntamente com mais dois representantes do NEJA: os Josés. Senti-me indigno daquele local de tão aconchegante que era: CTE-CNTE (centro de treinamento educacional), mas depois que foram chegando os representantes de outros segmentos, convenci-me de que estava em qualquer lugar. Após nosso credenciamento, só deu tempo de guardarmos as malas naquele apartamento de cinco camas e logo descemos para o jantar daquele primeiro dia. Como eu estava ansioso para conhecer pessoas novas, Aquela seria a melhor ocasião. À mesa das iguarias, formou-se uma longa fila. Tamanha era nossa vontade de exibir nossos patrocinadores que parecíamos mais um arco-íris em flocos desordenados. Na minha frente, estava um alfabetizador, vestindo uma camiseta do movimento dos sem-terra, como a fila estava muito lenta, e eu, muito cansado, juro que, por um momento, desejei ardentemente me escorar na muleta dele, pois lhe faltava uma perna; percebi, também, quando cambaleava nos pequenos movimentos rumo ao self service que lhe faltava algo mais: estava bêbado! Pensei comigo mesmo – se é apenas um alfabetizador de adultos, esse hábito não faz tanto mal! Mas, mudei a forma de pensar em menos de vinte minutos, já com os pratos cheios nas mãos, rumo às mesas, quando, de súbito, ele escorregou na ardósia polida e caiu sobre mim. A ironia da vida convenceria qualquer um que naquele momento, eu estaria mais faminto que todos ali, porque sua comida esparramou-se toda em minha barriga numa atração fatal. Alguém cuidou de pegar rapidamente meu prato, nem vi quem foi, agora com as mãos desocupadas, atraquei-me com aquele sujeito com o intuito de não deixá-lo derrubar a refeição de todo mundo, se apoiando no balcão dos servidores; agora, eu também estava bêbado, deslizamos desequilibradamente, por alguns instantes, no óleo da comida derramada no piso, até que uma equipe, de meia dúzia de pessoas, contornou a situação, colocando-nos em equilibrio.
Que professora generosa! Aquela que tirou o prato de minha mão, evitando quebrá-lo, e aguardava-me à mesa; agradeci e formulei um elogio como é do meu feitio, não daquela forma, mas ali, eu não estava com espírito para essas coisas, mesmo assim disse:
— como você é ágil! Preciso ver se a carteira ainda se encontra em meu bolso!
— Você está me chamando de ladra ou de prostituta? – perguntou-me num impulso agressivo.
— Nem uma coisa, nem outra, estou apenas enaltecendo sua eficiência e agilidade como a de um ladrão.
Eu não estava em condições de continuar me justificando naquela celeuma e me retirei, mas ainda não havia “comido” o suficiente. À noite, dormi mal, assistindo ao reflexo daquela criatura de "boa" interpretação, sendo mais claro, meu colega de quarto, que também era paraense, levou-a para dormir com ele em sua cama.
Alguém já havia me dito que “só ensina quem aprende”; que “a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo”; que “ninguém educa ninguém, se educa sozinho, nós nos educamos juntos”; que “o homem não nasce fazendo nem sabendo, O homem nasce brincando”. Também me disseram que “todo professor tem problemas psicológicos”. Eu não queria acreditar, mas depois de tantas capacitações vividas, não sei se preciso de um tratamento especializado, ou de mais um congresso de professores!

Aprende-se com motivação (Não existe coincidência, existe sim providência.)

Aprende-se com motivação (Não existe coincidência, existe sim providência.)
Claudeci Ferreira de Andrade

         Tinha um cigarro entre os dedos, atitude esta repugnante para mim; não para ela, pois agia tão naturalmente que não se dava conta que estava sendo alvo de meu julgamento hostil. Então veio em minha direção, sentou-se gentilmente ao meu lado, pareceu-me muito tímida pela maneira acanhada que me cumprimentou, continuei observando discretamente seu comportamento, sua cabeça virava-se de um lado para outro, de baixo para cima com frenesi. Foi por isto que deduzi: pelo seu olhar descomprometido com qualquer alvo fixo, procurando algo que não estava ali; então somei coragem para dirigir-lhe a palavra, mexi-me na mureta onde estávamos assentados, em um ponto de ônibus. Para tanto, retomei o espaço o qual ela criara entre mim e si para não me incomodar com a fumaça; fiz uma aproximação sutil e lhe perguntei:

         — Como aprendeu a fumar?

         Agora controlada por outro espírito, com o olhar voltado para baixo em contrição, como quem precisava se confessar; respondeu com palavras que pareciam não querer sair de seus lábios, pois vinham de um passado muito mordaz:

  — Foi participando de rodas de amigos, nas quais brincávamos de quem segurava mais a cinza na ponta do cigarro, quem a deixasse cair primeiro pagaria uma prenda. Eu era sempre quem perdia, não sabia fumar, a certa altura me engasgava com a fumaça e tossia muito, então tinha que pagar a prenda, era um pacto sério entre nós! Quem não satisfizesse o contrato seria cortado do grupo. Por essa razão, o perdedor ficava sujeito a um sorteado do grupo para fazer o que ele quisesse. Se uma menina perdia, sorteava-se entre os homens; se um menino perdia, sorteava-se entre as mulheres; a verdade é que quase sempre terminava em “transa”. Elas estavam acostumadas “naquilo”, eu não, tinha só treze anos naquela época, e perdi minha virgindade à vista de todos. Olha, mas eu não culpo meus amigos, apesar de ter herdado o vício e hoje sentir dores nos pulmões, ainda fui infeliz em meu casamento por meus desajustes psicológicos, enganava meu esposo muitas vezes quando fugia para as rodas licenciosas. Eu era mesmo uma viciada. Ele, porém, não era daquilo, era um homem comedido. Agora só me resta lamentar duas dores vizinhas em meu peito: dói os pulmões e o coração. Ultimamente estou frequentando uma “célula”, lendo a Bíblia e orando muito. Já abandonei tudo de errado! Para eu viver melhor só me resta abandonar o cigarro. Você não merece respirar fumaça, e a “fumaça” de minha boca!
         Terminava de falar quando chegou sua irmã menor, era uma criança de aspecto bem diferente, duvidei que, de fato, fosse da mesma família, tinha tez e olhos claros, mas me apresentou e disse que era ela a razão de sua inquietação naquele momento, pois estavam sozinhas e precisavam chegar em casa em paz. Então desejei-lhe essa paz que tanto almejava; no momento da despedida, acrescentei-lhe uma promessa:

  — Sua história será contada a muitas pessoas por algumas gerações para falar do bem que você me fez, mostrando-me o poder da transformação, quando eu já contava que o meu seria um caso perdido.

Apenas me agradeceu com uma entonação de dúvida, ela não entendeu que eu falava de minha consciência pesada, porque contemplava nela o cachorro que fugia do vômito, e eu, o cachorro que voltava ao vômito. Presenteei-lhe um livro, na tentativa de merecer suas orações. Neste momento, confirmo, mais uma vez, a veracidade do pensamento que não existe coincidência, existe sim providência.

Professor, cadê seu texto? (Os verdadeiros cegos são aqueles que veem, mas preferem ser mal conduzidos.)


CRÔNICA


Professor, cadê seu texto? (Os verdadeiros cegos são aqueles que veem mas preferem ser mal conduzidos.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Alguém já disse: “Faça o que digo e não faça o que faço.” A palavra influência não aparece nessa frase, mas está implícita. Apesar de carregada com um sentido negativo, porém ninguém pode negar o poder da influência. O que é mais influente do que a ação de quem produz num lugar onde só se manda fazer? O exemplo é muito benéfico quando positivo. É silencioso, mas sua influência é poderosíssima. A única ocasião em que o exemplo produz algum ruído é quando está inspirando para uma realização maligna.
          Já foi levado a bocejar porque outra pessoa o estava fazendo? Isto constitui uma simples ilustração do poder da influência. Ela é sentida em todos os aspectos da vida. Até os animais são influenciados uns pelos outros. O Talmude (livro sagrado dos Judeus, no qual estão copilados as tradições, as doutrinas e os costumes do povo hebreu) declara sucintamente: “Uma ovelha segue a outra”. Diz um antigo provérbio chinês: “Não os gritos, mas o voo do pato selvagem leva os demais a voar e a acompanhá-lo”. Um interessante adágio espanhol expressa-o desta maneira: “Vive com os lobos, e aprenderás a uivar”.
          O verdadeiro professor reconhece o poder da influência (intelectual, comportamental etc.) em sua prática pedagógica. Ele escreve antes de querer que seus alunos produzam bons textos. Certas pessoas que conheço muito bem exercem grande influência sobre mim em virtude de sua prática de ler e escrever. Quanto mais o professor escreve bem, mais poderosa será sua influência nesse sentido. Como cobrar para ensinar o que não sabe fazer?
          Qualquer que seja a sua disciplina (matéria) de trabalho, considere um privilégio e uma honra deixar brilhar o seu talento, para que os seus alunos vejam os seus bons textos. O resultado será o engrandecimento e a eficácia de sua docência.
          Quem escreve escraviza no bom sentido, é um dominador pela condução do leitor. Aliás, o leitor só tem um caminho a seguir: deixar se conduzir, ou pelo sim, ou pelo não; ou aceitar, ou não aceitar; ou concordar, ou não concordar. E quem escolher ser conduzido pelo não, ou seja, discordando da ideia do autor lido, é pior que escravo, é miserável. Aqui cabe bem uma frase da professora Lourdinha: — "Os verdadeiros cegos são aqueles que não veem a ordem e, por isso, preferem ser mal conduzidos."

Encaminhamento de Percepção
1 Quão influente é o exemplo?
2 O que acha do pensamento: Só se aprende escrever escrevendo!
Como cobrar para ensinar o que não sabe fazer?
4 Têm os outros professores de outras disciplinas obrigação se saber escrever bem para exigir dos seus alunos melhor desempenho? 
5 Por que os rebeldes à leitura são considerados os verdadeiros cegos?


Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 27/07/2009
Código do texto: T1721555

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

QUEM É O PROFESSOR MAIS FELIZ?











QUEM É O PROFESSOR MAIS FELIZ?

segunda-feira, 29 de junho de 2009
 Claudeci Ferreira de Andrade

            Os diferentes cursos de graduação, na maioria das vezes, são escolhidos não por grau de vocação a uma profissão, mas por amor ao dinheiro e ao emprego, visando apenas maior segurança material.
            Almejemos  sim, da segurança desse pretenso emprego; não renunciemos a possibilidade de um salário que nos será proporcionado justamente. Porém, nessa extremidade estão os professores de "sangue azul" que renunciam ao sacerdócio e à vocação, e procuram evadir-se aos bons princípios éticos, focalizando apenas a possibilidade de melhorar financeiramente. Mesmo assim, conscientemente, alguns entram na obra como mercenários por "merreca"; outros, às vezes, já a muito tempo no trabalho, continuam desprezando até mesmo seu público alvo que surpreendentemente "paga o pato", não passa de coisa. E ainda procuram provar seu triunfo fora do que os profissionais de boa índole mais prezam: os valores internos. Ainda, às vezes, perdem de vista o pagamento justo pelo que fazem e querem muito mais, atirando-se nos movimentos grevistas e atraindo a infâmia sobre todos nós. Esta dedicação interesseira ao magistério cativa admiração de muitos até, e deixa pouca esperança para o resto da categoria.
           Para sermos felizes, precisamos ser superiores não somente ao dinheiro e seus males, mas também a seus valores. Não há dúvida de que muitos devotam ao magistério e satisfazem suas necessidades materiais, isto é, ganham o dinheiro que precisam! Mas, não há como alcançar a felicidade, exercendo uma profissão totalmente desprovido de amor à causa. O salário é consequência.
           São mais felizes os que estão livres da dominação do egoísmo. O professor deve ser senhor de todas as coisas. Quem quer que vá pela vida, supondo que a felicidade e a satisfação virão mediante a prosperidade material, abrindo mão das coisas da alma, ficará desapontado. Sacrifício é sempre um serviço de amor: amor ao próximo e à profissão.
           Neguemo-nos a nós mesmos e nos demos aos outros em serviço útil. Nosso verdadeiro relacionamento com o professorado não é simplesmente sobrepormo-nos a ele, nem, principalmente, dele obter riquezas materiais, mas amá-lo como Cristo amou o mundo e morreu para salvá-lo. Amemos o professorado, porque na atividade do vocacionado há vida real. Deixe o professor a sua vocação e não haverá para a sociedade valores morais, nem vida, nem futuro. A vocação restaura no homem o supremo valor profissional e seus atributos reconciliam no homem o trabalho e o prazer. Em qualquer profissão podemos acumular grandes riquezas, podemos melhorar as condições humanas; tudo isso seria possível, também, com uma atuação desvocacionada, mas os homens ainda estariam perdidos, se o amor não fizesse a diferença. Só é feliz o professor que ama o que faz, independente do que ganha para fazê-lo.

 Encaminhamento de percepção

 1- Deveria um professor, devotado ao Professor dos professores (Jesus Cristo), participar de movimentos grevistas por melhoria salarial em detrimento aos transtornos educacionais e a despeito do que possa manchar sua imagem missionária?
 2- Que relação contemplamos com respeito à formação acadêmica e o desempenho de um professorado próspero?
 3- Quais são as características de um professor vocacionado?
 4- Que efeitos chegarão a um professor insatisfeito com seu trabalho – a ele e a seu público?
 5- O que significa amar o que fazemos?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 26/07/2009
Código do texto: T1719745

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