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terça-feira, 30 de junho de 2009

NA CONTRA PERNA DA EDUCAÇÃO (“Só ensina quem aprende”)

Na contra perna da educação
Claudeci Ferreira de Andrade

         Era um congresso de professores, mas eles chamaram-no de movimento popular, por se tratar de um evento de educadores populares: 5º MOVA – BRASIL, este era o slogan utilizado, tudo a ver com o impulso da paixão que se elevava na alma daqueles Alfabetizadores. Como membro do Núcleo da Educação de Jovens e Adultos para a Cidade de Senador Canedo, propus-me a participar da comoção juntamente com mais dois representantes do NEJA: os Josés. Senti-me indigno daquele local de tão aconchegante que era: CTE-CNTE (centro de treinamento educacional), mas depois que foram chegando os representantes de outros segmentos, convenci-me de que estava em qualquer lugar. Após nosso credenciamento, só deu tempo de guardarmos as malas naquele apartamento de cinco camas e logo descemos para o jantar daquele primeiro dia. Como eu estava ansioso para conhecer pessoas novas, Aquela seria a melhor ocasião. À mesa das iguarias, formou-se uma longa fila. Tamanha era nossa vontade de exibir nossos patrocinadores que parecíamos mais um arco-íris em flocos desordenados. Na minha frente, estava um alfabetizador, vestindo uma camiseta do movimento dos sem-terra, como a fila estava muito lenta, e eu, muito cansado, juro que, por um momento, desejei ardentemente me escorar na muleta dele, pois lhe faltava uma perna; percebi, também, quando cambaleava nos pequenos movimentos rumo ao self service que lhe faltava algo mais: estava bêbado! Pensei comigo mesmo – se é apenas um alfabetizador de adultos, esse hábito não faz tanto mal! Mas, mudei a forma de pensar em menos de vinte minutos, já com os pratos cheios nas mãos, rumo às mesas, quando, de súbito, ele escorregou na ardósia polida e caiu sobre mim. A ironia da vida convenceria qualquer um que naquele momento, eu estaria mais faminto que todos ali, porque sua comida esparramou-se toda em minha barriga numa atração fatal. Alguém cuidou de pegar rapidamente meu prato, nem vi quem foi, agora com as mãos desocupadas, atraquei-me com aquele sujeito com o intuito de não deixá-lo derrubar a refeição de todo mundo, se apoiando no balcão dos servidores; agora, eu também estava bêbado, deslizamos desequilibradamente, por alguns instantes, no óleo da comida derramada no piso, até que uma equipe, de meia dúzia de pessoas, contornou a situação, colocando-nos em equilibrio.
Que professora generosa! Aquela que tirou o prato de minha mão, evitando quebrá-lo, e aguardava-me à mesa; agradeci e formulei um elogio como é do meu feitio, não daquela forma, mas ali, eu não estava com espírito para essas coisas, mesmo assim disse:
— como você é ágil! Preciso ver se a carteira ainda se encontra em meu bolso!
— Você está me chamando de ladra ou de prostituta? – perguntou-me num impulso agressivo.
— Nem uma coisa, nem outra, estou apenas enaltecendo sua eficiência e agilidade como a de um ladrão.
Eu não estava em condições de continuar me justificando naquela celeuma e me retirei, mas ainda não havia “comido” o suficiente. À noite, dormi mal, assistindo ao reflexo daquela criatura de "boa" interpretação, sendo mais claro, meu colega de quarto, que também era paraense, levou-a para dormir com ele em sua cama.
Alguém já havia me dito que “só ensina quem aprende”; que “a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo”; que “ninguém educa ninguém, se educa sozinho, nós nos educamos juntos”; que “o homem não nasce fazendo nem sabendo, O homem nasce brincando”. Também me disseram que “todo professor tem problemas psicológicos”. Eu não queria acreditar, mas depois de tantas capacitações vividas, não sei se preciso de um tratamento especializado, ou de mais um congresso de professores!

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