"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O PROFESSORADO DE GARGANTA PROFUNDA ("Mastiga, antes de engolir, o que tentam te enfiar goela abaixo." — Fabio Melo)




CRÔNICA

O PROFESSORADO DE GARGANTA PROFUNDA ("Mastiga, antes de engolir, o que tentam te enfiar goela abaixo." — Fabio Melo)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Os que creem que a saída para os problemas da educação é enfiar as supostas soluções de goela abaixo, também apoiam-se na ideia de que o exame videolaringoscopia bem feito seja o ideal para selecionar bons professores. Mas, a expressão “goela abaixo”, usada por todos os bem-humorados, abrange mais do que apenas a angústia de aceitar medidas unilaterais que não atendem as particularidades, significa engolir também desaforos dos alunos, pais e coordenadores por coisa que nem temos culpa. Um pouco antes da deglutição dessas coisas demais volumosas, a goela podia até ser virgem, por ter um estreitamento original, mas só até experimentar a orgia e a embriaguez do "faz-de-conta" do sistema educacional! E para escaparmos do sofrimento de engolir todas estas coisas que descem a seco, em nome da profissão, o remédio é relaxar que dói menos. 
            Nenhum funcionário do sistema educacional foi enganado quanto ao afrouxamento necessário em seus padrões morais para que seja aprovado no período probatório de seu magistério; portanto não é razoável supor, com base neste texto, que as coisas vão melhorar; a verdade é que o calibre da goela nunca mais voltará ao que era antes e perderá também a sensibilidade. Ah! Penso que a educação seria bem melhor, se nós professores tivéssemos mais cérebro que goela!
         É! E não seria necessário, quando acuados e castigados, pedirmos nosso remanejamento para a outra unidade escolar com a finalidade de escaparmos; em qualquer uma, teremos que fazer o tal portfólio de boa procedência. Como me disse um colega pró-labore: "...engolimos coisas estranhas de muitas pontas que não aceitam vaselina”. Então, o segredo é permanecer firme no propósito de que as coisas ruins acontecem só com os outros, nunca conosco: Com aquele companheiro que teve de passar a limpo todos seus cinco diários de classe, que já estavam prontos, para elevar a nota de vários alunos que podiam sujar as estatísticas da escola que estava com alto índice de reprovação; com o outro que inventou as notas de seus alunos para confeccionar diários que foram destruídos pelos os incendiários da escola.
         Ainda chegará a ocasião em que o Estado nos dará uma aposentadoria, mas não antes de nossa manifestação de uma série de problemas de saúde física e psicológica, inclusive a Síndrome de Burnout . Enquanto isso, só nos resta repetir a frase do personagem do Chico Anysio, o Professor Raimundo:
          — "Vai comendo Raimundo e o salário, oh"!
          Quando o experiente “São” Zagalo costumava dizer: — "Vocês têm que me engolir". Se estivesse se dirigindo só a professores, eu diria que ele não estava nos propondo uma tarefa difícil demais, e muito menos deveríamos nos ofender com o pressuposto, porque a “baleia que engoliu Jonas” era um animal sagrado e cumpridor das ordens de Deus! Não há razão para maiores preocupações, já que nossos superiores imediatos, estão de goela frouxa de engolir farpas que vêm de cima, como nós!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/05/2009
Código do texto: T1581409

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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O GRITO DA SIRENE ("A sirene ligada parece o grito da morte anunciada." — David Rocha)




CRÔNICA

O GRITO DA SIRENE ("A sirene ligada parece o grito da morte anunciada." — David Rocha)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


           O prenúncio da morte do sistema. Cada manhã, o portão de acesso ao colégio era fechado quando soava o segundo grito da sirene, às 7h10. Era um zunido estridente, ecoando e ressoando morro abaixo. Os ponteiros do relógio da parede  tinham pressa de marcar segundos, minutos e horas. Os retardatários estavam em perigo e não tinham ilusões quanto ao quê lhes aconteceria do lado de fora: no mínimo, iriam assinar advertência no caderninho da coordenadora de turno ou apenas iam “passear”. Faltando ainda cinco minutos para o início das aulas daquela manhã, e o professor já devia estar na sala com o diário de classe em punhos pronto para realizar a chamada, este sentia mais a estridência avassaladora do toque, sendo que perturbava mais ele; pois descarregava "666" decibéis em cima de sua cabeça, também aquela desarmonia se estendia até a vizinhança, num raio de quinhentos metros, por ali. Já que a poucos, era quase de rachar os tímpanos de qualquer um!

         Por que em quase todas as unidades escolares, a sirene fica o mais próximo possível da sala dos professores? Diante dessa cena, podemos imaginar o compromisso profissional desses atores. Que zelo e cuidado é desvelado por uma causa tão nobre! Bem pudera! Mas, de forma alguma será assim o resto do dia, ontem tive de subir aula ou descer, nem sei bem como fiz, na verdade deixei os alunos assistindo a um filme e, a pedido da organização, fui acudir outra sala. Isso é normal, quase sempre falta um ou outro do corpo docente. Se tem relação com o desconforto causado pela sirene, não sei! só sei de uma coisa: quem saía mais cedo economizava audição.
         Hoje é sábado, e a esta hora, aquele zunido ainda me perturba! Faz-me lembrar o toque de recolher em tempo de perigo, mas também vem subestimando minha competência, é como se o relógio nunca fosse suficiente, pois a coordenadora, mesmo depois de acionar o botão por quase um minuto, ainda me manda ir à sala. Sem motivação, por isso me atraso! Porém não posso me esquecer do que disse Glauber Lima: "Opte sempre a fazer a coisa certa, e não deixe que qualquer sirene venha perturbar o seu sono". O confortante para mim, sobretudo, é prever que o sol está prestes a se pôr como sendo último momento deste sistema falido com semelhanças militaristas, no qual se fala em "parada pedagógica", "grade curricular", "sequência didática", "delegacia de ensino", "estratégia de aprendizagem", "uniforme", "corte de ponto", "sagentona" e por aí vai. Sou um peregrino em trânsito na esperança da eficiência, pedindo ao Criador mais facilidade no ambiente de trabalho, pois o ensinar a quem não quer aprender, em si, já é penoso demais. Os acontecimentos apontam sem dúvida alguma para o fim de todas essas coisas. Logo aquele portão, que ainda está lá, separando os pontuais, fechar-se-á para sempre, e os cursos a distância tomarão conta.
         Existiria algum professor, ou aluno, ou alguém da comunidade escolar cujos pulsos não batessem apressados ao antever os estranhos acontecimentos após o grito desconfortável daquela sirene? Ainda mais quando acionada por um aluno irresponsável, apenas brincando com coisa "séria" ou por outro qualquer funcionário para mostrar serviço, tentando aparecer. Porém, a solução está vindo. Já ouvimos os passos de um grande momento aproximando-se: "Jairsando-se", ou "Messiando-se" ou simplesmente "Bolsonariando-se". Ainda quero viver para ver o slogan da bandeira ser substituído de "Ordem e Progresso" para o "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos."
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/05/2009
Código do texto: T1578365

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O Que (Pre)cede? ("Afasta-te da companhia dos perniciosos, eles fazem nascer em ti uma licenciosidade que lhe é natural" — Sêneca)





CRÕNICA

O Que (Pre)cede? ("Afasta-te da companhia dos perniciosos, eles fazem nascer em ti uma licenciosidade que lhe é natural" — Sêneca)


            O medo de reprovar o aluno justifica a existência do (pré-)conselho. Então um professor sai apalpando os outros colegas sobre o aluno tal, como se a nota não fosse o medida exata da real situação do aluno, mas uma doação do professor. A escola tem sido muito generosa, embora não se reconheça  a legalidade do tal (pré-)conselho, mas sabe-se que é uma ilegalidade com a qual eles se dispõem ao benefício. O objetivo dos professores e coordenadores nessa reunião, entretanto, é o mais cruel possível: juntam-se na decisão de armar o labirinto para o indivíduo indesejado cair, todavia sem atrair consequências maiores aos articuladores. Nesse caso, o futuro promissor do famoso “conselho de classe” está nas mãos do tal (Pré-)conselho. Agora, imaginem uma (pré-)reunião para todas as reuniões! Resolver-se-iam os ditames da agenda no (Pré-)conselho e se repetirá tudo ou ter-se-á todo tempo do mundo para comer o lanche na hora do conselho principal.
          Esse tal (pré-)conselho é um retrato fiel do drama da licenciosidade pedagógica dentro das escolas públicas claramente revelada. A influência estragada pelo corporativismo permeia cada decisão  para aprovar ou reprovar o aluno, pois dar-se ponto e tira-se ponto a revelia. Mediante esse sistema acéfalo, os professores e coordenadores operam formando um verdadeiro cartel das notas. Este grupo de "piedosos" que faz do ambiente de trabalho sua própria casa, e ali eles a(pre)ndem a driblar o sistema em que estão inseridos e a falsear os seus próprios caminhos, fortalecendo-se contra a instâncias maiores. Aqui acrescento que o tratamento recebida no “período probatório” que é uma (pré)-efetivação no trabalho ensina-nos a agir assim. E no (pré)-conselho a vingança dos que foram (pré-) aprovados é cruel, alguns são muito corajosos, dispostos até a enfrentar a maioria para fazer valer seus intentos. Mas, quem conterá esta moda? O sistema está cheio de "(pré)-isso" e "(pré)-aquilo", e nada de exatamente tudo de uma só vez!
         Estamos contrariando a vontade do sistema quando não nos empenhamos em ativo trabalho para nos (pre)cavermos de maiores problemas? Os inimigos se unem em (pré-)conselhos quando os objetivos são comuns: o monopólio.
         O drama que agora tem desenvolvimento terminará no mais dramático momento: quando o sistema acordar. As dicas históricas nos dizem que o despertar do sistema está próximo. A chegada da avaliação institucional de todos os segmentos da educação. Oxalá que não seja só (pre)ssão!
          Em suma, volto à pergunta, continuará existindo o (pré-)conselho no final de cada bimestre? Por que os professores não podem ser verdadeiros ao entregar as notas dos seus alunos à secretaria tal qual são? Ou vão continuar manipulando as notas, em nome do conselho, com critérios convenientes, parecendo um loteria de azar? Então, o cartel das notas é lícito? Pois assim, unidos, somos duros.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/05/2009
Código do texto: T1577008

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DOU-LHE A BOA SEMENTE ( “Lembrai-vos: aquele que pouco semeia, igualmente, colherá pouco, mas aquele que semeia com generosidade, da mesma forma colherá com fartura”. — II Co 9:6)





























CRÔNICA

DOU-LHE A BOA SEMENTE (  “Lembrai-vos: aquele que pouco semeia, igualmente, colherá pouco, mas aquele que semeia com generosidade, da mesma forma colherá com fartura”. — II Co 9:6)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         
Que ganho por me empenhar nessa profissão árdua e de tão pouco respaldo social? A resposta que eu esperava receber para essa pergunta seria, obviamente, gratidão, pelo menos! Essa, o sentimento nobre com o qual a sociedade os alunos poderão retribuir ao que o professor tem feito por eles de tão grandioso. Obviamente, também, não espero que o façam prontamente. Mas, não se esqueçam, precisamos da concretização de seus apreços!
         Por que o professor requer que os alunos e a sociedade devolvam as demonstrações de estima? Na verdade, ele não precisa, de fato, dessas demonstrações de ninguém, pois sobreviveu ao longo dos anos em sua função apenas com as forças do seu interior e do além. Os alunos e a sociedade em geral são quem precisa, porém, de alguma coisa: a boa semente!
         Certa vez, ouvi contar esta história: Um jovem agricultor desenvolvera uma admirável variedade de milho: caules belos e grandes, folhas verde-escuras e espigas bem cheias. Ele sempre obtinha bom preço pelo milho que colhia. Os vizinhos quiseram comprar suas sementes, mas ele recusou vendê-las. Tinha uma boa produção e desejava conservar o seu monopólio.
         Um dia, ao percorrer os seus campos, observou as definhadas plantações de milho de seu vizinho e, como sempre, menosprezou os esforços feitos por ele. Olhando melhor, percebeu, porém, que sua própria plantação de milho ao longo da cerca daquele lado também não era muito viçosa. Isto lhe causou preocupação. No ano seguinte, verificou que o milho de seu vizinho continuava sendo pouco produtivo; mas a área deficiente em seu próprio campo era bem maior do que no ano anterior.
         A razão tornou-se evidente: o vento impelira o pólen dos pés de milho de qualidade inferior para o campo desse homem, produzindo plantas de menor viço, a despeito das boas sementes utilizadas. A solução podia ser discernida com clareza: se quisesse continuar a colher milho de excelente qualidade, teria de fornecer boas sementes a seus vizinhos. Foi o que ele fez, e assim todos prosperaram.
         O mesmo princípio se aplica a nossa relação – Professor/aluno. Quando somos egoístas, manipuladores e mesquinhos (incompetentes), podemos esperar ser tratados da mesma forma. Quando somos generosos, a vida fica repleta de pequenas surpresas que constituem uma benção e nos tornam mais felizes e úteis. Segundo já disseram os mais velhos, “aqueles que semeiam pouco, pouco também ceifarão.”
         A rigidez insana tira do adolescente a capacidade de discernir. É como diz Joseph Joubert: "As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas."  A melhor maneira de desenvolver no aluno a disposição ao respeito e à gratidão é respeitando-o. Se você assume a postura de um bom professor democrático mesmo que não sinta vontade de fazê-lo ou tenha medo disso, na outra vez terá mais facilidade neste sentido. Trabalhamos com seres racionais e inteligentes e devemos conduzi-los a objetivos bem esclarecidos e com justificativas apoiadas e não os obrigando a cumprir normas cegamente, tornando a convivência escolar insuportável e sem razão. Isso, também, vale para a relação Professor/professor. Basta uma recompensa para cada ato em consonância com o contrato pedagógico que emana da comunidade escolar, e todos se desdobrarão harmoniosamente. E parabéns para nós!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/05/2009
Código do texto: T1575837


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VISIONÁRIOS CAOLHOS ("A descrença é o maior dos incentivos." — Brunno Leal)



TextoCRÔNICA

VISIONÁRIOS CAOLHOS ("A descrença é o maior dos incentivos." — Brunno Leal)

Por Claudeci Ferreira de Andrade
           Por agora, a Educação sofrerá uma reforma curricular significativa, isto é, nos conteúdos e na formação dos professores e só se fala nisso ultimamente. Como vivo muito tempo no ambiente escolar, tenho ouvido muitas troças nesse sentido. Ou seja, variados comentários zombeteiros sobre o tema. Todavia, no geral me parece uma causa sem abraços. Então lhe digo que nada adiantará a reforma das escolas e de seus conteúdos se o professor estiver olhando meio caolho para a proposta. Disse com propriedade o Daniel Barros  que não estamos vendo que as crianças não estão aprendendo na escola o que e o quanto deveriam. https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/233667/crise-invisivel-da-aprendizagem-no-brasil.htm?fbclid=IwAR3xyk4zVS972PXG2Q3vkjjTXKfNP8vpB4Wy6zEMaCJdwmLxfcEmz0r0pAg (acessado em 15/12/2018).
            Qual será o milagre de uma nova matriz curricular? Greves por salário não é mais o suficiente. A descrença é geral: — "não vai mudar nada!" — dizem — "ninguém escuta nossos apelos, a solução para os reais problemas da educação não acontece!"
          Por isso, dividi aqui, esses comentaristas voluntários e anônimos em quatro naturezas. 
            Assim dizem os desanimados: — "A reforma curricular não é a única esperança de solução. Embora procurem me incentivar a gritar pelos corredores, um monte de obrigações irá impedi-me de me inteirar das partes importantes dessa reforma e de seu poder de solução." 
          Dizem os proteladores: — "Quando a reforma curricular estiver pronta e me convocar à aplicabilidade, vou hesitar um pouco mais. Até os sábios hesitam quando a solução lhe estende o convite de misericórdia! Vou questionar mais um pouco, argumentar, demorar. Pode ser minha oportunidade de ser reconhecido."
          Aí, o grupo dos confusos: — "é isso mesmo que vai tirar a educação do fracasso!? Vivi tanto tempo nesse sistema, está ruim, mas está bom. Quero mais clareza! É como quando vamos ao médico. Sabemos exatamente o que sentimos e o que queremos, isto é, ser aliviado sim de alguma dor ou desconforto, mas não sabemos nos  expressar. Na educação, não sabemos nem qual é nossa real necessidade."
          Diz o professor hipócrita: — "a reforma curricular é a salvadora da situação, lógico, é tudo que a educação precisa de fato para saí do caos. Embora, eu fale assim alvissareiramente, lá no íntimo, não acredito plenamente, minha fé é fraca. Talvez, na reforma até esteja aquilo que pode nos socorrer em nossa necessidade. Porém, precisamos ir à solução com simplicidade. E se eu não puder ser tão simples assim?"
          E eu já digo, não sou de nenhum grupo novo, pois de maquiagem em maquiagem se vive o novo. Ah, e feliz ano novo para você. 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/05/2009
Código do texto: T1571144

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"Oia o Lanchi" ("É tão bom rir das coisas que não são engraçadas". — Jorge Clésio)










CRÔNICA

"Oia o Lanchi" ("É tão bom rir das coisas que não são engraçadas". — Jorge Clésio)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


          A unidade escolar estava meio parecida com um lugar qualquer, desses que a gente não se porta mais com cerimônia! Onde deveria cheirar livro novo, fedia comida. Lembro-me sempre, com uma sensação de saudade, da hora do lanche naquele ambiente, não só pelas razões que traziam aquele momento de sabor e gosto evidentemente, mas primeiro porque era sempre no momento mais interessante da aula que aquela voz perturbadora e sinistra, de porta a dentro, agredia meus ouvidos: — “Oia o lanchi!” Eles saíam correndo como se não tivesse um professor ali. Pois é, naquele momento, quem deveria merecer toda a atenção ficava falando sozinho até que voltassem, mas para retomar ao bom andamento da aula era preciso de mais ou menos vinte minutos de sofrimento. Digo melhor, uma sessão desgastante de linguagem fática e interjeições.
Em um desses desregrados intervalos, pus-me a observar a criatividade que circulava naquele ambiente que pretendia ser um ambiente de formação de princípios. Desta vez, foi distribuído para os alunos um saquinho retangular de forma arredondada, com mais ou menos 6 cm de diâmetro, contendo 120g de iogurte de coco, tratava-se do “famoso Goianinho”, que também trazia na embalagem a seguinte recomendação de uso: “Agite antes de beber”. Não é que meus alunos descobriram a ambiguidade, ou melhor, a polissemia, da tal recomendação! E aquele se tornou um “grande” momento lúdico e produtivo. Uns saltitavam como se tivessem pulando corda, outros rodopiavam, faziam flexões no abdômen, é certo que nunca vi tanta criatividade para obedecer a posologia recomendada pelo fabricante do tal iogurte. Pareciam estar envolvidos em uma competição, até porque, os mais ousados faziam movimentos extremos, daqueles que as meninas mais pudorizadas olhavam, viam e viravam as costas imediatamente. Eles recorriam até da obscenidade, para extravasar seus conhecimentos prévios, sacudiam a embalagem com a mão direita e depois passavam para a esquerda assim com a frequência de um ato masturbatório.
          Outra experiência marcante, nesse sentido, foi no terceiro ano do Ensino Médio. Por sua vez, foi distribuído, aos alunos, para o lanche: rosquinhas, e além dos transtornos em minha aula, como já falei, ainda tinha que ouvir deles: —“quem queimou sua rosquinha?”; —“hein, paga minha rosquinha”; —“o orifício de sua rosquinha é apertadinho!”; —“quer comer rosquinha, professor?”. Expressões essas endossadas com sorrisos desavergonhados. Se intencional ou não, foi um prato cheio para os maliciosos que estavam sempre a postos, bastando apenas apagar a luz para se manifestarem. Porém, o mais depravado que achei foi quando a coordenadora da merenda entrara a sala, horas antes, comprometendo minha primeira aula de Língua Portuguesa, para dizer que não tinha vasilha suficiente, não chegou verba e que ninguém lhe vendia mais fiado. Os meninos reclamaram porque queriam uma explicação nova, pois estavam cansados de comer “rosquinha seca”. E naquela reunião a sugestão mais aplaudida fora que o colégio servisse também um “sucuzinho” na hora do lanche, “para molhar as rosquinhas”, sendo assim os alunos trariam os "copinhos". É, apesar de mal formada, a palavra mais votada ali (sucuzinho), era um diminutivo afetivo e não o que pensaram. Mas, valeu, o colégio repensou o cardápio e incluiu o tal "molhador de rosquinha".
          Porém, eu até me arrisco a dizer aqui, já que reclamam de tudo, esperemos só mais um pouquinho e chamá-lo-ão tudo de gororoba novamente. Por isso o Jorge Clésio tem razão: "É tão bom rir das coisas que não são engraçadas". 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 03/05/2009
Código do texto: T1572888

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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HAJA EDUCAÇÃO PARA EJA ("[Na EJA], é imprescindível que o professor consiga levar os estudantes a participar constantemente de cada ação educativa, interagindo ativamente com os outros e com o meio, permitindo reflexões e a busca por soluções transformadoras, e, assim, deixando a condição de oprimidos ou excluídos." — Paulo Ricardo Zargolin)



HAJA EDUCAÇÃO PARA EJA ("[Na EJA], é imprescindível que o professor consiga levar os estudantes a participar constantemente de cada ação educativa, interagindo ativamente com os outros e com o meio, permitindo reflexões e a busca por soluções transformado

Por Claudeci Ferreria de Andrade

Aqui estou eu, um professor, navegando nas águas turbulentas da educação pública. Uma batalha constante entre a oferta excessiva de vagas pela escola e o interesse diminuto do aluno em ocupá-las. A escola pública, em sua ânsia de inclusão, chega ao ponto de buscar o aluno em casa, alimentando a desconfiança da população em tudo que é oferecido gratuitamente. Não é surpresa, portanto, a decadência do sistema educacional público. A solução para este problema parece inalcançável, especialmente quando não exige esforço do público-alvo.

Lembro-me dos dias em que lecionava para adolescentes e adultos da EJA. Via neles uma incorporação inadequada do espírito de desprezo, forçando um comportamento incoerente com a proposta educacional. Além da dificuldade de assimilação dos conteúdos, eles se empenhavam em chamar minha atenção com brincadeiras descabidas e perguntas embaraçosas. "Professor, por que o senhor não ficou em casa hoje?" "Este trabalho é para entregar ou deixar no caderno?" "Quantos pontos vale esta tarefa?" Perguntas que não caberiam no repertório de quem aspira à universidade.

Muitas vezes, olhei para aqueles alunos adultos, que talvez nem tivessem tido infância, agora fora de sua idade normal para as séries regulares. Eram agressivos, sempre armados contra o professor, maltratavam-me como se eu fosse o culpado pelos seus bloqueios. Então, eu me perguntava, o que fizeram eles na escola quando criança e adolescente?

E ainda, continuo me perguntando: Por que vieram à escola e por que só agora? Há um tipo de aluno na EJA, hoje em dia, que deseja saber por que as escolas estão perturbadas, mas ele não colabora. Há outros que frequentam para conseguir um diploma fácil e outros ainda que são atraídos pelos encantos dos projetos inclusivos: o lanche, o material didático etc. Mas nunca o verdadeiro objetivo: debruçar-se na busca do conhecimento acadêmico.

As classes da EJA são muito heterogêneas. Ali está um professor ajustado para trabalhar com a maioria sem o nível para a série que está cursando, e mais ou menos um quarto da sala é obrigado a "amassar barro" em nome da uniformização, aprendendo o que já sabia. Uns esperando pelos outros, onde o progresso é proibido.

É fácil ler esta crônica e apontar o dedo do escárnio para mim, mas digo que com a mesma dureza que me julgam serão condenados. Quais são minhas condições de trabalho, para esta demanda favorecida? O que posso fazer a estas pessoas que desperdiçaram todas as suas oportunidades e agora querem aproveitar as iscas do sistema educacional, facilitando a vida dos que gostam de reduzir o analfabetismo a qualquer custo e fazer bonitas estatísticas? Devemos pagar para trabalhar ou podemos continuar dormindo na paz da inércia enquanto alunos "especiais" nos depreciam? Irônico mesmo é os "técnicos" da educação transformarem todo o ensino regular do noturno em Eja e chamar isso de "Fortalecimento".

No final das contas, acredito que a educação é uma via de mão dupla. Não basta apenas a escola oferecer, é preciso que o aluno queira aprender. E para aqueles que realmente desejam, que não se deixem desanimar pelas adversidades. Afinal, a educação é a chave para um futuro melhor. E eu, como professor, estarei sempre aqui, pronto para orientar aqueles que desejam seguir esse caminho.