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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O PROFESSORADO DE GARGANTA PROFUNDA ("Mastiga, antes de engolir, o que tentam te enfiar goela abaixo." — Fabio Melo)




CRÔNICA

O PROFESSORADO DE GARGANTA PROFUNDA ("Mastiga, antes de engolir, o que tentam te enfiar goela abaixo." — Fabio Melo)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Os que creem que a saída para os problemas da educação é enfiar as supostas soluções de goela abaixo, também apoiam-se na ideia de que o exame videolaringoscopia bem feito seja o ideal para selecionar bons professores. Mas, a expressão “goela abaixo”, usada por todos os bem-humorados, abrange mais do que apenas a angústia de aceitar medidas unilaterais que não atendem as particularidades, significa engolir também desaforos dos alunos, pais e coordenadores por coisa que nem temos culpa. Um pouco antes da deglutição dessas coisas demais volumosas, a goela podia até ser virgem, por ter um estreitamento original, mas só até experimentar a orgia e a embriaguez do "faz-de-conta" do sistema educacional! E para escaparmos do sofrimento de engolir todas estas coisas que descem a seco, em nome da profissão, o remédio é relaxar que dói menos. 
            Nenhum funcionário do sistema educacional foi enganado quanto ao afrouxamento necessário em seus padrões morais para que seja aprovado no período probatório de seu magistério; portanto não é razoável supor, com base neste texto, que as coisas vão melhorar; a verdade é que o calibre da goela nunca mais voltará ao que era antes e perderá também a sensibilidade. Ah! Penso que a educação seria bem melhor, se nós professores tivéssemos mais cérebro que goela!
         É! E não seria necessário, quando acuados e castigados, pedirmos nosso remanejamento para a outra unidade escolar com a finalidade de escaparmos; em qualquer uma, teremos que fazer o tal portfólio de boa procedência. Como me disse um colega pró-labore: "...engolimos coisas estranhas de muitas pontas que não aceitam vaselina”. Então, o segredo é permanecer firme no propósito de que as coisas ruins acontecem só com os outros, nunca conosco: Com aquele companheiro que teve de passar a limpo todos seus cinco diários de classe, que já estavam prontos, para elevar a nota de vários alunos que podiam sujar as estatísticas da escola que estava com alto índice de reprovação; com o outro que inventou as notas de seus alunos para confeccionar diários que foram destruídos pelos os incendiários da escola.
         Ainda chegará a ocasião em que o Estado nos dará uma aposentadoria, mas não antes de nossa manifestação de uma série de problemas de saúde física e psicológica, inclusive a Síndrome de Burnout . Enquanto isso, só nos resta repetir a frase do personagem do Chico Anysio, o Professor Raimundo:
          — "Vai comendo Raimundo e o salário, oh"!
          Quando o experiente “São” Zagalo costumava dizer: — "Vocês têm que me engolir". Se estivesse se dirigindo só a professores, eu diria que ele não estava nos propondo uma tarefa difícil demais, e muito menos deveríamos nos ofender com o pressuposto, porque a “baleia que engoliu Jonas” era um animal sagrado e cumpridor das ordens de Deus! Não há razão para maiores preocupações, já que nossos superiores imediatos, estão de goela frouxa de engolir farpas que vêm de cima, como nós!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/05/2009
Código do texto: T1581409

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