"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O GRITO DA SIRENE ("A sirene ligada parece o grito da morte anunciada." — David Rocha)




CRÔNICA

O GRITO DA SIRENE ("A sirene ligada parece o grito da morte anunciada." — David Rocha)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


           O prenúncio da morte do sistema. Cada manhã, o portão de acesso ao colégio era fechado quando soava o segundo grito da sirene, às 7h10. Era um zunido estridente, ecoando e ressoando morro abaixo. Os ponteiros do relógio da parede  tinham pressa de marcar segundos, minutos e horas. Os retardatários estavam em perigo e não tinham ilusões quanto ao quê lhes aconteceria do lado de fora: no mínimo, iriam assinar advertência no caderninho da coordenadora de turno ou apenas iam “passear”. Faltando ainda cinco minutos para o início das aulas daquela manhã, e o professor já devia estar na sala com o diário de classe em punhos pronto para realizar a chamada, este sentia mais a estridência avassaladora do toque, sendo que perturbava mais ele; pois descarregava "666" decibéis em cima de sua cabeça, também aquela desarmonia se estendia até a vizinhança, num raio de quinhentos metros, por ali. Já que a poucos, era quase de rachar os tímpanos de qualquer um!

         Por que em quase todas as unidades escolares, a sirene fica o mais próximo possível da sala dos professores? Diante dessa cena, podemos imaginar o compromisso profissional desses atores. Que zelo e cuidado é desvelado por uma causa tão nobre! Bem pudera! Mas, de forma alguma será assim o resto do dia, ontem tive de subir aula ou descer, nem sei bem como fiz, na verdade deixei os alunos assistindo a um filme e, a pedido da organização, fui acudir outra sala. Isso é normal, quase sempre falta um ou outro do corpo docente. Se tem relação com o desconforto causado pela sirene, não sei! só sei de uma coisa: quem saía mais cedo economizava audição.
         Hoje é sábado, e a esta hora, aquele zunido ainda me perturba! Faz-me lembrar o toque de recolher em tempo de perigo, mas também vem subestimando minha competência, é como se o relógio nunca fosse suficiente, pois a coordenadora, mesmo depois de acionar o botão por quase um minuto, ainda me manda ir à sala. Sem motivação, por isso me atraso! Porém não posso me esquecer do que disse Glauber Lima: "Opte sempre a fazer a coisa certa, e não deixe que qualquer sirene venha perturbar o seu sono". O confortante para mim, sobretudo, é prever que o sol está prestes a se pôr como sendo último momento deste sistema falido com semelhanças militaristas, no qual se fala em "parada pedagógica", "grade curricular", "sequência didática", "delegacia de ensino", "estratégia de aprendizagem", "uniforme", "corte de ponto", "sagentona" e por aí vai. Sou um peregrino em trânsito na esperança da eficiência, pedindo ao Criador mais facilidade no ambiente de trabalho, pois o ensinar a quem não quer aprender, em si, já é penoso demais. Os acontecimentos apontam sem dúvida alguma para o fim de todas essas coisas. Logo aquele portão, que ainda está lá, separando os pontuais, fechar-se-á para sempre, e os cursos a distância tomarão conta.
         Existiria algum professor, ou aluno, ou alguém da comunidade escolar cujos pulsos não batessem apressados ao antever os estranhos acontecimentos após o grito desconfortável daquela sirene? Ainda mais quando acionada por um aluno irresponsável, apenas brincando com coisa "séria" ou por outro qualquer funcionário para mostrar serviço, tentando aparecer. Porém, a solução está vindo. Já ouvimos os passos de um grande momento aproximando-se: "Jairsando-se", ou "Messiando-se" ou simplesmente "Bolsonariando-se". Ainda quero viver para ver o slogan da bandeira ser substituído de "Ordem e Progresso" para o "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos."
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/05/2009
Código do texto: T1578365

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Comentários


Nenhum comentário: