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quinta-feira, 18 de julho de 2013

O TEMPORÁRIO FRESCOR DA NATUREZA ("O corpo é apenas um instrumento temporário da alma..." — Letícia Del Rio)


Crônica

O TEMPORÁRIO FRESCOR DA NATUREZA ("O corpo é apenas um instrumento temporário da alma..." — Letícia Del Rio)

por Claudeci Ferreira de Andrade


          Eu almoçava do lado de cima da rua, na mão de quem vem de Goiânia para Senador Canedo, na varanda de um restaurante simples, comia pedaços de mamão para sobremesa, assistindo à movimentação do povo dentro do terminal de ônibus na Praça da Bíblia — poucos dias depois disso, o restaurante entrou em reforma, eita, Goiânia renovável rapidamente! Nada me chamou tanto a atenção, naquele momento, do que um mamoeiro,  bem no cantinho da cerca, e por sinal, do lado de dentro. Tentei fazer uma relação com o presente sabor sentido, vendo seus mirrados frutos de um amarelo fosco, mas senti dificuldade. Aquela planta deve ter nascido sozinha, ninguém a plantou e nem a regou, pois está tão abandonada, seu caule é preto da fuligem dos escapamentos dos carros.
           Seus frutos apodrecem ali, grudados como se estranhassem o chão. Quem tem a coragem de consumi-los? Menino algum, traquino que seja, passa por ali, para derrubar os mamões! São feios e tronchos. Vivendo de atrevidos. Já o tal mamoeiro magricelo e desalinhado procura chamar os olhares, possuindo mais ou menos quatro metros de altura, porém nunca conseguiu concorrer com mais nada, aliás, por ironia, com o poste da rede elétrica, inerte, igualmente sem vida, a seu lado, porém cheio de energia, ou melhor, ironicamente suporte sem vida de energia!  Uma vantagem do mamoeiro é ninguém se importar se ele existe, então de jeito nenhum vale a pena cortá-lo, pois jamais incomoda, visualmente e/ou espacialmente, está camuflado sob as cores bufentas  da cidade. Ah, a cidade grande é agitada, só pensa em ganhar dinheiro. Nem os pombos têm tempo ou interesse para se abrigarem nele, as folhas são tão pequenas e murchas que se parece de outra família.
          Qual papel desempenha este elemento da natureza? Eu duvido sobre aquele mamoeiro ser útil a alguma coisa antes de sua morte! Quando a Bíblia diz que inútil é o indivíduo fazendo só a sua obrigação (Lc 17:10) e depois, decreta um fim aos inúteis: no inferno (Mt25:30), pensei nas injustiças praticadas a homens e plantas. Então, entendi por  inferno a situação daquela planta igual ao meu inferno: o abandono. Não nos deixam ser úteis. Nem para incomodar prestamos mais. Por que ousaremos fazer, pelo menos, a nossa obrigação e ser taxado de inútil? A discriminação anula o idoso, enrugado, adoentado e desbotado. Eu quero ser forte e não posso! O espírito tem vigor, entretanto o corpo físico não ajuda. Somos dos mesmos elementos químicos do belo. Nos alimentamos do belo. Vivemos no meio do belo e ainda sabemos apreciar o belo, mas, exatamente por isso, somos feios. E quanto mais nos medimos e nos comparamos, mais misturados desaparecemos, como o branco do leite bebe todas as propriedades da água. Afinal, os diferentes se atraem para a uniformização.
          Por que não seguirmos o conselho papal? (apud Artur Laranjeira, DM-OP, 26/07/2013) "Em sua viagem de vinda ao Brasil, o papa Francisco nos ensinou (disse) que 'Um povo só tem futuro se considerar igualmente os dois extremos da vida: os jovens que têm a força e os idosos que possuem a sabedoria da vida, da história, da pátria e da família'. Penso que fazem uma injustiça com os velhos quando os deixam de lado".
Claudeko Ferreira
Enviado por Claudeko Ferreira em 17/07/2013
Reeditado em 18/07/2013
Código do texto: T4391627
Classificação de conteúdo: seguro
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