"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 27 de junho de 2009

PERGUNTAS PARA RELIGIOSOS (Uma sã consciência tem "luz", se não, RECEBA)


Texto

Perguntas para Religiosos

*Se o céu só será possível mediante os mérito de Jesus, o Cristo; então tem mais dignidade quem, por méritos próprios, conquista o inferno?
*Qual o pecado que tem no mundo e não se encontra na igreja?
*Qual o benefício espiritual que a igreja oferece que não se recebe em quaisquer outros lugares do mundo?
*Por que os membros convertidos de uma igreja gostam de contar como eram "carga torta" antes de ir para a igreja?
*Se um anjo, enviado de Deus, entrasse em uma igreja qualquer e dissesse a todos ali que continuassem se abstendo dos prazeres do mundo, mas que ninguém iria para o céu, na próxima reunião, teria adorador algum naquele lugar?
*Onde está a eficácia da fé, se é possível abusar dela?
*Como não me considerar filho de Deus se não tem como Deus deixar de ser o Pai gerador de todas as coisas?
*Se quanto mais se peca, requer maior Graça, então o segredo para viver na Graça é viver pecando?
*Por que nas igrejas evangélicas falam mais no Diabo que em Deus, promovem mais o medo que a gratidão, falam mais em pecado(dinheiro, sexo etc.) que nos Dons de Deus para o homem(caridade, perdão etc.)?
*A adoração a Deus (música gospel, oração, imagens e filmes) tende a uma humanização dEle. Precisamos de um deus mais humano?
*Dizer que a igreja é a casa de Deus não seria subestimar demais a Onipresença Divina?
*Que espécie de divindade pretende ser o pastor evangélico se propondo pleitear ("colocar Deus na parede"), intercedendo pelas pessoa perante Deus?
*O que o ser humano tem para dizer a Deus, em oração, que Ele não saiba? ("ganhar no grito"  já é chacota sobre crente!).
*A evangelização com a promessa de prosperidade socioeconômica, não seria uma "hipocritização"?
*Se a Bíblia é a regra infalível de fé para a igreja, e diz que "quem é amigo do mundo não é amigo de Deus", por que as igrejas promovem o Natal, Páscoa, Dia internacional da Mulher e outras festividades mundanas, incentivando à amizade com o mundo?
* Por que os crentes atacam com ameças e baixarias comprometendo a reputação de quem ataca suas crenças? Por que os crentes precisam defender seu Deus? Quem é o Deus de quem?
* Onde há muita riqueza, razoavelmente distribuída, e mecanismos de proteção social, a religião vai mal, onde há muita pobreza, insegurança  concentração de renda e competição desenfreada, a religião vai bem. Por que a força da religião é, portanto, inversamente proporcional ao bem-estar da sociedade?
*Por que as pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas?
*Por que os intelectuais universais (Sigmund Freud, Albert Einstein, Steven Weinberg (físico), Arthur Schopenhauer, Karl Marx, Anatole France, Thomas Hobbes, Stendhal etc.) todos trataram da religião com desprezo?
*Se querem ir para o Céu, por que não querem morrer, sendo esta a única condição de ir para lá?
*Se Deus se retira do homem pecador, como poderá continuar onipresente?
Claudeko
Enviado por Claudeko em 16/05/2009
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T1597688


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sábado, 20 de junho de 2009

“Eleição” de chapa única (Um paradoxo muito estranho!)




CRÔNICA

“Eleição” de Chapa Única (Um paradoxo muito estranho!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          
Consultando o dicionário Caldas Aulete, deparei-me com a palavra eleição com o seguinte significado: Escolha, por meio de votos, de pessoa para ocupar um cargo público ou privado. Então, pensei na maior conquista da educação pública! Ainda que, a realidade seja um paradoxo estranho!
          A eleição direta para gestores escolares veio como um mecanismo de democratização dessa liderança. Um instrumento desse deve ser respeitado tanto por autoridades da escola como pela comunidade em geral. Do que adiantaria uma caneta na mão de um analfabeto? Mas, uma caneta na mão de uma pessoa letrada tem muito valor! No entanto, a diretiva de ação do processo eletivo está enferma, que opção têm os votantes em uma chapa única? Quando, porém, uma pessoa se depara com uma cédula de um quadrinho só, para marcar ou não marcar, sendo que o voto branco não é considerado válido, sente-se eleitora? ( O voto em branco não vai para nenhum candidato, ele é considerado inválido. Simples assim. (http://www.acidezmental.xpg.com.br/voto_nulo_e_branco.html). (acessado em 30/03/2013). Ainda mais, sabendo que em muitos casos, uma cédula em branco é o objeto de desejo incontrolável de corruptores que quase sempre têm um “jeitinho brasileiríssimo” para driblar o sistema de segurança. E para anular uma chapa única é difícil demais, pois o senso comum reza que “é melhor qualquer coisa que nada”, ou melhor, "mal acompanhado que só” e, ainda, a intromissão de um interventor mandado pela secretaria de educação nunca será bem vinda por motivos que a atual gestão com possibilidade de reeleição sabe elencá-los muito bem.
           É muito discreta, nojentamente, e quase que imperceptível a transgressão quando um orientador diz, para um votante, num ambiente de eleição, com uma cédula de quadrinho único em mãos:
          — Vai, é só marcar o quadrinho, só isso!
          Quem o impedirá?
          Eu também de olho no poder tentei formar uma chapa para concorrer à direção naquele ano, mas não consegui. O que de extraordinário tinha nessa minha intenção era oferecer mais uma opção em nome da verdadeira democracia. Todos os colegas que julguei adequados para trabalhar comigo, recusaram, fiz três convites e desisti. Tiveram medo: prefiro acreditar assim, do que pensar que duvidaram de minha competência; sendo uma coisa ou outra, sabemos que os medrosos sempre se tornam meros fantoches, e perdem o poder de escolha e até a individualidade. Aliás, escolher o que se a “opção” é única? A chapa única foi a realidade de muitos colégios por aqui! A ideia de democratização é isso? Gerar “livres agentes da passiva morais”!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 28/06/2009
Código do texto: T1671215


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sábado, 13 de junho de 2009

TODOS DANÇAM! (“Ninguém é totalmente desprezível”)





CRÔNICA

TODOS DANÇAM! (“Ninguém é totalmente desprezível”)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Sei lá quem já falou isto, mas realmente: “ninguém é totalmente desprezível”! Estávamos fazendo os preparativos para a festa junina na escola, todos da comunidade escolar interna precisavam ajudar: tirar folhas dos coqueiros, caçar bambu, subir na armação metálica para dependurar balões de papel e outras atividades corriqueiras do evento. A mão-de-obra totalmente voluntária. Os alunos e professores, quando solicitados, mostravam-se solícitos, mas para fazer as coisas mais fáceis: cortar bandeirolas, confeccionar cartaz, desenhar, pintar, colar papel etc. Porém, um grupo seleto de desprendidos apresentou-se para fazer aquelas ações recusadas, ou seja, as mais pesadas. Observando melhor, notei que os alunos mais indisciplinados em sala tinham grande contribuição para a escola: faziam o serviço que era recusado pela maioria, talvez por ser mais grosseiro, mais arriscado e brutal! Todavia, eles trabalhavam bem, e todos se aproveitavam de seus talentos: faz isso, faz aquilo... Eu, que segurava a escada para um deles trocar as lâmpadas do telhado, gostava do espetáculo.
          Minha reflexão é: que espécie de cidadão queremos educar, não havíamos que diversificar as metodologias ao invés de taxarmos um tipo de aluno de incompetente?
          Como explicar isto: Um aluno indisciplinado, sem produtividade dentro da sala, com os livros, pode ser um bom aluno no pátio da escola com as ferramentas certas! E observei também que às alunas eram-lhes vetadas as atividades pesadas, mesmos as de mau comportamento dentro da sala, não paravam de colar papel amarrar cordão e encangar coisas! Também se tornaram “ovelhinhas”! Contudo, quem poderá explicar isso? Os psicopedagogos? E assim mesmo, a conduta desses alunos “produtivos do pátio”, nos eventos festivos da escola, ainda será considerada inadequada? Só porque eles estão vivendo desajustados educacionalmente dos convencionais métodos da escola! A escola existe para preparar cidadãos. No entanto, o que é isso? A única espécie de cidadão que podemos construir com o sistema calejado que temos é apenas idealizada. E não é real. Verdadeira cidadania só provém da prestatividade, a final a escola não devia preparar o aluno para servir cabalmente a sociedade no que ela precisar? E como melhor condicioná-los em seus direitos e obrigações?
          Eu lhes convido a contemplar a vida real – a examinar a “literatura” que produz efeitos reais, enxergar saudáveis perspectivas das relações interpessoais, avaliar melhor os alunos que queremos. Alguém está minando nossas energias do cérebro com tolices (uniformização). O mundo é a realidade.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 27/06/2009
Código do texto: T1669605

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domingo, 7 de junho de 2009

O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível (Há uma lógica no erro - Jean piaget)








CRÔNICA

O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível (Há uma lógica no erro - Jean piaget)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na calada da noite, alguém havia defecado atrás do segundo ano "D", a última sala do pavilhão, próxima à quadra de esportes. Lá funcionava a turma mais indisciplinada no turno matutino, e o odor perturbava seriamente o ambiente. Os alunos mais perspicazes logo pensaram em medidas emergenciais: foram ao local, colocaram uma tábua sobre o "cocô" e, confirmando o ditado popular, o mau cheiro se intensificou, pois “bosta quanto mais se mexe mais fede”.

Sem alternativa, decidiram pedir ajuda à coordenadora pedagógica, na esperança de restabelecer o conforto para o aprendizado. Eu, já exausto da fetidez e da movimentação, encarei sua visita como uma solução bem-vinda e fiquei atento a cada fonema que sairia de sua boca.

No entanto, a coordenadora adentrou a sala de supetão, deu umas duas fungadas e alegou não sentir nada. Os alunos do fundo, como sempre, não paravam de gracejar. Nunca entendi por que o cheiro característico de fezes ou "peido" provoca tanta alegria, já que o riso é, supostamente, sinal de felicidade. Ao notar que apenas os do fundão riam, ela comentou, com ar de incredulidade:

— Vocês estão com alguma coisa aí no fundo! [sic]

Entendi que ela se referia a alguma travessura, mas os meninos sentiram necessidade de se explicar, aproveitando a ambiguidade:

— Ora, professora, não é no meu fundo, é no lado de fora da sala, eu tomei banho hoje [sic] — disse um mais ousado, enquanto os risos debochados dos demais endossavam a piada.

A ambiguidade linguística estava resolvida. Pouco depois, as mulheres da limpeza passaram ao lado com vassoura, balde, pano e rodo. A intensidade do aroma já diminuía, e eu comecei a simpatizar com aquela situação divertida que, de modo inesperado, ornamentou minha aula rotineira de Língua Portuguesa. Foi, sem dúvida, a maior contribuição que já recebi de uma coordenadora pedagógica para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas de gramática e produção de texto!

Aproveitei o episódio para ensinar boas lições de fonologia, ambiguidade e interpretação textual. Agora, com esta crônica, pretendo retomar o ensino e discutir tipos e gêneros textuais. Pedi a cada aluno que produza uma crônica humorística, tomando como referência a vida escolar, reforçando suas experiências com elogios e disciplina. Dos erros para os acertos, o caminho é curto, porém estreito.


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Este texto, apesar de ser uma crônica humorística e pessoal, aborda diversos elementos de interesse sociológico que podem ser explorados em sala de aula, tais como a burocracia escolar, a ineficácia das instituições, a cultura da indisciplina e a ambiguidade da comunicação social. Como professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas simples e diretas para alinharmos os conceitos sociológicos às situações cotidianas da escola:

Texto Base: A Crônica "O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível"

1. Burocracia e Ineficácia Institucional:

O texto descreve o pedido de ajuda à coordenadora pedagógica para resolver um problema de higiene básica, o que é encarado como um procedimento para "restabelecer o conforto para o aprendizado". Analise esta situação sob a perspectiva da burocracia (conceito de Max Weber). Como a necessidade de envolver a coordenação para um problema simples (limpeza) pode ser vista como um sintoma de rigidez ou ineficácia institucional na escola?

2. O Papel da Indisciplina e a Cultura Escolar:

A turma em questão é descrita como a "mais indisciplinada" e o problema se concentra na última sala do pavilhão. Em Sociologia da Educação, o que o conceito de "cultura escolar" abrange? Discuta como a indisciplina e o foco dos alunos no gracejo e na ambiguidade linguística podem ser interpretados como uma forma de resistência cultural ou uma resposta à rotina da aula de Língua Portuguesa.

3. Ambiguidade e Comunicação Social (Interacionismo):

A cena entre a coordenadora e o aluno se baseia em uma ambiguidade linguística sobre a palavra "fundo". Explique como essa situação se relaciona com o conceito sociológico de interação social. Por que a clareza da comunicação é essencial para a manutenção da ordem social e como a falha em interpretar corretamente a intenção (o cheiro versus a travessura) gera o conflito cômico descrito?

4. Hierarquia e Desautorização:

O texto ironiza a visita da coordenadora, dizendo que o episódio foi a "maior contribuição que já recebi [...] para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas". Analise o relacionamento entre o professor (narrador) e a coordenadora em termos de hierarquia e autoridade dentro da instituição escolar. Como a atitude da coordenadora, que nega sentir o odor, pode ser interpretada como uma forma de desautorizar a percepção do professor e dos alunos?

5. O Simbólico do Espaço e a Marginalização:

O evento ocorre atrás do segundo ano "D", a "última sala do pavilhão", próxima à quadra de esportes, em um local onde a indisciplina já era regra. Sob a ótica da Sociologia do Espaço ou da Marginalização, o que a localização física (o "fundão", o fim do pavilhão) pode simbolizar em relação à importância, ao controle e à ordem dessa turma no contexto da escola?

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domingo, 31 de maio de 2009

Colega não é Amigo (Amizade é atributo do Céu, lugar que a escola não pode ser!)








Crônica

COLEGA NÃO É AMIGO (Amizade é atributo do Céu, lugar que a escola não pode ser!)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Quando começa o turno na escola, parece que todo mundo é amigo, é bom dia para cá, boa tarde para lá ou boa noite, enfim essa fantasia dura até quando precisamos de alguém para nos dar razão em detrimento de um preço qualquer. Até porque, são os colegas que nos vigiam para denunciar.
          Era para trocar de professor, minha vez, os alunos estavam quase todos no lado de fora, aguardando-me; entrei na sala, e eles continuaram lá, convidei-os para entrar, uns poucos obedeceram, então tomei uma medida enérgica, avancei para fechar a porta, eles correram e entraram. Porém, um que estava longe, na porta de outra sala, perturbando o outro professor, era um aluno indisciplinado daqueles que transitam à sala o tempo todo sem interesse comum, veio depois; ordenei que não entrasse mais, ele se precipitou, forçando a entrada, então segurei em seu braço e empurrei-o para fora.
          Tudo estava em paz; até aí, eu estava certo que naquela unidade escolar todos nós éramos amigos. Doce ilusão! O coordenador logo me chamou na sala porque a diretora queria falar comigo. Para mostrar a solidariedade do inferno, na trajetória, ele “simpaticamente” me disse:
          — Olha, vou te adiantar um segredinho para você se preparar, mas aquele menino te denunciou, dizendo que você unhou o braço dele.
          Ora o tal coordenador foi quem encaminhou o menino para a diretora e ali estava a diretora, o menino, a secretária; o coordenador tratou logo de pegar seu caderninho e redigir um relatório do ocorrido – por que não a secretária da unidade escolar?!
          Sentir-me como um pobre animalzinho acuado num beco sem saída quando a diretora, num tom autoritário como quem quisesse se autoafirmar, revelou de fato os sentimentos que tinha por mim, ("belos sentimentos"!) colocando-me em meu lugar:
          — Professor, você unhou o aluno, e aí como é que vai ficar?
          Eu depois de um silêncio constrangedor, sem mesmo levantar a cabeça disse;
          — Não tive a intenção de machucar o menino, apenas segurei em seu braço, para que ele não entrasse, fazendo  valer, assim, minha ordem de professor que queria disciplina, respeitando o direito dos estudiosos. Como ele deu um puxão, arranhou-se, uso minhas unhas grandes na mão direita para tocar violão. Aí, aplique as medidas cabíveis!
          Eu já passara por situação semelhante em uma outra unidade escolar municipal, na qual um grande amigo tornara-se coordenador de turno e quando mais precisei dele me disse que não podia fazer nada a meu favor, apenas me conduziu a sala da diretora. Sai daquele constrangimento, dizendo que ia mudar de escola, então rasgaram o relatório, por isso vim parar aqui.
          Mas, dessa vez, assinei o relatório e sai daquele ajuntamento com a amargura do desamparo dos "amigos". Alias, quem me pareceu mais amigo foi o menino que permaneceu calado e me contou no dia seguinte que o coordenador lhe ameaçara à suspensão se não contasse o que eu tinha feito, ditando-lhe o texto, e que a porteira servente também o tinha incentivado me “ferrar”, só se esqueceu mesmo foi de me mostrar o tamanho do arranhão que fiz em seu braço. Contudo, o perdão que devia lhe pedir na reunião, peço-lhe agora, acho que não fui o amigo suficiente para tolerar seu comportamento improdutivo. Devemos considerar, para a educação, o que diz Jules Renard: "Não há amigos, apenas há momentos de amizade". E estes para benefício próprio.
            Então, a professora odiada de todos os alunos e considerada disciplinadora pelos colegas, se manifesta na reunião pedagógica para sugerir aos demais que pense e faça como ela, senão uns serão considerados bonzinhos e ela o terror! Queria uniformizar o trato com os alunos e o formato da aula dos outros por medo de afrouxar e mesmo assim não cair na admiração deles. Esse tipo que mendiga a simpatia de aluno só parece bem intencionado, mas não contribui em nada com a educação, força a direção e coordenadores continuarem jogando toda culpa no professor. Que me explique os tais, se eu ministro uma boa aula de Lígua portuguesa no sexto ano B, excelente, e já não consigo no sexto A, sendo eu a a mesma pessoa, usando o mesmo método para o mesmo conteúdo, Onde está a culpa?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/06/2009
Código do texto: T1666585


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sábado, 23 de maio de 2009

A RE(DES)ORIENTAÇÃO ("Aqueles que têm o poder de dar voz, geralmente são os primeiros a não querer ouvir." — Hannah Arendt)



Crônica

A RE(DES)ORIENTAÇÃO ("Aqueles que têm o poder de dar voz, geralmente são os primeiros a não querer ouvir." — Hannah Arendt)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu li uma história — não sei mais onde — que dizia que um certo senhor possuía um Fusca velho cuja buzina não funcionava mais. Então, ele procurou um mecânico para substituir a buzina afônica. Quando chegou à oficina, encontrou as portas fechadas, pois chovia naquele momento. Na entrada, havia um letreiro que dizia: “buzine para ser atendido”! Quais foram os sentimentos daquele motorista, são os meus agora.

A metáfora é perfeita. Aquele homem diante da oficina trancada sou eu diante da escola: alguém que tenta ser ouvido por um sistema que exige sinais sonoros de uma buzina que ele mesmo silenciou. A Educação, como aquela oficina, fecha-se justamente quando mais se precisa dela (já estou chamando esta estratégia de "pedagogia do cadeado", observando direito tudo no prédio escolar tem cadeado), e o professor, desprovido de instrumentos eficazes, é forçado a gritar no vazio, do outro lada da porta. Enquanto chove lá fora — chuva que simboliza o caos das políticas públicas e da indiferença social — resta-nos o desconforto de tentar consertar o que o próprio sistema insiste em quebrar. Assim, sigo tentando “buzinar” com palavras, na esperança de que alguém, um dia, abra as portas da escuta.

Sempre me lembrarei dos esforços para escolher as palavras certas na reunião daquele oitavo ano, diante de pais e alunos. Todos os professores estavam sinceramente preocupados com eles. A diretora, a secretária e os coordenadores também compareceram. Havia sérios problemas de indisciplina naquela turma: muitos rapazes brigavam, empurravam-se, xingavam-se e exibiam todo tipo de desrespeito, tanto aos colegas quanto à própria aula. Confesso que temi retaliações — uma ameaça fora da escola, o risco de ver meu carro danificado ou até uma denúncia injusta. Afinal, é assim que costumam reagir quando são repreendidos com firmeza.

Falei tanto que acabei falando demais. Expliquei que havia adotado uma medida ousada para tentar conter os indisciplinados: tirar meio ponto a cada vez que chamasse a atenção de alguém. E, curiosamente, estava funcionando. Eu já conseguia, enfim, explicar algo nas aulas antes dominadas pelo caos. Até então, meu trabalho se resumia a fazer com que copiassem do quadro ou resolvessem atividades mecânicas, sempre valendo ponto. Nada mais surtia efeito.

Antes mesmo de a reunião terminar — enquanto outro professor ainda falava —, uma mãe me chamou à parte com sua filha e perguntou se era “legal” tirar ponto de aluno, dizendo conhecer as normas, já que havia trabalhado em escola. Respondi com outra pergunta:

— É legal deixar sua filha perturbar todo mundo? Gritar na hora da aula, entrar e sair a todo instante, correr dentro da sala, bater nos meninos, arrastar as cadeiras, jogar o lanche nos outros, brincando de guerrear e sem respeitar as advertências do professor? Porque esta tem sido a contribuição dela à escola e ao ensino!

Não quis ferir o brio da mãe; foi apenas um desafio inútil. Aquela moça deveria ter sido educada alguns anos antes. Agora, a mudança precisa vir de dentro para fora. Tem que partir dos alunos — não da escola.

Naquele mesmo dia, a aula seguinte, logo após a reunião, foi minha. Enfrentei os quarenta indisciplinados daquela sala, já que apenas seis foram considerados bons. E tudo se repetiu como antes: nada havia mudado — eles continuavam os mesmos. Ministrei ainda outras aulas ali, e a história não foi diferente. No fim, percebi que apenas eu havia mudado. Não tiro mais ponto, não os incomodo mais, nem os impeço de alcançar seu único e verdadeiro objetivo na escola — ter nota sem mérito algum.


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🧭 ALINHAMENTO CONSTRUTIVO — Questões discursivas

1. No início do texto, a metáfora da “buzina que não funciona” é usada para representar a relação entre o professor e o sistema educacional.

👉 Explique o significado dessa metáfora e o que ela revela sobre a comunicação entre educadores e a instituição escolar.

2. O autor menciona a “pedagogia do cadeado” ao observar que tudo na escola está trancado.

👉 O que essa expressão simboliza em relação à forma como a escola lida com os problemas educacionais e sociais?

3. Analise a reação da mãe que questiona a atitude do professor.

👉 O que esse episódio revela sobre os papéis e responsabilidades de pais, alunos e escola na construção da disciplina e do respeito em sala de aula?

4. Ao final, o narrador afirma que “apenas eu havia mudado”.

👉 Qual é o sentido dessa mudança e como ela reflete a desmotivação e a impotência do professor diante das estruturas do sistema escolar?

5. A partir do texto, discuta o seguinte ponto:

👉 Como a indisciplina, o desinteresse e a busca apenas pela “nota” podem ser compreendidos como sintomas de um problema social mais amplo na Educação contemporânea?