O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível (Há uma lógica no erro - Jean piaget)
Na calada da noite, alguém havia defecado atrás do segundo ano "D", a última sala do pavilhão, próxima à quadra de esportes. Lá funcionava a turma mais indisciplinada no turno matutino, e o odor perturbava seriamente o ambiente. Os alunos mais perspicazes logo pensaram em medidas emergenciais: foram ao local, colocaram uma tábua sobre o "cocô" e, confirmando o ditado popular, o mau cheiro se intensificou, pois “bosta quanto mais se mexe mais fede”.
Sem alternativa, decidiram pedir ajuda à coordenadora pedagógica, na esperança de restabelecer o conforto para o aprendizado. Eu, já exausto da fetidez e da movimentação, encarei sua visita como uma solução bem-vinda e fiquei atento a cada fonema que sairia de sua boca.
No entanto, a coordenadora adentrou a sala de supetão, deu umas duas fungadas e alegou não sentir nada. Os alunos do fundo, como sempre, não paravam de gracejar. Nunca entendi por que o cheiro característico de fezes ou "peido" provoca tanta alegria, já que o riso é, supostamente, sinal de felicidade. Ao notar que apenas os do fundão riam, ela comentou, com ar de incredulidade:
— Vocês estão com alguma coisa aí no fundo! [sic]
Entendi que ela se referia a alguma travessura, mas os meninos sentiram necessidade de se explicar, aproveitando a ambiguidade:
— Ora, professora, não é no meu fundo, é no lado de fora da sala, eu tomei banho hoje [sic] — disse um mais ousado, enquanto os risos debochados dos demais endossavam a piada.
A ambiguidade linguística estava resolvida. Pouco depois, as mulheres da limpeza passaram ao lado com vassoura, balde, pano e rodo. A intensidade do aroma já diminuía, e eu comecei a simpatizar com aquela situação divertida que, de modo inesperado, ornamentou minha aula rotineira de Língua Portuguesa. Foi, sem dúvida, a maior contribuição que já recebi de uma coordenadora pedagógica para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas de gramática e produção de texto!
Aproveitei o episódio para ensinar boas lições de fonologia, ambiguidade e interpretação textual. Agora, com esta crônica, pretendo retomar o ensino e discutir tipos e gêneros textuais. Pedi a cada aluno que produza uma crônica humorística, tomando como referência a vida escolar, reforçando suas experiências com elogios e disciplina. Dos erros para os acertos, o caminho é curto, porém estreito.
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Este texto, apesar de ser uma crônica humorística e pessoal, aborda diversos elementos de interesse sociológico que podem ser explorados em sala de aula, tais como a burocracia escolar, a ineficácia das instituições, a cultura da indisciplina e a ambiguidade da comunicação social. Como professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas simples e diretas para alinharmos os conceitos sociológicos às situações cotidianas da escola:
Texto Base: A Crônica "O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível"
1. Burocracia e Ineficácia Institucional:
O texto descreve o pedido de ajuda à coordenadora pedagógica para resolver um problema de higiene básica, o que é encarado como um procedimento para "restabelecer o conforto para o aprendizado". Analise esta situação sob a perspectiva da burocracia (conceito de Max Weber). Como a necessidade de envolver a coordenação para um problema simples (limpeza) pode ser vista como um sintoma de rigidez ou ineficácia institucional na escola?
2. O Papel da Indisciplina e a Cultura Escolar:
A turma em questão é descrita como a "mais indisciplinada" e o problema se concentra na última sala do pavilhão. Em Sociologia da Educação, o que o conceito de "cultura escolar" abrange? Discuta como a indisciplina e o foco dos alunos no gracejo e na ambiguidade linguística podem ser interpretados como uma forma de resistência cultural ou uma resposta à rotina da aula de Língua Portuguesa.
3. Ambiguidade e Comunicação Social (Interacionismo):
A cena entre a coordenadora e o aluno se baseia em uma ambiguidade linguística sobre a palavra "fundo". Explique como essa situação se relaciona com o conceito sociológico de interação social. Por que a clareza da comunicação é essencial para a manutenção da ordem social e como a falha em interpretar corretamente a intenção (o cheiro versus a travessura) gera o conflito cômico descrito?
4. Hierarquia e Desautorização:
O texto ironiza a visita da coordenadora, dizendo que o episódio foi a "maior contribuição que já recebi [...] para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas". Analise o relacionamento entre o professor (narrador) e a coordenadora em termos de hierarquia e autoridade dentro da instituição escolar. Como a atitude da coordenadora, que nega sentir o odor, pode ser interpretada como uma forma de desautorizar a percepção do professor e dos alunos?
5. O Simbólico do Espaço e a Marginalização:
O evento ocorre atrás do segundo ano "D", a "última sala do pavilhão", próxima à quadra de esportes, em um local onde a indisciplina já era regra. Sob a ótica da Sociologia do Espaço ou da Marginalização, o que a localização física (o "fundão", o fim do pavilhão) pode simbolizar em relação à importância, ao controle e à ordem dessa turma no contexto da escola?
Na calada da noite, alguém havia defecado atrás do segundo ano "D", a última sala do pavilhão, próxima à quadra de esportes. Lá funcionava a turma mais indisciplinada no turno matutino, e o odor perturbava seriamente o ambiente. Os alunos mais perspicazes logo pensaram em medidas emergenciais: foram ao local, colocaram uma tábua sobre o "cocô" e, confirmando o ditado popular, o mau cheiro se intensificou, pois “bosta quanto mais se mexe mais fede”.
Sem alternativa, decidiram pedir ajuda à coordenadora pedagógica, na esperança de restabelecer o conforto para o aprendizado. Eu, já exausto da fetidez e da movimentação, encarei sua visita como uma solução bem-vinda e fiquei atento a cada fonema que sairia de sua boca.
No entanto, a coordenadora adentrou a sala de supetão, deu umas duas fungadas e alegou não sentir nada. Os alunos do fundo, como sempre, não paravam de gracejar. Nunca entendi por que o cheiro característico de fezes ou "peido" provoca tanta alegria, já que o riso é, supostamente, sinal de felicidade. Ao notar que apenas os do fundão riam, ela comentou, com ar de incredulidade:
— Vocês estão com alguma coisa aí no fundo! [sic]
Entendi que ela se referia a alguma travessura, mas os meninos sentiram necessidade de se explicar, aproveitando a ambiguidade:
— Ora, professora, não é no meu fundo, é no lado de fora da sala, eu tomei banho hoje [sic] — disse um mais ousado, enquanto os risos debochados dos demais endossavam a piada.
A ambiguidade linguística estava resolvida. Pouco depois, as mulheres da limpeza passaram ao lado com vassoura, balde, pano e rodo. A intensidade do aroma já diminuía, e eu comecei a simpatizar com aquela situação divertida que, de modo inesperado, ornamentou minha aula rotineira de Língua Portuguesa. Foi, sem dúvida, a maior contribuição que já recebi de uma coordenadora pedagógica para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas de gramática e produção de texto!
Aproveitei o episódio para ensinar boas lições de fonologia, ambiguidade e interpretação textual. Agora, com esta crônica, pretendo retomar o ensino e discutir tipos e gêneros textuais. Pedi a cada aluno que produza uma crônica humorística, tomando como referência a vida escolar, reforçando suas experiências com elogios e disciplina. Dos erros para os acertos, o caminho é curto, porém estreito.
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Este texto, apesar de ser uma crônica humorística e pessoal, aborda diversos elementos de interesse sociológico que podem ser explorados em sala de aula, tais como a burocracia escolar, a ineficácia das instituições, a cultura da indisciplina e a ambiguidade da comunicação social. Como professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas simples e diretas para alinharmos os conceitos sociológicos às situações cotidianas da escola:
Texto Base: A Crônica "O Banquete Olfativo: Crônica de uma Aula Inesquecível"
1. Burocracia e Ineficácia Institucional:
O texto descreve o pedido de ajuda à coordenadora pedagógica para resolver um problema de higiene básica, o que é encarado como um procedimento para "restabelecer o conforto para o aprendizado". Analise esta situação sob a perspectiva da burocracia (conceito de Max Weber). Como a necessidade de envolver a coordenação para um problema simples (limpeza) pode ser vista como um sintoma de rigidez ou ineficácia institucional na escola?
2. O Papel da Indisciplina e a Cultura Escolar:
A turma em questão é descrita como a "mais indisciplinada" e o problema se concentra na última sala do pavilhão. Em Sociologia da Educação, o que o conceito de "cultura escolar" abrange? Discuta como a indisciplina e o foco dos alunos no gracejo e na ambiguidade linguística podem ser interpretados como uma forma de resistência cultural ou uma resposta à rotina da aula de Língua Portuguesa.
3. Ambiguidade e Comunicação Social (Interacionismo):
A cena entre a coordenadora e o aluno se baseia em uma ambiguidade linguística sobre a palavra "fundo". Explique como essa situação se relaciona com o conceito sociológico de interação social. Por que a clareza da comunicação é essencial para a manutenção da ordem social e como a falha em interpretar corretamente a intenção (o cheiro versus a travessura) gera o conflito cômico descrito?
4. Hierarquia e Desautorização:
O texto ironiza a visita da coordenadora, dizendo que o episódio foi a "maior contribuição que já recebi [...] para melhorar a qualidade das minhas tradicionais aulas". Analise o relacionamento entre o professor (narrador) e a coordenadora em termos de hierarquia e autoridade dentro da instituição escolar. Como a atitude da coordenadora, que nega sentir o odor, pode ser interpretada como uma forma de desautorizar a percepção do professor e dos alunos?
5. O Simbólico do Espaço e a Marginalização:
O evento ocorre atrás do segundo ano "D", a "última sala do pavilhão", próxima à quadra de esportes, em um local onde a indisciplina já era regra. Sob a ótica da Sociologia do Espaço ou da Marginalização, o que a localização física (o "fundão", o fim do pavilhão) pode simbolizar em relação à importância, ao controle e à ordem dessa turma no contexto da escola?


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