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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 30 de julho de 2009

PROFESSOR - UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO - Por Veronica Dutenkefer

PROFESSOR – UMAESPÉCIE EM EXTINÇÃO 


 Por Veronica Dutenkefer (20/06/2009)
Esse texto que escrevo precisamente agora é mais um desabafo.
Desabafo de uma profissional que está lecionando há mais de 22 anos e que não sabe se sobreviverá por mais dez anos,  que é o tempo que ainda precisarei trabalhar (por mais que ame muito o que faz).
Trago comigo muitas perguntas que não querem calar. E talvez a mais inquietante é: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país????
Constantemente ouço ou leio reportagens com as autoridades educacionais proclamarem a má formação de seus professores. Culpando as universidades, a falta de cursos de formação e culpando-nos evidentemente.
Se a educação neste país não vai bem só existe um culpado: o professor.
E aí vem meus questionamentos:
Como um professor de escola pública pode fazer o seu trabalho se ele precisa ficar constantemente parando sua aula para separar a briga entre os alunos, socorrer seu aluno que foi ferido por outro aluno, planejar várias aulas para se trabalhar os bons hábitos na tentativa vã de se formar cidadãos mais conscientes e de melhor caráter?
Nos cursos de formação nos é passado constantemente a recusa de um programa tradicional e conteudista, mas nossas avaliações de desempenho das escolas, nossos vestibulares e concursos públicos ainda são tradicionais e  nos cobra o conteúdo de cada disciplina.
Como pode num país.....num estado...num município haver regras tão diferentes entre a rede particular e pública?
Na rede particular as escolas continuam conteudistas, há a seriação com reprovação, a escola pode suspender ou até mesmo expulsar um aluno que não esteja respeitando as regras daquela instituição.
A rede pública vive mudando o enfoque pedagógico (de acordo com o partido que ganhou as eleições), é cobrado cada vez menos do aluno, não se pode fazer absolutamente nada com um aluno indisciplinado que até mesmo coloca em risco a segurança de outros alunos e funcionários daquela instituição.
Dia a dia....minuto a minuto... os professores são alvos de agressões verbais e até mesmo física pelos alunos. A cada dia somos submetidos a níveis de stress insuportáveis para um ser humano.
Temos que dar conta do conteúdo a ser ensinado + sermos responsáveis pela segurança física de nossos alunos + sermos médicos + enfermeiros + psicólogos + assistentes sociais + dentistas + psiquiatras + mãe + pai ......
E quando ameaçados de morte e recorremos a uma delegacia pra fazer um boletim de ocorrência ouvimos: “Isto não vai adiantar nada!”
Meus bons alunos presenciam o mal aluno fazendo tudo o que não pode ser feito e não acontecendo nada com ele. É o exemplo da impunidade desde a infância.
Meus bons alunos presenciam que o aluno que não fez absolutamente nada durante o ano, passou de ano como ele, que se esforçou e foi responsável.
Houve um ano que eu tinha um aluno que era muito bom. E ele começou a faltar muito e ir mal na escola. Os colegas diziam que ele ficava empinando pipa ao invés de ir pra escola. Um dia, tive uma conversa com ele, e perguntei o que estava acontecendo? E ele me disse: “Prá que eu vou vir prá escola se eu vou passar de ano mesmo assim?”
Então eu procurei aconselhar (como faço com meus alunos até hoje) que ele devia freqüentar a escola, não para tirar notas boas nas provas ou passar de ano. Ele deveria vir a escola para aumentar seu conhecimento que é o único bem que ninguém poderá roubar.Que a escola iria ajudá-lo a aprender e trocar conhecimentos com os outros e ajudá-lo a dar uma melhor formação na vida..
Depois dessa conversa ele não faltou mais tanto....mas nunca mais voltou a ser o excelente aluno que era.
Qual a motivação de ser bom aluno hoje em dia?
Seus ídolos são jogadores de futebol que não falam o português corretamente e que não hesitam em agredir seus colegas jogadores e até mesmo os árbitros. Ensinando que não é necessário haver respeito as autoridades e aos outros.
Ou são dançarinas que mostram seu corpo rebolando na televisão e pousando nuas para ganhar dinheiro.
 Para quê eu me matar de estudar se há tantas profissões que não são valorizados e nem respeitadas? ??
Conheci (e ainda conheço e convivo) ao longo de minha carreira na escola pública, inúmeros profissionais maravilhosos. Pessoas que amam a sua profissão, que se preocupam com seus alunos, que fazem trabalhos excepcionais. Que possuem um conhecimento e formação excelentes, mas que estão desgastados e quase arrasados diante da atual situação educacional.
Li a poucos dias num artigo que os cursos de filosofia, matemática, química, biologia e outros todos ligados a área de magistério não estão tendo procura nas universidades.
Lógico!!!!!Quem é que quer ser professor??? ??????
Quem é que quer entrar numa carreira que está sendo extinta, não só pela total desvalorização e respeito, mas também pela falta de segurança que estamos enfrentando nas escolas.
Fiquei indignada com uma reportagem na TV (que aliás adora fazer reportagens sensacionalistas colocando o professor sempre como vilão da história) em que relatava que numa escola um aluno ameaçava os outros com um revólver e num determinado momento o repórter perguntou:”Onde estava oprofessor que não viu isso??!!”
E agora eu pergunto: “O que se espera de umprofessor (ou de qualquer ser humano), que se faça com uma arma apontada pra você ou pra outro ser humano??? Ah...já sei...o professor deveria enfrentar as balas do revólver!!!! Claro!!! As universidades e os cursos de aperfeiçoamento de professores não estão nos ensinando isso..
Vocês tem conhecimento de como os professores de nosso país estão adoecendo??? ?
Vocês sabem o que é enfrentar o stress que a violência moral e física tem nos submetido dia a dia?
Você sabe o que é ouvir de um pai frases assim:
“Meu filho mentiu, mas ele é apenas uma criança!”
“Eu não sei mais o que fazer com o meu filho!”
“Você está passando muita lição para meu filho, e ele é apenas uma criança!”
“Ele agrediu o coleguinha, mas não foi ele quem começou.”
“Meu filho destruiu a escola, mas não fez isso sozinho!”
Classes super lotadas, falta de material pedagógico, espaço físico destruído, violência, desperdício de merenda, desperdício de material escolar que eles recebem e, muitas vezes, não valorizam (afinal eles não precisam fazer absolutamente nada para merecê-los), brigas por causa do “Leve-leite” (o aluno não pode faltar muito, não por que isso prejudica sua aprendizagem, mas porque senão ele não leva o leite.)
Regras educacionais dissonantes de acordo com a classe social dos alunos.
Impunidade.
Mas a educação não vai bem, por causa doprofessor..
Encerro esse desabafo com essa pergunta que li a poucos dias:
Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.
"Todo mundo  'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos  filhos...  Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
O BOM NESTE PAÍS É SER POLITICO. APOSENTA-SE COM 8 ANOS DE "TRABALHO(?) ".

domingo, 5 de julho de 2009

Sábado Letivo: A Trágica Comédia do Sábado Letivo ("O fraco rei faz fraca a forte gente." — Luís de Camões)

terça-feira, 30 de junho de 2009

A (LEI)TURA EX...AMIN(ATIVA) A Crise da Recepção e a Busca por Sentido




Crônica

A (LEI)TURA EX...AMIN(ATIVA) A Crise da Recepção e a Busca por Sentido

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Escrevi, com grande esmero, a crônica “Gramática é sério” para incluí-la em um projeto de livro. Ansiava pela reação de terceiros — aprovação ou reprovação, comentários positivos ou negativos. Procedo assim com todos os meus textos: considero-os definidos apenas após leituras probatórias feitas por, no mínimo, três pessoas. Sou humilde o suficiente para aceitar sugestões de melhoria e uso as observações para enriquecer meus trabalhos.

Forneci uma cópia à chefe do departamento em que trabalhei (projetos da SME). A sala estava pouco movimentada, e pareceu-me o momento ideal. Ela fitou a página por quatro minutos, imóvel. Em seguida, largou a folha em cima da mesa, junto a uma enorme papelada, e disse:

— Tenho que ler mais uma vez para lhe falar alguma coisa sobre o texto.

Assim que ela virou as costas, recolhi a cópia preciosa, sentindo-me como um garimpeiro limpando suas pepitas. De repente, um vulto passou pela janela e reacendeu minhas esperanças: era a colega da sala ao lado, do departamento pedagógico. Chamei-a e pedi que lesse a crônica ainda naquela tarde e me desse seu parecer.

O retorno foi rápido: em menos de dez minutos, ela estava de volta à sala de projetos, sentou-se à minha frente e, com ar de suspense, fez caras e bicos. Eu estava apreensivo, mas esperei em silêncio. Finalmente, ela disse:

— Olha, a crônica está muito boa, gostei muito! Só esse final poderia ser mudado, pode desagradar alguns políticos.

Levantou-se e saiu. Não tive nenhum argumento imediato; naquele instante, ela apenas apontou o óbvio. Refleti pelo resto da tarde e parte da noite: como eu gostaria que meus leitores tivessem modos de ler tão amplos, capazes de realizar leituras extensivas e estabelecer vínculos estreitos entre o texto e o conjunto cultural. Ou estaria exigindo demais?

O assunto é sério! Ontem, por exemplo, deixei um rascunho desta história em minha escrivaninha, com o título (Lei)tura Ex...amin(ativa). Minha esposa leu e perguntou:

— Como seria essa leitura "examinativa"?

Respondi que é o exame textual praticado por aquele que sabe, de fato, atingir o pensamento alheio e visualizar com amplitude o objeto do texto. É um processo vivo de apuração tão profundo que alcança os elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto, o conhecimento prévio do leitor e outros textos já lidos.

— E como adquirir essa leitura? — perguntou-me novamente.

Expliquei que a leitura competente faz parte da luta pela dignidade humana; é mais responsabilidade que privilégio. É uma técnica de leitura particular, ligada à criatividade de cada um. Não é difícil constatar que as manifestações mais substanciosas surgem daqueles que se aprofundam no conhecimento criterioso da realidade. É o que vemos na vida de trabalho e esforço das pessoas comuns ou das especialmente dotadas, num empenho extraordinário que as leva à superação de si mesmas e dos seus próprios limites.

Se me compreenderam ou não, não sei; o importante é que, após essa experiência, nunca mais lerão este texto da mesma forma. Agora, sempre o farão em um nível mais profundo.


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Este texto oferece um excelente material para a discussão sociológica sobre a burocracia, o ambiente de trabalho e o papel social do intelectual e da leitura na contemporaneidade. Como professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas simples e diretas, focando nos conceitos de instituição, capital cultural e poder no ambiente de trabalho:

5 Questões Discursivas de Sociologia (Leitura, Poder e Burocracia)

Texto Base: A Crônica "Leitura Examinativa: A Crise da Recepção e a Busca por Sentido"

1. Burocracia e Relações de Poder no Trabalho:

A chefe de departamento demonstra desinteresse imediato pela crônica do autor, limitando-se a dizer que precisa "ler mais uma vez" antes de comentar. Analise essa interação sob a ótica das relações de poder e da burocracia no ambiente de trabalho (SME). Como a atitude da chefe pode ser interpretada como uma forma de exercer poder ou como um sintoma da rotina burocrática, onde o tempo para o "esmero" literário é inexistente?

2. A Leitura Superficial e a Cultura de Evitamento:

A colega do departamento pedagógico rapidamente retorna, elogia a crônica, mas sugere que o final "pode desagradar alguns políticos." O autor reflete sobre a ausência de "leituras extensivas" e "vínculos estreitos entre o texto e o conjunto cultural." Explique como essa leitura superficial, focada apenas na censura política, reflete uma cultura de evitamento de conflitos ou uma leitura instrumental (funcional) típica de certas instituições.

3. O Capital Cultural e a "Leitura Competente":

O autor define a "leitura competente" ou "examinativa" como uma luta pela "dignidade humana" e um "conhecimento criterioso da realidade." Na Sociologia de Pierre Bourdieu, o que é Capital Cultural? Discuta como a posse dessa "leitura competente" pode ser entendida como uma forma de capital cultural que distingue o autor da leitura superficial de seus colegas.

4. O Papel Social do Intelectual e a Crítica Implícita:

O autor, como cronista, busca produzir um texto que atinja elementos implícitos e gere reflexão profunda. Qual é o papel social do intelectual ou do crítico em uma sociedade, de acordo com as teorias sociológicas? Explique por que a sugestão de censura ("pode desagradar alguns políticos") é vista pelo autor como o oposto da finalidade da literatura e da leitura "examinativa".

5. Mérito e Superação Pessoal (Ideologia):

O autor associa a leitura competente à "vida de trabalho e esforço das pessoas comuns ou das especialmente dotadas" em um "empenho extraordinário que as leva à superação de si mesmas." Identifique a ideologia presente nessa afirmação (por exemplo, meritocracia, esforço individual). Discuta se essa visão, que valoriza o esforço individual extremo como chave para a competência, ignora ou minimiza a importância das condições sociais e do acesso a recursos educacionais de qualidade.

ALCANÇANDO AS VITÓRIAS (Dobradinha brasileira)





Crônica

ALCANÇANDO AS VITÓRIAS (Dobradinha brasileira)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era de conhecimento geral que nosso Personagem Atleta tinha uma pergunta favorita nos locais de inscrição: — A Vitória vai correr?

Vitória era uma jovem cobiçada. A princípio, a preocupação do atleta parecia incompreensível, já que ele possuía condições físicas superiores e mais tempo de prática. Além disso, em corridas de rua, homens e mulheres não disputam o mesmo prêmio. O mistério era que ele nunca conseguia imprimir uma velocidade superior à dela, tratando-a como uma espécie de "puxadora". Por que ele preferia ser puxado em um ritmo tão lento? E, o que era mais estranho: ele não reagia aos incentivos da torcida, correndo sempre com uma concentração enigmática.

Em quê? Não se sabia. Esse mistério persistiu até que, após uma dessas "provas de rua", sua postura mansa o traiu. Uma fotografia flagrou o Personagem Atleta e Vitória; pela disposição das imagens, notou-se que ele não havia sido convidado a posar, estava um pouco desajeitado, mas seu olhar estava direcionado de forma inconfundível para as partes inferiores da moça.

O quebra-cabeça finalmente se montou: ela corria sempre com um shortinho de lycra rosa, curtíssimo! Preso ao devaneio, ele mal precisava de imaginação para se distrair.

Enquanto a foto circulava, em meio a comentários maldosos, alguém concebeu uma ideia brilhante para ajudar o Personagem Atleta, um verdadeiro teste de atração fatal. — Mas, que ideia brilhante é esta? — perguntou um dos presentes em meio às gargalhadas.

O plano foi simples: convidar Vitória, usando os mesmos trajes, para fazer o percurso da próxima competição no "carro madrinha". Ela aceitou sem hesitar, e o carro foi preparado para que ela ficasse bem exposta, simulando a função de apontar o caminho. Para disfarçar a armação, ela adotou um comportamento de fachada, mantendo o pé direito enfaixado.

Chegada a hora, o carro "isca" posicionou-se diante do pelotão para a largada. Quem estava bem na frente, logo atrás do veículo, era o Personagem Atleta! Ele parecia sedento, pronto para persegui-la.

A largada foi dada para a prova de 10 km, que contava com a participação de 400 atletas, em celebração ao aniversário de uma das cidades satélites de Goiânia. Por ser feriado, o percurso estava repleto de espectadores. Todos os demais competidores tinham a motivação comum para uma boa corrida; o nosso Personagem, no entanto, tinha uma motivação extra e obsessiva.

Aos 5 km, ele foi visto liderando a prova, de boca aberta, quase babando. O carro controlava sua velocidade, e ele não queria, de forma alguma, perder o objeto de sua fixação de vista. Com essa mesma obsessão incontrolável, a plateia teve de aplaudi-lo: pela primeira vez, ele conquistou uma competição.

Campeão! A Vitória e a vitória foram conquistadas!

O texto levanta uma reflexão irônica e final: Como ajudar alguém a alcançar a vitória quando esse alguém só quer a Vitória?


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Ótima escolha de texto! Embora seja uma narrativa aparentemente leve, ela nos permite explorar conceitos sociológicos relevantes sobre motivação social, espetáculo, gênero e controle.

Abaixo, como seu professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas e simples para guiar a análise crítica dos meus alunos sobre a história do Personagem Atleta e a Vitória.

1 - Motivação e Ação Social (Max Weber): O Personagem Atleta, com condições físicas superiores, só atinge a vitória quando sua motivação se torna puramente afetiva e não racional (a obsessão por Vitória). Com base no conceito weberiano de Ação Social, diferencie a ação do Atleta durante as corridas anteriores (lenta, apesar do potencial físico) e a ação final (veloz, motivada pela proximidade de Vitória).

2 - O Corpo Feminino como Espetáculo e Meio de Controle: Vitória, mesmo não competindo, é colocada no "carro madrinha" em trajes curtos para ser a "isca". Analise como o corpo feminino, neste contexto, é transformado em um objeto de espetáculo e, ironicamente, em um instrumento de controle (o carro madrinha controla a velocidade do atleta) e de motivação masculina, desviando o foco da competição esportiva pura.

3 - A "Vitória" Além da Competição (Performance e Status): O texto brinca com a dupla conquista: "A Vitória e a vitória foram conquistadas!". O sucesso do Atleta é alcançado por uma motivação externa (a atração). Discuta a ideia de que, na sociedade contemporânea, o verdadeiro status e o reconhecimento social muitas vezes não vêm apenas do esforço racional ou do mérito esportivo, mas sim da performance (a liderança da prova, mesmo que motivada por obsessão) ou da satisfação de um desejo não relacionado à regra.

4 - A Moralidade da Ajuda e a Ética: A "ideia brilhante" dos amigos para ajudar o Atleta é baseada em uma manipulação da situação (usar a atração dele por Vitória como combustível). Do ponto de vista da moralidade e da ética social, como você avalia essa forma de "ajuda" que subverte a essência da competição (a busca pela vitória pelo mérito atlético)?

5 - O Papel do Público e o Fenômeno do Voyeurismo: O público, ao longo do percurso, aplaude o Personagem Atleta por sua liderança, ignorando a verdadeira e ridícula motivação por trás do seu desempenho (ele correndo "de boca aberta, quase babando"). Analise como a espetacularização do evento esportivo e a postura do público (que ri da situação, mas aplaude o resultado) reforçam a aceitação de um desempenho motivado por algo fútil, desde que o resultado (a vitória) seja alcançado.

CONFISSÃO DE UM ANJO (A consequência do pecado de um anjo da guarda)





Crônica

CONFISSÃO DE UM ANJO: A Reunião Hostil (A consequência do pecado de um anjo da guarda)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Acompanhei o professor-tutor Ci ao departamento pedagógico da subsecretaria. Ele havia sido convocado para entregar um levantamento sobre alunos, salas e capacidade, essencial para o reordenamento da rede escolar.

Ci procurou a senhora Li, coordenadora do grupo de técnicos auxiliares ("dupla pedagógica, tutores") dessa regional, esperando ser recebido com as "boas-vindas como um servo bom e fiel". Contudo, a coordenadora estava visivelmente mal-humorada. Ci, apreensivo por ter recebido uma ordem truncada e não um documento formal (ofício), sentou-se à mesa em que Li o atendia e tentou quebrar o gelo:

— "Bom dia! Aqui estão as informações."

— "Onde estão os Gestores das escolas de sua responsabilidade?" – perguntou Li, confrontando-o diretamente.

Ele respondeu exatamente o que ela não esperava ouvir, já que nenhum gestor estava presente:

— "Foram convocados e até assinaram meu relatório de visitas, aqui está (eram três folhas abordando o objetivo das visitas do tutor). Se não compareceram, é porque julgaram não ser tão importante assim!"

Vi Ci colocar à mesa o relatório de três folhas, devidamente assinado, visto que a coordenadora sequer estendeu a mão para pegá-lo. Após um minuto de silêncio embaraçoso, Li concordou:

— "Então, vamos fazer o que dá para fazer já que eles não vieram."

Percebi que Li estava estressada, parecendo indisposta. Ela organizou seus formulários e deu início ao que se assemelhava a um interrogatório policial, buscando criar "armadilhas para pegar o culpado".

— "Quais as medidas das salas? Por onde começa a numeração das salas? Quantas salas são? Que escola é essa? Quais turmas funcionam na sala nº. 1 nos três turnos? Blá blá blá...?"

Entre um telefonema e outro, ela retornava à mesa para mais uma rodada de perguntas. Embora eu sentisse a obrigação de intervir para auxiliar Ci, ele conseguiu reagir ao que parecia ser o golpe final:

— "Você não me pediu quais turmas funcionam em tais e tais salas, nos três turnos, mas posso telefonar para as escolas e providenciar essas informações que deseja, agora."

Foi nesse momento que Li desferiu o ataque, com palavras agressivas e desorganizadas:

— "Eu estou cheia desses tutores e, se depender de mim, não vou escolher você para o próximo ano (2004)."

Eu desconhecia o que motivava sua mente, pois o anjo que a assistia era outro, mas via aquela "competição" como desleal. Nesse instante, justifiquei-me e retirei apressadamente as folhas de relatório da mesa.

Durante o recesso de final de ano, vi Ci, por várias vezes, recorrendo ao Pai, pedindo ajuda para decidir entre continuar na função de tutor ou retornar à regência em sala de aula. Eu, no entanto, estava impedido de auxiliá-lo: cometi um pecado, e por isso o Pai não me promoveu. "Agora sou o anjo dela."

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Como seu professor de Sociologia, vejo neste texto um excelente material para analisarmos as dinâmicas de poder e as relações interpessoais no ambiente burocrático. O trecho descreve um micro-ambiente de trabalho na área da educação, onde a hierarquia, a comunicação e o estresse moldam as interações. As seguintes questões discursivas simples ajudarão a conectar a narrativa com os conceitos sociológicos que estudamos:

1. Hierarquia e Expectativas

O professor Ci esperava ser recebido com as "boas-vindas como um servo bom e fiel" pela coordenadora Li. Explique, a partir da Sociologia, o que essa frase revela sobre a hierarquia e as expectativas de subordinação que permeiam as relações profissionais em ambientes burocráticos como o departamento pedagógico.

2. Comunicação Burocrática

O texto menciona que Ci ficou apreensivo porque recebeu a ordem para a tarefa de forma "truncada" e "não um documento formal (ofício)". Qual é a importância dos procedimentos formais (como o ofício) em uma burocracia, segundo Max Weber, e como a ausência desse formalismo afetou a relação de trabalho entre Ci e Li?

3. Conflito de Papéis

O questionamento de Li sobre a ausência dos gestores ("Onde estão os Gestores das escolas de sua responsabilidade?") e a resposta de Ci ("Se não compareceram, é porque julgaram não ser tão importante assim!") evidenciam um conflito. Analise esse trecho sob a ótica da "autoridade" e da "responsabilidade" na gestão escolar. Por que a ausência dos gestores se torna um ponto de tensão entre o tutor e a coordenadora?

4. Micro-Poderes e Assédio

O comportamento da coordenadora Li é descrito como um "interrogatório policial", com "armadilhas para pegar o culpado", e culmina em uma ameaça explícita ("não vou escolher você para o próximo ano"). Como a Sociologia do Trabalho ou das Relações de Poder pode interpretar a atitude de Li? Identifique um conceito sociológico (como poder disciplinar, dominação, ou assédio moral, por exemplo) que ajude a explicar essa dinâmica.

5. Cultura da Cobrança e Estresse

A narrativa indica que Li estava "visivelmente mal-humorada" e "estressada", enquanto Ci estava "apreensivo". Relacione o estresse e a pressão no ambiente de trabalho burocrático, conforme retratado no texto, com a cultura de cobrança de resultados ou com a rigidez institucional. De que maneira essa pressão interfere na fluidez e na qualidade das interações humanas?

SER CRISTÃO OU "CRISTUDO", EIS A QUESTÃO! (O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem. — Confúcio )





Crônica

SER CRISTÃO OU "CRISTUDO", EIS A QUESTÃO! (O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem. — Confúcio )

Claudeci Ferreira de Andrade

           Era uma manhã comum, quando o chamado à sala da diretora transformou o corredor em um caminho interminável. Cada passo ressoava como um tambor em minha mente, prenunciando a repreensão que eu sabia que viria. Assim que me sentei, a porta se abriu e um homem de aspecto distinto entrou, empunhando uma Bíblia. Tive a impressão de que estavam combinados.
           — "Eu sou o pastor fulano de tal" — ele começou, — "da igreja aqui perto. Minha filha [a fulana], estuda neste colégio há três anos. Ela tem apenas dezesseis anos e já é funcionária pública no Programa Jovem Cidadão. Cursa o primeiro ano do Ensino Médio no turno matutino; esta semana, ela faltou, por motivo de força maior."
            Ele fez uma pausa, como se estivesse reunindo forças para o que viria a seguir. — "Estou aqui para denunciar o professor dela que a reprovou no ano passado. Agora ele anda dizendo umas coisas esquisitas que, acredito, vai reprová-la de novo. Ele disse, em sala de aula, que vai trabalhar para desenvolver as competências dos alunos. Então, ele está chamando minha filha de incompetente?" —Sua voz tremia de indignação. — "Ele falou que adota a filosofia educacional cujo centro é o aluno. Nisso também, eu queria saber se ele não dá importância à matéria de estudo, e as outras coisas? Minha filha falou que ele leu um texto na sala, afirmando que o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. Isso é antibíblico, absurdo!"
           Ele continuou, cada palavra sua estava carregada de emoção: — "A Bíblia ensina que desde a transgressão de Adão, as crianças nascem com uma tendência para o mal, que se fortalece, ainda mais, com o passar dos tempos. Em desafio a isso, cremos ser possível converter esta tendência para o bem, até a perfeição, somente quando o indivíduo aceita Jesus."
            Ele fez uma rápida pausa, olhando para a diretora. — "Uma educação que não preencha as necessidades e ajude o homem, tão dessemelhante de Deus, a cumprir o propósito para o qual foi destinado [amar, servir a Deus e a seu semelhante] não tem razão de ser. Ele também fica cantando as alunas com elogios, o incrível é que nenhuma delas quis testemunhar contra ele, deve ter alguma coisa por trás disso! Senhora gestora, estou fazendo esta denúncia não só por minha filha, mas também pelos outros. Ouvi dizer que ele é professor de Língua Portuguesa e fala muito errado, besteira até, na sala. Será que ele não sabe, a língua é um dom Divino que precisa ser trabalhado para promover o bem, pois além de expressar as ideias e os pensamentos, forma a consciência? Ele deve ensinar que cada um tem de prestar conta de cada palavra emitida. Também em uma outra aula, ele expôs um cartaz contendo os órgãos sexuais e falou de camisinha, isso é papel da família; ensinou para minha filha que o homem hoje é resultado do desenvolvimento evolutivo das associações humanas, com essas ideias do evolucionismo, extrapolou a vontade de Deus. Sabe, para mim, o aluno deveria aprender que as normas de seu ambiente deveriam ser aprovadas à luz da Palavra de Deus e que a instrução ideal provém quando se combina o natural com o sobrenatural. Será que a senhora diretora não conhece a extrema importância de um professor para a concretude de uma educação ideal! Pois, ninguém subestime a influência extraordinária que o bom professor exerce sobre a mente dos alunos. Por isso, mudanças profundas terão que acontecer aqui ou, então, eu vou à Secretaria de Educação Estadual, pedir um professor que possua ideais nobres, instintos generosos e normas éticas elevadas para que minha filha manifeste características tais. Sou membro do Conselho Escolar e tenho este direito."
            O pai saiu apressado sem, nem mesmo, ouvir o que eu tinha para lhe dizer e deixou-me a visão de que a escola é a "prostituta da sociedade". Depois, a gestora confirmou minhas impressões dizendo: — "Eu acho que ele estava falando de você! Não preciso lhe dizer mais nada."
           Ela aformoseou de boca torta um sorriso cínico e baixou a cabeça.

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 16/08/2009
Código do texto: T1756883

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