Aqui estou eu, refletindo sobre a importância do respeito mútuo na educação. A sala de aula, um microcosmo da sociedade, deve ser um ambiente onde o respeito é uma via de mão dupla. Não é uma questão de tolerância, mas de aprendizado colaborativo e positivo.
Não quero impor o respeito, nem poderia, se nem mesmo os pais dos alunos conseguem. A educação escolar não substitui a familiar. O céu, afinal, não é composto de respeitados, mas de respeitadores. Respeito as pessoas não pelo que elas são, mas pelo que eu sou. Caso contrário, não respeitaria um mendigo, uma prostituta, um ladrão, um animal, ou mesmo um homossexual.
Lúcifer, mesmo consciente do tremendo poder de Deus, não pôde respeitá-lo, pois tem um caráter demoníaco. Respeitar alguém é um dom divino, pois o Criador de todas as coisas respeita suas criaturas. Por isso, posso contar com o respeito de Deus. Isso me interessa, pois essa relação conhecida e vivida faz de mim um respeitador também. Como disse Joseph Joubert: "Ser capaz de respeito é hoje em dia quase tão raro como ser digno de respeito."
Já me disseram que quem respeita merece respeito! Mas, de que forma querem meu respeito? À moda Drummondiana? "O professor disserta sobre ponto difícil do programa. Um aluno dorme, cansado das canseiras desta vida. O professor vai sacudi-lo? Vai repreendê-lo? Não. O professor baixa a voz, com medo de acordá-lo."
O respeito prejudicial é aquele que beneficia o outro pela negligência do demagogo. Como disse Raul Brandão: "O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos." Então a culpa é dos pais: "Como é que, sendo as crianças tão inteligentes, a maior parte dos homens é tão estúpida? Deve ser fruto da educação." (Alexandre Dumas).
Presenciei recentemente uma situação que exemplifica perfeitamente esse "respeito prejudicial": um aluno chegou atrasado pela quinta vez na semana, interrompendo minha explicação sobre concordância verbal. Em nome do "respeito" à sua situação pessoal, não apenas permiti a entrada silenciosa, como ainda pausei a aula para repetir o conteúdo já ministrado. Os demais estudantes, que chegaram pontualmente, assistiram pacientemente à repetição, enquanto o atrasado folheava o celular com total desinteresse. Meu suposto respeito ao descompromissado se transformou em desrespeito aos comprometidos. Essa demagogia travestida de bondade não honra ninguém: nem educa o irresponsável, nem valoriza os dedicados. É o respeito que corrompe, que nivela por baixo, que confunde tolerância com conivência e transforma a sala de aula num teatro de falsas cortesias.
No final das contas, o respeito é uma questão de caráter, não de merecimento. E é nesse espírito que encerro minha reflexão, na esperança de que possamos todos nos tornar respeitadores, independentemente de quem esteja do outro lado.
Minha crônica aborda a complexa questão do respeito no contexto educacional, expandindo para uma reflexão mais ampla sobre sua origem e manifestação nas relações sociais. Eu questiono a ideia de respeito imposto, defendo que ele é um reflexo do caráter individual e critico a demagogia que pode pervertê-lo. Como seu professor de sociologia, preparei cinco questões discursivas e simples para aprofundar as ideias tratadas em meu texto.
1 - A crônica afirma que a sala de aula deve ser um ambiente de respeito mútuo e "aprendizado colaborativo e positivo". Do ponto de vista da Sociologia da Educação, como a dinâmica de poder entre professor e aluno pode influenciar a construção ou a ausência de respeito nesse espaço, e quais são os desafios para estabelecer uma via de mão dupla de respeito em ambientes formais de ensino?
2 - Você declara que "respeito as pessoas não pelo que elas são, mas pelo que eu sou", e que o respeito é um "dom divino". Com base na Sociologia da Moral e dos Valores, como essa perspectiva individual sobre o respeito se diferencia de uma visão socialmente construída, onde o respeito pode ser influenciado por normas, hierarquias e reconhecimento social (ou a falta dele) de diferentes grupos (como mendigos, prostitutas, homossexuais, etc.)?
3 - A crônica critica um "respeito prejudicial" que beneficia o outro pela "negligência do demagogo" e cita Raul Brandão sobre o respeito dos filhos pelos pais. À luz da Sociologia da Família e das Relações de Poder, como o respeito nas relações familiares pode ser condicionado por expectativas, interesses e a percepção de justiça ou injustiça nas atitudes dos pais, e de que forma a "demagogia" pode minar a legitimidade da autoridade?
4 - Ao mencionar a frase de Alexandre Dumas sobre a estupidez da maioria dos homens ser "fruto da educação", o texto aponta para a responsabilidade da formação. Sob a perspectiva da Sociologia da Socialização, discuta como as instituições educacionais (família e escola) são cruciais na transmissão de valores como o respeito, e quais as consequências para a sociedade quando essa transmissão falha ou é inconsistente.
5 - A conclusão de que o "respeito é uma questão de caráter, não de merecimento" é central na crônica. Do ponto de vista da Sociologia da Identidade e da Interação Social, como a prática do respeito (independentemente do "outro lado") pode ser um fator de coesão social em uma sociedade marcada pela diversidade e pelos conflitos, e qual o papel do caráter individual na construção de relações mais harmoniosas?