1 O clássico jogo de futsal entre professores e alunos, antes simbólico e pedagógico, perdeu seu valor didático. Em nome da igualdade, dissolveu-se o respeito, e a tentativa de quebrar hierarquias deu lugar à hostilidade.
2 O tempo não freia a luz — por isso, entrego-me a ela, espalhando o pó que sou no inferno, onde ardem prazeres que os sentidos não alcançam. Que eu seja feliz ali, como portador da luz em chamas.
3 Mais um entrave da docência: o professor de Língua Portuguesa não pode ser crítico — alunos e colegas não permitem. Quase me forçaram a validar textos sem rima, métrica ou emoção, como se até uma receita de bolo pudesse ser aceita como poema. A crítica foi silenciada em nome do “sentir”. No fim do dia, reflito: o aluno é tudo, o professor, nada.
4 Continuamos medindo o tempo como quem mede uma ideia — referindo ações a outras ações. Mas a luz não se move no tempo; ela atravessa o espaço. Seu tempo é constante, indiferente à nossa contagem.
5 Não existo para o tempo, apenas para o espaço — é aqui que me encontro e sigo meu caminho. No tempo, não há direção; e a morte continua glob(alizante).
6 É preciso mudar para crescer — todo fim já habita o começo.
7 A autoridade do mestre nasce da negação de si e da autodesconfiança — só assim ele se molda ao aluno e faz de sua dependência uma forma de ensinar. Ensina bem quem se desfaz de si para formar o outro.
8 Ai do mestre, se a ausência do aluno recair sobre sua presença! Pois o poder do ensino se afirma na presença do corpo, ainda que o espírito vague.
9 Pais e alunos recorrem primeiro à secretaria, certos de que serão ouvidos sem questionamento. O aluno que fere numa escola é acolhido em outra, pois não importa o que fez, e sim o que representa: um número que não pode ser perdido.
10 Não sei se sou apenas mais um Satã perdido na Terra, ou um anjo do bem sem céu, viciado no calor que arde entre a sexta série e o terceiro grau.
11 Ao acolher as diretrizes pedagógicas, aprimoramos nossa prática. No contato prolongado com o conteúdo a ser portfóliado, a consciência desperta e se torna realidade viva na alma, que ainda anseia por reconhecimento para preservar sua boa imagem.
12 Causar sofrimento ao outro é convocar a justiça divina, cuja aplicação cabe a Deus, por meio do Demônio.
13 Assim como o chicote se desgasta a cada golpe, o feitiço volta-se contra o feiticeiro. É nessa lógica que reside o caos na escola. Nunca vi macumbeiro rico; ele atrai o empobrecimento. Que experiência, então, merece ser transmitida?
14 A dor busca reparo quando revelada. Afligir alguém sem razão não é educação, mas vingança, que reduz o educando a mera vítima.
15 Seria injusto demais Deus permitir que inocentes sofram sem sentido. Todo sofrimento exige uma razão compreendida por quem o experimenta.
16 Todos os dias, somos peças desse sistema, repetindo erros como desajustados. Sem essa rotina, o motor jamais funcionaria em silêncio.
17 Onde há prova, há fraude; onde há fraude, nasce a desconfiança. Assim, a desconfiança revela a ignorância ou a recusa em saber.
18 A escola pública, ao impor superlotação e provas facilitadas, gera no aluno a ira contra o mestre, tornando-o um rival reverso.
19 O aluno ignorante, desprovido de saber útil e funcionalmente incompetente, não respeita o professor, pois o vê como metonímia da escola.
20 As pessoas me apavoram; em meio a elas, entro em pânico, pois meu problema são os outros. Busco a solidão, mas nela não há consolo. Eis o meu dilema: apegar-me ou desapegar-me.