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MINHAS PÉROLAS

sábado, 19 de julho de 2025

O Efeito-Eco e o Labirinto da "Libertação" ("Toda vez que você ensinar algo a alguém, estará impedindo essa pessoa de descobrir por si mesma." — Jean Piaget)

 



O Efeito-Eco e o Labirinto da "Libertação" ("Toda vez que você ensinar algo a alguém, estará impedindo essa pessoa de descobrir por si mesma." — Jean Piaget)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Escrever é, antes de tudo, um ato de coragem. É lançar uma ponte entre o pensamento e o mundo — e torcer para que ela não desabe sob os passos do leitor. Às vezes, porém, essa ponte se transforma em um campo minado. Minha crônica mais recente, na qual falei sobre as sementes da desobediência e os riscos de certas pedagogias, não apenas reverberou — ela explodiu. Fui duramente atacado, bombardeado por defensores fervorosos de Paulo Freire. O mais curioso? Cada comentário raivoso, cada acusação de má-fé, apenas reforçou o que eu tentava denunciar.

Todos os argumentos contrários seguiram o mesmo roteiro previsível: Paulo Freire defende uma "educação libertadora" e uma "conscientização crítica". E, em tese, eu concordo: liberdade e criticidade são, de fato, fins nobres. Mas o problema — e é aqui que o nó se aperta — é que, no campo da educação, não basta a boa intenção. Desejar um resultado virtuoso não é o mesmo que alcançá-lo. Tudo depende, sobretudo, da escolha dos meios.

É como gritar num labirinto e ouvir apenas o próprio eco. Quando os discípulos de Freire dizem que querem desenvolver o pensamento crítico nos alunos, mas negligenciam as ferramentas intelectuais básicas — como o domínio profundo da língua — acabam formando indivíduos que acreditam estar pensando por si, mas estão apenas reproduzindo ideias alheias. O pior: fazem isso com a convicção de que aquelas ideias nasceram de suas próprias reflexões. Essa é a receita perfeita para a ideologização disfarçada de educação. Uma espécie de acrobacia mental sem que se tenha aprendido, antes, o simples caminhar. O "pensar por si" vira, silenciosamente, um "repetir sem questionar a fonte".

Vejo isso todos os dias, nos olhos de alunos que repetem frases feitas com a mesma certeza com que recitam o alfabeto. Um deles, certa vez, me disse que "a escola é opressora porque impõe regras", e, ao ser questionado sobre o que entendia por opressão, silenciou. Outro, ao afirmar que "todo conhecimento é construção social", hesitou ao tentar explicar a tabuada. Não é culpa deles — são vozes jovens ecoando discursos prontos, sem ferramentas para filtrá-los ou questioná-los. Não estudaram o suficiente para duvidar, e sem dúvida, não há pensamento crítico. São como espelhos: refletem o que recebem, sem perceber que podem ser janelas. E é isso que mais me assusta — não a convicção com que falam, mas a fragilidade silenciosa de sua base.

Essa distorção não se limita às discussões acadêmicas ou às salas de professores. Ela se infiltra, de forma sutil e perigosa, em propostas pedagógicas de colégios ditos “inovadores”. São instituições que se vangloriam em dizer: “aqui reconhecemos a criança como sujeito ativo da sua aprendizagem e respeitamos suas potencialidades, valorizando seu desenvolvimento integral por meio de um ambiente que favoreça a construção do conhecimento.” No papel, um espetáculo. Na realidade, muitas vezes, um vazio colorido.

O que tenho testemunhado são crianças de oito ou nove anos "brincando de estudar" em ambientes saturados de estímulos visuais, onde brinquedos se misturam a materiais didáticos e onde reina uma liberdade que mais confunde do que ensina. Não há disciplina. Não há esforço intelectual. E, sem isso, o aprendizado se dissolve como fumaça. Pais e educadores, bem-intencionados, acreditam estar formando mentes criativas, críticas, autônomas. Mas, em muitos casos, estão apenas replicando um modelo que já lhes foi transmitido, conduzindo os pequenos, com ternura, a conclusões cuidadosamente pré-moldadas. Há uma sensação de descoberta — mas ela é artificial, induzida, quase ensaiada. Uma farsa gentil.

Eu vi isso. Vivi isso. Não é teoria, é constatação. Trata-se de um véu que cobre a realidade: uma pedagogia que, sob o disfarce de libertar, aprisiona o pensamento. O grande desafio da educação, percebo cada vez mais, não está em quantas vozes repetem a mesma ideia, mas em quantas mentes conseguem, com autonomia real, construir um pensamento próprio. Isso exige base sólida, estudo rigoroso, disciplina — e, acima de tudo, coragem para contrariar até mesmo aqueles que se dizem libertadores.

Mais do que nunca, precisamos romper com o efeito-eco. Precisamos de menos reflexos e mais pensamento genuíno. Porque, ao fim, a verdadeira libertação não está em repetir a palavra do mestre, mas em ser capaz de questioná-la.


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Abaixo estão 5 questões discursivas simples, elaboradas com base no texto e pensadas para alunos do Ensino Médio, incentivando interpretação crítica, reflexão pessoal e relação com conteúdos da sociologia, como ideologia, educação, autonomia e reprodução de discurso.


1 - O autor critica uma educação que forma alunos que apenas “reproduzem ideias alheias”. Em sua opinião, qual é o papel da escola na construção do pensamento crítico dos estudantes? Comente com suas palavras.


2 - No texto, o autor afirma que “o ‘pensar por si’ vira, silenciosamente, um ‘repetir sem questionar a fonte’”. Relacione essa frase ao conceito de ideologia na Sociologia. Você já percebeu esse fenômeno em situações do seu dia a dia escolar ou fora dele?


3 - Como o texto aborda a diferença entre liberdade de pensamento e ausência de disciplina no processo educativo? Você acredita que é possível haver criatividade e criticidade sem esforço intelectual? Justifique.


4 - Ao citar alunos que usam frases prontas, o autor sugere que o pensamento crítico não se constrói apenas com boas intenções. Quais elementos, segundo sua vivência como estudante, são essenciais para formar uma opinião própria?


5 - O autor finaliza dizendo que “a verdadeira libertação não está em repetir a palavra do mestre, mas em ser capaz de questioná-la”. Como essa ideia se relaciona com a proposta de educação libertadora de Paulo Freire? Você concorda com essa visão? Por quê?

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