"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

MINHAS PÉROLAS

domingo, 20 de julho de 2025

A Infância em Disputa: Uma Crônica Urgente ("A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano." — Jean Piaget)

 



A Infância em Disputa: Uma Crônica Urgente ("A infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano." — Jean Piaget)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Minhas mãos tremem um pouco enquanto começo a escrever esta crônica, mas meu coração está firme. Há dias em que a realidade se impõe com uma força avassaladora, e o que vejo nos noticiários, nas redes sociais e, infelizmente, até mesmo na educação, me impele a falar. Não é um grito de raiva, mas de profundo alerta. Sinto que é meu dever, como educador e como alguém que testemunha as transformações da nossa sociedade, abordar um tema que considero de gravidade imensa: a infância e a tentativa de apagar seus limites mais sagrados.

Vejo, sim, ano após ano, um cenário que me assusta profundamente: a inocência infantil sob ataque. É uma tentativa clara, e, a meu ver, injusta, de relativizar o que deveria ser inegociável na vida de uma criança — promovida por certas pautas progressistas, defendidas por setores do feminismo e de grupos LGBTQIA+. E o mais preocupante: muitos assistem a isso em silêncio, como se nada estivesse acontecendo. Mas está — e isso desrespeita a essência da infância.

Pensem comigo, com a clareza de quem não aceita meias verdades: criança não bebe, criança não dirige, criança não vota, criança não pode namorar. Todas essas proibições existem porque, legal e moralmente, permitir tais coisas seria considerado abuso de vulnerável. A sociedade, com sabedoria ancestral, estabeleceu limites claros para proteger o desenvolvimento infantil. No entanto — e aqui reside a maior incoerência —, paradoxalmente, querem permitir que crianças decidam algo tão complexo e identitário quanto sua orientação sexual ou identidade de gênero. Onde está a lógica nessa equação? A maturidade para questões tão profundas não nasce antes da capacidade de escolher um governante ou de dirigir um carro.

É preciso reconhecer que o debate sobre identidade e diversidade é legítimo e merece espaço — especialmente no contexto adulto, onde há mais discernimento e autonomia. Contudo, ao ser deslocado para o universo infantil, sem critérios pedagógicos claros nem preparo emocional adequado, corre-se o risco de confundir em vez de conscientizar. Não se trata de negar as diferenças humanas, mas de resguardar o tempo necessário para que elas se revelem com naturalidade e maturidade. A infância não pode se tornar laboratório de experimentações ideológicas. O diálogo é importante — mas não à custa da estabilidade emocional das crianças.

Como sociedade, devemos refletir sobre a crescente relativização dos limites que sempre nortearam a infância. O que se vê é uma tentativa de redefinir a própria natureza infantil, questionando consensos que serviram de bússola por gerações. Essa discussão, embora vestida de liberdade, pode expor as crianças a dilemas que ultrapassam sua capacidade de compreensão. Por isso, o papel dos pais e educadores é ainda mais decisivo: proteger a inocência e assegurar que cada etapa do desenvolvimento ocorra no seu devido tempo.

Essa pressão exercida por certos segmentos do movimento LGBTQIA+ não é apenas um debate de costumes; ela representa um ativismo ideológico que busca impor à sociedade um novo modelo de família e de valores. Trata-se de uma estratégia política, crítica e sistemática, voltada à subversão da ordem familiar tradicional. Para mim, como professor de sociologia, isso não é apenas uma "visão diferente", mas uma ação que mina os alicerces mais essenciais do que entendemos por infância e formação saudável.

Reconheço que minhas palavras podem soar duras a alguns ouvidos — e compreendo que vivemos tempos de transformações sociais profundas, que despertam temores legítimos em todos os lados. Não pretendo desqualificar quem pensa diferente, tampouco negar que há crianças e adolescentes que vivenciam questionamentos sinceros sobre si mesmos. O que defendo, com a experiência de décadas em sala de aula, é que tais questões devem ser acompanhadas por profissionais qualificados e por famílias estruturadas — longe de pressões ideológicas. Minha preocupação não é com a diversidade, que sempre respeitei, mas com a pressa em rotular o que ainda está em formação. Entre o respeito às diferenças e a proteção da infância, acredito que podemos encontrar um caminho equilibrado, onde o bem-estar das crianças seja nosso valor comum mais inegociável.

Diante disso, cabe a nós, pais e cidadãos conscientes, uma firmeza ética e pedagógica. É hora de sermos "radicais" — no sentido etimológico da palavra: ir à raiz do problema — e afirmar com todas as letras que não aceitaremos a doutrinação precoce das nossas crianças.

Tenho acompanhado nos noticiários os esforços, muitas vezes frustrados, de parlamentares que propõem projetos de lei em Câmaras Municipais e fóruns públicos para proibir a participação de menores em eventos como paradas LGBTQIA+ (Carnaval) ou quaisquer outros que exponham crianças a conteúdos eróticos ou cenas de nudez. Infelizmente, a resistência é grande, e os resultados, escassos. A pauta avança; a inocência, recua.

Por isso, convido você, leitor, a somar forças comigo nesta corrente do bem, em defesa incondicional da infância. Enquanto eu tiver voz e fôlego, seja como professor na escola pública ou em qualquer esfera política onde possa atuar, lutarei incansavelmente contra qualquer forma de doutrinação precoce. Porque, para mim, e com base na compreensão do desenvolvimento humano: “crianças LGBTQIA+ não existem”. Uma criança, em sua fase de formação, não possui a maturidade para "ser" ou "provar" uma identidade de gênero ou orientação sexual. O que existem são crianças que precisam ser protegidas, cuidadas e ensinadas a respeitar — sem que suas mentes e corpos sejam transformados em palcos para disputas ideológicas de adultos.

O futuro de uma sociedade se constrói protegendo a infância — não impondo a ela dilemas que ainda não lhe pertencem.



1 O autor menciona que "a sociedade, com sabedoria ancestral, estabeleceu limites claros para proteger o desenvolvimento infantil". Com base nessa afirmação, explique como as normas sociais funcionam na proteção da infância e dê dois exemplos de limites que nossa sociedade estabelece para as crianças.


2 No texto, há uma reflexão sobre o papel das instituições sociais (família e escola) na formação das crianças. Analise como essas duas instituições podem entrar em conflito quando possuem valores diferentes e explique por que isso pode gerar tensões na sociedade.


3 O autor critica o que chama de "ativismo ideológico" na educação. Do ponto de vista sociológico, explique o que são movimentos sociais e como eles podem influenciar as instituições educacionais. É possível uma educação completamente neutra? Justifique sua resposta.


4 O texto aborda a questão das "transformações sociais profundas" que vivemos atualmente. Identifique duas mudanças sociais importantes das últimas décadas no Brasil e explique como elas podem afetar a forma como diferentes gerações enxergam a educação das crianças.


5 Considerando que o autor defende "um caminho equilibrado" entre respeito às diferenças e proteção da infância, reflita: como a sociologia pode ajudar a sociedade a encontrar consensos em temas polêmicos? Dê sua opinião sobre o papel do diálogo social na resolução de conflitos entre grupos com valores diferentes.

Nenhum comentário: