"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

terça-feira, 11 de outubro de 2022

LOCKDOWN DESSERVIÇO À POPULAÇÃO. ("Lockdown: confinamento, não serve para controle sanitário, isso é controle social... não perguntem qual é o objetivo, eu não sei!" — Renato Cesar Vargas Martins)

 


domingo, 9 de outubro de 2022

"XX" É UM PAR, MAS "XY" É UM CASAL.("Até os cromossomos têm par, e eu aqui sozinho!" — (Matheus Leminsk)

 


"XX" É UM PAR, MAS "XY" É UM CASAL.("Até os cromossomos têm par, e eu aqui sozinho!" — (Matheus Leminsk)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando alguém profere a frase: "não tenho nada contra os gays, quem quiser ser que seja, mas não quero isso para mim e nem para os meus filhos", é um homofóbico de baixa classe quem fala. É, no fundo, um enrustido que resiste à própria carne, um homossexual com medo de sê-lo. Como pode alguém aprovar no outro aquilo que reprova para si mesmo?

Essa ambiguidade não se sustenta: ninguém permanece em cima do muro por muito tempo. Terremotos virão antes do Messias aparecer, e Ele exige as coisas bem definidas — "joio e trigo em molhos separados".

Essas pessoas oferecem apenas uma aceitação hipócrita, disfarçada de tolerância, pois não têm a coragem de assumir o que realmente pensam. A questão é profunda: será que se amam de verdade, e amam os outros na mesma medida? Diante do eufemismo social, acabam reforçando que o lado mais promissor é o da conveniência, rendendo-se à moral vigente. Contudo, para não sofrerem o que infligiram aos outros com seu julgamento, impõem a si mesmos o castigo da libertinagem — e o segredo dessa contradição, vivida na clandestinidade, não tardará a ser revelado.

É nesse ponto que a pergunta sobre a justiça divina se torna inquietante. Dizer que "não sei como Deus vai julgar as pessoas por algo que não são culpadas" pode soar como uma concessão, mas, na verdade, expõe a incoerência de uma moral que reprime em público aquilo que consome em silêncio. A hipocrisia, afinal, não se sustenta apenas no campo psicológico ou religioso; ela se esfacela também diante da natureza biológica, onde a diversidade não é exceção, mas a própria regra da vida.

Por isso, não basta evocar a ciência como um golpe retórico; é preciso fazê-la falar com clareza e densidade. A biologia, longe de ser inimiga da fé ou da moral, demonstra que a vida nunca coube em molduras rígidas.

Observe, por exemplo, o desafio que a genética nos impõe: todos os pares de cromossomos são homossexuais, porém um só é hétero. Se o que eu digo não é verdade, "experimente dizer-me o que acontecerá quando o cromossomo 'Y' desaparecer completamente dos machos". Alguns dirão, com a arrogância de fanáticos da falsa ciência, que o “Y” nunca desaparecerá. Se a permanência é inquestionável, então que se expliquem a síndrome de Noonan e suas implicações.

A evolução não pede licença aos dogmas: 45 cromossomos são também um sinal do futuro dos mamíferos — e, talvez, um lembrete de que a rigidez dos preconceitos humanos é muito mais frágil do que o próprio corpo que os sustenta. A ciência, quando integrada à denúncia social, não fragmenta o discurso; ela o amplia, dando-lhe eco e solidez inquestionáveis.

https://www.youtube.com/watch?v=aN3R1LjWb5A&ab_channel=CanaldoSchwarza - Acessado em 27/09/2025

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Para aprofundarmos essa discussão, preparei 5 questões discursivas e simples. Lembrem-se: o objetivo não é ter uma resposta "certa", mas sim desenvolver a capacidade de análise crítica sobre as complexas dinâmicas sociais.

1. Hipocrisia e Tolerância Condicional

O texto afirma que a frase: "não tenho nada contra os gays, quem quiser ser que seja, mas não quero isso para mim e nem para os meus filhos" revela um tipo de "homofobia de baixa classe" ou "aceitação hipócrita".

Questão: Explique, com base na perspectiva sociológica (e nos conceitos de tolerância e preconceito), por que a aceitação condicional — "aceitar o outro, mas não querer para si ou para os seus" — é vista como uma forma de hipocrisia e não como uma tolerância genuína.

2. Eufemismo Social e Conveniência

O autor menciona que as pessoas, diante do "eufemismo social", agem por "conveniência", rendendo-se à moral vigente para não sofrerem o que infligiram aos outros.

Questão: Defina o que seria o "eufemismo social" no contexto do texto. Como a busca por "conveniência" e o medo do "julgamento" (ou da reação social) podem levar o indivíduo a adotar comportamentos e discursos contraditórios na sociedade?

3. Moral, Religião e Contradição Pessoal

O texto discute a ideia de que a repressão moral pode levar o indivíduo a viver uma "contradição, vivida na clandestinidade", citando o "castigo da libertinagem" imposto a si mesmo.

Questão: Analise como o controle social imposto por normas morais ou religiosas rígidas pode gerar uma incoerência entre o comportamento público (o que se prega) e o comportamento privado (o que se vive), segundo a ideia apresentada pelo autor.

4. O Papel da Biologia e da Ciência no Debate Social

O autor utiliza conceitos da biologia (cromossomos, Síndrome de Noonan) para argumentar que a "diversidade não é exceção, mas a própria regra da vida", desafiando a "rigidez dos preconceitos humanos".

Questão: De que forma a integração de argumentos científicos (como a diversidade biológica) ao debate sociológico sobre sexualidade e preconceito pode influenciar ou fortalecer a denúncia social contra a rigidez moral e os dogmas?

5. A Necessidade Sociológica de Posicionamento

O texto utiliza uma metáfora poderosa: "ninguém permanece em cima do muro por muito tempo" e a referência bíblica do "joio e trigo em molhos separados", para exigir um posicionamento claro.

Questão: Na sua opinião, por que, do ponto de vista sociológico, o autor considera insustentável a posição de "ficar em cima do muro" diante de questões de preconceito e moralidade? Qual a importância de um posicionamento definido para a evolução da sociedade e o combate às desigualdades?

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Perseguido pelo Mundo Cão ("Não sei de nada, mas sinto tudo." — Leila Jácomo)

 


Perseguido pelo Mundo Cão ("Não sei de nada, mas sinto tudo." — Leila Jácomo)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Fico assombrado quando passo nas ruas e os cachorros latem só para mim, correndo como se viessem me enfrentar. Essa pergunta insiste em minha mente: por que reagem a mim e não a outros? Em busca de explicação para esse fenômeno horripilante, percebi que, onde quer que eu esteja, a aproximação é inevitável. Não apenas cães, mas também um bêbado, um maltrapilho ou qualquer figura que julgo assustadora logo se dirige a mim na rua. Procurei relacionar essas atrações indeslindáveis e surgiu uma dúvida persistente: exalo medo pelo cheiro da pele ou são minhas expressões corporais – esses sintomas fóbicos – que os convocam?

O desconcerto aumenta ao entender que não são apenas os cães que me perseguem, mas também as circunstâncias, como se cada esquina conspirasse nesse jogo perverso. Não preciso perguntar em voz alta, pois já sinto dentro de mim a suspeita de que o medo se revela mais no olhar do que no gesto, e isso basta para denunciar minha vulnerabilidade. Não é só um pressentimento, é quase uma sentença: há algo em mim que provoca reação, algo que me escapa. Esse desconforto me acompanha mesmo quando não há ninguém por perto, forçando-me a aceitar que minha presença pode ser um chamado involuntário aos fantasmas alheios.

Penso então nos fluidos invisíveis, correndo como rios subterrâneos entre eu e o mundo. Talvez sejam eles que se infiltram nas frestas do ar e anunciam o que ainda não aconteceu – um cheiro, um sopro, um tremor; não sei. Sinto, porém, que esse fluxo me denuncia antes da palavra. É possível que cães e homens pressintam nesses fluidos não só a morte, mas também a vida que resiste – um coração batendo sob o medo. Se assim for, não sou apenas vítima dessa corrente oculta, mas sua testemunha. E talvez aprender a ouvir meus próprios fluidos seja o primeiro passo para que deixem de gritar por mim.

Se o "agorafóbico" e inseguro sou eu, então eles correm para aquilo que os acalma; cabe-me, por sua vez, reagir ao meu desconforto e procurar distância. Latem para se protegerem de mim ou me cumprimentam, num disfarce de coragem, ao enfrentar o próprio fantasma? Não sei. Sei apenas que talvez tenham sentidos tão apurados que percebem, através de meus — digamos — poderes áureos e sensitivos, o que penso deles. Ou então esses mesmos fluidos correm por nós, anunciando a morte iminente de dentro para fora das entranhas. Tenho medo deles; por isso, morrem de medo de mim. Deve ser isso!

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O texto que acabamos de ler é um convite fascinante para explorar a complexidade da percepção humana e da interação social. Leva-nos a uma jornada introspectiva sobre o medo e como ele molda nossa relação com o mundo e com os outros. Vamos usá-lo como base para refletirmos sobre alguns conceitos sociológicos importantes. Preparei 5 questões que nos ajudarão a aprofundar nossa análise.

1. A Construção Social do Medo: O autor se questiona se exala medo ou se suas expressões corporais e "sintomas fóbicos" convocam reações. Discuta como o medo pode ser uma construção social e como a forma como nos percebemos (nossa autoimagem e inseguranças) pode influenciar a maneira como somos percebidos e interagimos com o ambiente social.

2. Interação Simbólica e Projeção: O texto descreve como bêbados, maltrapilhos e "figuras assustadoras" se aproximam do eu-lírico, que se sente "convocado" por eles. Analise esse fenômeno sob a perspectiva da interação simbólica, explicando como a interpretação dos "sintomas fóbicos" do eu-lírico pode levar a projeções e expectativas de comportamento por parte dos outros, criando uma dinâmica de atração ou repulsa.

3. O Corpo como Campo de Significado Social: O autor reflete sobre se o medo é exalado "pelo cheiro da pele" ou pelas "expressões corporais". De que forma a Sociologia do Corpo entende que o corpo humano não é apenas biológico, mas também um campo de significados sociais que comunica e interage com o ambiente, mesmo de forma não verbal ou inconsciente?

4. Isolamento e Anomia Social: O "desconforto" do eu-lírico o acompanha mesmo "quando não há ninguém por perto" e o força a aceitar que sua presença pode ser um "chamado involuntário aos fantasmas alheios", levando-o a procurar distanciamento. Como essa busca por distanciamento pode se relacionar com o conceito de anomia social ou com sentimentos de isolamento e estranhamento em relação às normas de interação social?

5. A Fronteira entre o Humano e o Animal: O texto explora a percepção dos cães e dos "fluidos invisíveis" que nos conectam. Discuta como a interação do autor com os cães, e sua busca por um sentido mais profundo nessa conexão, reflete a fronteira porosa entre o humano e o animal na nossa sociedade. Como essa relação é permeada por projeções, simbolismos e uma tentativa de compreender o "outro" (seja ele humano ou animal)?

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TAL DONO, TAL ANIMAL ("Uma casa sem bicho de estimação é apenas uma casa, com bicho de estimação, é um lar!" — Bruna V. Alencar)

 


TAL DONO, TAL ANIMAL ("Uma casa sem bicho de estimação é apenas uma casa, com bicho de estimação, é um lar!" — Bruna V. Alencar)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em tempo de lockdown, as pessoas mascaradas, fazendo caminhada para não perder a mobilidade; ou melhor, elas saíam às ruas arrastadas pelo cachorro sem máscara. A regra da proteção não valia para eles também? Quando o cãozinho defeca para os transeuntes pisarem, sente-se o cheiro mesmo de longe — não teria coronavírus nessa umidade que carrega o odor? Deus reservou uma cepa do vírus comum para homens e bichos. Criaturas humanizadas e adoradas como deuses, elevados à condição de terapeutas de seus donos. É inútil qualquer esforço para combater doenças mil, se não formos isolados das demais espécies. Esses seres são cobaias nos laboratórios e, de vez em quando, compartilham seu sofrimento ao escapar do controle.

É justamente nesse ponto que se abre a ferida do futuro: ao ignorarmos a dor animal presente, cultivamos o germe da desgraça que virá. Os corpos torturados nos experimentos de hoje, silenciados em nome da ciência e da vaidade, retornarão amanhã como prenúncio de uma aliança macabra. Seremos obrigados a provar do mesmo cálice, unidos às criaturas não pela ternura, mas pelo contágio e pelo castigo. A fronteira entre humano e besta, tão orgulhosamente erguida, mostrará suas rachaduras.

E então a profecia se cumpre: a raiva viral surgirá não apenas como doença dos cães errantes, mas como metáfora viva do ódio que se alastra, incontrolável, entre corpos e almas. Primeiro virão os surtos isolados, depois as epidemias urbanas, até que os próprios donos, em pânico, se lancem contra seus animais para exterminá-los. A fúria do bicho, que sempre carregamos latente dentro de nós, encontrará um espelho aterrador na fúria dos homens. Nesse cenário, não restará escolha senão dividir as vacinas com eles, como quem reparte o último pedaço de pão em um cerco.

Uma praga maior virá sobre os cachorros sem dono, a saber: a raiva viral. Aí, os donos dos doentes se arremessarão às criaturas para exterminá-las. Mas existirá um método mais fácil: dividir as vacinas com eles; nesta hora, humano vira bicho, bicho vira humano. Unidos pelo sofrimento do fim do mundo.


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O texto que acabamos de ler, com sua crítica mordaz e suas reflexões sobre a pandemia e a relação humano-animal, é um excelente ponto de partida para nossa discussão em Sociologia. Ele nos força a olhar para as contradições do nosso tempo. Preparei 5 questões discursivas e simples, baseadas nas ideias do texto, para que possamos alinhar nosso entendimento sobre temas como normas sociais, humanização e ética. Responda às questões a seguir de forma concisa, utilizando seus próprios conhecimentos e as ideias apresentadas pelo autor.

1. Normas Sociais e Desvio no Lockdown

O autor observa a contradição de pessoas mascaradas fazendo caminhada "arrastadas pelo cachorro sem máscara", usando o animal como justificativa para sair de casa.

Pergunta: De um ponto de vista sociológico, como essa cena ilustra a tensão entre a norma social imposta (isolamento) e o desejo individual de mobilidade, e de que forma a figura do pet foi utilizada para negociar a fronteira do que era socialmente aceitável durante a crise?

2. A Construção Social da Relação Humano-Animal

O texto critica a visão de animais como "humanizados e adorados como deuses e terapeutas".

Pergunta: Explique o conceito sociológico de antropomorfização e como o autor sugere que essa prática, ao atribuir qualidades humanas exageradas aos animais, pode cegar a sociedade para os riscos biológicos e as realidades sanitárias (como as zoonoses) que nos unem biologicamente a eles.

3. Ética e Consequências do Sofrimento

O autor levanta o tema dos animais como "cobaias nos laboratórios" e sugere que o sofrimento deles pode "retornar" ao controle humano.

Pergunta: Discuta o dilema ético-social implícito no uso de animais em experimentos científicos. Como a visão do autor sobre o retorno do sofrimento animal (a ideia de que as doenças "escapam do controle") reflete uma crítica à arrogância humana em relação à natureza?

4. Pânico Social e Desagregação dos Laços

O texto profetiza que, em um cenário de surto de raiva, os próprios donos se lançarão para exterminar seus animais.

Pergunta: Como essa previsão extrema pode ser analisada em termos de comportamento coletivo e pânico social? De que maneira a ameaça à sobrevivência humana (o "fim do mundo") pode desmantelar rapidamente os laços afetivos e sociais que definem a relação entre humanos e pets?

5. Metáfora e Crítica à Condição Humana

A forte afirmação final de que "humano vira bicho, bicho vira humano" resume a crítica do autor.

Pergunta: Qual é o significado sociológico da inversão de papéis proposta por essa metáfora? De que forma essa fusão final pelo "sofrimento do fim do mundo" sugere a fragilidade das fronteiras culturais que a sociedade ergue para diferenciar o que é "humano" do que é "bestial"?

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terça-feira, 4 de outubro de 2022

O AMOR ANAL ("Você é o seu sexo. Todo o seu corpo é um órgão sexual, com exceção talvez das clavículas". — Luis Fernando Verissimo)

 


O AMOR ANAL ("Você é o seu sexo. Todo o seu corpo é um órgão sexual, com exceção talvez das clavículas". — Luis Fernando Verissimo)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma tarde de domingo quando me vi imerso em reflexões sobre o mundo ao meu redor. Sentado em meu jardim, observava os pássaros voando livremente pelo céu azul e os lírios balançando suavemente com a brisa. Foi nesse momento que uma ideia inusitada me ocorreu: será que Deus não cuida mais e melhor dessas criaturas do que de nós, seres humanos?

Enquanto contemplava essa questão, não pude deixar de notar o contraste gritante entre a simplicidade da natureza e a complexidade da vida moderna. Os pássaros, em sua sabedoria instintiva, seguem as leis naturais sem questionamentos. Já nós, humanos, nos perdemos em um labirinto de escolhas e contradições. Lembrei-me então das notícias que vi pela manhã: aviões caindo, bombas explodindo em lugares distantes. A ironia não me escapou - enquanto os pássaros voam sem medo, nós criamos máquinas voadoras que às vezes nos traem.

E o que dizer da moda? Os lírios, em sua beleza natural, não precisam de artifícios para se destacar. Nós, por outro lado, nos rendemos aos caprichos da indústria da moda, usando jeans rasgados como símbolo de rebeldia ou modernidade. Pensei na chamada "Geração Z", tão conectada e aparentemente sábia. Será que o acesso à internet os torna realmente mais abençoados que as gerações anteriores? Ou seriam apenas zumbis digitais, seguindo cegamente as tendências ditadas pela mídia?

Meus pensamentos então tomaram um rumo mais sombrio. Refleti sobre como nossa sociedade parece estar desenvolvendo formas cada vez mais peculiares de expressão e até mesmo de adoração. O culto ao corpo, levado ao extremo, chega a glorificar partes anatômicas que antes eram tabu. Lembrei-me de notícias sobre tatuagens em lugares inimagináveis, exposições de arte controversas e até mesmo procedimentos médicos inusitados.

Um exemplo perturbador dessa tendência é o que alguns chamam de "culto ao ânus". O que antes era considerado um tabu, agora é exaltado como uma prática de liberdade. Não há amor sem sexo, dizem, e com isso, as pessoas exploram novas dimensões de prazer. No entanto, o que vemos é o extremo: uma adoração quase religiosa a uma parte do corpo antes ignorada. Tornou-se um órgão sexual de destaque; houve até quem fizesse tatuagens na região. Não podemos esquecer da polêmica exposição "EXPOCU" na França, em 2013, que fotografou o esfíncter anal de diversas formas.

Não pude deixar de pensar nas palavras do apóstolo Paulo aos Romanos, advertindo sobre os perigos de se entregar a paixões consideradas contra a natureza. Será que, em nossa busca por liberdade e autoexpressão, estamos nos afastando demais de nossa essência?

À medida que o sol se punha, percebi que a ciência, em sua busca incessante por conhecimento, parece estar explorando territórios cada vez mais inesperados. Mas será que todo conhecimento nos leva necessariamente à sabedoria? Enquanto as sombras se alongavam no jardim, concluí que talvez a verdadeira bênção não esteja na complexidade da vida moderna, mas na simplicidade que observamos na natureza.

Ao entrar em casa, deixei para trás o jardim, mas não as reflexões que ele me proporcionou. Os pássaros e os lírios, em sua obediência instintiva às leis naturais, parecem viver em uma harmonia que nós, humanos, muitas vezes perdemos de vista. Talvez seja hora de nós, seres tão "evoluídos", aprendermos um pouco mais com a simplicidade e a sabedoria silenciosa da natureza. Afinal, em meio a tantas mudanças e "progressos", não estaríamos nos afastando demasiadamente do que realmente importa?

Duas questões discursivas sobre o texto:

1. O texto contrasta a simplicidade da natureza com a complexidade e os excessos da sociedade moderna. Como a sociologia pode explicar essa busca incessante por novidades e experiências extremas, que muitas vezes levam à perda de valores tradicionais e à alienação?

Esta questão convida os alunos a refletir sobre as causas sociais e culturais que levam a sociedade a buscar constantemente novas formas de expressão e experiências, muitas vezes questionando os limites da moral e da ética.

2. O texto aborda a relação entre a ciência e a espiritualidade, questionando se o conhecimento científico pode nos levar à verdadeira sabedoria. Como a sociologia pode analisar o papel da ciência na sociedade moderna, considerando seus impactos positivos e negativos e sua relação com outras formas de conhecimento, como a religião e a filosofia?

Esta questão estimula os alunos a refletir sobre o papel da ciência na sociedade, questionando se a busca por conhecimento científico pode nos levar a uma compreensão mais profunda da condição humana ou se, ao contrário, pode nos alienar daquilo que nos torna verdadeiramente humanos.

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domingo, 2 de outubro de 2022

A REAL PROSPERIDADE DA IGREJA ("Nem toda mudança é crescimento; nem todo movimento é para a frente." — (Ellen Glasgow)

 


A REAL PROSPERIDADE DA IGREJA ("Nem toda mudança é crescimento; nem todo movimento é para a frente." — (Ellen Glasgow)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Antigamente, os crentes, quando ofendidos ou insatisfeitos, oravam e entregavam suas causas a Deus. Hoje, recorrem a denúncias, boletins de ocorrência, vinganças e até a altas indenizações. Será que o evangelho se tornou mais eficiente?

A chamada igreja social, em plena expansão, procura santificar o homem como se fosse o ideal absoluto, enquanto anuncia o fim dos tempos. Os de outrora, que oravam em silêncio, são vistos como ingênuos, quase bobos da história.

Esse amor que se desfaz parece necessário para que a justiça venha à tona. No carnaval, percebe-se uma fábrica de amor, beleza e prazer; não por acaso, certas vertentes evangélicas já se aproximam desse bloco festivo pela linguagem, pelas motivações e até pela forma de vender a fé. “O amor não busca os seus interesses” (1 Coríntios 13:5).

É justamente aí que a mundanização revela sua força: os atrativos superficiais — beleza, música, prazer, espetáculo — são incorporados pela própria igreja e reembalados em discurso religioso para manter fiéis. O que antes parecia típico de cultos pagãos agora se repete nos púlpitos: o mesmo apelo, a mesma sedução, o mesmo marketing. Ao desejar prosperar, o cristianismo acaba refém da moda.

Talvez a saída não esteja em condenar o presente, mas em redescobrir práticas esquecidas: a oração silenciosa, a partilha discreta, a vida comunitária que não depende de palcos ou holofotes. Enquanto alguns correm atrás de plateias e aplausos, resta a quem deseja resistir cultivar uma fé menos performática e mais enraizada — uma fé capaz de sobreviver sem se alimentar da estética do mundo. Nesse retorno ao essencial, a fé não seria mercadoria, mas refúgio.

O prazer sempre foi usado como chamariz. Fazer amor é praticar a relação sexual; por isso, os cultos pagãos o utilizavam para atrair fiéis. Não surpreende, portanto, que o cristianismo contemporâneo caminhe nesse mesmo compasso, copiando a cultura que deveria questionar.

O preço dessa “modernidade” é alto. Talvez a verdadeira eficiência do evangelho esteja justamente naquilo que hoje se despreza: a simplicidade, a humildade, a submissão silenciosa. Não é preciso esperar sete pragas para despertar — basta perceber que, na ânsia de se atualizar, a fé pode estar vendendo a própria alma ao mercado das ilusões.

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Como professor de Sociologia, fico animado em ver um texto que levanta questões tão importantes sobre como a religião se adapta (ou se rende) às pressões da nossa sociedade moderna. O que apresento aqui é um prato cheio para entendermos as transformações sociais e a relação entre o sagrado e o profano. Preparei cinco questões discursivas e diretas, baseadas nas ideias centrais do texto, para a gente debater e analisar esse fenômeno. Foquem nas mudanças de comportamento e nos valores que estão em jogo!


1 - Mudança de Comportamento e Judicialização da Fé:

O texto contrasta a atitude dos crentes de "antigamente" (que oravam e entregavam suas causas a Deus) com a dos crentes de "hoje" (que buscam denúncias, B.O. e indenizações). Com base na Sociologia, explique o que essa mudança de comportamento, que envolve a busca por recursos legais e financeiros, revela sobre a secularização da sociedade e a judicialização das relações interpessoais dentro do contexto religioso.

2 - A "Igreja Social" e a Crítica à Performance:

O autor critica a chamada "igreja social em expansão" e a maneira como ela busca santificar um "ser ideal" contemporâneo. Discuta a ideia de "fé performática" (fé voltada para o espetáculo e a audiência) e como ela se opõe ao ideal de "oração silenciosa" e "submissão discreta" proposto pelo texto. Qual é o papel do marketing e da aparência nessa nova configuração religiosa?

3 - Mundanização e o Uso de Atrativos Profanos:

O texto afirma que a mundanização seduz ao incorporar atrativos superficiais — beleza, prazer e espetáculo — nas práticas da igreja. Analise sociologicamente o porquê de as instituições religiosas utilizarem elementos antes considerados profanos (como o apelo visual e o entretenimento) como forma de atrair e manter fiéis na sociedade de consumo.

4 - A Fé como Mercadoria:

A parte final do texto sugere que a fé, na sua ânsia de se atualizar, corre o risco de se tornar "mercadoria". Relacione essa afirmação com a tese da racionalização ou da "desmagificação" (desencantamento) do mundo, discutida por autores como Max Weber. De que forma a busca por prosperidade e a adaptação à moda transformam a essência da religião em um produto a ser vendido?

5 - A Crítica à "Eficiência" e o Desprezo pela Simplicidade:

O autor questiona se o evangelho se tornou "mais eficiente" ao buscar resultados imediatos no plano terreno, mas conclui que a verdadeira eficiência estaria na simplicidade, humildade e submissão silenciosa. Em poucas palavras, contraste os valores utilitaristas e imediatistas da modernidade (que exigem resultados e "eficiência") com os valores tradicionais de muitas religiões (que valorizam a paciência, a renúncia e a espiritualidade interior).

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