Quando alguém profere a frase: "não tenho nada contra os gays, quem quiser ser que seja, mas não quero isso para mim e nem para os meus filhos", é um homofóbico de baixa classe quem fala. É, no fundo, um enrustido que resiste à própria carne, um homossexual com medo de sê-lo. Como pode alguém aprovar no outro aquilo que reprova para si mesmo?
            Essa ambiguidade não se sustenta: ninguém permanece em cima do muro por muito tempo. Terremotos virão antes do Messias aparecer, e Ele exige as coisas bem definidas — "joio e trigo em molhos separados".
            Essas pessoas oferecem apenas uma aceitação hipócrita, disfarçada de tolerância, pois não têm a coragem de assumir o que realmente pensam. A questão é profunda: será que se amam de verdade, e amam os outros na mesma medida? Diante do eufemismo social, acabam reforçando que o lado mais promissor é o da conveniência, rendendo-se à moral vigente. Contudo, para não sofrerem o que infligiram aos outros com seu julgamento, impõem a si mesmos o castigo da libertinagem — e o segredo dessa contradição, vivida na clandestinidade, não tardará a ser revelado.
           É nesse ponto que a pergunta sobre a justiça divina se torna inquietante. Dizer que "não sei como Deus vai julgar as pessoas por algo que não são culpadas" pode soar como uma concessão, mas, na verdade, expõe a incoerência de uma moral que reprime em público aquilo que consome em silêncio. A hipocrisia, afinal, não se sustenta apenas no campo psicológico ou religioso; ela se esfacela também diante da natureza biológica, onde a diversidade não é exceção, mas a própria regra da vida.
           Por isso, não basta evocar a ciência como um golpe retórico; é preciso fazê-la falar com clareza e densidade. A biologia, longe de ser inimiga da fé ou da moral, demonstra que a vida nunca coube em molduras rígidas.
           Observe, por exemplo, o desafio que a genética nos impõe: todos os pares de cromossomos são homossexuais, porém um só é hétero. Se o que eu digo não é verdade, "experimente dizer-me o que acontecerá quando o cromossomo 'Y' desaparecer completamente dos machos". Alguns dirão, com a arrogância de fanáticos da falsa ciência, que o “Y” nunca desaparecerá. Se a permanência é inquestionável, então que se expliquem a síndrome de Noonan e suas implicações.
           A evolução não pede licença aos dogmas: 45 cromossomos são também um sinal do futuro dos mamíferos — e, talvez, um lembrete de que a rigidez dos preconceitos humanos é muito mais frágil do que o próprio corpo que os sustenta. A ciência, quando integrada à denúncia social, não fragmenta o discurso; ela o amplia, dando-lhe eco e solidez inquestionáveis.
https://www.youtube.com/watch?v=aN3R1LjWb5A&ab_channel=CanaldoSchwarza   -  Acessado em 27/09/2025
-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/-/
Para aprofundarmos essa discussão, preparei 5 questões discursivas e simples. Lembrem-se: o objetivo não é ter uma resposta "certa", mas sim desenvolver a capacidade de análise crítica sobre as complexas dinâmicas sociais.
1. Hipocrisia e Tolerância Condicional
O texto afirma que a frase: "não tenho nada contra os gays, quem quiser ser que seja, mas não quero isso para mim e nem para os meus filhos" revela um tipo de "homofobia de baixa classe" ou "aceitação hipócrita".
Questão: Explique, com base na perspectiva sociológica (e nos conceitos de tolerância e preconceito), por que a aceitação condicional — "aceitar o outro, mas não querer para si ou para os seus" — é vista como uma forma de hipocrisia e não como uma tolerância genuína.
2. Eufemismo Social e Conveniência
O autor menciona que as pessoas, diante do "eufemismo social", agem por "conveniência", rendendo-se à moral vigente para não sofrerem o que infligiram aos outros.
Questão: Defina o que seria o "eufemismo social" no contexto do texto. Como a busca por "conveniência" e o medo do "julgamento" (ou da reação social) podem levar o indivíduo a adotar comportamentos e discursos contraditórios na sociedade?
3. Moral, Religião e Contradição Pessoal
O texto discute a ideia de que a repressão moral pode levar o indivíduo a viver uma "contradição, vivida na clandestinidade", citando o "castigo da libertinagem" imposto a si mesmo.
Questão: Analise como o controle social imposto por normas morais ou religiosas rígidas pode gerar uma incoerência entre o comportamento público (o que se prega) e o comportamento privado (o que se vive), segundo a ideia apresentada pelo autor.
4. O Papel da Biologia e da Ciência no Debate Social
O autor utiliza conceitos da biologia (cromossomos, Síndrome de Noonan) para argumentar que a "diversidade não é exceção, mas a própria regra da vida", desafiando a "rigidez dos preconceitos humanos".
Questão: De que forma a integração de argumentos científicos (como a diversidade biológica) ao debate sociológico sobre sexualidade e preconceito pode influenciar ou fortalecer a denúncia social contra a rigidez moral e os dogmas?
5. A Necessidade Sociológica de Posicionamento
O texto utiliza uma metáfora poderosa: "ninguém permanece em cima do muro por muito tempo" e a referência bíblica do "joio e trigo em molhos separados", para exigir um posicionamento claro.
Questão: Na sua opinião, por que, do ponto de vista sociológico, o autor considera insustentável a posição de "ficar em cima do muro" diante de questões de preconceito e moralidade? Qual a importância de um posicionamento definido para a evolução da sociedade e o combate às desigualdades?