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MINHAS PÉROLAS

domingo, 9 de outubro de 2022

TAL DONO, TAL ANIMAL ("Uma casa sem bicho de estimação é apenas uma casa, com bicho de estimação, é um lar!" — Bruna V. Alencar)

 


TAL DONO, TAL ANIMAL ("Uma casa sem bicho de estimação é apenas uma casa, com bicho de estimação, é um lar!" — Bruna V. Alencar)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em tempo de lockdown, as pessoas mascaradas, fazendo caminhada para não perder a mobilidade; ou melhor, elas saíam às ruas arrastadas pelo cachorro sem máscara. A regra da proteção não valia para eles também? Quando o cãozinho defeca para os transeuntes pisarem, sente-se o cheiro mesmo de longe — não teria coronavírus nessa umidade que carrega o odor? Deus reservou uma cepa do vírus comum para homens e bichos. Criaturas humanizadas e adoradas como deuses, elevados à condição de terapeutas de seus donos. É inútil qualquer esforço para combater doenças mil, se não formos isolados das demais espécies. Esses seres são cobaias nos laboratórios e, de vez em quando, compartilham seu sofrimento ao escapar do controle.

É justamente nesse ponto que se abre a ferida do futuro: ao ignorarmos a dor animal presente, cultivamos o germe da desgraça que virá. Os corpos torturados nos experimentos de hoje, silenciados em nome da ciência e da vaidade, retornarão amanhã como prenúncio de uma aliança macabra. Seremos obrigados a provar do mesmo cálice, unidos às criaturas não pela ternura, mas pelo contágio e pelo castigo. A fronteira entre humano e besta, tão orgulhosamente erguida, mostrará suas rachaduras.

E então a profecia se cumpre: a raiva viral surgirá não apenas como doença dos cães errantes, mas como metáfora viva do ódio que se alastra, incontrolável, entre corpos e almas. Primeiro virão os surtos isolados, depois as epidemias urbanas, até que os próprios donos, em pânico, se lancem contra seus animais para exterminá-los. A fúria do bicho, que sempre carregamos latente dentro de nós, encontrará um espelho aterrador na fúria dos homens. Nesse cenário, não restará escolha senão dividir as vacinas com eles, como quem reparte o último pedaço de pão em um cerco.

Uma praga maior virá sobre os cachorros sem dono, a saber: a raiva viral. Aí, os donos dos doentes se arremessarão às criaturas para exterminá-las. Mas existirá um método mais fácil: dividir as vacinas com eles; nesta hora, humano vira bicho, bicho vira humano. Unidos pelo sofrimento do fim do mundo.


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O texto que acabamos de ler, com sua crítica mordaz e suas reflexões sobre a pandemia e a relação humano-animal, é um excelente ponto de partida para nossa discussão em Sociologia. Ele nos força a olhar para as contradições do nosso tempo. Preparei 5 questões discursivas e simples, baseadas nas ideias do texto, para que possamos alinhar nosso entendimento sobre temas como normas sociais, humanização e ética. Responda às questões a seguir de forma concisa, utilizando seus próprios conhecimentos e as ideias apresentadas pelo autor.

1. Normas Sociais e Desvio no Lockdown

O autor observa a contradição de pessoas mascaradas fazendo caminhada "arrastadas pelo cachorro sem máscara", usando o animal como justificativa para sair de casa.

Pergunta: De um ponto de vista sociológico, como essa cena ilustra a tensão entre a norma social imposta (isolamento) e o desejo individual de mobilidade, e de que forma a figura do pet foi utilizada para negociar a fronteira do que era socialmente aceitável durante a crise?

2. A Construção Social da Relação Humano-Animal

O texto critica a visão de animais como "humanizados e adorados como deuses e terapeutas".

Pergunta: Explique o conceito sociológico de antropomorfização e como o autor sugere que essa prática, ao atribuir qualidades humanas exageradas aos animais, pode cegar a sociedade para os riscos biológicos e as realidades sanitárias (como as zoonoses) que nos unem biologicamente a eles.

3. Ética e Consequências do Sofrimento

O autor levanta o tema dos animais como "cobaias nos laboratórios" e sugere que o sofrimento deles pode "retornar" ao controle humano.

Pergunta: Discuta o dilema ético-social implícito no uso de animais em experimentos científicos. Como a visão do autor sobre o retorno do sofrimento animal (a ideia de que as doenças "escapam do controle") reflete uma crítica à arrogância humana em relação à natureza?

4. Pânico Social e Desagregação dos Laços

O texto profetiza que, em um cenário de surto de raiva, os próprios donos se lançarão para exterminar seus animais.

Pergunta: Como essa previsão extrema pode ser analisada em termos de comportamento coletivo e pânico social? De que maneira a ameaça à sobrevivência humana (o "fim do mundo") pode desmantelar rapidamente os laços afetivos e sociais que definem a relação entre humanos e pets?

5. Metáfora e Crítica à Condição Humana

A forte afirmação final de que "humano vira bicho, bicho vira humano" resume a crítica do autor.

Pergunta: Qual é o significado sociológico da inversão de papéis proposta por essa metáfora? De que forma essa fusão final pelo "sofrimento do fim do mundo" sugere a fragilidade das fronteiras culturais que a sociedade ergue para diferenciar o que é "humano" do que é "bestial"?

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