"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 26 de abril de 2009

NAS TETAS DA VAQUINHA (É vergonhoso querer aparecer com o chapéu dos outros!)







                             

Crônica

NAS TETAS DA VAQUINHA (É muito fácil fazer graça com o chapeu dos outros.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Aqui, estou eu, um observador silencioso no coração de uma escola, onde a vida pulsa em ritmo acelerado. A escola, um microcosmo da sociedade, é um lugar onde as pessoas se reúnem para aprender, ensinar e, frequentemente, para participar de um fenômeno curioso: a vaquinha.

A vaquinha é uma prática comum aqui. Para tudo, faz-se uma vaquinha: para celebrar aniversários, para comprar café, até mesmo para comprar papel sulfite. É uma maneira fácil de fazer caridade com o chapéu alheio. Mas, oh, como é difícil encarar o olhar de desapontamento do organizador quando, por algum motivo, você não contribui.

Lembro-me da última vez em que fui solicitado a participar de uma vaquinha. Era para a despedida da coordenadora substituta. Cinco reais era o pedido. Na semana seguinte, outra vaquinha, desta vez, para a recepção da coordenadora titular que voltava de licença. Usei a desculpa de sempre: "Não tenho dinheiro agora". No dia do evento, decidi não comer nada, estava constrangido, com a consciência pesada. Fiquei ainda mais desapontado quando vi, no final, as organizadoras enchendo suas sacolas com bolo para levar para casa. Benefício em dobro, pensei, por isso nunca faltará quem promova uma vaquinha!

Depois de muito esforço mental e reflexão, concluí que ninguém pode me forçar a demonstrar gratidão. A vaquinha me ensinou que ser grato é para quem pode, não para quem quer. E a espontaneidade? Quem merece gratidão não a exige e continua sendo amável, mesmo com os ingratos, porque a bondade não depende de condição.

Li que os funcionários da Escola Estadual Reverendo Jacques Orlando Caminha D'Ávila, no Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, estão fazendo vaquinha para garantir dinheiro extra aos servidores da escola que estão sem o bônus da Educação. As vaquinhas de lá parecem diferentes, mas... são uma espécie de "dízimo". Alguns preferem chamá-la de "boizinho", "bodezinho" ou algum outro apelido, mas o princípio é o mesmo: beneficiar os organizadores, forçar os colaboradores bajularem os superiores.

O que ainda não entendi é se, quando contribuo para a vaquinha, estou pagando por uma diversão forçada ou se estou pagando para trabalhar em nome da boa convivência! Que a tal vaquinha vá para o brejo e nos deixe em paz.

Sempre aparece um espertalhão para fazer graça com o chapéu dos outros! Vaquinha é isso, dividir a dor da consequência dos que transgrediram com quem não tem nada a ver. E se não contribuir, é tachado dos mais horríveis termos de bullying. Lembrando que Deus perdoa, mas não elimina a consequência. Que cada um pague o preço de seu pecado ou pague pela sua projeção! Eu odeio vaquinha, não quero ser trampolim para ninguém. Quando quero ajudar alguém necessitado, dou o que posso sem precisar de intermediário.

Os alunos sempre sabem por que foram dispensados mais cedo das aulas. Já pensaram se o mundo aprendesse o que a escola exemplifica! A escola, afinal, é um reflexo da sociedade ou a sociedade é um reflexo da escola? E, como tal, deve ser um lugar de aprendizado, não apenas acadêmico, mas também moral e ético. Que possamos aprender com nossos erros e buscar sempre a melhoria, não apenas para nós mesmos, mas para toda a comunidade escolar.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. Vaquinha: Caridade ou Extorsão?

O texto apresenta a vaquinha como uma prática comum na escola, desde a celebração de aniversários até a compra de materiais escolares. Como a sociologia pode nos auxiliar a compreender os diferentes significados da vaquinha, considerando as relações de poder, a pressão social e a cultura da doação?

2. Gratidão Obrigatória ou Autêntica?

O autor questiona a ideia de gratidão obrigatória presente nas vaquinhas, afirmando que ser grato é uma escolha individual. Como a sociologia pode nos ajudar a analisar a relação entre gratidão, reciprocidade e obrigações sociais, considerando as diferentes normas e valores presentes na sociedade?

3. Vaquinha e a Desigualdade Social:

O autor menciona o caso da Escola Estadual Reverendo Jacques Orlando Caminha D'Ávila, onde funcionários fazem vaquinha para ajudar colegas que não receberam o bônus da Educação. Como a sociologia pode nos auxiliar a compreender a relação entre vaquinha, desigualdade social e a busca por soluções coletivas para problemas individuais?

4. Vaquinha e o Bullying:

O autor critica a pressão social para contribuir nas vaquinhas, com o risco de ser alvo de bullying. Como a sociologia pode nos ajudar a analisar o impacto da vaquinha na dinâmica social da escola, considerando as relações de poder, a exclusão e o cyberbullying?

5. A Escola como Reflexo da Sociedade:

O autor afirma que a escola é um reflexo da sociedade, com seus problemas e desafios. Como a sociologia pode nos auxiliar a pensar o papel da escola na formação de cidadãos conscientes, críticos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo?

Bônus:

A Evolução da Cultura da Doação ao Longo da História:

Realize uma análise sociológica da evolução da cultura da doação ao longo da história. Como as mudanças sociais, as lutas por direitos, as diferentes correntes de pensamento e as descobertas científicas influenciaram as formas de doação e caridade em diferentes épocas e culturas? Quais os desafios e as oportunidades que a prática da doação enfrenta na sociedade contemporânea?

sábado, 18 de abril de 2009

DEMOCRACIA ILÍCITA ("Educar não é encher um balde, mas acender um fogo." — William Butler Yeats)



Crônica

Os corredores da escola possuem um silêncio peculiar, quase ensurdecedor. É um silêncio que fala, que narra histórias que nenhum conselho de classe consegue traduzir. Naquele dia, mais uma vez, o ritual se repetia. Aliviado por não estar entre os convocados, observei à distância a liturgia dessa dança onde palavras cortam mais fundo que lâminas.

Já participei de conselhos de classe o suficiente para reconhecer seu caráter antropofágico. Entre representações discentes e os olhares falsamente impassíveis dos coordenadores, o que se vê é um espetáculo no qual os professores são banqueteados. Cada crítica parece alimentar um apetite insaciável, não pela construção, mas pela destruição. Uma professora ao meu lado, em uma dessas ocasiões, desabafou com um misto de sarcasmo e frustração:

— Os representantes de turma são sempre os piores alunos. E, claro, eleitos por seus próprios pares!

Essa definição, embora carregada de ironia, ecoa verdades que preferimos não dizer. No conselho, os papéis estão bem definidos: alunos no banco dos juízes, coordenadores como escribas, e professores no banco dos réus, à mercê de veredictos emocionais e implacáveis. Não importa o quão bem você desempenhe seu papel, o tribunal já tem sua sentença.

Foi após um desses momentos que uma aluna, representante de turma, me abordou no dia seguinte. Sua expressão era tão séria quanto provocativa:

— Professor, o senhor vai estar presente no próximo conselho?

Havia mais do que curiosidade em sua pergunta. Era um desafio, um convite velado para mais um duelo metafórico, onde palavras seriam as armas.

Os conselhos deveriam ser espaços de troca, não de confronto. No entanto, transformaram-se em arenas de vingança, lugares onde se fala mal de tudo e de todos: professores, colegas, instalações. Sempre me pergunto por que ainda se insiste na presença de alunos nesse processo, quando suas vozes já ecoam em tantas outras instâncias, desde denúncias informais até relatórios formais.

Longe dali, refleti sobre como nossa educação se assemelha a um campo de batalha, quando deveria ser um jardim. Jardins exigem paciência, cuidado e, acima de tudo, compreensão. Cada planta cresce à sua maneira, nem sempre como esperamos, mas todas merecem atenção. O problema maior, contudo, não está no aluno que critica nem no professor que justifica, mas na ausência de respeito mútuo.

Na educação, assim como no futebol, todos se sentem especialistas. Todos têm opiniões e querem dizer como deveria ser feito, como se ensinar fosse um ato simples e mecânico, ao alcance de qualquer um. Mas, diferente do futebol, onde o jogo acontece atrás de bastidores bem orquestrados, na educação tudo é exposto. Não há ensaios, apenas o improviso do dia a dia.

Dar voz é importante, mas usá-la sabiamente é ainda mais. Conceder espaço a quem apenas ecoa críticas vazias não fortalece a democracia educacional; fragiliza o ambiente que deveria ser de construção. Se os conselhos fossem verdadeiros encontros de diálogo, talvez não saíssemos deles com a sensação de termos sido esfaqueados — metafórica ou literalmente.

Assim seguimos: eu, professor; eles, alunos; todos, aprendizes. E, no silêncio eloquente dos corredores, guardo a esperança de que um dia essa dança dissonante possa se tornar harmonia. Afinal, a educação não é sobre vitórias individuais, mas sobre o encontro humano, onde imperfeições e desejos se cruzam para criar algo maior.

5 Questões Discursivas sobre o Texto

O texto descreve os conselhos de classe como um "espetáculo antropofágico". O que o autor quer dizer com essa comparação e como essa dinâmica impacta o ambiente escolar?

Qual a função dos representantes de turma nos conselhos de classe, segundo o texto? Essa função é positiva ou negativa para o processo educativo?

O autor critica a falta de respeito mútuo entre professores e alunos nos conselhos. Como essa falta de respeito influencia a relação entre ambos e a qualidade do ensino?

O texto sugere que a educação é frequentemente comparada a um jogo. Quais as implicações dessa comparação para a forma como entendemos o processo de ensino-aprendizagem?

Qual a importância do diálogo e da escuta ativa nos conselhos de classe para a construção de um ambiente escolar mais saudável e produtivo?


sábado, 11 de abril de 2009

CASO DE METONÍMIA ( Você não precisa ser "Zoilo")








Crônica

CASO DE METONÍMIA ( Você não precisa ser "Zoilo")

Claudeci Ferreira de Andrade


           Eu gostaria muito de saber qual a intenção daquele bicicleteiro, um “zoilo” como diria Raquel de Queiroz, ou melhor, um metediço, não é de ver que ele se atreveu a corrigir minha expressão supermetonímica, assim na cara! Tentou me impressionar com sua limitada competência linguística como bom aluno que ele pensava que era, ou apenas, quis espantar-me, o freguês que não simpatizou, com a expressão máxima de sua incompetência profissional, faltando-lhe a polidez minimamente necessária para um empresário de sucesso!?

          Vejam: passando próximo à praça criativa com o pneu traseiro da bicicleta murcho, resolvi entrar em sua oficina:

          — Remenda o meu pneu – dirigi-me a ele assim meio imperativo, pois tinha dinheiro suficiente para pagar o que pedisse.

          — Aqui não remendamos pneu, mas sim, câmara de ar – respondeu-me com ar de "professor" arrogante, mas estava com a roupa suja e as mãos meladas de graxa como um mecânico trabalhador.

          Agora só lamento por não ter explicado para ele que não estava errada minha frase, e nos 10 minutos em que eu assistia ao crítico inconsequente examinar a câmara em um balde d’água, construí, em silêncio, bons argumentos; revendo mentalmente os textos lidos recentemente: “Metonímia, ou a vingança do enganado” (Raquel de Queiroz), “As razões da metonímia em Vidas Secas” (Roberto Sarmento Lima). Constatando nenhum furo, apenas trocou a válvula, recebeu o dinheiro e virou-se. Por um instante, pensei que tivesse se arrependido da inconveniência, por fazer tão barato o serviço: um real.

          A metonímia consiste na substituição de um termo por outro, por existir entre eles uma relação de proximidade, de interdependência, de inclusão. Em minha frase: Remenda meu pneu, há uma sobreposição de metonímia, o dono é usado em lugar do objeto (o pneu é uma parte da bicicleta e não do condutor) e mais ainda, o continente é empregado em lugar do conteúdo (remenda-se a câmara e não o pneu). Portanto, a metonímia é bastante frequente na linguagem do cotidiano, é um recurso expressivo da língua, perfeitamente normal e artístico.

          Com este desagravo, espero preencher aquele vazio que deixei, ou melhor, quero com o mesmo pagar-lhe minha dívida linguística, como deve ser um professor que se preza. Pois só agora tive tempo de escrever aqueles argumentos que não pude dizer na hora, por gentileza. Até porque eu lera em algum lugar, não me lembro mais onde, que se o animal tiver sua perna presa em uma armadilha esmagadora, o domesticar está fora de questão, no mínimo até que o animal seja liberto e conduzido a algum grau de conforto.

          Preciso desse descargo de consciência  E vocês, não? Esta crônica vai lhes ser útil de alguma forma, é meu desejo.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 18/06/2009
Código do texto: T1654980

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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sábado, 28 de março de 2009

A linha tênue entre quantidade e qualidade ("A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida." — Sêneca)



A linha tênue entre quantidade e qualidade ("A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida." — Sêneca)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há dias em que ser professor é como comandar um barco à deriva, cercado por uma tempestade que não vem de fora, mas de dentro. Olhares inquietos, conversas incessantes e cadeiras que rangem em uma melodia descontrolada tornam o ambiente caótico. Trabalho com uma turma de 8º ano em uma escola municipal, onde a frequência quase perfeita — algo raro — deveria ser motivo de orgulho. São 50 alunos devidamente matriculados e, na maioria das vezes, 45 ou mais comparecem. Talvez seja o lanche que os atrai, ou quem sabe uma esperança silenciosa que só eles conseguem explicar.

Esta semana, no entanto, algo que já era desafiador tornou-se ainda mais complexo. Em meio ao caos habitual, um garoto novo foi apresentado à turma. Magro, carregava um caderno vazio e um sorriso que parecia implorar por acolhimento. "Mais um?", pensei, enquanto ouvia o breve discurso da secretaria sobre inclusão e oportunidades. Agora éramos 51. "Uma boa ideia", disseram. A inclusão, tão bela no papel, parecia, mais uma vez, apenas uma estratégia para inflar números — uma retórica vazia que esconde intenções menos nobres.

A lógica por trás dessa decisão é cruelmente simples: mais alunos significam mais verbas. Mas onde fica a qualidade? Com 51 adolescentes em uma sala, atender às necessidades individuais se torna uma missão impossível. Eles se perdem não apenas no barulho, mas também no abandono silencioso de suas potencialidades. Cada "Felipe" e cada "Larissa" que passa despercebido representa uma oportunidade perdida, uma história que poderia ter um final diferente.

Essa obsessão pela quantidade não é apenas fruto de má gestão; é reflexo de uma visão míope que permeia o sistema educacional. Medidas como progressão continuada e matrículas a qualquer tempo são propagandeadas como soluções para a evasão escolar, mas frequentemente resvalam na má-fé. É uma "mentira astuciosa", que tenta disfarçar o fracasso estrutural com números maquiados. Os burocratas da educação, cegos por interesses políticos ou pessoais, ignoram o essencial: educação é um investimento de longo prazo, não um jogo de estatísticas.

No final do dia, enquanto corrigia provas, refleti sobre o preço que os professores pagam. Somos rotulados de incompetentes, muitas vezes por coordenadores que nunca enfrentaram uma sala de aula, acusados de "sem domínio de classe" ou "sem conteúdo". Contudo, a verdade é que somos apenas peões em um jogo desigual. As resoluções e normas que prometem garantir a qualidade não chegam até nós, e os discursos vazios dos gestores se dissolvem diante da dura realidade cotidiana.

Desejamos turmas menores, com cerca de 20 alunos, para oferecer uma atenção mais equilibrada. Não é capricho; é porque compreendemos que a educação de qualidade exige tempo, dedicação e esforço. Em vez disso, enfrentamos uma realidade em que os alunos são tratados como cifras para as escolas, e não como indivíduos com sonhos e desafios únicos.

Enquanto guardava os papéis do dia, meus olhos pousaram no caderno vazio do aluno recém-chegado. A página em branco era mais que um objeto; parecia um espelho da nossa realidade. Entre a quantidade e a qualidade, a balança pende sempre para o lado do que pode ser contado, enquanto o que realmente importa é deixado para trás.

Ainda assim, algo em mim insiste em acreditar que podemos fazer diferente. A educação tem potencial para ser mais do que números e discursos vazios. Mas, para isso, é preciso coragem para olhar além das métricas e enfrentar os desafios reais. Talvez, então, a "boa ideia" de hoje não seja apenas mais uma mentira astuciosa, mas uma oportunidade genuína de mudança.

Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:


O texto compara a sala de aula a um barco à deriva. Quais os elementos que contribuem para essa sensação de descontrole e como eles impactam o processo de ensino-aprendizagem?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre os desafios enfrentados pelos professores e como as condições de trabalho podem afetar a qualidade do ensino.


A inclusão de novos alunos é apresentada como uma estratégia para aumentar o número de alunos matriculados. Quais as consequências dessa prática para a qualidade do ensino e para os alunos?

A questão busca que os alunos compreendam as implicações da busca por números em detrimento da qualidade do ensino e como isso pode afetar a aprendizagem dos estudantes.


O texto critica a visão utilitarista da educação, que prioriza a quantidade de alunos em vez da qualidade do ensino. Quais as consequências dessa visão para a sociedade como um todo?

Essa questão incentiva os alunos a refletirem sobre o papel da educação na sociedade e como a busca por resultados quantitativos pode prejudicar o desenvolvimento dos indivíduos.


O autor menciona que os professores são frequentemente responsabilizados pelos problemas do sistema educacional. De que forma os professores podem se organizar para reivindicar melhores condições de trabalho e uma educação de qualidade?

A questão leva os alunos a analisar o papel dos professores na luta por uma educação mais justa e igualitária e como eles podem se unir para defender seus direitos.


O texto conclui com uma nota de esperança, sugerindo que é possível transformar a educação. Quais as ações que podem ser tomadas para que a educação se torne mais humanizada e focada na qualidade do ensino?

Essa questão estimula os alunos a refletirem sobre as possíveis soluções para os problemas da educação e como cada um pode contribuir para a construção de uma escola melhor.


sábado, 21 de março de 2009

ALUNO e FILHO DE PROFESSORA ("Não importa o que você seja, professor, trabalhador braçal ou intelectual. O que importa é ser humano." — De Cora Coralina)





Crônica

ALUNO e FILHO DE PROFESSORA ("Não importa o que você seja, professor, trabalhador braçal ou intelectual. O que importa é ser humano." — De Cora Coralina)

A sineta ecoa pelos corredores, anunciando o prelúdio do espetáculo diário da sala de aula. Diante de mim, rostos variados se apresentam, cada um carregando seu universo próprio. Entre eles, destaca-se um em especial: sentado na terceira fileira, ele me lança um olhar inquieto. Não é desafiador, mas carrega algo mais sutil, quase enigmático, que exige decifração. Filho de professora, ele não traz apenas cadernos e livros, mas também o peso de expectativas sobrepostas e um espírito de rebeldia que resiste às molduras convencionais da escola.

A docência tem a peculiaridade de nos colocar diante de dilemas inesperados. Lembro-me do dia em que a mãe dele — colega de profissão — veio, pela terceira vez, expressar seu temor. A coordenadora me advertiu de que ela acreditava que eu estava "marcando" o garoto, conduzindo-o à reprovação. Não era a primeira vez que eu enfrentava essa angústia, mas havia algo singular na maneira como essa mãe-professora manifestava sua preocupação. Enquanto tentava proteger o filho, parecia também questionar a complexa relação entre casa e escola.

Falei-lhe a verdade. Descrevi o comportamento errático do filho, suas interrupções constantes e a dificuldade de se concentrar. Não como crítica, mas como um convite à reflexão. Contudo, logo percebi que o cenário era mais intrincado do que parecia. Ele não era apenas um aluno desatento ou provocador: suas ações revelavam um pedido silencioso por atenção, uma tentativa de navegar pelos papéis que os adultos ao seu redor desempenhavam.

Ter filhos de professores como alunos é, por si só, um paradoxo. Sempre os imaginei como exemplos naturais. Na prática, porém, esses jovens frequentemente projetam em nós os conflitos que vivem em casa. Confundem papéis de autoridade, testam limites e, não raro, nos desafiam com um descaso que dói mais do que qualquer ato explícito de indisciplina. Esse aluno, em particular, parecia não confiar em professores — e, talvez, nem mesmo em si próprio.

Agora, sinto-me coagido a ceder. Permito que ele se levante quando quiser, vá ao banheiro sem pedir e converse livremente, mesmo que perturbe a aula. Facilito suas notas, não por convicção, mas por medo de que qualquer atitude minha seja interpretada como perseguição. A última coisa que desejo é mais uma conversa com a diretora, enquanto sua mãe reitera os temores e questiona minhas intenções.

No entanto, à medida que cedo, sinto perder algo inestimável: o respeito e a confiança desse aluno. Ele já não me enxerga como alguém que o desafia a crescer, mas como alguém que recua diante de suas provocações. É um equilíbrio delicado — quase impossível — entre fazer o que é justo e evitar o que é conflituoso.

Educar vai além de transmitir conhecimento ou impor disciplina. É, antes de tudo, um exercício de enxergar o outro, compreender silêncios e decifrar gestos. Esse jovem, com suas dificuldades e comportamentos imprevisíveis, me obriga a repensar minha prática pedagógica. Não posso simplesmente condená-lo ou desistir dele. Entendi que meu papel não é apenas apontar falhas, mas construir pontes e abrir caminhos para que ele descubra seu próprio potencial.

A sala de aula é um microcosmo da vida, repleta de contradições e desafios. Nem sempre alcançamos o equilíbrio perfeito, mas seguimos tentando, plantando sementes que talvez germinem apenas no futuro. O filho de professora é um lembrete vivo de que educar é, acima de tudo, um ato de resistência e esperança.

A sineta toca novamente. Mais um dia termina, mas as reflexões persistem. Porque a educação é isso: um processo contínuo de encontros e desencontros, onde cada aluno representa uma oportunidade de reescrever nossa própria história como educadores. E, ao final, não se trata apenas de notas ou comportamentos, mas do impacto que deixamos — mesmo que silenciosamente — na vida daqueles que passam por nós.


Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:


O texto apresenta um conflito entre a expectativa de que o filho de um professor seja um aluno exemplar e a realidade de um aluno com dificuldades. Como essa contradição impacta a relação entre professor e aluno?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre as expectativas sociais e como elas podem influenciar as relações interpessoais na escola.


O professor descreve a sensação de ser "coagido a ceder" às demandas do aluno. Quais os desafios e dilemas éticos que um professor enfrenta ao lidar com situações como essa?

A questão busca que os alunos compreendam as complexidades da profissão docente e os dilemas éticos que os professores precisam enfrentar.


O texto destaca a importância de compreender as motivações por trás do comportamento dos alunos. Como a compreensão das dificuldades e dos contextos de vida dos alunos pode influenciar a prática pedagógica?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da empatia e da individualização no processo de ensino-aprendizagem.


O autor menciona que a educação é um processo contínuo de encontros e desencontros. Como os professores podem lidar com as inevitáveis frustrações e desafios da profissão?

A questão leva os alunos a refletir sobre a importância da resiliência e da busca por significado na prática docente.


O texto sugere que a educação vai além da transmissão de conhecimento. Quais outras dimensões da educação são exploradas no texto e como elas se relacionam com a formação integral do aluno?

Essa questão amplia a visão dos alunos sobre a educação, incentivando-os a pensar sobre a importância das relações interpessoais, da construção da identidade e do desenvolvimento socioemocional.

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domingo, 15 de março de 2009

BAGUNÇA INCOMPETENTE ( É preciso aprender aprender)




CRÔNICA

BAGUNÇA INCOMPETENTE ( É preciso aprender aprender)

Por Claudeci Ferreira de Andrade
          A irreverência e a incompetência são dois conceitos bem compatíveis! Refiro-me ao tipo de comportamento que muitos alunos da rede pública adotam. O pior é que os professores, quando no papel de aluno, fazem o mesmo. Mas, o que isso poderia significar para nós professores? A falta do saber aprender dos alunos tornou repentinamente o seu caráter impróprio para ser contemplado em sala de aula. Ou há um significado mais profundo nesses comportamentos perturbadores que eu não consigo ver?

          Você sabe o que é sentir-se desprovido do conhecimento que lhe é exigido na presença de terceiros? Já desejou poder esconder todos os medos e decepções, todos os malogros e louquice do passado e também as incompetências do presente, que certamente o perturbariam se outros os descobrissem? Nenhum de nós gosta de ter a vida revelada e fragilizada à vista e à apreciação dos outros. É como diz apropriadamente minha professora de produção textual James Deam Amaral Freitas, do curso Pró-funcionário, que as pessoas não gostam de escrever porque se expõem. Talvez seja por isso que meus alunos me pedem para não ler seus textos, apenas dar a nota.
          E assim, eles adotam um comportamento que possa desviar a atenção das pessoas para outro ponto que não sejam as suas debilidades. Tenho um aluno surdo e que usa aparelho para melhorar a sua audição, é o que mais faz barulho na sala, os mais esdrúxulos, para ser notado como normal, assim como se tivesse pedindo para comunicarmos a ele, pois está nos escutando um pouco agora. Assim, também, aquela jovem que não tira o aparelho celular, recém comprado, dos ouvidos. Almeja a atenção dos rapazes porque intimamente está medrosa de que não seja notada, não amada, não solicitada. A exibição do aparelho novo torna sua tentativa para esconder a dor, para cobrir a solidão. E ai de quem tentar impedi-la, leva porrada, como aconteceu com a professora de ciências Caroline Kalinca Rabelo, da Escola Estadual Maria Ilidya Resende de Andrade, no bairro Furtado de Menezes, Juiz de Fora, zona da mata, MG. Apanhou na cara!
http://www.otempo.com.br/supernoticia/noticias/?IdNoticia=28374 (19/12/2012).
          Existe o menino que exagera no uso das gírias, esperando deste modo tornar suas palavras mais poderosas, e mais atordoantes o seu impacto sobre outros. Contudo, ele não vê que está disfarçando miseravelmente seu desnudo medo de ser considerado como de baixo valor!
          Na vida, temos mil formas de esconder nossas fraquezas, e o modo do professor se esbaldar em fichas e relatórios inúteis. Cada um prometendo cobrir suas vergonhas, alguns expostos traços negativos que estão arraigados em nossa separação dos nossos ideais; como disse a professora Lourdinha, especialista em filosofia da arte:
         — As máscaras existem e de máscara, todo mundo fica igual!
         Todas as dramatizações bem ensaiada prometem restaurar a autoconfiança imediata dos atores. Mas, nesse caso, todas são impróprias e deselegantes para a vida real. E nos empenhamos com unhas e dentes, tentando impedi-las de dar às escondidas.
          Eu compreendo a posição daqueles meus muitos alunos irreverentes, egoístas, orgulhosos, zombadores, desobedientes, ingratos, mentirosos, desordeiros, rudes, cruéis, escarnecedores, traidores, irascíveis, fanfarrões, estas são as qualidades do Satanás, para preencher as lacunas da falta de ideais na vida. Recentemente surpreendi meu aluno D..., representante de sala, com o gravador de voz do aparelho celular ligado para me denunciar, sobre sei lá o que, no conselho de classe, parecendo minha vizinha, a qual bastado ouvir o chiado dos meu passos nas folhas secas do quintal, ela sobe imediatamente no muro empunhando um celular para me filmar. Talvez porque eu já fui professor dela! Esse também é um subterfúgio para intimidar. Eles estão escandalizados com a sua própria pobreza, mas não confiam em seus educadores, então não há mais saída. O que na verdade eles precisam é aprender aprender.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 13/06/2009
Código do texto: T1646487


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