Hoje, ao chegar à escola para mais um dia de trabalho, deparei-me com uma série de pequenos papéis espalhados pela mesa dos professores. Parecia uma campanha, um movimento silencioso que se expressava através de um recado anônimo: "PROFESSOR COM MUITO ORGULHO! Se um médico, advogado ou dentista tivesse, de uma só vez, 45 pessoas no seu gabinete ou consultório, todas com necessidades diferentes e algumas até relutantes em estar ali, e se tivessem que tratá-las com elevado profissionalismo durante dez meses, então vocês poderiam começar a compreender o trabalho de um professor na sala de aula. Se é PROFESSOR, cole isto no seu mural e ORGULHE-SE!!!"
Confesso que, inicialmente, não compreendi a mensagem. Afinal, o que esses profissionais têm a ver com a minha profissão? Será que eles deveriam ter alguma ideia do que é o trabalho de um professor na sala de aula? Por que se esforçariam por isso?
A nota, apesar de bem-intencionada, parecia tão deslocada no meu mural quanto a pergunta: Se o gato come carne, por que o cavalo come capim? E quais as ideias que um bicho faz do outro!!!
Como poderia sentir orgulho dessas revelações do desespero, um caçador desesperado atira para todos os lados. Vergonha, sim, mas sou tão sem vergonha que já faz trinta anos que suporto os dissabores e desencontros dos últimos momentos do sistema educacional público sem largar o "osso". Digo, ainda, sem vergonha, porque uma pessoa desrespeitada, sem a credibilidade de seus alunos e colegas, fingindo ter autoridade, não tem brio algum.
Eu tinha acabado de participar de uma reunião, daquelas feitas no intervalo para o recreio, com a direção do colégio, na qual um punhado de nós, os que chegavam um pouquinho atrasado, porém sempre dentro dos dez minutos de tolerância, para o início das aulas, a cada manhã, fomos taxados de "folgados", "lerdos". Então, revelando-me assim, fica evidente que já não tenho nem o respeito de mim mesmo. É estranho falar assim, mas é uma forma de achar que os outros jamais me condenem por aquilo que eu mesmo já me condenei.
Este foi um dia repleto de incoerências. Ainda tive de ouvir de uma colega de trabalho (professora da rede municipal), que não lê mais o "Diário da Manhã", pois "pertence ao Governo". É incoerente também negar elogios a quem é seu patrão. Com esta resistência, querem os professores atrair a simpatia e o respeito do governador, enquanto categoria!
Mas, não sou idiota, porque já dizia o contador de história: "idiota é quem faz idiotice". E eu, apesar de tudo, continuo aqui, lutando, ensinando, aprendendo. Porque ser professor é muito mais do que uma profissão, é uma vocação. E é com muito orgulho que digo: sou professor! Porém, para continuar ileso na sala de aula é preciso fingir de gay ou de doido.
ALINHAMENTO CONSTRUTIVO
1. Compreendendo o Contexto:
Qual a situação que desencadeia a reflexão do professor no texto?
Que mensagem anônima ele encontra na mesa dos professores?
Como ele interpreta essa mensagem inicialmente?
2. Comparação entre Profissões:
A mensagem compara o trabalho do professor com o de quais outras profissões?
O professor concorda com essa comparação? Por quê?
Quais as diferenças e similaridades entre o trabalho de um professor e as profissões mencionadas?
3. Sentimentos do Professor:
Que sentimentos o professor expressa no texto?
O que o leva a sentir orgulho e vergonha ao mesmo tempo?
Como o sistema educacional contribui para esses sentimentos?
4. Desafios da Profissão:
Quais os desafios enfrentados pelo professor em seu dia a dia?
Como esses desafios se relacionam com a falta de respeito e reconhecimento da profissão?
De que forma o professor busca lidar com esses desafios?
5. Vocação e Compromisso:
Apesar das dificuldades, o que motiva o professor a continuar na profissão?
O que significa para ele ser professor?
Qual a importância da vocação e do compromisso para a atuação docente?
Reflexão Adicional:
O texto apresenta uma visão crítica da profissão docente. Você concorda com essa visão? Por quê?
Quais medidas poderiam ser tomadas para melhorar as condições de trabalho e o reconhecimento da profissão docente?
Que papel a sociedade pode desempenhar para valorizar a educação e o trabalho dos professores?