"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 7 de abril de 2019

VIGIADO (" Hoje há tanta liberdade, que ninguém deveria inspecionar a vida dos outros, ainda vale o antigo ditado. Quem procura acha, e acha facilmente..." — Iria Hilária)



Crônica

VIGIADO (" Hoje há tanta liberdade, que ninguém deveria inspecionar a vida dos outros, ainda vale o antigo ditado. Quem procura acha, e acha facilmente..." — Iria Hilária)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã como tantas outras quando meu celular vibrou, anunciando uma notificação que mudaria minha perspectiva sobre o mundo digital. Meu sobrinho, com seu entusiasmo juvenil, me convidava para uma aventura virtual: jogar Pokémon Go. Ri, a princípio. Eu, um homem que já viu muitas primaveras, caçando criaturas imaginárias pelas ruas? Que absurdo!

Mas algo naquele convite mexeu comigo. Talvez fosse a oportunidade de me reconectar com um mundo que eu observava à distância, com uma mistura de ceticismo e curiosidade. Decidi, então, mergulhar de cabeça nessa nova realidade aumentada.
Saí às ruas, sentindo-me um tanto ridículo com o celular erguido diante de mim. No entanto, à medida que caminhava, notei algo surpreendente: não estava sozinho. Jovens, adultos e até mesmo idosos compartilhavam a mesma busca, seus olhos alternando entre as telas e o mundo ao redor.
Em uma praça próxima, vi famílias rindo juntas, compartilhando dicas sobre onde encontrar os melhores Pokémons. Um senhor de cabelos grisalhos pedia ajuda a uma adolescente para entender como "capturar" uma criatura virtual. Ali, naquele momento, percebi que o jogo era mais do que uma simples distração - era um catalisador de conexões humanas.
Enquanto capturava meu primeiro Pikachu (confesso, foi emocionante!), refleti sobre as críticas que havia lido nas redes sociais. Alguns viam o jogo como uma ferramenta de vigilância em massa, outros como uma revolução na interação social. E eu? Bem, eu estava no meio dessa dança entre o virtual e o real, redescobrindo minha cidade e meus vizinhos.
A tarde passou voando, e quando dei por mim, o sol já se punha. Voltei para casa com os pés doloridos, mas com o coração leve. Havia conhecido mais pessoas naquele dia do que nos últimos meses. Trocamos sorrisos, dicas e até números de telefone. O mundo, que antes parecia tão distante e frio através das telas, agora ganhava cores e calor humano.
Deitado em minha cama naquela noite, com o celular ao lado mostrando meus "troféus" virtuais, percebi que havia capturado algo muito mais valioso que Pokémons: uma nova perspectiva sobre a tecnologia e as relações humanas.
Talvez, pensei, a verdadeira "loucura" não esteja em jogar um jogo de realidade aumentada, mas em nos fecharmos para as possibilidades que a tecnologia nos oferece. A vida, afinal, é uma constante adaptação, um equilíbrio delicado entre o que fomos e o que podemos ser.
E você, caro leitor? Já se permitiu ser surpreendido pelo inesperado? Quem sabe, sua próxima grande aventura não esteja escondida atrás de uma simples notificação no celular. Abra-se para o novo, mas mantenha os pés no chão e o coração aberto. Afinal, a mais fascinante realidade aumentada é aquela que criamos quando nos permitimos ver o mundo com novos olhos.
Questão 1: O texto apresenta uma reflexão sobre a relação entre o indivíduo e a tecnologia, especialmente no contexto de um jogo digital. A partir dessa perspectiva, como a tecnologia pode influenciar a forma como nos relacionamos com o mundo e com as outras pessoas? Esta questão convida os alunos a refletirem sobre o impacto da tecnologia na vida social, explorando temas como interação social, identidade digital e a construção de comunidades online. Questão 2: O autor utiliza a metáfora do jogo para discutir a vida. De que forma essa metáfora pode ser utilizada para compreender os desafios e as oportunidades que a vida nos apresenta? Esta questão incentiva os alunos a pensarem de forma mais abstrata sobre a vida, utilizando o conceito de "jogo" como uma lente para analisar as experiências humanas. A partir dessa perspectiva, os alunos podem explorar temas como escolhas, riscos, e a busca por significado.

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sábado, 23 de março de 2019

INTERATUANDO "Escrevo frases para iluminar minha caminhada e acredito que compartilhando elas, posso estar iluminando o caminho de outras pessoas também."—Israel Ziller)



Crônica

INTERATUANDO "Escrevo frases para iluminar minha caminhada e acredito que compartilhando elas, posso estar iluminando o caminho de outras pessoas também."—Israel Ziller)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O sábado amanheceu com uma promessa de quietude que há muito eu não experimentava. Enquanto a cidade ainda dormia, encontrei-me diante de uma xícara de café fumegante, preparando-me para mais uma capacitação para professores. O aroma familiar do café misturava-se com o cheiro de giz impregnado em minhas roupas, um lembrete constante da minha vocação. As ruas vazias refletiam o vazio que, ultimamente, sentia crescer dentro de mim. A profissão que abracei com tanto fervor agora parecia me envolver em um abraço solitário. As salas de aula, antes palcos de debates acalorados e descobertas empolgantes, haviam se transformado em arenas silenciosas, onde as palavras ricocheteavam nas paredes sem encontrar eco nos olhos vidrados dos alunos. Enquanto esperava começar a capacitação, folheava distraidamente as notificações em meu celular. Entre os 5000 "amigos" virtuais, buscava uma conexão que se tornava cada vez mais escassa no mundo real. Postagens, curtidas, comentários - todos pareciam gritar por atenção em um universo digital que prometia proximidade, mas entregava apenas a ilusão de companhia. O relógio marcava o início da capacitação, e eu me vi mergulhando em mais uma tentativa de atualização profissional. Não era pelos títulos, mas pela esperança de encontrar uma faísca que reacendesse a chama do educador apaixonado que eu costumava ser. As horas passaram, e as palavras dos palestrantes se misturavam com meus próprios pensamentos inquietos. Já no final do dia, olhei pela janela e vi o sol se pondo, pintando o céu com tons de laranja e roxo. Naquele momento, senti uma onda de melancolia e, ao mesmo tempo, um lampejo de esperança. Percebi que, assim como o dia que terminava, minha jornada como educador estava longe de acabar. As dificuldades, o isolamento, as cobranças - tudo isso fazia parte de um ciclo maior, um processo de crescimento e adaptação constante. Ao sair do prédio, carregava comigo não apenas novos conhecimentos, mas uma compreensão mais profunda do meu papel. A educação, percebi, não era apenas sobre transmitir informações, mas sobre construir pontes - entre o passado e o futuro, entre o real e o virtual, entre corações e mentes. Caminhando de volta para casa, sob o céu estrelado, senti-me parte de algo maior. Cada professor, cada aluno, cada postagem nas redes sociais - éramos todos fragmentos de uma grande narrativa, buscando conexão e significado. E você, caro leitor, já se sentiu assim? Perdido entre o dever e o sonho, entre o real e o virtual? Lembre-se: mesmo nas noites mais escuras, as estrelas brilham. Nossa missão, como educadores, pais, cidadãos, é manter esse brilho vivo, iluminando o caminho para as gerações futuras. Pois no fim, não são os likes ou os títulos que contam, mas os ecos que deixamos nos corações daqueles que tocamos.

1. Como a profissão de professor pode levar a sentimentos de isolamento e solidão, segundo o texto?

2. Quais são os desafios enfrentados pelos professores na escola, conforme descrito no texto?

3. De que maneira a capacitação para professores pode contribuir para o desenvolvimento profissional e pessoal, de acordo com o autor?

4. Como o uso das redes sociais serve como um refúgio para o autor, e quais são os benefícios e limitações dessa prática?

5. Qual é a mensagem final do autor sobre a importância da educação e o papel do professor na sociedade?

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DISSIMULAR PARA VIVER BEM ("Discrição é saber dissimular o que não se po...



DISSIMULAR PARA VIVER BEM ("Discrição é saber dissimular o que não se pode remediar..." — Vítor Santos)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sala dos professores era um microcosmo da sociedade: um palco onde se representavam papéis, onde a verdade muitas vezes se escondia por trás de sorrisos forçados. A frase de um velho amigo ecoava em minha mente: "É mais fácil amar os inimigos do que conviver com os colegas de trabalho." A ironia dessa afirmação me acompanhava a cada dia, revelando a fragilidade das relações humanas, mesmo entre aqueles que compartilhavam um mesmo ofício.

A escola, com sua aparente homogeneidade, era um terreno fértil para a hipocrisia. A necessidade de manter as aparências, de construir uma imagem de harmonia, nos levava a reprimir sentimentos e a dissimular nossas verdadeiras opiniões. A história do homem que aprendeu a dirigir me servia de metáfora: no campo aberto, tudo era simples; nas ruas da vida, a complexidade das relações humanas tornava a jornada mais desafiadora.

A convivência em grupo exige um certo grau de adaptação. É preciso aprender a lidar com as diferenças, a negociar conflitos e, muitas vezes, a fingir que tudo está bem, mesmo quando a alma clama por autenticidade. A frase de Dinamor, "Quem quiser vencer na vida deve ter um sorriso nos lábios", resume essa necessidade de manter as aparências. No entanto, essa necessidade de dissimular nos coloca diante de um dilema: até que ponto podemos sacrificar nossa autenticidade em nome da harmonia?

A verdade é que a hipocrisia é um mal necessário em muitas situações. Mas é importante lembrar que ela não pode ser a única moeda de troca em nossas relações. A empatia, a compreensão e o respeito às diferenças devem ser cultivados, mesmo que isso signifique confrontar nossas próprias crenças e valores. Afinal, a maturidade não está em negar nossas emoções, mas em aprender a lidar com elas de forma construtiva.

Ao final do dia, saio da escola com a sensação de ter usado uma máscara por horas a fio. Mas também com a certeza de que a convivência em sociedade exige essa capacidade de adaptação. A questão é: até que ponto estamos dispostos a ir? Qual o preço que estamos dispostos a pagar pela harmonia?

Duas questões discursivas sobre o texto:

De que forma a hipocrisia se manifesta nas relações interpessoais, especialmente no ambiente de trabalho?

Qual o conflito entre a necessidade de manter as aparências e a busca por autenticidade nas relações humanas?

sábado, 16 de março de 2019

FERINO ("Quanto mais sincero, mais espinhoso, mais cortante, mais ferino. A verdade machuca, mas deveria exaltar" — René Venâncio)



Crônica

FERINO ("Quanto mais sincero, mais espinhoso, mais cortante, mais ferino. A verdade machuca, mas deveria exaltar. — René Venâncio)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O sol mal despontava no horizonte quando senti que aquele domingo seria diferente. Uma inquietação sutil pairava no ar, como se o universo conspirasse para me fazer repensar minha vida. Sentei-me na varanda com uma xícara de café fumegante, deixando que os pensamentos fluíssem livremente.

As primeiras horas da manhã trouxeram uma sucessão de pequenos eventos aparentemente insignificantes: um vaso que caiu sem motivo, um telefonema inesperado, uma notícia no jornal que parecia falar diretamente comigo. Juntos, formavam um mosaico de sinais impossíveis de ignorar, como sussurros do destino me dizendo: "Ei, preste atenção!"

Meu primeiro instinto foi resistir. Afinal, quem gosta de ser confrontado com a necessidade de mudança? Senti uma familiar onda de adrenalina percorrer meu corpo, misturada a um coquetel de emoções há muito adormecidas: raiva, frustração, até mesmo um desejo quase infantil de vingança. Contra o quê? A vida? O destino? Eu mesmo?

As palavras de Fernando Pessoa ecoaram em minha mente: "O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a ação sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa." Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade interior.

Minha mente, sempre ágil, corria de um pensamento a outro. Ideias brotavam em rápida sucessão, algumas brilhantes, outras perigosamente afiadas. Percebi que precisava exercitar a diplomacia não apenas com os outros, mas principalmente comigo mesmo. Guardar as opiniões inapropriadas tornou-se um exercício de autocontrole.

Enquanto o dia avançava, senti-me como um equilibrista em uma corda bamba, tentando conciliar meus anseios com as expectativas do mundo. A opinião alheia, sempre presente, parecia pesar ainda mais. Mas algo dentro de mim se fortalecia, uma voz que sussurrava: "Siga num ritmo tranquilo. Você vai ficar bem."

Refleti sobre a educação escolar, percebendo que ela não é obra divina nem demoníaca, mas fruto da complexidade humana. As palavras de Chico Xavier trouxeram conforto: "Tudo que pudermos fazer no bem, não devemos adiar... Carecemos somar uma energia dinâmica que se anteponha às forças do mal... Ninguém tem o direito de se omitir." Essas palavras me deram um novo ânimo, um propósito renovado.

Percebi que era hora de juntar os pedaços da minha vida, de reajustar hábitos e estabelecer novas metas. A confusão inicial deu lugar a uma clareza surpreendente. Comecei a ver as mudanças não como ameaças, mas como oportunidades de crescimento.

Ao entardecer, voltei à varanda para contemplar o pôr do sol. As palavras de Confúcio ressoaram: "O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude." Sorri, percebendo que aquele dia aparentemente caótico havia sido, na verdade, um presente. Um lembrete de que a vida é uma constante jornada de autodescoberta.

Enquanto as estrelas começavam a pontilhar o céu, fiz uma promessa silenciosa a mim mesmo: abraçar as mudanças com coragem, enfrentar os desafios com serenidade e manter-me aberto aos sinais que a vida oferece. Afinal, como aprendi naquele domingo, às vezes é preciso uma pequena revolução interna para encontrar a paz que tanto buscamos.

Terminei o dia com a sensação de estar no caminho certo. A vida é cheia de altos e baixos, mas com firmeza e paciência, acredito que encontrarei a tranquilidade e a simplicidade que busco. E, quem sabe assim, estarei mais próximo da virtude e da paz interior que tanto almejo.

Duas questões discursivas sobre o texto:

1. O texto descreve uma jornada pessoal de autoconhecimento e transformação. Quais os principais elementos que desencadearam essa jornada e como eles se relacionam com a busca por significado e propósito na vida?

Esta questão convida os alunos a refletirem sobre os fatores que podem levar uma pessoa a questionar suas escolhas e buscar mudanças em sua vida, além de analisar a importância da autoconsciência nesse processo.

2. O autor faz referência a diversas figuras históricas e filosóficas para embasar sua reflexão. Como essas referências contribuem para a construção de sua narrativa e qual o papel da cultura e da história na formação da identidade individual?

Esta questão estimula os alunos a analisar o papel da cultura e da história na construção do pensamento individual, além de refletir sobre a importância da intertextualidade na produção de sentidos.

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segunda-feira, 11 de março de 2019

LIÇÕES DE BIA (Quem merece maior reprovação, Bia ou aqueles que correm atrás de nota, meramente copiando e colando? )



LIÇÕES DE BIA (Quem merece maior reprovação, Bia ou aqueles que correm atrás de nota, meramente copiando e colando? )

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Numa tarde de outono, o aroma de livros novos preenchia a sala de aula do segundo ano do Ensino Médio no Colégio Estadual. As folhas douradas das árvores sedentas dançavam do lado de fora, enquanto eu, professor de Língua Portuguesa, enfrentava um desafio que mudaria minha perspectiva sobre educação.

Meu olhar cruzou com o de Bia, uma jovem de olhos brilhantes e sorriso desafiador, cuja presença esporádica nas aulas era um enigma que eu ansiava decifrar. Movido pela convicção de que poderia reconduzi-la ao caminho do aprendizado, decidi abordá-la após a aula.

"Bia", chamei-a com um misto de preocupação e esperança, "o que você pensa sobre sua dedicação aos estudos e seu comportamento desfavorável?"

Sua resposta veio rápida como um raio: — "Creio que não é só de disciplina que um bom aluno precisa, professor."

Intrigado, continuei nosso diálogo, navegando por temas como a competência dos professores e o regimento escolar. Bia respondia com uma segurança desconcertante, como se cada palavra fosse uma peça de um quebra-cabeça que eu ainda não conseguia montar.

Então, num lampejo de otimismo, lancei a pergunta que acreditava ser o xeque-mate: "Então você planeja ser uma boa aluna, tornar-se um exemplo de dedicação e ser coroada com uma merecida aprovação em todas as matérias?"

O que se seguiu foi como um balde de água fria em minhas expectativas. Bia, com um brilho travesso nos olhos, declarou: — "Tornar-me uma boa aluna e ser alguém na vida? Jamais! Estou aqui para me divertir, comer, socializar e zoar. Aprender? Só o mínimo possível! A verdadeira escola da vida está lá fora, nas ruas."

Naquele momento, senti o peso de anos de docência desmoronar sobre meus ombros. Bia não era apenas uma aluna rebelde; ela era o espelho de uma realidade que eu, em minha torre de marfim acadêmica, me recusava a enxergar. Ela simplesmente acreditava que poderia incluir a vida escolar entre seus lazeres, quebrando normas e ainda fazendo "sucesso" na comunidade escolar.

Enquanto os dias se passavam, observei outros alunos - os "exemplares" que copiavam e colavam trabalhos, os que mendigavam notas sem interesse real pelo conhecimento. Percebi que muitos sofriam do mesmo "desvio focal" que Bia, vendo a escola apenas como um passatempo, sem compreender sua verdadeira importância.

Esta experiência me fez refletir profundamente sobre o propósito da educação. Não se trata apenas de notas ou presença, mas de despertar mentes, cultivar o pensamento crítico e preparar jovens para os desafios da vida real. Me perguntei: quem merece maior reprovação? Bia, com sua honestidade crua, ou aqueles que fingem jogar o jogo da educação?

Hoje, quando olho para minha sala de aula, não vejo mais apenas alunos. Vejo indivíduos complexos, cada um com sua história, seus sonhos e suas batalhas internas. E me questiono: como posso, como educador, construir pontes entre o conhecimento acadêmico e a realidade pulsante que existe além dos muros da escola?

A jornada de Bia e de tantos outros me ensinou que a verdadeira educação transcende as paredes da sala de aula. É um convite constante à reflexão, à adaptação e, acima de tudo, à compreensão do mundo através dos olhos daqueles que estamos formando.

Que possamos, como educadores e sociedade, repensar nossas práticas e expectativas. Pois só assim poderemos verdadeiramente cumprir nossa missão: não apenas ensinar, mas inspirar, transformar e preparar nossos jovens para serem protagonistas de suas próprias histórias. Ser professor é mais do que transmitir conteúdo; é também despertar nos alunos a paixão pelo conhecimento e a consciência de que a educação é a chave para um futuro melhor.

Questões Discursivas:

Questão 1:

O texto apresenta um confronto entre a visão tradicional de educação e a perspectiva de uma aluna que questiona o sistema. Como essa experiência impactou a visão do professor sobre seu papel e a função da escola na sociedade?

Esta questão convida os alunos a refletir sobre a importância de desafiar as normas e a necessidade de repensar o papel da educação na formação de cidadãos críticos e engajados.

Questão 2:

O texto levanta a questão: "Quem merece maior reprovação? Bia, com sua honestidade crua, ou aqueles que fingem jogar o jogo da educação?" A partir dessa reflexão, como a escola pode lidar com a diversidade de atitudes e expectativas dos alunos, buscando promover o aprendizado significativo?

Esta questão incentiva os alunos a pensar sobre os desafios da inclusão e da diversidade em sala de aula, e a importância de criar um ambiente de aprendizagem que respeite as individualidades e promova o engajamento de todos os estudantes.

sábado, 9 de março de 2019

MOTIVADORES ("Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras - liberdade caça jeito." Manoel de Barros)



Crônica

MOTIVADORES ("Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras - liberdade caça jeito." Manoel de Barros)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O sol de agosto aquecia o pátio da escola, anunciando o início do segundo semestre. Com minha agenda surrada e uma pilha de contas a organizar, senti o peso da responsabilidade e a urgência da produtividade. As férias já eram uma lembrança distante, e o aroma de café fresco da sala dos professores misturava-se às expectativas renovadas.

Decidi começar organizando minha agenda e equilibrando as contas, um exercício de renovação que sempre me trazia certa paz de espírito. Cada decisão precisava ser amadurecida e implementada com precisão, como um bom vinho envelhecido. Objetividade e racionalidade seriam minhas bússolas nessa jornada de retomada.

Na sala dos professores, uma surpresa nos aguardava: uma mesa repleta de bombons, providenciados pelo grupo gestor. Este gesto aparentemente simples criou uma atmosfera calorosa de boas-vindas, adoçando momentaneamente o retorno às aulas. Porém, como sempre na vida de educador, a doçura logo deu lugar ao amargor dos desafios.

A reunião que se seguiu delineou estratégias para lidar com os chamados "alunos-problema". As vozes dos colegas ecoavam frustrações e anseios: "Não consigo lidar com a turma tal", "Aquele aluno é impossível". Observei como alguns professores, num lampejo de esperança, guardavam seus bombons para oferecer aos alunos difíceis, numa tentativa quase desesperada de conquistá-los.

Esta tática do "vale-tudo pedagógico" me pareceu, por um instante, um tanto ridícula. Mas quem sou eu para julgar? Afinal, outros optavam pela técnica oposta: a famosa "cara amarrada", evitando sorrisos e demonstrações de afeto, temendo que qualquer aproximação fosse confundida com permissividade.

O medo, esse velho conhecido dos professores, nos fazia criar barreiras invisíveis entre nós e os alunos, tudo em nome de uma suposta ordem e um respeito que, no fundo, sabíamos ser frágil como um castelo de areia. Essa distância emocional, uma faca de dois gumes, tanto podia evitar perturbações quanto dificultar a verdadeira comunicação e o aprendizado.

Quando as estratégias falhavam, a frase inevitável ecoava: "A culpa é do professor". Neste momento, percebi o embate silencioso entre contratados temporários e efetivos. Acusações veladas e olhares de desconfiança permeavam o ambiente. Os novatos, em seu zelo exagerado, esqueciam-se de que todos éramos, de certa forma, aprendizes numa jornada sem fim.

Lembrei-me então de uma velha máxima: especialista é aquele que já errou em todos os pontos de sua função. Era um lembrete humilde de que o aprendizado vem, muitas vezes, através dos tropeços. Mas de quem pretendíamos aprender se nos fechávamos para o novo, se nos escondíamos dos alunos na hora do recreio?

Refletindo sobre esses momentos, percebi a importância de um equilíbrio entre autoridade e empatia. A verdadeira virtude na educação vem da compreensão profunda das necessidades e desafios dos alunos, e da capacidade de adaptar-se, de ser flexível e humano.

Ao final daquele dia, voltei para casa com o gosto agridoce da realidade escolar. Os bombons em meu bolso pesavam como as responsabilidades que carregava. Percebi que cada recomeço é uma oportunidade de reinvenção, de quebrar as barreiras que nós mesmos criamos.

Talvez a verdadeira doçura da educação não esteja nos bombons ou nas estratégias mirabolantes, mas na coragem de sermos vulneráveis, de aprendermos com nossos erros e, acima de tudo, de mantermos nossos corações abertos para aqueles que viemos ensinar.

A escola, afinal, é um microcosmo da vida, onde erros e acertos se entrelaçam numa dança contínua de crescimento. E assim, no vale-tudo da educação, vamos aprendendo, cada um a seu modo, a ser melhores do que fomos ontem. Neste recomeço, carregamos dentro de nós um pouco de professor e um pouco de aluno, prontos para mais um semestre de desafios e descobertas.

Questões Discursivas de Sociologia - Ensino Médio

Texto: O recomeço: reflexões sobre a docência na volta às aulas

Questão 1:

De que forma as relações de poder e as dinâmicas de hierarquia se manifestam no ambiente escolar descrito no texto?

Questão 2:

Com base na reflexão do autor sobre a importância da empatia e da humildade na docência, como a sociologia pode contribuir para a formação de professores mais conscientes e reflexivos?

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