"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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domingo, 9 de junho de 2019

A Ilusão da Bondade ("Maldade maternal existe, mães matam, mães destroem, mães não estão acima de tudo em um pedestal, elas agridem, machucam e causam feridas que aumentam cada dia mais com o tempo!" — Renata libereco)



Crônica


A Ilusão da Bondade ("Maldade maternal existe, mães matam, mães destroem, mães não estão acima de tudo em um pedestal, elas agridem, machucam e causam feridas que aumentam cada dia mais com o tempo!" — Renata libereco)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sala de aula, um microcosmo do mundo, sempre me fascinou. Nela, a cada dia, somos testemunhas de pequenas revoluções, de descobertas e de frustrações. Mas, ultimamente, uma inquietação me assombra: a educação parece ter se desviado do seu caminho original.

Lembro-me dos meus primeiros anos como professor, quando a sala de aula era um palco onde a paixão pela aprendizagem era contagiante. Os alunos, ávidos por conhecimento, me olhavam com olhos brilhantes, ansiosos por desvendar os mistérios do mundo. Hoje, vejo em seus olhares um certo vazio, uma expectativa de que o aprendizado caia do céu, como uma dádiva divina.

A bondade, essa virtude tão exaltada, tornou-se uma moeda de troca. A ideia de que o amor incondicional é a única ferramenta para educar ganhou força, mas, paradoxalmente, gerou uma geração de alunos que, por vezes, parecem não compreender o valor do esforço e da dedicação. A escola, em vez de ser um ambiente que desafia e estimula, transformou-se em um espaço onde a aprovação é garantida, independentemente do desempenho.

É como se tivéssemos criado uma geração de príncipes e princesas, acostumados a receber tudo sem esforço. A recompensa, antes conquistada com suor e dedicação, tornou-se um direito adquirido. E a culpa por essa situação? É atribuída a todos, menos aos próprios alunos.

A cada reunião pedagógica, a conversa gira em torno de como facilitar a vida dos alunos, como garantir que todos sejam aprovados. A didática, a avaliação, tudo é adaptado para garantir o sucesso, mesmo que isso signifique comprometer a qualidade do ensino. Afinal, quem somos nós para negar o direito de um aluno a uma boa nota?

Mas, será que estamos realmente fazendo um favor aos nossos alunos? Ao facilitar demais o caminho, estamos, na verdade, os preparando para um futuro onde a frustração será inevitável. A vida não é um mar de rosas, e o sucesso é fruto do trabalho árduo e da persistência. Ao criar uma geração de alunos acostumados a receber tudo de mão beijada, estamos os tornando vulneráveis às adversidades.

A educação, para mim, nunca foi sobre notas ou aprovações. É sobre despertar a curiosidade, estimular o pensamento crítico e formar cidadãos responsáveis. É sobre mostrar aos nossos alunos que o conhecimento é uma ferramenta poderosa, que pode transformar suas vidas e a vida daqueles ao seu redor.

É preciso coragem para dizer não, para exigir mais dos nossos alunos. É preciso ter a humildade de reconhecer que nem sempre temos as respostas e que o aprendizado é um processo contínuo. E, acima de tudo, é preciso acreditar no potencial de cada um, mesmo quando as dificuldades parecem insuperáveis.

Ao final de cada dia, reflito sobre a minha missão como professor. E percebo que, apesar dos desafios, minha paixão pela educação permanece intacta. Sei que estou fazendo a diferença na vida de cada um dos meus alunos, mesmo que essa diferença não seja visível a todos. A verdadeira recompensa não está nos aplausos ou nos elogios, mas na certeza de que plantei uma semente que um dia poderá florescer.

A educação é um ato de amor, mas um amor exigente, que desafia e transforma. E é nesse desafio que encontramos a verdadeira essência da aprendizagem.

Com base na crônica apresentada, que reflete sobre a transformação da educação ao longo do tempo, proponho as seguintes questões para estimular a reflexão dos alunos:

1. Qual a principal crítica do autor em relação à educação atual?

Essa pergunta direciona o aluno a identificar a principal insatisfação do autor com o sistema educacional atual, que parece ter se distanciado do seu propósito original.

2. Como a busca pela aprovação de todos os alunos pode impactar negativamente o aprendizado?

A questão incentiva o aluno a refletir sobre as consequências de um sistema educacional que prioriza a aprovação em detrimento da aprendizagem significativa.

3. Qual a importância do esforço e da dedicação no processo de aprendizagem, segundo o autor?

Essa pergunta estimula o aluno a valorizar o papel do esforço individual no desenvolvimento de cada um.

4. Como a figura do professor é retratada na crônica? Quais os desafios enfrentados por ele na atualidade?

A questão convida o aluno a refletir sobre o papel do professor na sociedade e os desafios que ele enfrenta em um contexto educacional em constante transformação.

5. Qual a mensagem central que o autor busca transmitir com essa crônica?

Essa pergunta incentiva o aluno a sintetizar a ideia principal do texto e a refletir sobre a importância da educação para a formação de cidadãos críticos e conscientes.

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sábado, 1 de junho de 2019

A Teia do Pensamento Humano ("Livros de AUTOAJUDA ajudam, principalmente, a quem os escreve!" — BARBOSA LAGOS)





Crônica

A Teia do Pensamento Humano ("Livros de AUTOAJUDA ajudam, principalmente, a quem os escreve!" — BARBOSA LAGOS)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O pensamento, esse emaranhado de ideias que nos define, não é uma criação exclusivamente nossa, mas sim parte de uma grande teia cósmica que nos precede. "O homem só pensa a partir do que já existe" - esta verdade fundamental nos convida a refletir sobre nossa real contribuição para o universo do conhecimento.

À semelhança do que propõe João Cabral de Melo Neto em "Tecendo a Manhã", onde um galo sozinho não tece uma manhã e precisa de outros galos para formar uma teia de sons, nossos pensamentos são parte de uma construção coletiva. Somos como tecelões que não criam os fios, mas os entrelaçam de maneiras únicas, transformando informações preexistentes em novas configurações.

A história nos mostra que mesmo os grandes pensadores não criaram do nada. Newton, por exemplo, não inventou a gravidade, mas a descreveu a partir do conhecimento acumulado por seus antecessores. Como disse Lavoisier, "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - princípio que se aplica também ao campo das ideias.

Esta perspectiva contradiz a noção moderna de autossuficiência absoluta do pensamento. Não somos deuses criadores, como sugerem alguns discursos de autoajuda, mas participantes de um processo maior. A existência de profetas e videntes, por exemplo, não se deve a um poder sobrenatural de criação, mas à capacidade de perceber eventos que já existem em alguma dimensão.

Descartes propôs "penso, logo existo", mas talvez seja mais preciso dizer "existo, logo penso", pois nossa existência precede e possibilita o pensamento. Somos como esponjas absorvendo o mundo ao nosso redor, e nossa originalidade reside não na criação ex nihilo, mas na forma única como combinamos e recombinamos as ideias existentes.

A verdadeira liberdade não está em nos imaginarmos criadores absolutos, mas em compreender nosso papel como parte de algo maior. Ao reconhecermos a interconexão de todas as coisas, podemos contribuir mais conscientemente para o desenvolvimento do conhecimento humano, como fios individuais em um tecido infinitamente mais vasto que nós mesmos.


5 Questões Discursivas sobre o Texto


1. Qual a principal ideia defendida pelo autor sobre a origem e a natureza do pensamento humano?


2. Como a metáfora da tecelagem utilizada pelo autor ajuda a explicar a relação entre o pensamento individual e o conhecimento coletivo?


3. Qual a crítica do autor à ideia de que o pensamento humano é exclusivamente individual e original?


4. De que forma a história da ciência e da filosofia corrobora a tese defendida pelo autor sobre a natureza do pensamento?


5. Qual a importância de reconhecer a interconexão dos pensamentos e a influência do conhecimento coletivo no desenvolvimento individual?

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sábado, 25 de maio de 2019

O Peso das Rugas na Sala de Aula ("Jovem, não deboche do idoso, porque só com muita sorte você chegará lá!" — Gilberto Martini Refatti)



Crônica

O Peso das Rugas na Sala de Aula ("Jovem, não deboche do idoso, porque só com muita sorte você chegará lá!" — Gilberto Martini Refatti)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sala de aula, outrora palco sagrado de trocas e sabedoria, transformou-se num ringue onde a juventude, munida de sua arrogância temporal, desfere golpes impiedosos contra a experiência. Como professor veterano, sinto diariamente o peso crescente da discriminação etária pairando sobre mim, manifestando-se em olhares, gestos e palavras que ferem mais que críticas construtivas.

"Que nojo", disse uma aluna quando expressei admiração por ela. "Podre!", disparou uma jovem colega professora quando tentei uma aproximação profissional. Palavras simples, mas carregadas de um desprezo que ecoa muito além de seus significados literais. Não sou o único - outros colegas também relatam episódios semelhantes, onde a experiência é desvalorizada e a juventude é equivocadamente exaltada como sinônimo de superioridade.

A sociedade contemporânea, obcecada pela juventude e beleza física, parece ter esquecido o valor dos mais velhos. Os jovens são adorados e protegidos - quanto menor a idade, maior o amparo. Compreendo essa dinâmica, mas garanto: já fui jovem e não desejaria retornar àquela fase. Se pudesse escolher, preferiria manter a experiência que hoje carrego.

Observo seus comportamentos arriscados, como se a morte fosse uma impossibilidade distante, e reflito: poucos alcançarão os 60 anos. Mais importante que isso, poucos compreenderão a diferença crucial entre simplesmente durar e verdadeiramente viver. Para receber o presente da terceira idade, é preciso viver em harmonia com os elementos naturais do universo. Viver lentamente é durar, mas durar sem qualidade não é viver.

Em meio a esse cenário desafiador, encontro conforto em palavras como as de Dona Leila Maria: "Não te acho velho, pelo contrário, te admiro muito. Meu filho te adora, e eu também, meu mestre amigo! Siga em frente e não escuta o que eles falam... levanta a cabeça, você é muito inteligente e culto, parabéns!" São poucos os olhares que conseguem enxergar além das rugas, que compreendem que o essencial do ser humano está em sua contribuição para o mundo.

Como bem observou Dostoiévski, "O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive." A inversão de valores que presenciamos nas escolas e famílias parece resultar de uma recusa ao ideário dos mais velhos, substituindo a sabedoria por futilidades e atalhos vazios.

Não estou aqui para combater a "Idosofobia" - sei que esse preconceito persistirá. Porém, a vergonha que sentem de mim hoje, amanhã sentirão de si mesmos. Como diria Charles Bukowski ao interpretar o mandamento bíblico "Amai ao próximo": "Isso poderia significar algo como: 'Deixe-o em paz.'"

A velhice não é um fim, mas um novo começo - uma oportunidade de olhar para trás e contemplar o construído, enquanto seguimos aprendendo e crescendo. Sigo em frente, cabeça erguida e coração esperançoso, pois sei que as rugas que marcam meu rosto não são símbolos de obsolescência, mas mapas das experiências que me trouxeram até aqui.


5 Questões Discursivas sobre o Texto


1. Qual a principal crítica do autor em relação à forma como a sociedade contemporânea enxerga e trata os idosos?


2. Como a valorização excessiva da juventude e da beleza física impacta a forma como as pessoas envelhecem e são vistas?


3. Qual a importância da experiência dos mais velhos para a sociedade e como ela é desvalorizada no contexto atual?


4. De que forma a educação pode contribuir para mudar a percepção sobre a velhice e promover o respeito aos mais velhos?


5. Como a busca por experiências imediatas e a valorização de uma vida rápida podem comprometer a qualidade de vida e a longevidade?

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domingo, 19 de maio de 2019

Entre Smartphones e Desrespeito: O Desafio de Ensinar Hoje ("Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca." Oswaldo Montenegro)


sábado, 18 de maio de 2019

ADVERSIDADE LABORAL ("Muitos conseguem suportar a adversidade, mas poucos toleram o desprezo". — Thomas Fuller)



Crônica

ADVERSIDADE LABORAL ("Muitos conseguem suportar a adversidade, mas poucos toleram o desprezo". — Thomas Fuller)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em uma manhã outonal, enquanto folhas amareladas dançavam pelo pátio escolar, eu caminhava com minha pasta repleta de redações e o coração transbordando expectativas. Nem mesmo vinte anos lecionando Língua Portuguesa haviam diminuído meu entusiasmo pela arte das palavras. O corredor que levava à sala dos professores, embora fosse um campo minado de olhares e sussurros, não me impediu de prosseguir com aquela coleção de poemas dos alunos.

A proposta era simples: escrever poemas sobre amor. Em minha ingenuidade, esperava encontrar versos que ecoassem a profundidade de Santo Agostinho ou a genialidade de Fernando Pessoa. O que recebi, no entanto, foram frases soltas, sem métrica, sentimento ou qualquer vestígio de dedicação ao ofício poético. Como aceitar que um poema se resumisse a uma receita sem sabor, a uma repetição de frases rasas, desprovidas de vontade e esforço?

Foi na sala dos professores que cometi o que hoje considero meu erro mais doloroso: compartilhei minha frustração e algumas das produções dos alunos. A reação dos colegas assemelhou-se a um vendaval que arranca flores recém-plantadas. "Aceita como está", diziam uns. "É o que eles conseguem fazer, afinal, é o que pensam!", provocavam outros. Um burburinho tomou conta do ambiente, sugerindo que minhas expectativas e exigências eram excessivas.

As paredes da escola, outrora acolhedoras, começaram a ecoar histórias de traição. Descobri que alguns colegas incentivavam alunos a gravar minhas aulas, buscando deslizes como garimpeiros à procura de diamantes. Uma aluna, visivelmente instruída por terceiros, chegou a questionar minha formação acadêmica com um sorriso malicioso - pergunta que jamais surgiria espontaneamente.

A coordenação e direção, sempre à espreita nas portas das salas, pareciam mais empenhadas em apontar falhas dos professores do que em construir um ambiente propício ao aprendizado. O sistema educacional havia se transformado em uma fábrica de aprovações automáticas, onde buscar a excelência era visto como algo antiquado e excêntrico.

Penso em Fernando Pessoa, esse fingidor genial, e questiono: quantas vezes ele precisou transformar em verdade a dor que sentia ao criar? Refletindo sobre as palavras de Thomas Edison, compreendo que a genialidade nasce da resistência, da teimosia e, sobretudo, da paixão pelo que vale a pena. Talvez meu erro não esteja em exigir qualidade, mas em esperar que outros compartilhem dessa busca pela excelência.

Como ensinou Chico Xavier, às vezes a verdade pode ferir mais que uma doce mentira, mas é através dela que edificamos bases sólidas para o futuro. A arte de ensinar, assim como a poesia, demanda coragem - coragem para manter padrões elevados em um mundo que celebra a mediocridade, coragem para persistir quando todos ao redor parecem ter desistido.

Diante disso, como professor, vejo-me entre dois caminhos: conformar-me com o pouco ou persistir em acreditar no muito. Escolho resistir e não baixar meus padrões, transformando cada poema malescrito em oportunidade de ensino, cada crítica em força para minhas convicções. Afinal, não são as notas altas ou aprovações fáceis que transformarão a vida dos alunos, mas aquele momento singular em que descobrem sua capacidade de superação.

Assim, persisto em plantar sementes de excelência, mesmo em solo aparentemente infértil, alimentando a esperança de que um dia, um aluno me surpreenderá com um poema que diga tudo sem dizer nada - e então, o mundo transcenderá os limites da escola.


Com base na profunda reflexão do autor sobre o ensino e a busca pela excelência, proponho as seguintes questões para estimular um debate rico e crítico:


Qual a principal crítica do autor ao ambiente escolar atual?

Essa questão direciona os alunos a identificar os pontos centrais da insatisfação do professor com a educação.


Como as expectativas do professor em relação aos poemas dos alunos colidiram com a realidade da sala de aula?

A pergunta incentiva os alunos a refletir sobre a importância das expectativas e como elas podem influenciar o processo de ensino-aprendizagem.


Qual o papel da escola na formação de indivíduos críticos e criativos?

Essa questão leva os alunos a considerar a função da educação na sociedade e os valores que devem ser transmitidos.


Como a busca pela excelência pode ser conciliada com a necessidade de acolher as diferenças individuais dos alunos?

A pergunta incentiva os alunos a pensar sobre como equilibrar a exigência de qualidade com a valorização da diversidade.


Quais os desafios para construir uma educação que valorize a criatividade e a originalidade dos alunos?

Essa questão abre espaço para uma discussão mais ampla sobre os obstáculos que impedem a construção de uma educação mais significativa.


Observações:

Abordagem interdisciplinar: As questões incentivam os alunos a relacionar os conceitos sociológicos com conhecimentos de outras áreas, como literatura, psicologia e filosofia.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões sobre o tema.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como educação, criatividade, excelência e o papel do professor na sociedade.

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