GER(ASCO)FOBIA ( Eu "nonada" de mim mesmo)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Eu tinha uma aluna, a qual era sorridente e feliz, dada com todos e especialmente comigo, até o dia quando, por acaso, ali na rua mesmo, ela me apresentara à sua mãe, nem sei quais foram as orientações daquela mãe, nem se falaram a meu respeito, mas, depois disso, a mocinha mudou completamente o seu comportamento perante mim, se protegendo, depois disso mal olhava na minha direção. Esse comportamento, de forma alguma, preocupava-me tanto, pois não precisava da simpatia dela a fim de viver melhor, apenas me importava o fato de ainda está sendo o professor dela e bem intencionado. Que contribuição aquela mãe dava para a formação de sua filha? Pais insatisfeitos, além de nunca ajudarem, atrapalham! Será se ela iria se interessar por aprender de um professor desmoralizado e mal afamado?
Mesmo assim, depois daquilo, todos os dia ainda passava por aquela rua, na direção do colégio, e ela, às vezes, acompanhada de sua mãe nem sequer, os cumprimentos da formalidade. O "leproso" estava passando! Só os velhos gostam dos velhos, por que vão perdendo juntamente e, por igual, o gosto por tudo, e, por outro lado, vão gostando mais do nada até chegar ao desprezo de si mesmo. Sobremaneira, perdendo o medo da fraqueza, das doenças e, por fim, da morte, tornam-se insensíveis. Se Deus não tem sentimentos, eu diria que velhos não voltam a ser crianças, mas sim a ser deuses. Ou melhor, Deus seria injusto demais se não nos preparasse para o retorno ao pó. Até nossos inimigos ele carrega antes para morrermos em paz.
Os jovens devem ser ensinados a amar e respeitar os idosos, não falo pejorativamente, porque hoje existe tanto mal, mas falo, sim, de responsabilidade social, isto é cidadania. Aquela mãe, com a idade que tinha e as deficiências físicas que lhe aguardavam em breve, haveria ELA DE esperar a simpatia da filha, os futuros cuidados, sendo, desde criança, treinada a se proteger dos asquerosos?
Só supera as consequências negativas da velhice a (des)graça do ser pobre! Assevero ser difícil admitir sobre o fato de qualquer idiota jovem se impõe melhor que eu, na vizinhança. As rugas de minha cara, marcas das expressões de quando eu era feliz e não sabia, sabem muito bem arruinar meu argumento e a gabarolice de quando, um dia, fui herói. Qual a garantia do vinho novo em odre velho? Meu espírito é promissor, mas o corpo fuçado jamais ajuda.
Algo ainda me mantém vivo, são as conversas a meu respeito, embora na tentativa de me desvirtuar e denegrir, porque enquanto se protegem de mim, consideram-me pelo menos um perigo, e eu me iludo que de fato sou assustador! Estimulem-mo de alguma forma, desafiando os meus sentidos perceptores dos prazeres da juventude, já tão desbotados assim. Acostumado ao desprezo, ainda sofro, porque também o meu espelho me nega o amor devido, de algum jeito, pois insiste em dizer-me que não sou nem um perigo a ninguém, nem nada. E cada dia, defino-me melhor com um termo de João Guimarães Rosa: Eu "nonada" de mim mesmo.
Claudeko
Enviado por Claudeko em 09/12/2011
Reeditado em 05/02/2012
Código do texto: T3380588
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