Outubro chegou sorrateiramente, trazendo consigo uma mistura agridoce de emoções. As festividades antecipadas do Dia dos Professores encheram os corredores da escola com risos e o aroma tentador de quitutes deliciosos. Enquanto mordo um pedaço de bolo, sinto o gosto doce da alegria momentânea se misturando com o amargor da ansiedade que se aproxima. É nesse instante que percebo: sou um professor vivendo numa montanha-russa emocional, num universo à parte onde dramas e comédias se desenrolam diariamente.
Os momentos festivos na escola são como fogos de artifício - brilhantes, barulhentos e efêmeros. Neles, as responsabilidades cotidianas parecem se dissipar como fumaça no ar, dando lugar a uma sensação reconfortante de bem-estar. Observo meus colegas rindo descontraidamente e me pergunto: por que ainda morremos de estresse? A resposta, infelizmente, não tarda a chegar.
Como um pêndulo implacável, a rotina escolar oscila entre extremos. A alegria das celebrações logo dá lugar à tensão do fechamento do bimestre. Outubro não é apenas o mês de homenagens, mas também o período em que nossa profissão se transforma numa delicada dança sobre a corda bamba da avaliação. Cada nota atribuída é um peso sobre nossos ombros, cada conceito uma responsabilidade que pode desencadear acusações de injustiça.
Nessas horas, sinto-me como um equilibrista malabarista, tentando jogar entre a objetividade profissional e a empatia humana. O diário eletrônico (SIAP), meu algoz noturno, pisca incessantemente na tela do computador, lembrando-me que o sono é um luxo que não posso me dar ao luxo de ter. A única saída é abandonar a vaidade e deixar que minha humilde competência fale por si.
Em meio a esse turbilhão, percebo-me numa encruzilhada existencial. De um lado, a insatisfação com as dificuldades da profissão; do outro, uma teimosia esperançosa que insiste em acreditar na nobreza do ofício. É uma dicotomia que me consome, mas que também me impulsiona. Após a pandemia, sinto que estou passando por uma revolução emocional, onde a privacidade se reconfigura e a alegria compartilhada se torna mais valiosa que o distanciamento social.
Às vezes, pego-me sonhando com as férias como um náufrago imaginando terra firme. Planejo viagens, visualizo novos horizontes, busco inspiração além dos muros da escola. É esse vislumbre de liberdade que me mantém são, que me faz levantar todas as manhãs e enfrentar mais um dia de batalha.
Reconheço em mim o estereótipo do professor bipolar: ora exuberante e falante, ora retraído e frustrado. Falo alto, opino sobre tudo (mesmo quando não deveria), e por vezes me pego corrigindo detalhes irrelevantes nas falas alheias. É um comportamento que oscila entre o cômico e o trágico, um reflexo das pressões e expectativas que carregamos.
Ao final do dia, exausto e reflexivo, lembro-me das palavras sábias: "Os sentimentos do coração humano, tanto a tristeza quanto a alegria, só são conhecidos por quem sente". Ninguém além de nós, professores, pode realmente compreender a complexidade emocional de nossa jornada.
E assim, entre bolos e diários, risos e tensões, sigo em frente nesta montanha-russa particular que é a vida escolar. A cada subida íngreme de desafios, aguardo ansiosamente a descida vertiginosa das realizações. Porque, no fim das contas, é essa mistura de emoções que dá sabor à nossa profissão e nos lembra, diariamente, que estamos vivos e fazendo a diferença, um aluno de cada vez. Somos, antes de tudo, eternos aprendizes da vida, equilibrando-nos entre as sombras e as luzes do magistério, sempre na esperança de dias melhores.
Questões Discursivas:
1. O texto apresenta uma metáfora interessante ao comparar a vida de um professor a uma montanha-russa emocional. De que forma essa metáfora contribui para a compreensão dos desafios e recompensas da profissão docente?
2. O autor descreve um momento de crise existencial em que questiona a sua própria vocação para o magistério. Como ele supera essa crise e encontra novos motivos para continuar atuando como professor?