Por Claudeci Ferreira de Andrade
A noite de domingo começou como qualquer outra, tranquila, com a serenidade típica do crepúsculo. No entanto, assim que as primeiras gotas de chuva começaram a cair, uma brisa úmida trouxe à minha mente a imagem de Jéssica, a musa que habita os recantos mais profundos dos meus pensamentos. "Por que não se aquieta por lá?" me perguntei, como se ela pudesse ouvir minha voz ecoando na escuridão. O que estaria fazendo em meus sonhos? Ao meu redor, tudo parecia terminar em um nada ensurdecedor, um vazio que enchia minha cabeça de reflexões. Assim, as palavras de Florbela Espanca surgiram, envolvendo-me em sua melancolia: "Gosto da noite imensa, triste, preta, como esta estranha borboleta que eu sinto sempre a voltejar em mim..."
Com a escuridão, surgem também os desafios internos. Percebo que não estou preparado para enfrentar os fantasmas que habitam meu ser. Um olhar amigo seria tudo que eu desejava, alguém que visse as virtudes ocultas em mim. No entanto, Jéssica é como um espeço distante, generosa apenas em sonhos. Sua presença é um bálsamo e, ao mesmo tempo, uma ferida que nunca cicatriza. Se me isolo, sou forçado a ouvir meus próprios pensamentos, que muitas vezes sussurram em tom de desespero. Ser menos reativo poderia ser uma estratégia, talvez assim não a assuste, mas a presença de alguém sempre me faz melhor, mesmo que seja apenas um eco de suas lembranças.
Com o amanhecer de uma nova segunda-feira, encontro-me em férias, com tempo em excesso e pensamentos que divagam sobre meu amor platônico por Jéssica, a figura mitológica que povoa meus sonhos. Eu a tenho em minha mente, e, se puder, aconselho que você também crie uma Jéssica em seus próprios devaneios. Essa construção mental nos protege das investidas de rivais, permitindo-nos manter a esperança viva, porque essa é a última a morrer. É um exercício curioso: organizar as memórias dessa viagem fantasiosa, repleta de obstáculos que só existem em nossa imaginação.
No entanto, sei que resistir a essas dificuldades é fundamental. Prefiro a morte a esquecer Jéssica! Mas, por outro lado, não posso deixar que minhas emoções se tornem o leme do meu barco. Estou ciente da minha subjetividade, mas a dor de saber que o que sinto é verdadeiro é um fardo que carrego com pesar. As opiniões alheias, que me rotulam de doido, não me atingem; o que importa é que minha sinceridade ressoe nas palavras que escrevo.
Jéssica, minha amada platônica, aceite meu estado físico. Mesmo quando minto, as palavras que saem de meus lábios não podem ocultar a verdade do meu coração. Essa figura impossível transforma minhas noites em um turbilhão de ressentimentos e frustrações, e me sinto prisioneiro de uma síndrome pós-traumática causada por uma vida que parece sonegar tudo que é bom. Os saudáveis sempre dizem que, quando se trata de amor, não se manda no coração. Mas prefiro acreditar que "a boca fala do que o coração está cheio".
Então, questiono-me: de que material é feito o seu coração, Jéssica? Se o orgulho a domina e você planeja causar dor a alguém, é hora de refletir e arrepender-se. Afinal, o amor, em sua essência mais pura, não é um jogo de poder, mas uma dança delicada de almas que se encontram em meio ao caos da vida. Assim, convido você a enxergar além das aparências, a entender que o amor não é apenas uma questão de pele, mas de essência, de corações que se entrelaçam na imensidão da noite.
Questões para Discussão:
A idealização de Jéssica é uma fuga da realidade ou uma forma de lidar com a solidão?
Essa questão leva os alunos a refletirem sobre a construção de ideais e a importância de lidar com as expectativas em relação aos relacionamentos.
Qual o papel da linguagem na construção da identidade do narrador?
A pergunta incentiva a reflexão sobre a relação entre linguagem e pensamento, e como as palavras podem moldar nossa percepção de nós mesmos e do mundo.
A dor do amor não correspondido é um tema universal. Como diferentes pessoas lidam com essa experiência?
Essa questão permite explorar as diversas formas de lidar com a rejeição e o sofrimento amoroso, e como a cultura e a individualidade influenciam essas experiências.
O narrador questiona a autenticidade de seus sentimentos. Até que ponto é possível separar a realidade da fantasia em um relacionamento amoroso?
A pergunta convida a uma reflexão sobre a natureza do amor e a importância de distinguir entre sentimentos genuínos e projeções.
Qual o papel da sociedade na construção de ideais românticos? Como os meios de comunicação e a cultura popular influenciam nossas expectativas sobre o amor?
Essa questão permite explorar a influência da cultura e dos meios de comunicação na construção de ideais românticos e como esses ideais podem afetar nossas relações interpessoais.