"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 12 de novembro de 2022

AGORA, MINHA DENÚNCIA: Zumbis na Sala de Aula ("Um homem não denuncia o outro se não sentir raiva, mas uma mulher faz isso simplesmente por fazer." — Daniela Godoi)

 


AGORA, MINHA DENÚNCIA: Zumbis na Sala de Aula ("Um homem não denuncia o outro se não sentir raiva, mas uma mulher faz isso simplesmente por fazer." — Daniela Godoi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Alunos forçados a ocupar salas de aula lotadas acabam se comportando como zumbis — mortos-vivos que nos mordem de inveja, consomem tudo gratuitamente e perseguem gente “normal” porque desejam arrastar-nos para o inferno deles. Hoje, fui mordido por um desses indivíduos educados. Sofri tanto que agradeci pelo fim do dia, ignorando o amanhecer lindo e o sol que iluminava a todos. Valorizei a simples passagem da tarde, não o pôr do sol; dele, não tirei benefício algum. Restou-me apenas a certeza amarga de estar mais velho e acabado, por dentro e por fora. E a pergunta que me tortura: se não prestam atenção em minha aula, como conseguem ouvir os meus erros para me torturar com eles?

Vivemos uma época que parece um castigo divino aos deuses concursados. As experiências são desagradáveis, pouco proveitosas, e ainda sou obrigado a falar através de uma máscara — essa focinheira imposta por políticos sedentos de poder nos quais não votei. Respiro mal: CO₂ saindo e voltando para dentro, como uma adenóide do Capiroto. Meu cérebro trabalha pela metade; talvez eu mesmo esteja me “emzumbizando”. E, por isso, começo a entender por que tantas crianças e adolescentes não querem estudar: a cabeça dói de tanto respirar poluição e confusão.

Às vezes, imagino que são eles, e não nós, os verdadeiros sábios da história — criaturas das quais deveríamos aprender algo, porque a alienação parece torná-los felizes. Caem e nem sabem onde tropeçaram. A cegueira branca ainda não me consumiu por completo, mas já consigo enxergar um horizonte escurecido. Queria não ver o que me aflige, para não sentir tanta raiva dos zumbis que me rodeiam. Ao menos, são distintos daqueles que se julgam moralmente superiores. Quem ousaria chamar de burro alguém que vive livre da sopa de letras e do cabresto dos letrados?

Quem não nasceu para estudar que levante a mão! Ah, nem precisa — são exatamente esses que corrigem indevidamente seus professores com crueldade, como se vingassem a dor da própria ignorância. E eu? Não tenho culpa. Não inventei nada disso. Sou apenas uma peça desajustada nesse grande mecanismo falho. No fim das contas, também sou vítima da sociedade.


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Como seu professor de Sociologia, o texto que lemos é uma crônica de desabafo que utiliza metáforas extremas, como a dos "zumbis", para expressar a crise na educação, o sofrimento docente e a alienação. Preparei cinco questões discursivas simples que exploram essa crise sob a ótica da Sociologia da Educação, das relações de poder e do conflito de classes.


1. A Metáfora dos "Zumbis" e a Alienação em Sala de Aula

O professor descreve os alunos indisciplinados como "zumbis — mortos-vivos" que consomem tudo "gratuitamente" e são movidos por "inveja". Utilize o conceito de Alienação (Marx, ou Durkheim) para analisar o significado dessa metáfora. De que forma a descrição dos alunos como seres passivos e "mortos-vivos" reflete a percepção do professor sobre a falta de engajamento e o sentimento de inutilidade do próprio processo de ensino-aprendizagem na sociedade atual?

2. O Conflito de Classes e a "Vingança da Ignorância"

O narrador associa a crueldade dos alunos que corrigem o professor com uma "vingança da dor da própria ignorância" e afirma que eles são "distintos daqueles que se julgam moralmente superiores". Discuta a relação entre estrutura social, acesso ao conhecimento e conflito em sala de aula. Como a indisciplina e a hostilidade podem ser interpretadas como uma expressão de ressentimento ou revolta contra um sistema escolar que é percebido como elitista ou que não atende às necessidades de todas as classes sociais?

3. A "Focinheira" e o Poder Político sobre a Educação

O professor manifesta raiva por ser obrigado a usar a máscara, chamando-a de "focinheira imposta por políticos sedentos de poder", e sente que seu cérebro "trabalha pela metade". Analise essa crítica em relação ao Poder (Foucault) e à Autonomia Docente. De que forma as políticas públicas de saúde ou segurança (como o uso de máscara) são percebidas pelo professor como uma imposição externa que limita sua performance pedagógica e sua liberdade, gerando um sentimento de opressão política no ambiente de trabalho?

4. O Professor como Vítima e o Determinismo Social

O texto conclui com o professor se vendo como "apenas uma peça desajustada nesse grande mecanismo falho" e "vítima da sociedade". Discuta o conceito de Determinismo Social. De que forma o professor utiliza essa visão de si mesmo como "vítima" para justificar sua impotência diante dos problemas escolares e sociais, e o que essa conclusão revela sobre a crise de agência (capacidade de ação individual) na visão do narrador?

5. Alienação versus Sabedoria

O narrador, em um momento de ironia, sugere que os alunos alienados podem ser os "verdadeiros sábios da história" por viverem "livre[s] da sopa de letras e do cabresto dos letrados" e parecem "felizes". Relacione essa ironia com a crítica à sociedade letrada e ao conhecimento formal. O que o professor tenta questionar ao valorizar uma "cegueira branca" ou uma "alienação" que, paradoxalmente, oferecem uma aparente felicidade e liberdade em comparação com a dor e a frustração sentidas pelo indivíduo letrado e consciente?

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DESCONFIE DOS VIRTUOSOS ("De nada adianta a liberdade se não temos liberdade de errar." — Mahatma Gandhi)

 


DESCONFIE DOS VIRTUOSOS ("De nada adianta a liberdade se não temos liberdade de errar." — Mahatma Gandhi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Por que devo confiar nos filósofos de antigamente, muitos deles sem diplomas formais e ainda cultuados por admiradores “démodé”? Talvez o conselho bíblico faça sentido: "Examinai tudo. Retende o bem." (1 Tessalonicenses 5:21). O conhecimento humano se renova nesse fluxo contínuo de ideias que atravessam épocas, passando de cabeça em cabeça, de boca em boca. Assim, o passado se depura em suas próprias impurezas até restar apenas o cerne — não sem antes exigir o difícil equilíbrio entre os excessos. No fundo, a harmonia não é um estado definitivo, mas um movimento ritmado; quando o pêndulo se imobiliza, a estagnação se impõe.

Nesse mesmo ritmo, os excessos — de sobra ou de falta — funcionam como combustível da transformação. Cada erro abre espaço para novas tentativas, pois a resolução de uma falha inicial costuma ser o convite para continuar afinando o próprio caminho. Como nos jogos de azar, em que o dinheiro se vai, mas as experiências permanecem, a vida também se organiza em ciclos de ganhos e perdas. Há momentos de conquista e, inevitavelmente, momentos de queda. O valor reside na ousadia da tentativa, que sustenta a persistência: dói menos a frustração de errar do que a vergonha de jamais ter tentado. Paradoxalmente, só reconhecemos o acerto depois de medir as consequências; muitas vezes precisamos repetir o erro para confirmar que, de fato, era erro.

Essa dinâmica revela que, quanto mais leis criamos, mais transgressões surgem. A frase de Raul Seixas ressoa com precisão nesse cenário: "Só há amor quando não existe nenhuma autoridade." Talvez por isso seja mais fácil compreender aqueles que desafiam normas; no fundo, estão testando limites para aprender a lidar com a própria liberdade. São aprendizes que, ainda que se sintam mal amados, praticam no cotidiano o sentido das regras, vivendo a tensão constante entre obediência e autonomia.

No fim, compreender esse movimento — entre tradição e renovação, acerto e falha, ordem e rebeldia — é reconhecer que a vida pulsa justamente na oscilação do pêndulo. Nada permanece intacto, e é nesse vai e vem que amadurecemos. Examinamos, retemos o bem, descartamos o que não serve e seguimos adiante, conscientes de que o equilíbrio não é uma parada, mas um percurso em contínua construção.

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Como seu professor de Sociologia, o texto que acabamos de ler nos convida a refletir sobre a renovação do conhecimento, o equilíbrio entre ordem e excesso, e o papel da tentativa e erro no amadurecimento individual e social. Preparei cinco questões discursivas simples que exploram esses conceitos à luz da Sociologia e da Filosofia. Lembrem-se de fundamentar suas respostas nas ideias e metáforas do texto.

1. Tradição, Renovação e o Pêndulo do Conhecimento

O texto questiona a validade de confiar em filósofos antigos e sugere que o conhecimento humano se renova em um "fluxo contínuo de ideias", onde o passado se "depura em suas próprias impurezas". Essa dinâmica é comparada a um "movimento ritmado" de um pêndulo. Explique a metáfora do pêndulo aplicada ao conhecimento e à cultura. Discuta como a tradição (o que é herdado dos filósofos antigos) é simultaneamente desafiada e utilizada como base para a renovação de ideias na sociedade.

2. Excesso, Equilíbrio e Mudança Social

O texto argumenta que os excessos – de sobra ou de falta – funcionam como "combustível da transformação" e que a harmonia não é um estado definitivo, mas um movimento. Em termos de mudança social, como os desequilíbrios (os "excessos") podem ser considerados motores para a evolução, tanto no nível individual (aprendizado) quanto no nível coletivo (superação de falhas)? Qual o risco social implícito na "estagnação" (imobilização do pêndulo)?

3. Falha, Tentativa e Persistência

A falha e a perda são ressignificadas no texto: "dói menos a frustração de errar do que a vergonha de jamais ter tentado", e "muitas vezes precisamos repetir o erro para confirmar que, de fato, era erro". Analise essa visão à luz da ética da persistência e da experiência. Por que o reconhecimento do erro e a ousadia da tentativa são considerados elementos centrais para o aprendizado e para a sustentação da trajetória individual na vida social?

4. Ordem, Transgressão e Liberdade

O texto estabelece uma relação paradoxal: "quanto mais leis criamos, mais transgressões surgem", e cita Raul Seixas: "Só há amor quando não existe nenhuma autoridade." Essa dinâmica é associada ao teste de limites para o exercício da liberdade. Discuta a relação sociológica entre norma (lei), transgressão e liberdade individual. Por que o ato de desafiar normas pode ser interpretado como um aprendizado prático do "sentido das regras" e da busca pela autonomia?

5. O Mandato da Avaliação Crítica

O texto valida o conselho bíblico: "Examinai tudo. Retende o bem." (1 Tessalonicenses 5:21) como um princípio para a renovação do conhecimento. Explique o que o texto entende por "Examinai tudo. Retende o bem" no contexto da aquisição de conhecimento e do amadurecimento. Como essa postura de avaliação crítica e seletividade permite ao indivíduo lidar com a tensão entre tradição e renovação na sociedade?

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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

MEU REFÚGIO É OUTRO HOSPÍCIO: Recuso à Polarização e Apelo à Ética ("O inferno é um hospício de incuráveis." — Machado de Assis)

 


MEU REFÚGIO É OUTRO HOSPÍCIO: Recuso à Polarização e Apelo à Ética 

("O inferno é um hospício de incuráveis." — Machado de Assis)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Carrego comigo o peso de rótulos como “machista” ou “homofóbico”, atribuídos não por minhas ações, mas por ser simplesmente heterossexual — uma floculação automática que se tornou comum. A injustiça dessa acusação incomoda, sobretudo porque muitos a utilizam como arma política, da mesma forma que fazem com figuras públicas que lhes desagradam. Nunca perturbei ninguém com acusações, tampouco compactuo com qualquer forma de violência. O que me intriga é por que aqueles que se declaram “politicamente corretos” sentem-se autorizados a impor sua modernidade forçada, perturbando meu convívio e produzindo prejuízos sociais, como se lhes coubesse decidir quem merece reprovação ou absolvição.

Esses antagonismos fabricados criam um ambiente doentio: afinal, quem dinamita mais a convivência — o “homofobiado” ou o “homofobiador”, a feminista ou o machista? Em vez de alimentar esse embate artificial, o que deveria prevalecer são valores universais como ética, respeito e moralidade. A sociedade parece ter esquecido esses fundamentos, substituindo-os por disputas identitárias que desestabilizam qualquer mente lúcida dentro dessas “Pandemias conjugadas e compostas”. Entre acusações que se acumulam e polarizações que se aprofundam, o convívio humano transforma-se em um campo minado, onde qualquer passo pode levar ao mal-entendido, à hostilidade ou ao julgamento precipitado.

Diante dessa realidade corrosiva, recuso-me a atravessar o “Rubicon”, metáfora de um limite que, uma vez ultrapassado, transforma o indivíduo — e do qual não se retorna incólume. Atravessar tal fronteira seria aceitar um jogo sem regras, onde novos “Rubicons” surgiriam continuamente, cada qual empurrando a consciência para mais longe da sobriedade. O alerta de Marta Felipe ecoa com precisão: “Depois da recaída fica a lástima de entrar em rua sem saída.” Assim como Lulu Bergantim, que intuía que “O Curralzinho Novo sempre foi outro hospício provisório”, reconheço que certos caminhos não conduzem à liberdade, mas a labirintos onde a razão se perde.

Preservar minha integridade diante desse cenário é, portanto, um ato deliberado de resistência. Prefiro recuar — não por medo, mas por prudência — e manter-me fiel aos princípios que ainda considero sólidos. Em vez de responder à violência simbólica com mais violência, escolho a lucidez crítica. Em vez de aderir ao hospício social que tenta engolir todos em seu caos, opto por permanecer do lado de fora, ainda que isso signifique suportar rótulos injustos. Afinal, como antecipou Machado de Assis, “O inferno é um hospício de incuráveis.” Minha recusa é justamente a tentativa de não me tornar mais um deles.


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Como seu professor de Sociologia, o texto que acabamos de ler levanta questões profundas sobre polarização, identidade, cultura do cancelamento e a ética na convivência. Preparei cinco questões discursivas simples para explorarmos esses conceitos. Lembrem-se de usar os termos sociológicos corretos e de fundamentar suas respostas nas ideias e metáforas apresentadas no texto.


1. Rótulos, Identidade e Estigma

O narrador sente-se injustamente rotulado como "machista" ou "homofóbico" simplesmente por ser heterossexual, definindo isso como uma "floculação automática". Com base nos conceitos de Sociologia da Identidade, defina estigma e explique como o uso de rótulos (etiquetas) em disputas identitárias, conforme descrito no texto, pode gerar prejuízos sociais e afetar a convivência.

2. Antagonismo e Polarização

O texto questiona: "quem dinamita mais a convivência — o 'homofobiado' ou o 'homofobiador', a feminista ou o machista?" Essa pergunta ilustra a polarização social. Analise essa questão e o argumento do texto de que ética, respeito e moralidade deveriam prevalecer. Discuta a função social da polarização e por que ela é descrita como uma "Pandemia conjugada e composta" que impede a lucidez na convivência.

3. Ética e Violência Simbólica

O narrador afirma que nunca perturba ninguém com acusações e não compactua com a violência, mas é atacado por aqueles que se dizem "politicamente corretos", sofrendo prejuízos sociais. Em Sociologia, como podemos classificar a imposição de rótulos e a hostilidade que causam prejuízo no convívio (a forma como a "modernidade forçada" é imposta)? Discuta o conceito de violência simbólica (ou moral) neste contexto.

4. A Metáfora do "Rubicon" e o Ponto de Não Retorno

O narrador usa a metáfora de atravessar o "Rubicon" para descrever um limite perigoso, um ponto de não retorno que leva a uma recaída em "rua sem saída" (desequilíbrio). Interprete, sob a ótica da Sociologia do Indivíduo, o que o narrador busca preservar ao recusar-se a atravessar esse Rubicon. Por que o caos e o desregramento do convívio são comparados a um "hospício social" que ameaça engolir a razão?

5. Resistência e Coerência na Vida Social

O último parágrafo conclui que preservar a integridade é um ato de resistência deliberada, optando pela lucidez crítica em vez da violência simbólica. Defina o que é ação social (Weber) e como a recusa do narrador em aderir à disputa ideológica (mantendo-se do lado de fora) pode ser interpretada como uma forma de resistência social. Qual é o valor dessa coerência moral e intelectual para a trajetória do indivíduo na sociedade contemporânea?

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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

MEU INCONSCIENTE NÃO É MEU DEUS ("Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino." — Carl Jung)

 


MEU INCONSCIENTE NÃO É MEU DEUS ("Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino." — Carl Jung)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A noção de livre-arbítrio revela-se como uma farsa sedutora que, desde o Éden, ilude a humanidade com a promessa de autonomia. Quando foram tentados a se tornarem “conhecedores do bem e do mal”, Adão e Eva imaginaram poder conduzir o próprio destino. Contudo, a expulsão do paraíso expôs a realidade: o Criador redefiniu seus caminhos e demonstrou que nenhum futuro se ergue independentemente de Sua vontade. Se tanto o querer quanto o realizar procedem de Deus, torna-se ilusório acreditar que a criatura possa construir por si mesma o dia de amanhã — ou que este realmente lhe pertença.

A presunção de autossuficiência — base de grande parte da retórica moderna de autoajuda — alimenta a fantasia de que cada indivíduo é senhor soberano da própria rota. No entanto, como ignorar que Deus governa tanto a luz quanto as trevas, conforme a teologia implícita em Isaías 45:7? Assumir para si uma liberdade absoluta equivale a substituir simbolicamente o Criador, erguendo-se como um "pequeno deus" incapaz de perceber as calamidades que o cercam. A verdadeira sabedoria consiste em reconhecer-se instrumento nas mãos d’Aquele que sustenta o cosmos, em vez de venerar uma liberdade que não existe senão como miragem.

Além disso, se o Divino pudesse ser mensurado ou reduzido à compreensão de mentes finitas, seria inferior ao próprio homem. Esse abismo ontológico evidencia a fragilidade da tese da autodeterminação. Nenhuma ação ocorre isoladamente; nossas decisões reverberam sobre outras vidas. Entretanto, tal rede de influências não nos transforma em arquitetos do futuro, mas em fios entrelaçados na grande tessitura providencial, onde cada movimento permanece submetido ao governo soberano.

As leis universais, visíveis ou ocultas, confirmam essa supremacia. Por meio delas, Deus estabelece consequências, conduzindo os sábios pelo entendimento e corrigindo os insensatos pela disciplina. Assim, a história humana não se desenrola como palco de autonomia irrestrita, mas como o ambiente em que a liberdade limitada se curva à providência absoluta. No fim, o ciclo retorna ao seu ponto de origem: o destino começa e termina em Deus.


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Como seu colega professor, preparei 5 questões discursivas pensadas para o Ensino Médio. O objetivo aqui é verificar a capacidade de interpretação de texto e a habilidade dos alunos de relacionar conceitos teológicos/filosóficos com críticas sociais modernas (como a autoajuda), sem necessariamente entrar no mérito de crença pessoal, mas sim na lógica interna do argumento apresentado pelo autor.


Questão 1 O texto inicia fazendo uma releitura do episódio bíblico do Éden. Segundo o autor, por que a tentativa de Adão e Eva de se tornarem “conhecedores do bem e do mal” é utilizada como argumento para provar que a autonomia humana é uma ilusão?

Questão 2 No segundo parágrafo, o autor faz uma crítica direta à "retórica moderna de autoajuda". Explique qual é a relação que o texto estabelece entre a crença na autossuficiência (a ideia de que somos donos do nosso destino) e a figura de um "pequeno deus".

Questão 3 O texto utiliza a metáfora da "tessitura" (tecido) para explicar a sociedade. De acordo com o terceiro parágrafo, qual é a diferença entre ser um "arquiteto do futuro" e ser um "fio entrelaçado na grande tessitura providencial"?

Questão 4 O autor menciona um "abismo ontológico" (uma diferença de natureza) entre a mente humana e o Divino. Como esse argumento é utilizado para justificar que o ser humano não tem capacidade de determinar o seu próprio caminho?

Questão 5 Na conclusão, o texto afirma que a história humana não é um palco de "autonomia irrestrita". Segundo o autor, qual é o papel das "leis universais" e das consequências na vida dos indivíduos (sábios e insensatos) dentro dessa visão de mundo?

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

SEXO É SAGRADO: Prostituição, Religião e Estado ("Nunca deixe de se interessar pelo Sagrado." — Albert Einstein)

 


SEXO É SAGRADO: Prostituição, Religião e Estado ("Nunca deixe de se interessar pelo Sagrado." — Albert Einstein)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A hipótese de uma profissionalização crescente da prostituição ganha força ao observarmos como certas abordagens terapêuticas vêm adotando a sexualidade como eixo central de cura. Evoca-se Freud, para quem muitos distúrbios teriam raízes na esfera sexual — perspectiva que, embora frequentemente simplificada, sustenta a ideia de que desequilíbrios psicológicos poderiam justificar uma “terapia sexual” específica. Nesse cenário, a figura do substituto sexual aparece como alternativa voltada ao tratamento ou à ressignificação da vida íntima.

O prestígio atribuído a essas práticas torna plausível sua inserção em ambientes religiosos. Se igrejas já oferecem acompanhamento conjugal, nada impediria que novas formas de “cura” — inclusive associadas ao prazer carnal — fossem reinterpretadas como manifestações legítimas de fé. Assim, a antiga fusão entre devoção e sexualidade ressurgiria sob roupagens contemporâneas, aproximando ainda mais o espiritual do corporal nos espaços considerados sagrados.

Além disso, a tradição de valorizar elementos simbólicos provenientes de territórios religiosos — água, óleo, pedras ou qualquer artefato de Israel — revela a disposição do fiel para experiências que evocam o divino por meio de rituais materiais. Seguindo essa lógica, não soa improvável um retorno simbólico às antigas sacerdotisas da fertilidade, que ofereciam serviços sexuais em benefício dos templos. Nesse contexto, até mesmo um “substituto sexual espiritualizado” poderia surgir como uma atualização moderna dessa dinâmica entre fé, corpo e financiamento religioso.

A discussão se expande quando observamos que alguns países já custeiam programas de reabilitação sexual para servidores públicos. Se governos reconhecem tais cuidados como parte do bem-estar, torna-se compreensível que indivíduos desgastados pelas exigências da vida — como o irônico “soldado idoso de tantas guerras” — considerem recorrer a esse tipo de assistência. Assim, entre humor e crítica, emerge a questão central: até que ponto a sociedade está disposta a institucionalizar antigos tabus, aproximando cura, prazer, religião e Estado de maneiras inesperadas?


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Como professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas baseadas no texto, focando na interpretação dos fenômenos sociais apresentados (a relação entre ciência, religião, Estado e a moralidade).

Questão 1 O texto inicia abordando a "profissionalização da prostituição" sob uma nova ótica. De acordo com o primeiro parágrafo, qual argumento ligado à psicologia (e a Freud) é utilizado para justificar a existência da figura do "substituto sexual" como uma forma de terapia?

Questão 2 Na sociologia, estudamos como as instituições (como a Igreja) se adaptam aos novos tempos. Segundo o texto, como a prática já existente de "acompanhamento conjugal" nas igrejas poderia abrir portas para novas formas de "cura" que envolvem a sexualidade?

Questão 3 O autor faz um paralelo histórico entre práticas modernas e as "antigas sacerdotisas da fertilidade". Explique, com suas palavras, qual é a semelhança que o texto aponta entre o papel dessas sacerdotisas no passado e a ideia de um "substituto sexual espiritualizado" nos dias de hoje.

Questão 4 No último parágrafo, é mencionado que o Estado (governos) em alguns países já financia programas de reabilitação sexual. Qual é a justificativa social e de saúde pública apresentada no texto para que o governo invista recursos nisso?

Questão 5 O texto encerra questionando a disposição da sociedade em "institucionalizar antigos tabus". Identifique e liste quais são as quatro esferas (ou áreas da sociedade) que o autor afirma estarem se misturando de forma inesperada nessa nova dinâmica social.

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domingo, 6 de novembro de 2022

Páscoa, Coerência e o Sentido Simbólico da Ressurreição: PARA RESSUSCITAR, PRECISA ESTÁR MORTO NÃO APODRECIDO ("Lázaro morreu e ressuscitou. Jesus morreu e ressuscitou. A diferença entre ambos? Lázaro morreu de novo!" — Reinaldo CantalÍcio)

 


Páscoa, Coerência e o Sentido Simbólico da Ressurreição: PARA RESSUSCITAR, PRECISA ESTÁR MORTO NÃO APODRECIDO ("Lázaro morreu e ressuscitou. Jesus morreu e ressuscitou. A diferença entre ambos? Lázaro morreu de novo!" — Reinaldo CantalÍcio)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A narrativa tradicional da Páscoa sempre provocou questionamentos quanto à coerência dos relatos da ressurreição. Se Cristo teria dito “não me toques porque ainda não subi ao Pai”, como justificar que, logo depois, Tomé pôde tocá-Lo sem restrições? Além disso, as aparições em que Jesus atravessa portas fechadas para, em seguida, comer com os discípulos, acentuam o paradoxo entre materialidade e transcendência. O episódio no caminho de Emaús reforça essa tensão: ali Ele também come, embora o relato ainda O situe antes da ascensão. Mesmo após quarenta dias marcados por novas refeições e encontros, o enigma entre um corpo glorificado e um corpo físico permanece intacto.

Diante dessas contradições, muitos recorrem a hipóteses alternativas. Se Jesus afirmou “Eu e o Pai somos um”, a leitura irônica de que, em vez de o Filho ascender, o Pai teria descido apenas amplia o mistério. Assim, a tese de um corpo roubado surge, para alguns, como solução mais plausível do que a tentativa de compatibilizar versões que se chocam. Tanto romanos quanto judeus poderiam ter encontrado conveniência na manipulação simbólica do cadáver, cada qual orientado por seus interesses políticos e religiosos.

No âmbito literário, Clarice Lispector observa que “se morre simbolicamente muitas vezes para experimentar a ressurreição”. Na arte, esse renascer é legítimo e fértil; porém, a noção de uma ressurreição literal se desfaz diante de realidades materiais incontornáveis. O que poderia retornar à vida de alguém cremado e reduzido a cinzas dispersas? Um espírito teria cérebro para pensar ou aparelho fonador para falar? A ausência de qualquer testemunho significativo de Lázaro sobre sua experiência da morte — somada ao fato de ter morrido novamente — enfraquece ainda mais a lógica desses retornos. Até o rei Ezequias, agraciado com quinze anos extras, apenas prolongou sua estadia no mundo, sem que essa extensão representasse um salto transcendental.

Entre o fanático que acredita em tudo e o que não acredita em nada, resta o território da lucidez: reconhecer que só a vida gera vida e que a morte, por sua natureza, produz apenas morte. Nesse sentido, a ressurreição mais autêntica talvez seja a memória — “quem morre ressuscita toda vez que é lembrado”, como afirma Abraático. Deseja-se, portanto, ser lembrado ainda vivo, não por um milagre pós-morte, mas pela força da presença, das ações e do legado. Nunca se viu um amputado ressurgir com um membro restaurado; o que realmente existe é o renascimento simbólico expresso nas relações, nas obras e nos significados que permanecem. Talvez seja esse o “céu circunstancial” ao qual podemos, de fato, aspirar.


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Sou o professor de Sociologia. Este texto nos apresenta uma análise crítica e profundamente racional sobre a narrativa da Páscoa, confrontando o relato literal com a materialidade da existência e as hipóteses sociais. Ele nos convida a desvendar como as crenças são construídas, mantidas e questionadas na sociedade. Preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos a construção social da fé, a manipulação de símbolos e o significado do legado humano.

Questão 1: Contradição e Coerência na Narrativa da Fé

O texto aponta diversas inconsistências nos relatos da ressurreição (ex: a contradição entre "não me toques" e o toque de Tomé; o paradoxo do corpo que come e atravessa portas). Com base na Sociologia do Conhecimento, explique por que, apesar de contradições internas, narrativas religiosas como a da Páscoa são capazes de manter sua coerência social e continuar orientando o comportamento e o sentido de vida de milhões de indivíduos ao longo da história.

Questão 2: Manipulação de Símbolos e Interesses Políticos

O autor sugere que tanto romanos quanto judeus poderiam ter encontrado "conveniência na manipulação simbólica do cadáver" para seus próprios "interesses políticos e religiosos". Analise esse argumento à luz da Teoria Sociológica do Poder. De que forma a manipulação de um símbolo religioso central (o corpo/cadáver) pode ser usada por grupos dominantes (sejam eles políticos ou religiosos) para legitimar sua autoridade e obter controle social?

Questão 3: A Ressurreição Literal e o Fato Material

O texto confronta a noção de ressurreição literal com "realidades materiais incontornáveis" (ex: o que ressuscita de um corpo cremado? um espírito tem aparelho fonador?). Discuta a relação entre a ciência (materialidade) e a fé (transcendência) na sociedade moderna. Por que a prevalência do raciocínio empírico, típico da modernidade, torna a aceitação de eventos que desafiam as leis da física mais difícil e exige um salto maior de crença?

Questão 4: O "Céu Circunstancial" e o Sentido da Vida

O texto conclui que a ressurreição mais autêntica é a memória — “quem morre ressuscita toda vez que é lembrado” — e propõe o “céu circunstancial” como aspiração. Explique o que o autor entende por "céu circunstancial". Como essa visão, que valoriza o legado (obras, relações, significados) em vez do milagre pós-morte, se alinha com a busca por sentido na Sociologia, onde o indivíduo constrói sua imortalidade através da contribuição social?

Questão 5: Fanatismo e Lucidez

O autor estabelece um contraste entre o "fanático que acredita em tudo" e o "que não acredita em nada", restando no meio o "território da lucidez". Analise esse contraste em termos sociológicos. O que é lucidez nesse contexto? Por que o caminho do meio (o reconhecimento de que "só a vida gera vida") é considerado mais coerente do que as posturas extremas de crença cega ou de ceticismo absoluto?

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