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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

A Arte da Resposta: Uma Crônica sobre a Dinâmica Professor-Aluno ("Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." - Paulo Freire.)

 Crônica 


A Arte da Resposta: Uma Crônica sobre a Dinâmica Professor-Aluno ("Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." - Paulo Freire.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O giz desliza no quadro, o ar condicionado emite um zumbido constante e, de repente, o silêncio é quebrado por uma pergunta. Uma pergunta que paira no ar, carregada não apenas de dúvida, mas também de curiosidade e, por vezes, um leve desafio. A sala de aula se transforma em um palco improvisado, e o professor, protagonista, está sob os olhares atentos dos alunos. Lembro-me da tensão que precedia cada questionamento, da expectativa nos olhos da turma e do peso da responsabilidade em oferecer uma resposta que não apenas sanasse a dúvida imediata, mas que também despertasse a sede por conhecimento.


Essa dinâmica, presente no cotidiano escolar, sempre me fez refletir sobre a verdadeira natureza da pergunta em sala de aula. Mais do que uma simples busca por informação, a pergunta é um convite ao diálogo, uma oportunidade para a construção coletiva do saber. Ela é um gesto de confiança, um reconhecimento da autoridade do professor como mediador do conhecimento. Um pequeno, mas decisivo teste de confiança. E, como qualquer teste, a falha na resposta não é apenas uma perda de tempo: é o fim de algo muito mais profundo.


Lembro-me de um professor de história que, confrontado com uma pergunta complexa sobre a Revolução Francesa, admitiu com humildade: “Essa é uma ótima pergunta, e confesso que não tenho a resposta precisa agora. Vamos pesquisar juntos e discutir isso na próxima aula?”. A honestidade daquela resposta, ao invés de diminuí-lo, fortaleceu o respeito que tínhamos por ele. Aprendemos, naquela ocasião, que a humildade intelectual é tão importante quanto o domínio do conteúdo. Por outro lado, presenciei situações em que a falta de preparo ou a arrogância de alguns professores transformaram a sala de aula em um campo de batalha. Respostas evasivas, autoritarismo e a tentativa de disfarçar a ignorância minavam a confiança dos alunos, criando um ambiente de desrespeito e desinteresse. A pergunta, antes um instrumento de aprendizado, se tornava um teste silencioso, uma armadilha para expor a fragilidade do educador.


Essa dinâmica me faz lembrar da expressão popular: “Se o professor não souber responder na hora, já era!”. A frase, carregada de informalidade, revela uma percepção comum entre os alunos: a de que o professor deve ser onisciente. A falha em responder prontamente a uma pergunta, mesmo que complexa, é interpretada como sinal de despreparo, uma brecha para a perda do respeito. Naquela primeira aula, percebi que o silêncio entre a minha fala e a resposta do aluno dizia muito mais do que qualquer gesto. Se a resposta não fosse imediata, se eu me perdesse nas palavras ou na hesitação, via o olhar mudar: um julgamento silencioso, uma avaliação implacável. Era como se o aluno dissesse: “Você é o guia, então mostre-me que sabe o caminho”.


No entanto, a verdadeira autoridade do professor não reside na capacidade de responder a todas as perguntas, mas na habilidade de conduzir o processo de aprendizado, de estimular a reflexão e de reconhecer os próprios limites. A sala de aula não deve ser um tribunal, mas um espaço de diálogo aberto e honesto, onde o erro é visto como uma oportunidade de aprendizado. A falta de respeito, portanto, não nasce da simples ausência de uma resposta imediata, mas da falta de consideração e seriedade no processo de ensino-aprendizagem.


Talvez o maior erro de um professor seja se achar acima da dúvida, como se, ao ser questionado, estivesse sendo desafiado. Na realidade, o questionamento é uma chance de crescimento. O aluno não testa o professor apenas para desafiá-lo; ele testa o seu próprio processo de aprendizagem, confiando que o professor será a chave que abrirá essa porta. Por isso, responda às perguntas com atenção, com paciência. Elas são, de fato, uma oportunidade de aprendizado mútuo. O respeito dos alunos não vem de respostas prontas, mas da honestidade e da dedicação de quem ensina. Porque, ao final, quando o aluno sente que você se importa com a dúvida dele, você conquista algo muito mais valioso do que qualquer resposta: você conquista a confiança, o respeito e, mais importante, o direito de continuar sendo o guia que ele precisa.


Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:


1. De acordo com o autor, qual a importância da pergunta no contexto da sala de aula, além da simples busca por informação?

2. Como o texto descreve a reação dos alunos diante da dificuldade do professor em responder a uma pergunta?

3. Qual a distinção apresentada no texto entre a autoridade do professor baseada na onisciência e a autoridade baseada na condução do aprendizado?

4. Segundo o autor, qual a origem da falta de respeito em sala de aula e como ela se manifesta?

5. Qual a mensagem central do texto sobre a postura ideal do professor diante das perguntas dos alunos e o que essa postura proporciona?

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