Flores no portão da escola ("A crueldade de um ato reside principalmente na intenção que o inspira." - Samuel Johnson)
Na porta da escola, havia flores. Muitas flores. Fitas brancas tremulavam ao vento, bilhetes escritos com letras trêmulas eram deixados por desconhecidos, carregando um misto de pressa e incredulidade. Um crime brutal havia acontecido ali, e a cidade de Daejeon, na Coreia do Sul, tentava compreender o impensável: como uma professora — alguém encarregada de ensinar e proteger — pôde matar uma aluna de oito anos a facadas dentro da sala de aula?
Tudo aconteceu na manhã de 10 de fevereiro de 2025. A menina, escolhida ao acaso, foi atraída para a sala de vídeo. Era para ser mais um dia comum, uma sucessão de lições, intervalos e risadas infantis. Mas não foi. A professora, que deveria guiá-los, tornou-se algo inominável.
O socorro chegou rápido, mas a pequena já não resistia aos ferimentos. Cortes no rosto e no pescoço. Marcas que, para os que presenciaram a cena, jamais cicatrizariam. A própria agressora foi encontrada ferida, com sinais de que tentara acabar com a própria vida. Não conseguiu. Restou-lhe confessar. Disse que a escolha da vítima foi aleatória. Não havia motivo, não havia vingança, não havia desavença. Apenas um plano: levar consigo uma vida inocente antes de dar fim à própria existência.
A notícia espalhou-se como um incêndio. A indignação cresceu junto com o medo. Como um sistema inteiro falhou em enxergar o perigo antes que se tornasse tragédia? O Departamento de Educação revelou que a professora havia solicitado afastamento no ano anterior. Estava em depressão. Voltou ao trabalho recentemente, mesmo apresentando comportamento violento. Chegou a agredir um colega, mas, em vez de ser afastada de forma definitiva, permaneceu em funções administrativas sob supervisão. Até que supervisionar não foi suficiente.
Naquele dia, a escola não abriu suas portas para o conhecimento. Abriu-as para a dor, para o luto, para a fragilidade da vida. As flores, como um manto de piedade, cobriram a entrada — um grito silencioso de repúdio à violência. Os rostos cabisbaixos nas ruas, as entrevistas hesitantes das autoridades e os comunicados formais da presidência interina apenas reforçavam o vazio que aquela morte deixava.
Colegas de trabalho relataram que a professora, nos últimos dias, manifestava comportamentos estranhos, sinais de um sofrimento silencioso. Afastada das salas de aula, mas ainda presente na escola, sua presença era um prenúncio de desgraça. O que leva alguém a destruir o que deveria proteger? O que significa um sistema que não consegue evitar seus próprios colapsos? Há perguntas que jamais encontrarão resposta. Mas há cicatrizes que permanecem muito além dos corpos que as carregam.
E eu, por aqui, sou testemunha ocular de uma situação levada ao extremo. Se um professor pede licença, o sistema dificulta. Se solicita a aposentadoria já conquistada por direito, leva um ano para a análise do processo e deferimento. A burocracia do sistema mata seus professores, assim como Jerusalém matava seus profetas. Pergunto-me: onde erramos? Onde se perdeu a humanidade? Quando a sala de aula se transformou em palco de horror?
No portão da escola, entre as flores e as fitas brancas, um bilhete chamava atenção. Uma criança havia escrito com letras tremidas: "Por quê?".
E talvez essa seja a única pergunta que realmente importe.
Que a dor dessa menina nos sirva de alerta. Que as flores no portão não sejam apenas um símbolo de luto, mas um clamor por mais amor, mais cuidado, mais empatia. Que a escola volte a ser um lugar de refúgio, onde o saber floresce e a vida é celebrada.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/02/11/professora-mata-aluna-de-7-anos-a-facadas-na-coreia-do-sul.ghtml (Acessado em 16/02/2025)
Questões discursivas sobre o texto:
1. Análise da Tragédia:
O texto descreve um cenário de profunda tristeza e perplexidade, marcado por um crime brutal ocorrido em uma escola.
Com base no texto, analise os sentimentos que permeiam a narrativa, destacando como o autor os transmite ao leitor.
Discuta a importância da comoção expressa no texto como forma de repúdio à violência e de solidariedade às vítimas.
2. O Sistema em Xeque:
A notícia da tragédia levanta questionamentos sobre a segurança nas escolas e a capacidade do sistema educacional de proteger seus alunos e professores.
Reflita sobre a seguinte passagem do texto: "Como um sistema inteiro falhou em enxergar o perigo antes que se tornasse tragédia?"
Discuta as possíveis falhas do sistema que podem ter contribuído para o ocorrido, como a falta de apoio a professores com problemas de saúde mental e a insuficiência de medidas de segurança.
3. A Busca por Respostas:
O texto evidencia a busca por respostas para perguntas complexas sobre a natureza humana e a violência.
A pergunta central, expressa no bilhete encontrado no portão da escola – "Por quê?" – ecoa a perplexidade diante da brutalidade do crime.
Comente a importância de mantermos viva a busca por respostas, mesmo que elas não sejam fáceis de encontrar, como forma de aprendizado e prevenção.
4. O Papel da Escola:
A escola é apresentada no texto como um lugar que deveria ser de refúgio e aprendizado, mas que se transformou em palco de horror.
Discorra sobre a importância da escola como espaço de proteção e desenvolvimento para crianças e adolescentes.
Apresente propostas para que a escola possa cumprir seu papel de promover a cultura de paz e o bem-estar de todos os seus membros.
5. Empatia e Solidariedade:
O texto termina com um apelo à empatia, ao cuidado e ao amor como antídotos à violência.
Reflita sobre a importância da empatia e da solidariedade para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica.
Discuta como podemos cultivar esses valores em nossas comunidades e em nossos relacionamentos, especialmente no ambiente escolar.
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