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MINHAS PÉROLAS

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Flores no portão da escola ("A crueldade de um ato reside principalmente na intenção que o inspira." - Samuel Johnson)

 

  • Flores no portão da escola ("A crueldade de um ato reside principalmente na intenção que o inspira." - Samuel Johnson)

    Por Claudeci Ferreira de Andrade

    Na porta da escola, havia flores. Muitas flores. Fitas brancas tremulavam ao vento, bilhetes escritos com letras trêmulas eram deixados por desconhecidos, carregando um misto de pressa e incredulidade. Um crime brutal havia acontecido ali, e a cidade de Daejeon, na Coreia do Sul, tentava compreender o impensável: como uma professora — alguém encarregada de ensinar e proteger — pôde matar uma aluna de oito anos a facadas dentro da sala de aula?

    Tudo aconteceu na manhã de 10 de fevereiro de 2025. A menina, escolhida ao acaso, foi atraída para a sala de vídeo. Era para ser mais um dia comum, uma sucessão de lições, intervalos e risadas infantis. Mas não foi. A professora, que deveria guiá-los, tornou-se algo inominável.

    O socorro chegou rápido, mas a pequena já não resistia aos ferimentos. Cortes no rosto e no pescoço. Marcas que, para os que presenciaram a cena, jamais cicatrizariam. A própria agressora foi encontrada ferida, com sinais de que tentara acabar com a própria vida. Não conseguiu. Restou-lhe confessar. Disse que a escolha da vítima foi aleatória. Não havia motivo, não havia vingança, não havia desavença. Apenas um plano: levar consigo uma vida inocente antes de dar fim à própria existência.

    A notícia espalhou-se como um incêndio. A indignação cresceu junto com o medo. Como um sistema inteiro falhou em enxergar o perigo antes que se tornasse tragédia? O Departamento de Educação revelou que a professora havia solicitado afastamento no ano anterior. Estava em depressão. Voltou ao trabalho recentemente, mesmo apresentando comportamento violento. Chegou a agredir um colega, mas, em vez de ser afastada de forma definitiva, permaneceu em funções administrativas sob supervisão. Até que supervisionar não foi suficiente.

    Naquele dia, a escola não abriu suas portas para o conhecimento. Abriu-as para a dor, para o luto, para a fragilidade da vida. As flores, como um manto de piedade, cobriram a entrada — um grito silencioso de repúdio à violência. Os rostos cabisbaixos nas ruas, as entrevistas hesitantes das autoridades e os comunicados formais da presidência interina apenas reforçavam o vazio que aquela morte deixava.

    Colegas de trabalho relataram que a professora, nos últimos dias, manifestava comportamentos estranhos, sinais de um sofrimento silencioso. Afastada das salas de aula, mas ainda presente na escola, sua presença era um prenúncio de desgraça. O que leva alguém a destruir o que deveria proteger? O que significa um sistema que não consegue evitar seus próprios colapsos? Há perguntas que jamais encontrarão resposta. Mas há cicatrizes que permanecem muito além dos corpos que as carregam.

    E eu, por aqui, sou testemunha ocular de uma situação levada ao extremo. Se um professor pede licença, o sistema dificulta. Se solicita a aposentadoria já conquistada por direito, leva um ano para a análise do processo e deferimento. A burocracia do sistema mata seus professores, assim como Jerusalém matava seus profetas. Pergunto-me: onde erramos? Onde se perdeu a humanidade? Quando a sala de aula se transformou em palco de horror?

    No portão da escola, entre as flores e as fitas brancas, um bilhete chamava atenção. Uma criança havia escrito com letras tremidas: "Por quê?".

    E talvez essa seja a única pergunta que realmente importe.

    Que a dor dessa menina nos sirva de alerta. Que as flores no portão não sejam apenas um símbolo de luto, mas um clamor por mais amor, mais cuidado, mais empatia. Que a escola volte a ser um lugar de refúgio, onde o saber floresce e a vida é celebrada.


    https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/02/11/professora-mata-aluna-de-7-anos-a-facadas-na-coreia-do-sul.ghtml (Acessado em 16/02/2025)


    Questões discursivas sobre o texto:


    1. Análise da Tragédia:

    O texto descreve um cenário de profunda tristeza e perplexidade, marcado por um crime brutal ocorrido em uma escola.

    Com base no texto, analise os sentimentos que permeiam a narrativa, destacando como o autor os transmite ao leitor.

    Discuta a importância da comoção expressa no texto como forma de repúdio à violência e de solidariedade às vítimas.

    2. O Sistema em Xeque:

    A notícia da tragédia levanta questionamentos sobre a segurança nas escolas e a capacidade do sistema educacional de proteger seus alunos e professores.

    Reflita sobre a seguinte passagem do texto: "Como um sistema inteiro falhou em enxergar o perigo antes que se tornasse tragédia?"

    Discuta as possíveis falhas do sistema que podem ter contribuído para o ocorrido, como a falta de apoio a professores com problemas de saúde mental e a insuficiência de medidas de segurança.

    3. A Busca por Respostas:

    O texto evidencia a busca por respostas para perguntas complexas sobre a natureza humana e a violência.

    A pergunta central, expressa no bilhete encontrado no portão da escola – "Por quê?" – ecoa a perplexidade diante da brutalidade do crime.

    Comente a importância de mantermos viva a busca por respostas, mesmo que elas não sejam fáceis de encontrar, como forma de aprendizado e prevenção.

    4. O Papel da Escola:

    A escola é apresentada no texto como um lugar que deveria ser de refúgio e aprendizado, mas que se transformou em palco de horror.

    Discorra sobre a importância da escola como espaço de proteção e desenvolvimento para crianças e adolescentes.

    Apresente propostas para que a escola possa cumprir seu papel de promover a cultura de paz e o bem-estar de todos os seus membros.

    5. Empatia e Solidariedade:

    O texto termina com um apelo à empatia, ao cuidado e ao amor como antídotos à violência.

    Reflita sobre a importância da empatia e da solidariedade para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica.

    Discuta como podemos cultivar esses valores em nossas comunidades e em nossos relacionamentos, especialmente no ambiente escolar.

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