"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

Na escola pública, o aluno aprende que é preferível o peixe já pescado e frito na hora "certa" do que a dignidade de adquiri-lo. A mente torna-se como o Mar morto: repleta de valiosos elementos e materiais, mas sem uma aplicação útil.
Claudeci Ferreira de Andrade

sábado, 2 de outubro de 2010

(RE)PERDENDO O PROFESSOR (O que mais causa o Síndrome de Burnout em Professores?)




CRÔNICA

(RE)PERDENDO O PROFESSOR (O que mais causa o Síndrome de Burnout em Professores?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Fechou-se a porta da sala dos professores, era o momento reservado ao nosso recreio, mas de forma alguma foi pensando em desfrutar melhor, simplesmente aconteceria mais uma reunião daquelas... Foi a coordenadora que a fechou, como os alemães fechavam as câmaras de gás cheias com judeus a serem exterminados. Ali, ela nos acusava de matar aula dentro da sala de aula, e ainda ordenava aos professores passassem uma atividade paralela a fim de manter os alunos ocupados, enquanto os "lentes" vistassem os cadernos deles (Eles poderiam está lendo outras coisas, mas preferem ficar fora da sala sem fazer nada, mas nem eles e nem a coordenadora tem como alvo o bom emprego do tempo, visto que ela nunca quer mesmo é o aluno fora da sala, mesmo que estivessem ali lendo, fora da bagunça dos desocupados). Na pauta, constavam só dois itens apenas, isso parece pouco, porém foi gás suficiente para me deixar engasgado de forma a sentir necessidade de me desengasgar nesta crônica terapêutica (por isso ainda não morri de estresse). No momento, tampouco pude dizer algo, apesar dos estímulos e dos ânimos carregados, todos estavam cabisbaixos, eu também permaneci assim: cúmplices.
          Nem sei se falei ou só pensei com muita força, mas em uma unidade escolar que leva muito a sério o planejamento (anual, semanal e alternativo) dos professores, “marcando em cima”, jamais podia acontecer tal “lambança”. Como pode um professor esbaldar-se em planejar para depois nunca executar? Coerente seria se o professor matasse aula dentro da sala de aula quando ele não tivesse planejado nada! Talvez ela esteja insinuando isso! Ou o mestre está só fazendo pirraça? Será compensador investir num planejamento "desfuncional"? Pois, o exemplo que nos deu foi, como se estivesse vistando os nossos caderninhos de plano, e nos forçando uma atividade paralela em nosso recreio (reunião desnecessária)!
          “De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília), Iône Vasques-Menezes, no caso do professor, a razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento. ‘A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência do Burnout’, explica. O Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas. Para a pesquisadora, especialmente aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem resolvidas. ‘Existem problemas que estão muito além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência é mais acentuada’, revela.”  ( apud http://letrabydani.blogspot.com/2010/10/estresse-do-professor.html ). (11/06/2016).
          Copiei o trecho a seguir, isolado com aspas, do blog do Prof. Pedro: “Por que tantos professores escrevem sobre seus fracassos no trabalho docente e não comentam nada sobre seus sucessos? Por que as piores condutas viram notícia e as conquistas ficam escondidas? Por que tantas pessoas passam a vida criticando a educação em nosso país, e tão poucas procuram discutir alternativas para melhorá-la?
Talvez se deixarmos de ficar olhando o problema e nos concentrarmos em achar uma solução, o estresse diário diminua. É necessário analisar os erros, mas também é necessário comemorar os acertos do cotidiano, para que a vida possa ter sabor!”
          Será se esse professor Pedro (grego Pétros=pedra) está nos sugerindo o comportamento da ema, segundo a lenda: diante de qualquer dificuldade, ela corre e enterrar a cabeça em um buraco. Será se o professor acha que por fechar os olhos, não vendo o perigo, está isento dele! Assim, seriamos apenas "Emas" a morrer do "Síndrome de Burnout", por que ninguém nasceu para virar pedra!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/10/2010
Código do texto: T2533312

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SEMANA DE PROVAS (O que prova a prova afinal?)




Crônica

SEMANA DE PROVAS (O que prova a prova afinal?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Esta semana é “a semana de provas”! Logo no início, senti-me acaçapado, pois já tinha avaliado meus alunos através de suas apresentações em grupos e vistado as atividades corriqueiras da disciplina, de acordo combinado com eles. Mas, não teve jeito, fui impostamente encaixado no horário especial de prova. Tive também de aplicar prova de outras disciplinas, ajudando os colegas, e, depois, ter de aplicar um exercício do livro, tentando preencher a hora reservada a mim. O mais deprimente foi assistir aos alunos, ao invés de fazerem a atividade de Língua Portuguesa, valendo um pontinho, estavam absortos, com o livro de história na mão, estudando para prova seguinte. O pior em aplicar a prova do colega é ser obrigado a corrigi-la! Já passei por isso na tal semana de prova!
           Tudo isso, levou-me a perguntar: os professores abriram mão da autonomia na conveniência de avaliar? Ou é essa a verdadeira autonomia? Também, não entendi quando foi decretado sobre as folhas de prova passarem primeiro pela inspeção da coordenadora! Quem melhor elabora uma prova convincente, a "gregos e troianos", senão o catedrático na disciplina? O que deve ser cogitado sobre a eficácia de uma avaliação, diz os grandes cientistas da educação, é mais o processo e menos o instrumento forjado para punir! Qual o limite da avaliação contínua, tão pensada nas escolas modernas, se apesar dela, o aluno ainda é submetido à tortura de ficar três horas sentado, tentando merecer de 30% a 60% da nota bimestral, necessária à promoção dele? Pois, afirmo desde já, a avaliação contínua — valorização de todo passo positivo do aluno — serve suficientemente e pedagogicamente para a aprovação do aluno dedicado, só ela basta para o observador formular conceitos justos e coerentes! Às vezes, fazemos distinções pedagógicas muito sutis, nos perdemos em meio a instrumentalização e nos arriscamos em aspectos fúteis das provas de "múltiplas escolhas", fingindo aferir níveis reais. Todavia, nada tem importância, no final, deve resultar na "progressão continuada"! Esta foi prevista na LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96, artigo 32, parágrafo segundo). “Respondendo a este desafio, tem sido defendida a necessidade de se substituir uma concepção de avaliação escolar punitiva e excludente por uma concepção de avaliação comprometida com o progresso e o desenvolvimento da aprendizagem.”  Observa a Professora Zilma é Chefe de Gabinete da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo, Membro do Conselho Estadual de Educação, Professora dos Programas de Pós-graduação da FEUSP e da FFCLRP de Ribeirão Preto – USP.(http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=10032&chapterid=9145) - acessado em 29/05/2016. 
          Ou ainda, a tal autonomia dos professores tão defendida firma-se em pagar cópias de provas ao aluno e ver muitos deles amassá-las na sua frente? Ou ainda, depois guardá-las no armário, pois não tiveram tempo de corrigi-las embrulhados na burocracia, só restando inventar uma nota boa para enfeitar os índices tão desejados por coordenadores imp(r)udentes, garantindo-lhes a aparência de "bons carrascos"?  Na verdade, nem podemos devolver as provas corrigidas para os alunos, porque os que tiram nota baixa destrói a folha de prova e diz que o professor não devolveu a dele! O que significa nota boa no final. pois o professor tem de assumir a culpa, o aluno não vai fazer outra. E também, o que diagnostica uma prova, da qual o professor dá as questões e as respostas na véspera da aplicação? E este dito cuja ainda elogia os alunos que acertaram as questões de ontem!
          O que é mais proveitoso para o aluno: ter suas atividades diárias valorizadas com alguns décimos até formar uma nota satisfatória ou enfrentar a constante ameaça sobre isso ou aquilo vai cair na prova? Eu poderia enumerar algumas das poucas vantagens de ameaçá-lo diariamente com os conteúdos ministrados. Mas, compreendo também as consideráveis vantagens em formar a nota do aluno valorando as atividades diárias bem concluídas. Não estou aqui condenando completamente a avaliação, porém estou falando sobre a instrumentalização, quero método geradores de maiores notas aos mais dedicados, assíduos e os que se negam a colar. Porque os que colam, achando que suas respostas estão iguais as do colega que tirou nota maior, eles acusam o professor de ter julgado pela cara!
          Reservar uma semana de prova requer um horário especial e massantes lembretes, assim só "deixa o aluno apreensivo, fazendo-o sentir-se como alguém não aprovado, no sentido de recusado, deixado de fora, não apropriado, julgado, com sérios resultados negativos para a autoestima e futuras aprendizagens. A cobrança institucional esvazia o jovem do poder de concentração e criatividade". É valorizar demais uma prova escrita em detrimento das outras diagnosticações. 
          Essa semana institucional, não interpelada por aluno algum, bem pudera, pois força o sair mais cedo, o que deveria ser bom, assim os professores terão tempo de corrigir suas provas, na hora regular de trabalho. Mas, alguns coordenadores não gostam de vê-los folgados, determinam, na tal semana, que se tenham três aulas iniciais e só depois do recreio, seriam aplicadas as provas! Não sabem os organizadores que assim, forçam os alunos, que usam o trasporte escolar, a devolver uma prova de múltiplas escolhas às carreiras, sem lê-la direito. Não há como evitar, "jogam no bicho".
           Discute o professor do Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá (UEM); Editor da Revista Espaço Acadêmico e Revista Urutágua, Antonio Ozaí da Silva: “O que prova a prova afinal? Nada. Ela é um instrumento burocrático de controle que legitima o poder da instituição e, em decorrência, dos professores. Afinal, como controlar a turma sem a “prova”? E o pior é que parece não ter como romper com o esquema. Mesmo quem discorda, tem que “dar a nota”. Não obstante, é preciso avaliar. Como fazê-lo de uma maneira justa e que estimule a solidariedade e o aprendizado?” (https://antoniozai.wordpress.com/2007/11/21/o-que-prova-a-prova/) - acessado em 28/05/2016.
          Então, não me venha pedagogo algum apresentar a ideia na qual o professor deve encarar a prova como um indicador de qualidade; pois ela nada pode fazer pelo sucesso do aluno se ele não tiver uma afinada capacidade de memorização. E as inteligências múltiplas e outras competências não visadas por ela? E não me diga sobre o aluno que não faz prova não aprender nada! E o sistema pare também de exercer pressão ao professor para passar o aluno de série, mesmo sem mérito algum, pois por medo de ter de refazer diário de classe, faz do seu método de avaliação uma generosidade doentia ao invés de adotar critérios justos. Deus me perdoe!
          A semana de prova, quando é só provas, para uma coisa presta: os alunos saem mais cedo, ficam na porta da escola vulneráveis à violência da rua, esperando o transporte escolar até mais tarde; enquanto isso, brigam e tumultuam. O maior número de ocorrências vergonhosas da escola, refiro-me também às desavenças entre professores, ocorre exatamente na semana de provas! E "pelo andar da carruagem", por aqui, toda semana é de "provas". Estão até confundido prova substitutiva com "prostitutiva"! 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 17/06/2009
Código do texto: T1652808

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Comentários               Comentar


15/09/2015 11:07 - Fran Oliveira [não autenticado]
Uma visão pequena, embora o texto seja bem amplo. A semana de avaliação, horários estabelecidos, disciplina, rigor e outros elementos que envolvem o momento da avaliação depende muito dos profissionais envolvidos, de como são trabalhados. Absurdo algumas partes do texto, visão alienada da realidade. Perplexo! Considero este tipo de depoimento, típico de professor que não gosta do que faz, que não quer ter trabalho, que se esconde atras do "oba, oba"!!!


18/06/2009 10:31 - Kênia Ribeiro
O principal objetivo da escola de hoje é ensinar o aluno a ser avaliado, o conhecimento e as habilidades ficaram em segundo e terceiro planos.O importante é preparar o aluno para ser testado, não para se realizar como ser humano. O lema agora é: "seja um bom fazedor de prova!A qualquer custo consiga uma boa nota e você terá sucesso!" Triste realidade...


17/06/2009 19:08 - Jô Costa
Excelente reflexão. Avaliar vai além de medir conhecimentos por escores, mas infelizmente nosso sistema de ensino pede notas e acabamos, como professores, nos escravizando ao sistema que criticamos.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESPINHOS NA PELE (Entre o berço e caixão, este recorte prepara-te para o quê?)


Crônica

ESPINHOS NA PELE (Entre o berço e caixão, este recorte prepara-te para o quê?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Professor, nunca ouses deslizar mesmo quando pensas, estás falando só às paredes, pois inclusive, elas têm ouvidos! Há na minoria o teu observador, sempre o orgulhoso, arrogante, prepotente e despótico, querendo te provar que és indigno do posto!  Ele é um inútil e luta a fim de te reduzir à medida dele. Jamais significa o fim quando erras, só porque o livro do professor já vem respondido e não tiveste tempo em conferir as respostas do mesmo. Os erros ensinam mais aos errantes, aliás os erros são fatais só para quem se nega aprender com eles. Veneno ou remédio, depende da dose e da frequência! Eles te induzem a acerta na próxima vez!
          Atrasam-te as experiências da vida se cada momento vindouro é inédito? Pelo contrário, entre o berço e caixão, este recorte no tempo, é teu espaço de exploração. Prepara-te, todo instante, objetivando o novo, sê criativo. Se "Tudo que se vê não é Igual ao que a gente viu há um segundo" (Lulu Santos). Tu tampouco és uma pessoa perfeita, só por que tuas experiências sempre estarão com a data de validade vencida? Iludes-te! Depois da morte, olhando daqui, tudo é mais volátil ainda, ou melhor, é desconhecido, intato. Agora só fazes o dever. Nunca temas, pois qualquer fórmula aplicada, para te resguardar do fim, é estacionamento, é regressão, fazendo frente ao pouco da vida estante! O certo é seguires o caminho novo à luz do momento ("quem não arrisca não petisca"). O combustível da vida está nos erros. Quando tu erras é porque acertaste muito: felicidade igual por etapas vencidas. O especialista é aquele que já errou em todos os pontos perante sua carreira.
           Vejas, os mandacarus, os quais plantei, ao longo do caminho, têm flores, porque se tornaram parte da natureza! Mas, também, produzem espinhos grossos, fortes e pontiagudos, muito mais ainda, é bem verdade, ferirão outros, pois me furaram primeiro. Foram preparados e ganharam resistência, todavia de jeito nenhum estarei mais ali, quiçá estivesse, para eu te mostrar minha dor educativa. Todavia a dor dos ferimentos dos espinheiros também espinhados, dessa nem tomarei parte mais, jamais desta distância. Outrossim, dói mais agora a dor das furadas dos espinhos plantados pelos outros, tais quais os encontro em meu caminho! Porém, ainda assim, é bom por não ter o sabor de suicídio, pelo contrário, estimulam-me o caminhar fazendo curvas, desviando-me de quase todos, eles são muitos. Assim como caminhar é viver, prossigo, a dor impulsiona o movimento, é o importante.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 27/09/2010
Código do texto: T2523534

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sábado, 25 de setembro de 2010

PROFESSOR IMATURO ("...a única solução apaziguadora será o suicídio ?")








CRÔNICA

PROFESSOR IMATURO ("...a única solução apaziguadora será o suicídio ?")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Não há um único dia em que eu não chegue em casa com as pernas inchadas e a cabeça pesada — melhor dizendo, toda tarde carrego uma alma perturbada, um peso na consciência, uma sensação de transgressão, ou melhor, de dever não cumprido. É algo tão estranho que nem sei nomear. Apenas percebo que ainda sou um professor imaturo, que sofre demais com o desrespeito e o descumprimento dos acordos dentro da escola. Quem me dera não precisar mais me defender, justificar obrigações ou mendigar aceitação e reconhecimento — bastasse o que aprendi e o que sei fazer. Quando meus lábios não se abrirem mais nem para reclamar nem para incomodar os colegas, então, talvez, eu possa dormir em paz. Mas não sei como chegar a isso.

Que profissão "desgraçada" é essa em que se espera, no ato de ensinar, manifestações de amor, mas se recebe escárnio? A aula virou um campo de embates desgastantes. As relações são sempre tensas: professor com alunos, com outros professores, com coordenadores, diretores, pais, funcionários e até com os pombos e pardais do pátio! Nunca estivemos tão inseguros e emocionalmente abalados quanto nesses momentos de exposição forçada a relações inevitáveis. E as futilidades? Também ferem: a coordenadora me tira da sala, em plena aula, para cobrar a formatação das questões do "simulado" que ela mesma deveria padronizar. “‘(...) Sofria com frequência assédio moral por parte da diretora da escola em que trabalhava’, relata Gilzete, irmã de Jucélia (professora suicida), que classifica ainda a diretora da instituição de ensino como ‘desumana’.” (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/07/professora-comete-suicidio-sergipe.html)

Chega-se ao ponto do suicídio. Está justificado o porquê alguns desistem cedo. O professor L.V.C declarou: “Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimentos, a única solução apaziguadora será o suicídio.” E eu acrescentaria: matam-nos com o desespero ou com a lambança da burocracia. (http://www.jn.pt/nacional/interior/aberto-inquerito-ao-caso-do-suicidio-do-professor-vitima-de-bullying-1517374.html — acessado em 20/05/2016).

Outros tantos já partiram em silêncio e caíram no esquecimento: Jailton Joaquim Graciliano (Maceió-AL), Paulo Henrique Lesbão (Senador Canedo-GO), Jucélia Almeida (Aracaju-SE)... Todos laboriosos, mas inúteis no esforço de eternizar o prestígio. Por outro lado, Wellington de Oliveira Menezes (Realengo-RJ), um professor do mal, ganhou notoriedade ao levar outros consigo. Levou os errados, por isso caiu nas graças da mídia. É chocante o número de suicídios entre os que dependem da escola para sobreviver — mas ninguém fala disso.

Eu, a cada dia, mato um pouco de mim. Sou forçado a silenciar a voz interior, tentando em vão escapar das perturbações. Mas não consigo. O lixo emocional explode, criando uma consciência fraca, viciada, depravada — que ao menos me console no torpor da existência. Quero me aquietar diante dos homens e de Deus. Ou talvez perder o respeito por mim mesmo em troca de uma influência socialmente aceitável, apenas para continuar vivendo. Ou ainda, deixar de lado o zelo e permitir que falem. Pena que, nesse suicídio em prestações, eu manche meu próprio orgulho.

É por isso que, mesmo após vinte anos de magistério, continuo imaturo. Tento consertar os outros e acabo desmantelando a mim. Hoje, entendi que não podemos exigir dos outros amor contínuo e favores, baseados em regras que nós mesmos impomos: regra sobre regra. Eles também buscam seus próprios interesses — e não precisam se importar com os meus.

Talvez o bom samaritano de hoje não ande com túnica nem montado num jumento — ele veste camiseta desbotada, carrega provas não corrigidas na mochila e anda exausto pelos corredores da escola. Não cura feridas com azeite e vinho, mas tenta estancar hemorragias emocionais com palavras de incentivo, bilhetes improvisados, ou apenas escutando silenciosamente o sofrimento alheio. Em vez de hospedaria, oferece seu próprio tempo e saúde mental. É ignorado, alvo de zombarias, mas não deixa de estender a mão. Ser bom, neste cenário, é resistir com ternura, mesmo quando tudo em volta ensina a endurecer. E se ainda houver salvação para este ofício, será pelos poucos que continuam agindo com compaixão, apesar de tudo.

Se me perguntassem hoje quem eu considero um professor maduro, mais forte, bem-sucedido e impactante, eu apontaria alguém oposto de mim: Ele seria o mais grosseiro, o mais agressivo, o dominador — o “carrasco”. Já não me importo com minha frouxidão. Para meu alento, leio na história que homens de extraordinária fé e amor não precisaram temer o esquecimento. A verdadeira bondade sempre será procurada. Os bons samaritanos são conhecidos em qualquer lugar. Ou será que o mal continuará vencendo o bem? Basta ser bom, ainda que pareça fraco.


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A crônica que acabamos de ler nos mergulha nas profundas angústias da profissão docente. O autor compartilha sua sensação de dever não cumprido, o sofrimento com o desrespeito e a burocracia, e até mesmo a chocante realidade do suicídio entre professores. Esse texto nos convida a uma reflexão sociológica urgente sobre as condições de trabalho, as relações de poder e a saúde mental no ambiente educacional. Vamos explorar essas ideias com algumas perguntas!


1 - O cronista descreve a escola como um "campo de embates desgastantes" onde as relações são "sempre tensas" entre todos os envolvidos. Analise essa afirmação à luz do conceito de conflito social. Que fatores, de acordo com o texto, contribuem para a perpetuação desses conflitos no ambiente escolar?


2 - O texto menciona casos de professores que cometeram suicídio e a "lambança da burocracia" que os "mata". Discuta como a precarização do trabalho e a pressão institucional, incluindo a burocracia excessiva e a falta de reconhecimento, podem impactar a saúde mental dos profissionais da educação.


3 - O autor fala sobre a "futilidade" de ser cobrado por formatação de questões em plena aula, enquanto a coordenadora deveria padronizar. Essa situação pode ser entendida como um problema de racionalidade instrumental na burocracia escolar. Explique como a ênfase em normas e procedimentos formais (como a formatação) pode desviar o foco da função principal da escola, que é o ensino e a aprendizagem.


4 - O cronista reflete sobre a ironia de que um "professor do mal" (como o de Realengo) ganha notoriedade, enquanto professores "laboriosos" que se suicidam caem no esquecimento. Que padrões de notoriedade e reconhecimento social o texto critica? Como a mídia e a sociedade constroem a imagem pública do professor e do que é "impactante"?


5 - Ao final, o autor conclui que um professor "maduro, mais forte, bem-sucedido e impactante" seria o "mais grosseiro, o mais agressivo, o dominador — o 'carrasco'". De que forma essa percepção, ainda que irônica e dolorosa, reflete uma possível distorção dos valores sociais atribuídos ao sucesso e à eficácia na profissão docente, em oposição a qualidades como a "bondade" e a "paciência"?

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sábado, 18 de setembro de 2010

SOU FEIO, MAS NÃO COMO VOCÊ ( “Para nós, feios, tudo é duas vezes mais difícil. E ainda ganhamos a metade do que ganham os bonitos”, diz Gonzalo Otálora.)

CRÔNICA

SOU FEIO, MAS NÃO COMO VOCÊ ( “Para nós, feios, tudo é duas vezes mais difícil. E ainda ganhamos a metade do que ganham os bonitos”, diz Gonzalo Otálora.)

sábado, 18 de setembro de 2010
Por Claudeci Ferreira de Andrade
                 Eu gostava muito daquela camisa verde-escura, cor de folha madura até que um aluno do sexto ano me perguntou: — "Com a mesma roupa de outem, né professor!?" 
           Outro dia, tais foram os comentários naquela sala de professores aborrecidos! Diziam que os alunos querem professores bonitos, referindo-se apenas à estética enquadrada nos padrões das mídias. Tentei desviar o foco da conversa para higiene corporal e vestimentas, mas não saía da minha mente a solicitação irritante daqueles solicitadores de mais aulas de espanhol, pelos traços "abençoados" da professora. Aquele debate foi muito motivador, tanto, a ponto de, no outro dia, fazer-se visível a mudança visual de alguns “encarapuçados”, eles vieram, além de vestidos da melhor roupa, até bem perfumados graças aos representantes da Avon, constantemente vendendo perfume fiado por ali.  E venderam bem!
           São os professores belos melhores profissionais? Será a falta da beleza uma barreira à inteligência? Se tivéssemos de julgar os professores pela sua aparência física, como se julga modelos fotográficos, poucos alunos prosperariam para o futuro magistério. De certa forma, eles têm razão no exigir professores mais bonitos! Eles já não sabem mais o que cobrar, é lhes dado de tudo e, se assim continuar, num futuro não muito distante será um requisito eliminatório nos concursos da educação: a boa aparência física do candidato (como se isso já não influenciasse). Eles devem estar se perguntando: — Se estudar valesse para atenuar a desarmonia estética, por que os professores não são mais bonitos? – talvez seja esse o motivo dos alunos não se dedicarem aos estudos! A beleza de quem ensina não é inspiradora! A quem me chama de feio digo-lhe que nossa anomalias não podem ser as mesma.
           O sistema é feio e burocrático, aberto a abusos e aberrações está cheio de professores velhos e feios, esses sempre foram uma classe desprezada e odiada. Apenas um ou outro se destaca na admiração social por ter um intelecto muito avantajado. A falta da beleza sempre foi inimiga da ignorância. Todavia, a escola do futuro vai contratar só professor bonito! Porque é difícil demais cobrir a "deficiência" bancando o palhaço, além do mais, não funciona bem, querer ser simpático elogiando todo mundo, pois logo será acusado de assediador de "de menor"! E o feiura não tem lugar em meio de "intelectuais belos". E a beleza vulgar faz feia a bela gente! (http://super.abril.com.br/comportamento/estudantes-aprendem-melhor-com-professores-bonitos)- acessado em 02/09/2016.
            Nossos lideres procuram nos confortar com o perigo fatal da fermentação da autoestima, com leituras de autoajuda e capacitações; quando já estamos bem alto, acreditando no nosso potencial de empatia, a queda é repentina! Há sempre alguém bem disposto para “puxar nosso tapete”! E, então, continuamos perguntando como o eu lírico do poema, Retrato, de Cecília Meireles: — Em que espelho ficou perdida a minha face?
            Vejam o ponto a que cheguei, agora me ponho a falar-lhes no fato de nos regermos pelas aparências, ao invés da devida confiança na sabedoria. Qualquer pessoa bem esclarecida, de certa forma, se conhece bem, e desfruta de todas as coisas boas existentes nela, como dons de Deus. A escola precisa de professores confiante, mas confiantes no sentido de que a beleza é relativa, e se concebem escolhidos e especiais por outros dotes necessários. Todos nós precisamos de certa medida de respeito próprio profissional, então sejamos consistentes com a função ocupada, é o importante. Ninguém é totalmente desprezível!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 18/09/2010
Código do texto: T2505675

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domingo, 12 de setembro de 2010

O Sangue de Jesus Tem Poder ( Só o miserável suporta a sua miséria)







CRÔNICA

O Sangue de Jesus Tem Poder ( Só o miserável suporta a sua miséria)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         Ser cristão hoje é seguir o Cristo criado pelos "crentes", contraditório demais, confuso demais para o ideal: um homem perfeito cumpridor da lei moral e ao mesmo tempo vestiu-se dos pecados dos homens imperfeitos (Péssimo exemplo de disfarce!) de cujo sangue tem poder (Clichê de hipócrita), assim justificam o fanatismo desenfreado de uma maioria que confunde fé com desejo. Pode Deus deixar de ser Deus? (Filipenses 2:7; Hebreus 2:17).   Esse naipe de gente é um perigo do ponto de vista social! Comem a carne de seu Deus e bebem seu sangue. 
         Ainda insistem em dizer que a Bíblia é a palavra de Deus com tantas versões e traduções (Bíblia da Mulher, Bíblia dos gays, Bíblia do pastor, Bíblia da criança, Bíblia de estudo etc.). Os bons linguistas e até qualquer estudioso honesto da língua sabem que não há sinônimos, no sentido de uma palavra tem o mesmo significado da outra, existe sim, apenas aproximação semântica entre elas. Um texto traduzido é outro texto. A palavra de Deus, também, não é a consciência, esta é apenas fruto da cultura. A verdadeira palavra de Deus fala dentro de qualquer um em contemplação à natureza. O livro de Deus é a Natureza. Até analfabetos têm acesso, podendo compreendê-lo e interpretá-lo sem precisar se submeter à classe dominante de intercessores de Deus, cobrando dízimos dobrados por seus serviços.                  
         Um Deus perfeito e eterno, criador de Leis perfeitas e eternas, não pode transgredir suas próprias leis, bem como não permite transgressão alguma sem consequência. Assim também, Ele deixará de ser Deus, levando homens, criados para viver na terra, ao espaço sideral, não tendo neles a condição lógica de sobreviver em outro lugar. Adaptaria-os em um céu, só por caprichos de quem acredita nos méritos de Jesus? Qual é a recompensa dos bons? (Bons por que obedeceram a leis de homens ou do universo?) Pode uma célula do fígado migrar para o coração, fazendo, assim, parte de sua estrutura? Todo organismo obedece a leis naturais invioláveis, senão atrai consequências. Rejeitar um órgão transplantado é papel de um corpo fiel,  e mais,  serve de prova, como ninguém conseguiria evitar todas as consequências danosas se fosse realmente à lua ou qualquer outro lugar fora de nossa atmosfera. Imagine os transtornos advindos se nos aproximarmos mais do sol ou se nos distanciarmos mais dele! Onde estão o céu e o inferno? E se forem apenas espaço físico aqui mesmo na terra? Porém, se forem estados de espírito, então se misturam dentro do homem, aqui e agora! E o futuro fica à frente, e a igreja  só depósito de enganadores de si mesmos.
          Hoje as mulheres enchem as religiões, reagindo contra a intolerância de outrora, quando eram excluídas da comunidade. Por que haveriam de defender ideologias que não exaltam substancialmente seus filhos? Eu recomendo o histórico filme de Alejandro Amenábar com a gloriosa Rachel Weisz: Agora (no Brasil, Alexandria). 
           E confira também em que os cristãos de hoje são tão diferentes dos primeiros: (http://desciclopedia.org/wiki/Deslivros:Como_fundar_uma_Igreja_Evang%C3%A9lica). Acessado em 07/05/2016.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 12/09/2010
Código do texto: T2492920

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