ÁGUA PRIVATIZADA ("A falta do saber e a falta de informações são os princípios da manipulação" — Diôgo Pantoja)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Com um café na mão e os olhos fixos na tela da TV, comecei mais um dia tentando decifrar o noticiário. Mas, em vez de clareza, encontrei uma enxurrada de informações desencontradas — um eco repetido que, há algum tempo, me causa mais estranheza do que tranquilidade. Foi então que uma ideia me cutucou com insistência: a mídia, por vezes, mais desidrata a verdade do que a serve. E, confesso, essa analogia com a água — algo tão essencial — me levou a uma sequência de reflexões que preciso dividir com vocês.
Tenho observado, com um misto de perplexidade e indignação, a forma como somos bombardeados por discursos alarmistas, especialmente sobre a crise hídrica. Falam em fim da água, em necessidade urgente de economizar cada gota. Mas será mesmo que alguém vai morrer de sede? As máquinas de dessalinização, que transformam água do mar em potável, seguem em constante aperfeiçoamento. O sol — essa estrela colossal que nos aquece e alimenta os sistemas de condensação da umidade do ar — vai, por acaso, desaparecer? Claro que não. Essa narrativa apocalíptica, embora disfarçada de urgência, parece esconder interesses mais profundos.
O que me parece evidente é que o apelo à economia de água tratada — quase sempre direcionado aos mais pobres — é uma cortina de fumaça. Enquanto isso, os mais abastados seguem se banhando livremente em suas piscinas, sem peso na consciência. Para quê tamanha seletividade no discurso? Para que os empresários possam justificar o aumento no preço da água que escorre pelas torneiras de todos nós. E o mais desconcertante é ver o "gado" — essa massa que absorve tudo sem questionar — repetindo esse discurso em visitas escolares, como se recitassem uma verdade inquestionável. Dá um nó no estômago. Quais sentimentos habita esse "gado" ao ser conduzido ao frigorífico acreditando caminhar rumo ao paraíso? É uma metáfora cruel, sim — mas que se impõe, inevitável, ao assistir à manipulação da informação.
Essa manipulação, aliás, não se restringe à questão hídrica — ela se infiltra em toda a engrenagem informacional contemporânea. O roteiro se repete com pequenas variações: cria-se o pânico em torno de determinado recurso ou problema; em seguida, convocam-se "especialistas" que validam o alarde; e, por fim, surgem as “soluções” — quase sempre caras, convenientes e lucrativas para determinados grupos econômicos. Foi assim com o apagão de energia nos anos 2000, com os combustíveis em tempos de crise geopolítica, e agora com a água. O poder não precisa controlar a verdade, basta drená-la lentamente, até que reste apenas um espetáculo de manchetes e medo, onde cidadãos são convertidos em consumidores ansiosos por salvação.
Chega a ser cômico — se não fosse trágico — imaginar a mídia alegando que a água “saiu da atmosfera” e, por isso, parou de chover. Em algum delírio, os terraplanistas teriam que aquecer o domo que, segundo eles, reveste a Terra, só para desembaçá-lo. Um absurdo que beira o ridículo. Mas, de um jeito ou de outro, dariam um jeito. Talvez envenenassem a água em nome da purificação, já que não podem destruí-la nem fabricá-la. E se pudessem? A água “fabricada” seria caríssima — a engarrafada já nos dá esse presságio. E as chuvas? Onde estão as chuvas que sempre prometem aliviar a seca, mas insistem em atrasar quando o discurso do caos é mais lucrativo?
É nessa secura de sentido que a mídia atua com maestria: molda urgências, fabrica consensos e regula a temperatura emocional das massas com o termômetro de quem detém os canais. Lembro-me bem do alarde sobre o “apagão” que justificou privatizações, ou das “ondas de violência” que serviram de pano de fundo para políticas duras de encarceramento. A verdade, quando não é negada, é diluída em meias palavras, cifras e manchetes enviesadas — alimento diário para o medo e anestesia para o senso crítico. O que está em jogo não é só a água, mas o fluxo de poder que escorre invisível pelos canos da informação. A mídia não se limita a relatar os fatos: ela os coreografa conforme os interesses de quem paga o espetáculo.
5 - Ao final, o autor conclama à necessidade de "beber da fonte da informação com mais consciência". Pensando nos desafios da sociedade contemporânea, marcada pela pós-verdade e pelas fake news, discuta o papel da educação sociológica na formação de cidadãos mais críticos e capazes de discernir a "verdade" dos discursos midiáticos manipulados.
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