"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 20 de agosto de 2022

O BEM E O MAL COMPARTILHADOS ("A maldade humana tem apenas uma motivação: a busca insana pela superioridade." — Lúcio Kwayela)

 


O BEM E O MAL COMPARTILHADOS ("A maldade humana tem apenas uma motivação: a busca insana pela superioridade." — Lúcio Kwayela)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Prezados alunos que me veem como um obstáculo, devo confessar que é simples me tirar do caminho: basta que não haja mais alunos, pois sem vocês, não há professor. Contudo, percebo que, em vez de me ignorarem, vocês me atacam. Falam mal de mim e inventam denúncias para esse fim, o que apenas me entristece e alegra aqueles que torcem contra mim. Outros, mais sutis, me elogiam em público, fingindo apoio, mas esse falso suporte só desperta o ciúme dos colegas. Eles, por sua vez, conspiram e lançam sombras até me excluírem do convívio. A discriminação é, afinal, a prova mais viva da maldade instalada. Meu problema é simples, embora solitário: "consigo ver o anzol, enquanto vocês ainda se distraem com a isca".

As aulas gratuitas oferecidas pelo Estado deveriam despertar gratidão, afinal, o professor, como funcionário do povo, sustenta-as com sua voz e seu tempo. No entanto, a sociedade o reduz à condição de assalariado, como se seu salário anulasse o valor de seu serviço. Curiosamente, o governador, também pago com dinheiro público, é aplaudido e eleito como um benfeitor.

Esse paradoxo não se restringe ao professor. Médicos, policiais e garis são igualmente alvos fáceis de críticas, como se a remuneração de seus ofícios anulasse o impacto de suas ações. Esquecemos que a dignidade de um trabalho não está no contracheque, mas no serviço que constrói a cidade, preserva a vida e protege a sociedade. Enquanto isso, os políticos, igualmente sustentados pelo erário, são tratados como salvadores por distribuírem promessas ou migalhas. Essa inversão de valores não surge por acaso: ela serve para invisibilizar quem constrói a cidadania e fortalecer quem perpetua privilégios.

Se a lógica fosse justa, um professor candidato venceria facilmente, considerando a quantidade de alunos votantes, o tempo de serviço e o benefício social que ele oferece. Mas essa vitória nunca acontece. A resposta é seca, cortante, quase irônica: "Só que não".


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Vamos analisar o texto que acabamos de ler. Ele traz reflexões importantes sobre o papel do professor e de outros profissionais, além de questionar a lógica da nossa sociedade. Pensem sobre as ideias discutidas e preparem-se para responder às seguintes questões.


1 - O texto afirma que a dignidade de um ofício não está no contracheque, mas no serviço que ele presta à sociedade. Explique, com suas palavras, o que significa essa afirmação e dê exemplos de como a sociedade valoriza mais o cargo (como o de político) do que a função social (como a de professor, médico ou gari).

2 - A frase "consigo ver o anzol, enquanto vocês ainda se distraem com a isca" é uma metáfora. Analise essa frase e explique qual é o "anzol" e a "isca" na relação entre professor e alunos, segundo o autor do texto.

3 - O texto aborda a inversão de valores que invisibiliza profissionais essenciais e eleva políticos a "salvadores". A partir da sua leitura, discuta como essa inversão afeta a percepção do trabalho e do valor de cada profissão na sociedade.

4 - Em que sentido a discriminação contra o professor pode ser vista como a "prova mais viva da maldade instalada"? Relacione essa afirmação com a crítica do autor sobre a forma como o falso apoio e o ciúme se manifestam na escola.

5 - O texto argumenta que, pela lógica, um professor deveria vencer facilmente uma eleição, mas isso não acontece. Baseando-se no texto, explique o paradoxo dessa afirmação e o que a resposta "Só que não" revela sobre a relação entre o serviço público e o reconhecimento social e político.

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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

FACADA MALDITA ("Não dê chance para essa esquerda. Eles não merecem ser tratados como pessoas normais, como se quisessem o bem do Brasil, isso é mentira" — Jair Bolsonaro)

 


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

SEM O DOMÍNIO DA INCOERÊCIA ("A mudança é como a morte. Não se sabe como é até que ela chegue." — Jurassic World: Reino Ameaçado)

 


SEM O DOMÍNIO DA INCOERÊCIA ("A mudança é como a morte. Não se sabe como é até que ela chegue." — Jurassic World: Reino Ameaçado)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A escola pública brasileira padece sob um excesso de leis inúteis e ordens momentâneas, que emergem dos caprichos de cada nova gestão. Nesse cenário de "casa da 'mãe Joana'", a alta rotatividade impede que o plantio pedagógico gere bons frutos, e o professor envelhece na profissão sem consolidar uma prática eficaz. Constantemente, surgem "novidades" como o Novo Ensino Médio, onde o "vinho novo se perde no odre velho", ou a Escola de Tempo Integral, que se assemelha mais a uma creche para pais trabalhadores, com professores reduzidos a "babás". Paralelamente, os Projetos das Profissões são introduzidos, submetendo alunos a testes vocacionais, mesmo que a etapa não seja profissionalizante. Essa frenética sucessão de inovações impede qualquer adaptação ou consolidação pedagógica.

O ponto mais grave reside na própria instituição escolar minar a autoridade docente, ao afirmar que o professor é despreparado ou incompetente. Em um movimento contraditório, as notas são artificialmente elevadas para forjar "bonitas estatísticas e coloridos gráficos", culminando na má fama do professorado. Nesse cenário, o clientelismo político se instala, com cada vereador apadrinhando representantes na escola. Gestores, por sua vez, legislam em causa própria, instituindo leis parciais e frágeis, quase feitas para serem rompidas. A violação de uma norma rapidamente desencadeia a anarquia de outras, até que o responsável seja compulsoriamente substituído pela Secretaria de Educação, perpetuando um ciclo vicioso de instabilidade administrativa.

A raiz do problema pedagógico reside na inversão de prioridades: enquanto todos se arrogam o direito de ensinar o professor a ensinar, ninguém se ocupa de ensinar o aluno a aprender. Nesse vácuo educacional, a concessão de presentes e gratificações — o anacrônico “pão e circo” — apenas solidifica o comodismo e a desvalorização de um aprendizado que não exigiu sacrifício algum.

Para enfrentar tal cenário, as críticas devem ser articuladas em blocos claros, desvelando as raízes da instabilidade administrativa, da desprofissionalização docente e do clientelismo político. Os exemplos são abundantes: gestores substituídos como meras peças de tabuleiro, professores compelidos a acatar decretos improvisados e alunos reduzidos a números em gráficos que mascaram a realidade. Contudo, a crítica não pode se restringir ao lamento; é imperativo apontar caminhos. Medidas urgentes incluem a garantia de estabilidade na gestão escolar, a valorização contínua da carreira docente e a redução das interferências políticas. O que se almeja, em última análise, não é um espetáculo de improvisos, mas uma escola onde professores possam verdadeiramente ensinar, alunos possam eficazmente aprender e a comunidade possa confiar no processo educativo como um projeto sério e duradouro.


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Questão 1 - Instabilidade Administrativa

O texto menciona que a escola pública brasileira sofre com "excesso de leis inúteis e ordens momentâneas" que surgem a cada nova gestão. Explique como essa instabilidade administrativa pode afetar negativamente o processo de ensino-aprendizagem e dê exemplos de como isso se manifesta no cotidiano escolar.

Questão 2 - Desvalorização Docente

Segundo o autor, "a própria instituição escolar mina a autoridade docente". Analise essa afirmação explicando como a desvalorização do professor pode criar um ciclo negativo que prejudica toda a comunidade escolar (professores, alunos e famílias).

Questão 3 - Clientelismo na Educação

O texto critica o "clientelismo político" que se instala nas escolas, com vereadores "apadrinhando representantes". Explique o que é clientelismo e como essa prática política pode comprometer a qualidade da educação pública, interferindo nos objetivos pedagógicos da escola.

Questão 4 - Inversão de Prioridades Educacionais

O autor afirma que existe uma "inversão de prioridades" onde "todos se arrogam o direito de ensinar o professor a ensinar, mas ninguém se ocupa de ensinar o aluno a aprender". Reflita sobre essa crítica: o que significa "ensinar o aluno a aprender" e por que isso deveria ser uma prioridade no sistema educacional?

Questão 5 - Soluções para a Crise Educacional

O texto apresenta algumas medidas para melhorar a educação: "estabilidade na gestão escolar", "valorização contínua da carreira docente" e "redução das interferências políticas". Escolha uma dessas medidas e explique detalhadamente como ela poderia contribuir para resolver os problemas mencionados no texto, apresentando também outros caminhos possíveis para transformar a realidade da escola pública brasileira.

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A NAVALHA RITUALÍSTICA ("Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor." — Caio Fernando Abreu)

 


A NAVALHA RITUALÍSTICA ("Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor." — Caio Fernando Abreu))

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Metaforicamente, sou eu quem tem a função da raspagem neste meu tempo. Ainda que me prenderam em uma casa solitária, fiz um buraco na porta — estreito, mas suficiente — e dele saí para o mundo, representando a navalha poderosa que empunho. Cumpro essa responsabilidade porque uma grande necessidade me chama: alisar, cortar e raspar as asperezas. Os amigos da escola não me esperam mais para conduzir-me ao teatro; para eles, eu era apenas o palhaço do circo. Procurei-os, mas não os encontro, pois a pandemia nos distanciou. Restou-me apenas a espera, sozinho, no ponto de ônibus. No auge do desespero, vieram os amigos da igreja, que me levaram ao teatro: era tempo do ritual, o cenário já montado. No centro, um bolo ornamentado boiava numa bacia com água, entre galhos de rosas, compondo um batismo sagrado diante dos espectadores. Cheguei confuso, e em voz alta perguntei: “O que devo fazer?”. Uma voz respondeu: “Você é a Navalha que corta o bolo”.

Parece não ter relação, mas ao despertar do sonho, pesquisei o significado ritualístico da navalha. “Ok, Google, o que é uma navalha?” — “Objeto semelhante a um canivete, que abre e fecha, especialmente afiado, como uma gilete, usado em tempos passados para raspar a barba e os cabelos. A palavra deriva do francês antigo rasor, de raser — raspar. Mulheres da vida noturna a utilizavam por ser discreta e perigosa, escondendo-a na meia-cinta, junto à coxa, como arma de defesa. Um corte de navalha sangra intensamente pela perfeição do corte e pode levar à morte por hemorragia.”

A navalha sobreviveu e se adaptou. Assumiu novas formas, mas permanece no universo humano: corta cabelos que crescem demais, restaura a limpeza da cabeça e abre espaço para que novos fios surjam com mais força. Cabeça raspada é sinal de submissão ou iniciação, enquanto o cabelo simboliza vitalidade, erotismo, força, vaidade, virtudes e até poderes espirituais ou demoníacos, quando exagerado ou doente.

Entre o sonho enigmático e a realidade pesquisada, percebo que a navalha atravessa não apenas a pele, mas também o tempo e a simbologia das culturas. Não é à toa que os profetas, em suas tradições, associaram o cabelo e a barba à honra, à força e até à identidade espiritual do homem (cf. 2Sm 10,4; Ez 16,7; Pr 16,31). Quando a lâmina aparece, seja no ritual ou no corte cotidiano, ela não cumpre só a função de limpar, mas também de separar: distingue o puro do impuro, o sagrado do profano, o que permanece do que deve ser descartado. Assim, meu sonho não se rompe como devaneio isolado, mas se prolonga em reflexão sobre o poder de cada gesto aparentemente banal. E se raspar a cabeça, por vezes, é vergonha, noutras se torna sinal de reinício, lembrando que a perda pode ser também a preparação de um novo nascimento.

Em contrapartida, raspar a cabeça é quase sempre interpretado como desonra, tanto para homens quanto para mulheres (cf. 2Sm 10,4). Apenas em casos de luto o símbolo do cabelo se enfraquece: homens escondem a barba, carpideiras arrancam os cabelos. O ritual hebraico do bode emissário — “o cabeludo” — carregava os pecados do povo (Lv 16,21-22) e, por isso, foi associado ao demônio e à feitiçaria. Entretanto, de modo geral, o cabelo bem tratado conserva sentido positivo: da cabeleira vigorosa da juventude (Ez 16,7) aos veneráveis fios brancos dos idosos, pois “cabelos brancos são coroa de honra; a gente os acha nos caminhos da justiça” (Pr 16,31).

O ato de raspar a cabeça, portanto, raramente é neutro. É vergonha ou purificação, luto ou renascimento. Se em tempos antigos já se relacionava à desonra ou à consagração, hoje, em meio a tantas doenças transmissíveis e crises que exigem novas limpezas, talvez a navalha ainda nos convoque a repensar o que precisa ser cortado para que outra vida, mais forte, possa nascer.


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O texto que lemos é bem interessante porque usa a metáfora da navalha para falar sobre transformações na nossa vida. Ele mistura experiências pessoais com significados históricos e sociais, o que é um prato cheio para a sociologia. Com base nisso, preparei cinco questões para vocês refletirem e discutirem em grupo. Pensem sobre as relações entre a experiência do narrador e os simbolismos da navalha que o texto apresenta.


1 - O narrador se descreve como a "navalha" que "raspa as asperezas". Baseado na sua leitura, o que essas "asperezas" podem representar no contexto da vida social do narrador, especialmente após a pandemia?

2 - O texto diferencia a "navalha" de suas funções. No contexto da narrativa, o que o ato de "raspar" ou "cortar" simboliza para o narrador? Qual é a diferença entre ser a navalha e cumprir a função de cortar?

3 - O texto menciona que a navalha pode ser usada para "separar: distingue o puro do impuro, o sagrado do profano". Como essa ideia de separação se manifesta na vida do narrador, considerando suas relações com os "amigos da escola" e os "amigos da igreja"?

4 - A navalha pode representar tanto desonra quanto purificação. Como o texto explora essa dualidade? Cite exemplos que mostram a navalha como algo vergonhoso e como algo ligado a um novo começo ou renovação.

5 - O texto termina com a ideia de que a navalha nos convoca a repensar o que precisa ser cortado para uma "vida, mais forte, possa nascer". Conecte essa ideia com a experiência do narrador e explique como a metáfora da navalha se aplica a processos de mudança social e pessoal.

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Gradação: A Trajetória Única da Existência ("Naquele Dia, os céus se dissolverão pelo fogo, e todos os elementos, ardendo, se dissiparão com o calor. — II Pd 3:12)

 


Gradação: A Trajetória Única da Existência ("Naquele Dia, os céus se dissolverão pelo fogo, e todos os elementos, ardendo, se dissiparão com o calor. — II Pd 3:12)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Existem dois caminhos diante de nós, mas eles não se separam; estão em sequência, um após o outro. Sua distinção reside apenas nas circunstâncias, como as cores em um matiz volátil; a trajetória, contudo, é uma só. A existência desses caminhos não pressupõe escolha: o caminho da vida começa de forma automática ao nascermos, e o da morte, por sua vez, inicia-se automaticamente quando o da vida termina. O Diabo (maior incidência do mal) é quem, talvez, manipula nossa visão para que enxerguemos as coisas em paralelo, criando uma deformidade no olhar de quem vê. Na verdade, a sequência dos fatos é uma gradação, manipulada por Deus, pois "todas as coisas contribuem para o bem dos que temem a Deus". Por isso, tudo está em sequência, rumo ao mesmo objetivo, e tanto o querer quanto o realizar vêm d'Ele.

A vida e a morte, assim como a luz e as trevas, não estão em paralelo. Uma semente de caju dará origem a um cajueiro, não a um mamão; e somente ao deixar de ser cajueiro, sua matéria orgânica poderá alimentar um mamoeiro. Em tudo, há um pouco de morte na vida e um pouco de vida na morte. Não há totalidades integrais; sempre há um resquício de luz nas trevas e vice-versa. Apenas a esquerda, de maneira figurada, anda em lado oposto no mesmo nível; fora isso, tudo está junto e misturado.

A esquerda, nesse sentido, pode ser vista como a única forma de oposição real, porque não se contenta com a gradação natural da existência, mas insiste em caminhar contra o fluxo que conduz todas as coisas à compatibilidade do Criador. Sua postura é paradoxal: ao mesmo tempo em que denuncia injustiças, tenta instaurar uma ruptura absoluta onde, na ordem divina, só existem passagens graduais. É justamente por se colocar como contramão radical que a esquerda ganha o estatuto de resistência simbólica — não porque consiga criar um caminho paralelo à vida e à morte, mas porque, ao negar a gradação, expõe o quanto o olhar humano é suscetível à ilusão da separação. Nessa figura, ela não deixa de ser necessária: funciona como lembrança viva de que a visão pode se corromper, e que toda oposição radical é também um espelho distorcido do mesmo processo que pretende contrariar.

Meu batismo é o da compatibilidade ajustada, onde sempre existe um ponto de fusão para a redefinição, uma ação do Criador. Esse ponto culmina no fim do mundo, onde, segundo a escritura, "Naquele Dia, os céus se dissolverão pelo fogo, e todos os elementos, ardendo, se dissiparão com o calor". Tal evento não é um fim, mas um recomeço, um alinhamento final para que tudo se torne novo.

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Questões Discursivas: A Trajetória Única da Existência

1 - O texto aborda a ideia de que nossa visão sobre os "caminhos" da vida pode ser "manipulada", levando-nos a enxergar as coisas "em paralelo" em vez de em "gradação". Pensando em uma perspectiva sociológica, como as normas sociais ou as instituições (como a família, a escola ou a mídia) podem influenciar a forma como os indivíduos percebem os caminhos disponíveis em suas vidas?

2 - A passagem "Em tudo, há um pouco de morte na vida e um pouco de vida na morte. Não há totalidades integrais" sugere uma interconexão entre opostos. Discuta como essa ideia de interdependência pode ser aplicada para entender as relações entre diferentes grupos sociais ou classes em uma sociedade, considerando que nenhum existe de forma "integralmente" separada do outro.

3 - O texto utiliza a "esquerda" como uma metáfora para a "única forma de oposição real" que "insiste em caminhar contra o fluxo". Em que sentido, sociologicamente, os movimentos sociais ou grupos que representam uma "oposição radical" podem ser vistos como "necessários" para a transformação ou para a "redefinição" de uma sociedade, mesmo que contrariem o status quo?

4 - O conceito de "compatibilidade ajustada" é introduzido no texto como um ponto de "fusão para a redefinição". Em uma análise sociológica, como a busca por consenso social ou a resolução de conflitos em uma comunidade ou país pode levar a uma "redefinição" ou a um novo "alinhamento" das relações e estruturas sociais?

5 - Ao final, o texto descreve o "fim do mundo" não como um término, mas como um "recomeço" e um "alinhamento final para que tudo se torne novo". Refletindo sobre as mudanças sociais, como crises econômicas, revoluções ou avanços tecnológicos podem ser interpretados como "fins" de um período que, paradoxalmente, abrem caminho para "recomeços" e novas configurações sociais?

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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O SUCESSO DO DIABO! ("O mal do mundo é que Deus envelheceu e o Diabo evoluiu." — Millôr Fernandes)

 


O SUCESSO DO DIABO! ("O mal do mundo é que Deus envelheceu e o Diabo evoluiu." — Millôr Fernandes)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em nossos tempos, o Diabo não se esconde nas sombras; ele desfila à luz do dia, vestindo terno ou batina, e se apresenta como mestre, pregador e conselheiro. Nas escolas, educa mais do que muitos professores; nas igrejas, prega mais do que o próprio Deus; e nas famílias, ensina mais do que os pais. Sua pedagogia é simples: transformar tragédia em espetáculo, miséria em lucro e a fragilidade humana em moeda de troca. É assim que ele "ANIMALIZA as pessoas" e "HUMANIZA o deus dos crentes", criando uma religião feita sob medida para "cérebros doentes", os fanáticos.

O texto caminha por duas estradas paralelas e igualmente perigosas: a religião enquanto instituição econômica e política, e a moralidade social como uma máscara para a degeneração disfarçada de virtude.

A religião, quando atua como empresa, não se sustenta sem um produto que venda medo e culpa. É por isso que ela explora a sexualidade e a moralidade em blocos bem calculados: primeiro seduz com a promessa de pureza; depois condena o que ela mesma instigou; e, por fim, oferece a "cura" mediante pagamento. A lógica é transformar o prazer humano em moeda de troca e o comportamento em mercadoria. Essa engrenagem não é apenas econômica, mas também política, moldando consciências para que a obediência pareça virtude e a submissão, salvação. No fundo, trata-se de um mercado de almas, onde o pregador é o comerciante e o fiel, a mercadoria ambulante.

Nesse contexto, a expressão "fazer amor" — "UMA EXPRESSÃO DE SUA LINGUAGEM VULGAR" — é uma fantasia de pessoas devassas que buscam mostrar que se amam e se respeitam. A religião se importa tanto com o adultério porque o sexo é seu segundo deus, seu verdadeiro "GANHA-PÃO!". Os pecados sexuais geram indulgências caras, e a expressão "fazer amor" se torna um eufemismo para disfarçar uma vida depravada, consagrando todas as suas práticas. Essa é a hipocrisia, o enfeite da falsa moralidade social.

Gente fraca não pode ser sincera; precisa maltratar os outros, fingindo poder. Alunos possuídos por "espíritos sebosos" fingem querer aprender comigo, mas me denunciam sob ordem de sua religião, atrapalhando meu trabalho, "como manda a filosofia". Há muita gente que pensa saber tanto de Deus que já se sente Deus. Ditam até como Ele vai me tratar, com "mil recomendações que o deus deles, obediente, 'na parede', não terá como não me abençoar!". É assim que querem que eu acredite. Mas quem me diz "Deus te ajude", "vai com Deus", "Deus te abençoe", geralmente tem uma vida miserável. Por isso, vocês não me enganam mais com esses ares de "fé demais"!


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Vamos analisar o texto que vocês leram. O objetivo é que, a partir da leitura, vocês possam refletir e discutir sobre as complexas relações entre religião, sociedade, moralidade e poder. Preparei cinco questões discursivas e simples para orientar nossa discussão. Lembrem-se de que a ideia é construir o conhecimento juntos, então as respostas de vocês são o ponto de partida para a nossa conversa.


1 - O texto sugere que a religião, em alguns casos, pode ser vista como uma instituição econômica. Explique essa ideia com base no trecho que fala sobre "mercado de almas" e "ganha-pão".

2 - A partir da leitura, como o autor descreve a relação entre religião e moralidade social? O que ele quer dizer quando afirma que a moralidade pode ser uma "máscara para a degeneração"?

3 - O autor afirma que o Diabo "ANIMALIZA as pessoas" e "HUMANIZA o deus dos crentes". Analise essa frase. Qual é o papel das "desgraças" e do "medo e culpa" nesse processo, segundo o texto?

4 - O texto aborda a sexualidade como um tema central para a religião. Explique, com suas palavras, por que o autor a considera um "segundo deus" e como isso se relaciona com a ideia de "mercadoria".

5 - De acordo com o texto, qual a relação entre o poder e a fraqueza? O que significa a afirmação "Gente fraca não pode ser sincera; precisa maltratar os outros, fingindo poder"?

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