"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 8 de março de 2009

MIL CRÔNICAS PARA ILUMINAR A EDUCAÇÃO (Uma resposta às más intensões)





MIL CRÔNICAS PARA ILUMINAR A EDUCAÇÃO (Uma resposta às más intensões)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O papel amarelado de meus cadernos guarda mais do que simples palavras; ele testemunha histórias de persistência em meio às adversidades. Como professor e cronista, decidi transformar os erros e desafios da educação pública em lições que merecem ser contadas. Mil crônicas, uma para cada erro observado, um para cada momento de reflexão que os muros da escola me proporcionaram.

Escrever, para mim, é um ato de coragem. Não a coragem espetacular dos filmes, mas aquela silenciosa e constante, que insiste em habitar o olhar dos educadores que lutam por mudanças, mesmo quando a realidade conspira contra. Não é fácil enfrentar críticas e incompreensões. Lembro-me de colegas que, ao invés de apoiar, lançaram palavras como lanças, tentando desqualificar meu trabalho com rótulos como "louco" ou "aético". Mas cada ataque só reforçou minha convicção: educar é iluminar.

Minha jornada começou com textos que incomodaram. "Cabeça Fraca" e "Nas Tetas da Vaquinha" provocaram reações de alguns colegas, especialmente de uma professora de Língua Portuguesa que, durante uma reunião, tentou me desmoralizar. Ela criticou meu primeiro livro, "Confissão de Um Anjo I", por seus erros gráficos. De fato, havia falhas, mas sua fala soava mais como um ataque pessoal do que uma crítica construtiva. Respondi com uma crônica que dizia tudo sem ofender: "Professor, Cadê o Seu Texto?". Porque, ao criticar, é preciso mostrar que se é capaz de fazer melhor.

Mas as críticas não vieram apenas de dentro da escola. Um professor, Jânio Donizete, publicou no jornal local uma análise severa de um dos meus textos, "Lentes de Aluno", acusando-me de impor visões religiosas. A resposta veio de forma inesperada, através de uma aluna, Michelly Martins, que o desafiou publicamente em uma carta no mesmo jornal, chamando-o de incompetente para interpretar meu texto. Essa defesa espontânea foi um lembrete de que meu trabalho não é em vão; ele inspira.

A verdade é que nunca escrevi para agradar, mas para provocar. Meus textos são tijolos na construção de uma educação mais humana e crítica. Sempre acreditei que os desafios devem ser enfrentados com sensatez, essa luz que Deus nos deu para guiar nossos passos em tempos de escuridão. Desistir nunca foi uma opção.

Recordo-me de uma frase irônica de um homem entrevistado no hospital: "Qualquer covarde pode parar de fumar, mas é preciso ser um verdadeiro herói para morrer de câncer do pulmão." Embora jocosa, a frase revela um paradoxo: muitas vezes, é mais fácil persistir no erro do que mudar. Para mim, o oposto se aplica. Continuo escrevendo não por teimosia, mas por convicção. Cada crítica que recebo é uma oportunidade para reafirmar minha crença de que a educação pode — e deve — ser transformadora.

Hoje, olhando para trás, vejo que as pedras que me lançaram pavimentaram o caminho para mil histórias. Não busco aplausos, nem heroísmo. Busco ressignificar, provocar, iluminar. E, se algo aprendi ao longo dessa jornada, é que a educação não é um destino, mas uma viagem. Uma travessia onde persistir é mais que uma escolha: é um compromisso.

Aos leitores que me acompanham, deixo um convite: não desistam. Mesmo quando as críticas forem duras e as dificuldades parecerem intransponíveis, continuem. Porque cada passo na educação é um passo na direção de um mundo melhor.


Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da sociologia da educação:


O autor menciona que "educar é iluminar". A partir dessa afirmação e do contexto do texto, como você entende a relação entre educação e poder?

Essa questão convida os alunos a refletirem sobre o papel da educação na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, explorando a relação entre conhecimento e poder.


O texto relata diversas críticas recebidas pelo autor. Como as reações dos colegas e da comunidade escolar podem ser interpretadas à luz das teorias sociológicas sobre o conservadorismo e a resistência à mudança?

Essa questão permite aos alunos aplicarem conceitos sociológicos para analisar as reações das pessoas às ideias inovadoras e desafiadoras.


O autor afirma que "meus textos são tijolos na construção de uma educação mais humana e crítica". Qual a importância da crítica e da reflexão na construção de uma educação transformadora?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre o papel da crítica na construção do conhecimento e na transformação social.


O texto menciona a importância da persistência na busca por mudanças na educação. Quais os desafios enfrentados por aqueles que buscam transformar a educação e como a sociologia pode contribuir para a compreensão desses desafios?

Essa questão permite aos alunos analisar os obstáculos que os educadores enfrentam ao buscar mudanças e como a sociologia pode oferecer ferramentas para superar esses desafios.


O autor utiliza a metáfora da viagem para descrever a educação. Qual o significado dessa metáfora e como ela se relaciona com a ideia de construção de um futuro melhor?

Essa questão convida os alunos a refletirem sobre o processo educativo como uma jornada contínua de aprendizado e crescimento, e a importância da educação para a construção de um futuro mais justo e igualitário.


domingo, 1 de março de 2009

POR QUE LAMENTAR O PONTO? ( Dói a Carimbação mais que a falta do salário)


Crônica

POR QUE LAMENTAR NO PONTO? ( Dói a Carimbação mais que a falta do salário)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Na escola em que trabalho, o Livro de Ponto é um caderno simples sem nenhum carimbo de reconhecimento de firma, mas tem, sim, o carimbo de “não compareceu”. Está sempre bem visível à mesa, “gordo” como é, entulhado de anexos grampeados, são muitos atestados médicos e declarações infindáveis até relatórios íntimos!

          Você se sente mal quando seu ponto é contado? E quando não é seu dia de trabalho naquela unidade escolar, mas no lugar da sua assinatura está carimbado um "Não Compareceu"? Quando não, está escrito: "Folga". Estaria certo se você realmente fosse “Folgado”! Até que isso é suportável, porém quando você trabalhou duro e recebe um "Não Compareceu", aí o “bicho pega”! Entretanto, tenho colegas imunes, faltam o quanto queiram e não receberam nenhum carimbadinha ainda! Que situação, se o professor tem duas aulas no período e não compareceu, cortam-lhe o ponto, normal, mas se trabalhou a primeira, assinou o ponto e foi embora sem ministrar a outra, qual o procedimento? Se a escola está sem água, todos foram embora sem trabalhar, quem justifica o ponto de quem? Se um advogado precisar verificar a frequência de um funcionário da escola de seis anos atrás, a escola terá esse “documento” guardado?
           Estas perguntas são muito mais do que simples minúncias da educação; tocam nas mais profundas motivações do coração. Se o seu incentivo para evitar faltas no trabalho é tal que você não se prestigia diante da profissão, sua motivação básica é egoísta. Se, por outro lado, sua razão para evitar faltas no trabalho origina-se de uma consideração intensamente alta pela educação dos seus alunos, sua motivação básica é altruísta.
          Quando chegamos diretamente ao ponto, a motivação faz toda a diferença. Teremos uma boa frequência quando o fogo que arde por trás dos nossos olhos é a dedicação altruísta. Só podemos ser verdadeiramente assíduos quando amamos o que fazemos. Mas, o egoísmo não pode produzir altruísmo. Quando temos um motivo egoísta para desejarmos ser altruísta, isto simplesmente não funciona.
          Um bom funcionário sabe o porquê, por este motivo alimenta razões totalmente altruístas para querer ser melhor ainda. Digo aos nossos coordenadores que mais do que quaisquer preocupações com nós mesmos, tornemo-nos zelosos da boa reputação do nosso colega. Sabemos que outros estarão fazendo decisões eternas em relação a si mesmos, muitas vezes, baseados no que contemplam em nossa prática. Um bom líder não usa a influência da rejeição emocional a fim de ordenar a vida de alguém de seu grupo, porque isto somente aprofundaria a “lambança” que principalmente o leva ao gazeamento.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 11/06/2009
Código do texto: T1643045

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Espetáculo das Interrupções ("A educação não é um privilégio de poucos, mas um direito de todos." (Paulo Freire)




Crônica


Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje, ao tentar conduzir minha aula com a dedicação de sempre, senti como se estivesse em um campo minado de interrupções. Cada batida na porta era um golpe na frágil estrutura de aprendizado que eu cuidadosamente tentava construir. Era como se o tempo e o espaço da sala de aula, teoricamente sagrados, fossem ofertados ao acaso, sem valor nem propósito claro.

Uma a uma, as invasões se sucediam: vendedores de livros, carteirinhas estudantis, camisetas personalizadas; representantes de cursos de informática; o presidente do bairro convidando para reuniões; o grêmio estudantil com novas ideias; e até os estagiários da saúde distribuindo preservativos. Não parava por aí: alunos de outras turmas vinham pedir materiais emprestados, a merendeira passava com avisos, e, no fundo, havia sempre aquele aluno engraçadinho, ansioso por desviar a atenção de todos com piadas sem graça.

A cada interrupção, a aula se desfazia, como morangos maduros caindo de uma sacola rasgada, espalhando-se pelo chão. O que deveria ser um momento de transformação virava uma sequência de distrações vazias, um espetáculo de acontecimentos fortuitos. A sensação de impotência era inevitável, como se eu carregasse um recipiente frágil que nunca chegava intacto ao destino.

Essas pequenas invasões cotidianas revelam algo maior: a crise da escola pública. Envolta em moralismos inconsistentes e conivências silenciosas, a escola parece ter perdido sua essência. Proíbe-se o uso de roupas "inadequadas" enquanto se distribuem preservativos; critica-se o comportamento juvenil, mas se permite que o ambiente escolar seja atravessado por interesses comerciais e propagandas oportunistas. É uma dança de incoerências, onde cada passo parece nos afastar do verdadeiro propósito da educação.

Lembro-me de um episódio emblemático. No meio do corredor escolar, vi uma aluna vendendo um pequeno frasco de óleo aquecedor, talvez algo mais. Não me indignei. Apenas observei, resignado, como quem assiste a uma peça cujo desfecho já conhece. Aquela cena, absurda à primeira vista, era apenas um reflexo da modernização moralista que assola os espaços educacionais. Produtos inusitados sendo comercializados em um cenário onde, ironicamente, o conhecimento deveria ser o único item em destaque.

E assim seguimos, reféns de um sistema que parece tratar a educação como um bem descartável, submetendo-a a constantes intromissões que roubam sua alma. Não há uma expressão genuína de amor pela causa nas ações que vejo. O que resta são vazios que ecoam em salas outrora vivas, transformadas em vitrines de interesses secundários.

A recuperação desse espaço não será fácil, mas é necessária. A escola precisa voltar a ser um lugar onde o conhecimento floresce, e não um território à mercê de invasores oportunistas. Precisamos, como educadores, reivindicar a sacralidade de nossas salas de aula, proteger o tempo de aprendizado e garantir que cada minuto tenha significado.

Ainda acredito que é possível. E, enquanto houver um pedaço de morango intacto no chão, estarei disposto a recolhê-lo, salvá-lo e mostrá-lo aos meus alunos como um símbolo de resistência e esperança. A educação, afinal, não é um produto. É um ritual. Um pacto silencioso entre quem ensina e quem aprende.


Com base no texto sobre as interrupções e desafios enfrentados na sala de aula, proponho as seguintes questões discursivas, explorando diferentes aspectos da temática e incentivando a reflexão crítica dos alunos:


O autor descreve a sala de aula como um "campo minado de interrupções". Quais são as principais interrupções mencionadas no texto e como elas afetam o processo de ensino e aprendizagem?

Esta questão direciona o aluno a identificar as diversas interrupções e analisar o impacto delas na dinâmica da sala de aula.


O texto apresenta uma crítica à escola pública. Quais são os principais problemas da escola pública destacados pelo autor e como eles se relacionam com as interrupções mencionadas?

A questão busca que o aluno reflita sobre os desafios enfrentados pela escola pública e como as interrupções contribuem para agravar esses problemas.


O autor utiliza a metáfora dos morangos maduros caindo de uma sacola rasgada para ilustrar o que acontece com a aula quando é interrompida. Explique essa metáfora e como ela contribui para a compreensão do texto.

Esta questão incentiva o aluno a analisar a função da metáfora na construção do texto, compreendendo como ela auxilia na compreensão da fragilidade do processo de ensino e aprendizagem diante das interrupções.


O texto aborda a questão da comercialização dentro da escola. Como a presença de interesses comerciais no ambiente escolar afeta a qualidade do ensino?

A questão direciona o aluno a refletir sobre o impacto da comercialização na escola, analisando como ela interfere no processo de ensino e aprendizagem e na relação entre os alunos e os professores.


O autor expressa a necessidade de recuperar a "sacralidade" da sala de aula. O que significa essa expressão e como podemos trabalhar para resgatar esse espaço sagrado?

A questão busca que o aluno interprete a expressão "sacralidade da sala de aula" e reflita sobre as ações necessárias para transformar a sala de aula em um espaço de aprendizagem significativo e protegido.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Invisíveis da Educação ("A função da educação é ensinar a pensar intensamente e pensar criticamente. Inteligência mais caráter: esse é o objetivo da verdadeira educação." — Martin Luther King Jr.)



Invisíveis da Educação ("A função da educação é ensinar a pensar intensamente e pensar criticamente. Inteligência mais caráter: esse é o objetivo da verdadeira educação." — Martin Luther King Jr.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O sinal da escola ecoa no silêncio da manhã como um grito contido. Meus passos atravessam o corredor, carregando mais que uma pasta - são histórias, sonhos e expectativas de centenas de jovens que desconhecem o peso de suas esperanças.

A batalha pelo reconhecimento transcende aumentos salariais ou redução de carga horária. É uma luta silenciosa, travada nos corredores escolares, nas salas de aula, nos olhares cansados de professores que persistem em acreditar.

Na sala dos professores, o café amargo ecoa nossos diálogos sobre as camadas de invisibilidade que nos envolvem. Como sobreviver a um sistema que nos transformou em burocratas, reduzindo nossa missão a meros números e estatísticas?

A burocracia nos consome lentamente. Relatórios intermináveis sufocam nossa essência de educadores. Somos artesãos de almas, não máquinas de carimbar papéis, presos entre decretos governamentais e a urgente necessidade de transformar vidas.

Maria, uma aluna, personificava a esperança. Ela representava todas as histórias que nosso trabalho pode reescrever, todos os potenciais que ultrapassam os números oficiais.

As autoridades políticas jogam um jogo perverso de reconhecimento. Alternam entre tratar-nos como peças descartáveis e como heróis abnegados. Manipulam recursos, distribuem migalhas de atenção, criando um ciclo vicioso de dependência e frustração.

Seguimos. Seguimos porque acreditamos que cada palavra, cada explicação, cada momento de paciência pode abrir portas improváveis para um futuro diferente. Nossa rebeldia se constrói não em gritos, mas em gestos sutis de resistência diária.

A educação não se mede por números ou decretos. Mede-se por vidas transformadas, por sonhos reavivados, por potenciais descobertos nas entrelinhas de cada aula, de cada encontro.

"E seguiremos, invisíveis heróis, escrevendo futuros que nenhuma estatística conseguirá apagar."


Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:


O texto compara a vida de um professor à de um barco à deriva. Quais são os principais "ventos contrários" que os professores enfrentam em seu dia a dia?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre os desafios enfrentados pelos professores, como a burocracia, a falta de reconhecimento e as altas expectativas.


A busca por reconhecimento é um tema central no texto. De que forma a falta de reconhecimento afeta a motivação e o desempenho dos professores?

A questão busca que os alunos compreendam a importância do reconhecimento profissional e como a falta dele pode impactar a qualidade do ensino.


A burocracia é apontada como um dos grandes vilões da educação. Como a excessiva burocratização interfere na relação professor-aluno e no processo de ensino-aprendizagem?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da relação humana na educação e como a burocracia pode distanciar os professores dos alunos.


O texto menciona a manipulação política dos recursos destinados à educação. Como a política influencia a qualidade do ensino e o trabalho dos professores?

A questão leva os alunos a analisar a relação entre política e educação e como as decisões políticas podem impactar diretamente a vida dos estudantes e dos professores.


Apesar dos desafios, o texto transmite uma mensagem de esperança e resistência. O que motiva os professores a continuar trabalhando mesmo diante de tantas dificuldades?

Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o papel social do professor e a importância da educação para a sociedade.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Comida Sem Sabor da Educação ("A educação é a capacidade de ouvir quase tudo sem perder a calma ou a autoconfiança." — Robert Frost)



A Comida Sem Sabor da Educação ("A educação é a capacidade de ouvir quase tudo sem perder a calma ou a autoconfiança." — Robert Frost)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Já sentiu o gosto amargo de comer sem fome, engolindo sem prazer, até se sentir cheio, mas sem satisfação? É exatamente assim que me sinto todas as sextas-feiras, ao ministrar minha sexta aula de Língua Portuguesa, semana após semana, na mesma sala de aula, como se um horário letivo mal planejado fosse a única alternativa. O ensino, que deveria ser um processo de troca e aprendizagem, transforma-se em um gesto mecânico, onde a paixão pela educação se perde no trajeto. A sala de aula, em vez de ser um espaço de transformação, se torna uma repetição sem fim, como a ingestão de comida sem gosto, sem vida.

Para que um ano letivo seja bem-sucedido, é preciso dar atenção aos elementos mais essenciais, frequentemente negligenciados. O sistema educacional, em sua estrutura falha, oferece aos professores e alunos uma "educação sem sabor". Muitos de nós, professores, nos vemos obrigados a engolir essa comida estragada, dia após dia, como se fosse inevitável. Não podemos esperar um bom resultado se começamos mal. Em qualquer processo, o início é crucial, e a educação não é exceção: um começo mal estruturado jamais levará a um fim feliz.

Na minha visão, uma educação ideal repousa sobre três pilares fundamentais: uma gestão escolar organizada, conteúdos adequados e material didático atualizado. Esses são os alicerces que sustentam o sistema educacional e que devem atrair a comunidade escolar para enfrentar, de forma unificada, os desafios de uma educação que luta para sobreviver às crises. Quando esses pilares faltam, a edificação do ensino se torna frágil, como tentar construir uma casa sem alicerces sólidos. A mudança começa na base, e é fundamental reconhecermos isso.

Você já parou para pensar se deseja algo melhor do que aquilo que vivencia no cotidiano escolar? Se a resposta for sim, então há uma centelha de esperança. Isso mostra que, mesmo diante de tantas dificuldades, ainda carregamos em nós o desejo de fazer mais, de ir além do que o sistema nos impõe. Esse desejo é movido por uma competência que, mesmo abalada, permanece latente em muitos de nós. Pode ser difícil admitir, mas esse impulso é o que nos leva a buscar um ensino de qualidade, a lutar contra a mediocridade e a procurar algo mais do que simplesmente seguir protocolos.

Contudo, a realidade é dura: muitos se conformam, ocupam seus cargos e seguem cumprindo tarefas sem questionar, sem inovar. Ser educador vai muito além de simplesmente preencher uma função. A diferença entre ser um bom profissional e apenas ocupar um cargo é enorme. Conhecer os preceitos teóricos é importante, mas entender a realidade da sala de aula, conhecer as necessidades reais dos alunos e do sistema, é o que realmente faz a diferença. Muitos se prendem às formas exteriores e ao cumprimento do regimento, sem perceber que a verdadeira essência da educação está em compreender e atender às demandas do momento.

Não somos professores por acaso. Somos vocacionados para um propósito maior, com um potencial imenso que, muitas vezes, se perde em meio à burocracia e à falta de estrutura. Nossa missão é levar o saber adiante, com dedicação e amor, e não apenas cumprir uma função. O sistema educacional, em sua rotina desgastante, muitas vezes nos reduz a um ciclo mecânico, onde nossa função é quase animalizada, sem espaço para a verdadeira criação e transformação. Mesmo assim, precisamos nos esforçar para manter acesa a chama que nos impulsiona a melhorar, a lutar por um ensino que não seja apenas funcional, mas transformador.

Estudos científicos demonstram que o alimento consumido sem prazer não é aproveitado da mesma forma que o alimento ingerido com satisfação. O mesmo se aplica ao ensino: quando não encontramos prazer em ensinar, o impacto no aprendizado dos alunos e na nossa própria capacidade de ensinar é devastador. A motivação genuína é o que faz a diferença, e sem ela, o processo de ensino-aprendizagem se torna vazio e sem sentido. A educação não pode ser uma obrigação sem gosto; deve ser uma fonte de prazer, troca e crescimento mútuo.

É urgente que entendamos que, para educar de verdade, não basta cumprir regras e protocolos. É necessário mais do que isso: é preciso paixão, dedicação e, principalmente, respeito. O momento de transformar a educação é agora. Devemos lutar para que nossa profissão não seja um simples ato mecânico, mas um verdadeiro chamado para a transformação. O conhecimento deve ser compartilhado, não guardado apenas para nós. Como educadores, somos responsáveis por criar, por transmitir o que há de melhor, e é assim que poderemos resgatar a verdadeira essência da educação.


Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:


O autor compara o ensino a uma refeição sem sabor. Quais são os elementos que, segundo o texto, tornam o ensino "sem sabor" e como isso impacta a aprendizagem dos alunos?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre os fatores que desmotivam professores e alunos, e como isso influencia a qualidade do ensino.


O texto destaca a importância de uma gestão escolar organizada como base para uma educação de qualidade. De que forma uma gestão eficiente pode contribuir para um ambiente de aprendizado mais favorável?

A questão busca que os alunos compreendam a importância da organização e do planejamento na escola e como isso impacta o dia a dia dos alunos e professores.


O autor menciona que muitos professores se conformam com a situação atual. Quais os fatores que podem levar os professores a se conformarem com um sistema educacional que consideram insatisfatório?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre as dificuldades que os professores enfrentam e as razões que podem levar à falta de engajamento em suas atividades.


O texto destaca a importância da paixão pela educação para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem. Como a paixão dos professores pode influenciar a motivação dos alunos e a qualidade do ensino?

A questão leva os alunos a analisar a importância da relação entre professor e aluno e como o entusiasmo do professor pode impactar a aprendizagem dos estudantes.


O autor propõe uma reflexão sobre o papel do professor na sociedade. Qual a importância de que os professores busquem constantemente se aperfeiçoar e inovar em suas práticas pedagógicas?

Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o papel social do professor e a importância da formação continuada para a melhoria da educação.


domingo, 1 de fevereiro de 2009

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")


Crônica

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")

Claudeci Ferreira de Andrade


          Eu nunca recebi flores e minha única chance de recebê-las, antes de meu funeral, seria se um dia fosse eleito o “Professor destaque" em minha unidade escolar. Mas, para ser eleito o destaque é preciso fazer milagres. Coisa que ainda não aprendi.

          Por que somos tão impressionados com coisas miraculosas? Damos toda a nossa atenção àquilo que faz nosso coração bater e acelera a nossa respiração. Quando o chefe vê o espetacular, ele baixa a faculdade de discriminação e perde a razão simplesmente pelo gozo do evento e mostra toda a sua fraqueza, elegendo o funcionário destaque.
          Não é de surpreender, portanto, que muitos recorram a testificar de atos deveras impressionantes na escola: índice de reprovação zero, promoção de passeio, aulas de campo, projeto de dança, entrega de diários e relatórios antecipados, nenhuma falta com o livro de ponto, assinado quinze minutos antes do horário. Tem uns que recorrem até a métodos desonestos para se evidenciar, como inspecionar a vida alheia para apresentar a mais quente fofoca, “verdadeiros milagres”.
          A maioria de nós talvez não sejamos capazes de jactar-nos de tão magnífico portfólio avaliativo como o deles, mas podemos lembrar-nos de que seríamos capazes de Produzir milagres menores. Pensamos na inundação de sentimentos que tivemos durante o chamado à coordenação, isso produziu até lágrimas, e permanecermos firmes. Pensamos na ocasião em que falamos com alguém importante para ajudar adquirir alguma coisa para facilitar a fluência do trabalho, recebendo um não. E que dizer da ocasião em que conduzimos algum aluno “trapalhão” à coordenação e ouvirmos dela que esse é um aluno especial? Não constitui tudo isto prova de que estamos entre os dignos de destaque, também?
          Mas, o resultado final nos adverte de que tudo isto simplesmente é um grande problema. O poder miraculoso pode impressionar-nos; mas somos gratificados mesmos somente por um salário que nos dignifique à vida. Podemos livrar-nos de alguns maus hábitos de professor; dar boas aulas; podemos até mesmo levar pessoa a passarem no vestibular. Entretanto, os únicos impressionados são os outros. O que realmente necessitamos é de ser impressionados com uma vida digna de um profissional que se preze. De outro modo estaremos ainda influenciados por aquele velho mito de que a felicidade está fundamentada no bom desempenho em vez de no poder aquisitivo lato.
          Mas, a história de vida de qualquer pessoa (porque todos passam pela Escola) confirma que isto produz servidores atrofiados. Por melhores, miraculosas e rotuladas que sejam as ações, feitas com o seco propósito de vencer o concurso: “professor destaque”, são ações atrofiadas. Não porque as ações em si sejam sinistras, mas porque são feitas por pessoas alienadas.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/06/2009
Código do texto: T1636134

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