Por Claudeci Ferreira de Andrade
Os tempos mudam, as expressões se renovam, e o “velho normal” cede espaço ao “novo normal”. No entanto, algumas práticas, infelizmente, persistem, como a cultura da competição que permeia o ambiente escolar. Recordo-me nitidamente de um exemplo marcante do “velho normal”: a figura da coordenadora pedagógica, sempre presente nos corredores, com uma postura que ora se assemelhava a um espectro vigilante, ora a um juiz implacável. Uma cena em particular se repetia com frequência: ela chegava à porta da sala de aula, invariavelmente interrompendo a dinâmica da aula, acompanhada por um grupo de alunos ociosos, e interpelava o professor, já exausto em sua tentativa de manter a ordem e o foco dos poucos alunos engajados: “Por que eles estão aí fora?”.
A pergunta, embora disfarçada de preocupação com o bom andamento da aula, soava como uma acusação velada, uma demonstração de poder. A coordenadora, com um ar de superioridade, simulava respeito ao trabalho docente, alegando a possibilidade de alguma atividade externa. Descobri, mais tarde, que essa encenação servia apenas para alimentar sua vaidade e sua competição mesquinha com os outros professores. Ela se vangloriava de suas “intervenções”, como se estivesse prestando um grande serviço à educação, quando, na verdade, apenas expunha a fragilidade dos colegas, humilhando-os publicamente. Uma postura verdadeiramente colaborativa buscaria entender as causas da indisciplina junto ao professor, construindo soluções em conjunto, e não expondo-o dessa forma.
Essa mentalidade competitiva, infelizmente, parece ter sobrevivido à transição para o “novo normal”. A exigência de que o “bom aluno” se destaque e supere os demais, buscando incessantemente os elogios dos professores, persiste, alimentando uma lógica perversa de que o sucesso de um depende do fracasso do outro. A velha máxima de “puxar para baixo” aqueles que se destacam continua presente, nivelando a todos pela mediocridade.
Essa cultura da competição me incomoda profundamente. Os alvos continuam equivocados. Não devemos competir uns com os outros, mas sim conosco mesmos, buscando o aprimoramento constante e a superação de nossos próprios limites. A verdadeira competição não se estabelece entre pessoas competentes, que simplesmente fazem o seu melhor, mas sim entre aqueles que temem ser ultrapassados. Quem compete de forma predatória busca atrasar o outro, enquanto quem aceita essa lógica se coloca em uma posição de vulnerabilidade, aguardando os ataques dos mais “enfervescentes”.
Aprecio a lógica das loterias da Caixa, onde participo sem a ansiedade de prejudicar os outros, sem desejar o fracasso alheio. Se alguém ganhar junto comigo, ótimo! Dividiremos a alegria da vitória. Acredito que o sistema educacional deveria se inspirar nessa perspectiva: reconhecer e valorizar o esforço individual e a dedicação de cada aluno, premiando a todos que cumprem as atividades propostas. O sistema de notas, com sua lógica classificatória e excludente, muitas vezes desmerece aqueles que se dedicaram ao máximo, mesmo que não tenham atingido a “nota máxima”.
Refletindo sobre essa jornada do “velho” ao “novo normal”, fica evidente que a mudança mais urgente não reside nas tecnologias ou nos métodos pedagógicos, mas sim na mentalidade que permeia o ambiente escolar. Precisamos abandonar a competição desmedida e cultivar a colaboração, o respeito mútuo e o reconhecimento do valor individual de cada aluno. O verdadeiro sucesso não está em chegar primeiro, mas em chegar *junto*, construindo um caminho coletivo de aprendizado e crescimento. No “paraíso” da educação, há espaço para todos aqueles que se esforçam e buscam o conhecimento, não apenas para os que chegam na frente.
Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas sobre os temas principais do texto, no formato de pergunta simples:
1. De que forma o texto caracteriza a postura da coordenadora pedagógica no contexto do "velho normal" e qual a crítica implícita a essa postura?
2. Segundo o autor, qual a principal diferença entre a competição predatória e a busca pelo aprimoramento individual?
3. Como o texto utiliza a metáfora das loterias da Caixa para propor uma reflexão sobre o sistema educacional?
4. Qual a crítica central do autor ao sistema de notas tradicionalmente utilizado nas escolas?
5. Segundo o autor, qual a mudança mais urgente a ser implementada no ambiente escolar, considerando a transição do "velho" para o "novo normal"?