"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

COLEÇÃO 2 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



Pensamentos

COLEÇÃO 2 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

2,1 Mais vale um cidadão com um pouco de bandido do que um bandido mais bandido! De cidadão para criminoso há um caminho longo, mas de bandido para criminoso o caminho é curto. Quero meu direito de defesa pessoal. Se o professor estivesse armado legalmente, pregava fogo no bandido que matou aquela jovem dentro da sala de aula em Alexânia. Agora o estado, com nosso dinheiro, vai sustentá-lo pelos seus melhores anos de vida! (CiFA

2,2 Sou assim porque o muro desabou comigo em cima — e os arranhões foram inevitáveis. Reconstruí-lo custaria caro demais. Melhor, então, ser hipócrita do que covarde, mesmo que seja em cima de um muro qualquer!

(CiFA)

2,3 Estar em cima do muro é confortável — no “nem”: nem para lá, nem para cá. Nesse maneirismo, não é preciso argumento algum. Mas a queda é fácil. A mornidão se torna recomendada quando nos ensinam que devemos tolerar as diferenças!

(CiFA)

2,4 Observo que, na Educação, quase tudo é simulacro. Simulam-se provas, austeridade, letividade, legalidade — e até mesmo a amistosidade. A escola prepara a sociedade para ela própria.

(CiFA)

2,5 Vivemos nesse torpor existencial, semelhante a uma relação sexual: uma hora de esforço para cinco segundos de orgasmo.

(CiFA)

2,6 Quem te ensinou a gemer — tanto para expressar a dor quanto para o gozo? O que me embaraça são as interjeições. É preciso relaxar para gozar, e também calejar para suportar a dor: isso é felicidade!

(CiFA)

2,7 Também — se a vida fosse um orgasmo constante — eu preferiria um pouco de dor. Que venham as dores e os relampejos de alívio.

(CiFA)

2,8 A vida é feita de dor quase constante — por isso, devem ser valorizadas as raras pausas, os breves momentos de prazer. A vida é (Cu)rta!

(CiFA)

2,9 Todavia, não me calarei. No mínimo, curo minhas depressões conversando com meu caderno de anotações.

(CiFA)

2,10 A unidade escolar deveria ser o lugar mais aconchegante da Terra, por ser um ambiente de educação. Mas só é assim para aqueles que foram expulsos de outra escola.

(CiFA)

2,11 Uma aluna do 7º ano me perguntou se eu era formado mesmo. Só podia estar orientada! Suspeito que colegas "intelectuais", sentindo-se ameaçados pela minha "burrice", se valem dos "ingênuos" para se firmar.

(CiFA)

2,12 Sou realmente muito ruim; no meu caso, é uma experiência perdida. Nunca presenciei a viabilização de uma sugestão minha em reunião de trabalho. Por isso digo: a escola é um espaço hostil para quem quer melhorar.

(CiFA)

2,13 Os alunos me perguntam todos os dias: — Por que o senhor veio hoje? Na sala dos professores, os colegas torcem pela falta de alguém, todos querendo sair mais cedo. Ali, adoecer ou morrer não importa, desde que dê folga para os outros.

(CiFA)

2,14 Dentro das minhas aulas de língua portuguesa, há alunos que não assistiram a nenhuma aula, mas conseguem atrapalhar todos os dias. Quem os mantém ali pagará por isso. Enquanto isso não acontecer, eles continuarão se matando — uma verdadeira tragédia escolar.

(CiFA)

2,15 Eu sou só um; você é a maioria. Meu poder de destruição não se compara ao seu. Portanto, não sou eu o culpado por a Educação estar assim.

(CiFA)

2,16 As ciências exatas não são humanas! Sem a linguagem, vocês jamais teriam se expressado tão bem!

(CiFA)

2,17 A matemática é muito fácil; aquelas fórmulas engessadas subestimam minha inteligência. Basta decorar algumas delas, e tudo se resolve. Com a linguagem, sou criativo, pois nunca estou pronto nem acabado. Assim, me posiciono como um ser vivo e atuante: transformo o mundo e sou transformado.

(CiFA)

2,18 Aprendi o seguinte: os intelectuais, por serem discriminados, também sofrem bullying. Selecionar os melhores torna-os uma minoria perseguida.

(CiFA)

2,20 Na escola, não deveria ser assim: os ruins puxam os melhores para baixo, por preguiça de segui-los, e os bons não contagiam. Ruídos didáticos!

(CiFA)

2,21 O melhor pecado é a boa inveja: aquela que nos faz buscar ser iguais aos bons, sem atrasar o crescimento contínuo deles.

(CiFA)

Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 18/11/2017
Reeditado em 18/09/2019
Código do texto: T6175323
Classificação de conteúdo: seguro

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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Coleção 1 do CiFA ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


Pensamentos


Coleção 1 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

1-1) No fim das contas, o aluno será promovido, mesmo que fique reprovado em duas matérias. Ele nem se preocupa — afinal, um "trabalhinho" qualquer resolverá sua dependência curricular. E, convenhamos, o professor não quer, de forma alguma, mais trabalho extra. (CiFA)

1-2) Notei também que, no quarto bimestre, aumentam as denúncias de pais e alunos contra os professores — muitas vezes por motivos banais, chegando até a envolver questões da vida pessoal e familiar do docente. Trata-se de uma competição desleal: os alunos querem a aprovação a qualquer custo — ou, pior, sem custo algum. (CiFA)

1-3) A partir do terceiro bimestre, a pressão psicológica sobre o professor só aumenta — quando, na verdade, deveria recair sobre o aluno. É um assédio moral aqui, uma imoralidade ali, uma falta de ética acolá... e assim seguimos, com “ordem e progresso” estampados na escola, mas bem longe da realidade. (CiFA)

1-4) No início do ano, os professores renovam o voto com firmeza: — "Vamos aprovar apenas os alunos dedicados e estudiosos. Sejamos rigorosos, nossa escola é séria!" Mas basta chegar o conselho de classe do terceiro ou quarto bimestre e, se a taxa de aprovação não foi alcançada, tudo se resolve no velho jeitinho brasileiro — com um acréscimo de nota aqui, outro ali. (CiFA)

1-5) Ora, se os alunos já sabem que serão aprovados automaticamente — ou melhor, no grito —, por que se importariam com mais uma tarefa no quadro, valendo alguns pontinhos? (CiFA)

1-6) O mais perverso dos argumentos de um coordenador pedagógico para justificar a aprovação sem mérito é sempre o mesmo: — "Você quer tê-lo novamente como seu aluno no próximo ano?" (CiFA)

1-7) A redação do Enem deveria ser uma grande oportunidade de motivação para o estudo e a pesquisa direcionada. No entanto, os candidatos acabam tocando superficialmente aqui e ali, guiados apenas pela intuição. Afinal, aprofundar-se em quê, se ninguém consegue adivinhar o tema? AS REDAÇÕES DO ENEM DEVERIAM SER DE GRANDE CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA PARA O PAÍS. Mas começo a suspeitar que o verdadeiro propósito da redação seja descobrir profetas — porque, neste caso, acertar o tema já seria um dom: Clarividência! (CiFA)

1-8) Agora o milagre da inclusão social dos surdos resume-se ao estudo da língua de sinais? Nesse caso, somos nós quem decidimos: se não estudarmos, não haverá inclusão. (CiFA)

1-9) Já no fim do Ensino Médio, os alunos modernos sequer sabem que curso desejam fazer na faculdade — será aquele que a nota do Enem permitir. (CiFA)

1-10) Estou aprendendo a oferecer minha ausência — um dia após o outro — até que ela se torne eterna para aqueles que nunca souberam valorizar minha presença. Aos que aprenderam comigo, deixo um aviso: castiguem-se, se negarem o que sabem a meu respeito. Pérolas aos porcos, sempre! Felizmente, os porcos amam a internet. (CiFA)

1-11) A certeza de que muita gente me lê revela-se na quantidade de inimigos que acumulo. Como já disse Martin Luther King: "Para ter inimigos, não precisa declarar guerras, apenas diga o que pensa." (CiFA)

1-12) Professor burro tolhe o êxito dos alunos ao impor vetos vãos, atrasando, assim, seu próprio sucesso. Afinal, o sucesso do aluno é também o nosso. (CiFA)

1-13) Na escola, compreendi a rebeldia dos jovens de hoje: eles descobriram que não tiveram infância. Não brincaram e agora querem fazê-lo. Por isso, vingam-se dos adultos que os transformaram em brinquedos. Mas não sou eu o culpado por ter feito meus próprios brinquedos; nunca precisei brincar com crianças — e nem sequer sabia o que era pedofilia. (CiFA)

1-14) Por que não amamos aquilo que já não nos serve? Ninguém ama sem obter algum benefício! Eu quero seu amor poético; o resto é apenas responsabilidade. (CiFA)

1-15) Como poderia deixar de amar quem me ama tanto? Da mesma forma, inversamente, como poderia ensinar quem me odeia tanto? Não me vingar já é uma forma de amar. (CiFA)

1-16) Em mim, só existem dois tipos de amor: o que pratico com quem me ama e o que pratico com quem me odeia. Porque, em nome do amor, a reciprocidade é obrigatória. (CiFA)

1-17) A escola maternalista está equivocada. Técnicos da educação acreditam que os alunos são bons porque são amados, quando deveriam ser amados por serem bons. Dar sem critério não ajuda ninguém; as pessoas precisam de dignidade. O mundo já está cheio de “esmolengos” inúteis. Assim, em vez de “vender” estudantes, a escola acaba “comprando filhos”. (CiFA)

1-18) Não me lembro de nenhum mártir da educação. Talvez não seja importante ser “linha dura” e dar a vida em troca de simulações, já que lá tudo é simulado. Arrisco-me muito agradando gregos e troianos; porém, a neutralidade evita conflitos, mas não forma heróis. (CiFA)

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sábado, 14 de setembro de 2019

MINHA CRISE EXISTENCIAL (Abaixo a "pedagogia" da facada)




Crônica

MINHA CRISE EXISTENCIAL (Abaixo a "pedagogia" da facada)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O dia começou como qualquer outro, mas logo se transformaria em um pesadelo. A escola, que deveria ser um espaço de aprendizado e crescimento, tornou-se palco de um ato de violência brutal. Um aluno, movido por uma fúria inexplicável, atacou o coordenador do Programa Mais Educação, desferindo-lhe uma facada fatal no abdômen. Era 30 de agosto de 2019, e a banalidade do motivo por trás desse crime evidenciava a crescente desvalorização da vida.

Lembro-me de outros incidentes semelhantes, cada um mais perturbador que o anterior. Em 28 de agosto de 2018, um adolescente de 14 anos esfaqueou outro de 13 no Centro de Ensino Fundamental 19, em Ceilândia. A discussão entre os dois escalou rapidamente, resultando em ferimentos graves no peito e no pescoço da vítima. Pouco tempo depois, em 24 de setembro do mesmo ano, um jovem de 17 anos foi baleado na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. A briga começou próximo ao colégio, e a vítima foi atingida no braço, no peito e no tórax. E como esquecer a tragédia de 3 de dezembro de 2018, quando uma desavença entre duas mulheres terminou em morte na Escola Municipal do Pedregal, em Novo Gama? Jéssica Oliveira invadiu a escola e assassinou Fernanda Xavier a facadas, após uma briga iniciada nas redes sociais.

A violência nas escolas tornou-se um triste reflexo da nossa sociedade. Em 30 de abril de 2019, o professor e coordenador Júlio César Barroso de Sousa foi baleado e morto por um aluno no Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso. O aluno o atacou após uma briga com uma professora, prometendo vingança e cumprindo sua ameaça de forma cruel. Esses incidentes, cada vez mais frequentes, transformaram as escolas em verdadeiros campos de batalha, onde a educação e a segurança são constantemente ameaçadas.

Enquanto isso, dentro das salas de aula, as cenas são igualmente perturbadoras. Professores amarram alunos às cadeiras; outros colocam caixas de papelão sobre suas cabeças para evitar que colem nas provas. Houve até um caso em que uma comemoração festiva terminou com vários alunos no hospital, vítimas de "boa noite Cinderela" na bebida. A pergunta que fica é: como chegamos a esse ponto?

O que testemunhei e vivi nas escolas vai além da minha compreensão. Ninguém merece uma facada, mas até o presidente Bolsonaro foi alvo de um ataque por motivos políticos. Eu mesmo carrego uma cicatriz no abdômen, resultado de uma cirurgia para remover um câncer no intestino (mas esta foi de alguém bem-intencionado). No entanto, a escola, ao aceitar marginais comprovados como parte de seu corpo discente, provoca a ira da comunidade escolar com futilidades didáticas, como a proibição de bermudas, bonés e celulares, tentando disciplinar o indisciplinável.

A cada novo caso de violência, questiono o futuro da educação. A Secretaria de Educação obriga as escolas a matricular e paparicar reincidentes, transformando a vida escolar em um verdadeiro inferno. As consequências disso são advogados caros e indenizações para os "inocentes". E nós, os educadores, apenas lamentamos e recolhemos os mortos, tanto física quanto emocionalmente.

"Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo." Estas palavras de Mateus 23:23-24 ecoam em minha mente enquanto reflito sobre as injustiças e a hipocrisia que permeiam nosso sistema educacional. A raiva e o estresse minaram minha saúde, e o câncer, um adenocarcinoma, fez seu ninho em meu corpo já exausto. Minha persistência é uma prova da minha dedicação. Mas agora, só posso esperar que meu fim seja melhor do que o de outros professores que já morreram nas escolas.

Abaixo a pedagogia da facada! Não preciso disso para ser o que Deus quer que eu seja: professor de quem não quer estudar. Não sei no que me tornei, apenas sou. E minha esperança é que Deus não precisa de mim para fazer algo por mim, então peço-Lhe socorro. As pessoas insistem em ajudar o Deus delas, defendendo-O com argumentos humanos. Que suas preces, também, servissem para me curar.

E assim, resta-nos refletir sobre o preço da indiferença e da violência. A sociedade precisa olhar para dentro e se perguntar: como tratamos os mais vulneráveis entre nós? Como podemos transformar a educação em um verdadeiro instrumento de paz e crescimento? Essas são as perguntas que deixo, esperando que, um dia, encontremos as respostas.


***


Questões Discursivas sobre Violência nas Escolas e o Futuro da Educação:


1. Violência nas Escolas: Reflexo da Sociedade e Ameaça à Educação

a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, analise os seguintes pontos:

A banalização da violência: Como a banalização da violência na sociedade se reflete no ambiente escolar, culminando em atos brutais como o assassinato do coordenador do Programa Mais Educação?


A escola como campo de batalha: Quais os fatores sociais e culturais que contribuem para a transformação das escolas em ambientes de insegurança e medo, onde a educação cede espaço à violência?


A culpabilização das vítimas: De que forma a culpabilização das vítimas de violência, como a punição com medidas disciplinares rigorosas, contribui para a perpetuação do ciclo de violência nas escolas?


b) Propondo soluções:

Prevenção da violência: Que medidas podem ser tomadas no âmbito escolar, familiar e social para prevenir a violência nas escolas, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para todos os alunos?


Educação para a paz: Como a educação pode ser utilizada como ferramenta para promover valores como o respeito, a tolerância e a resolução pacífica de conflitos, combatendo a cultura da violência na sociedade?


O papel do Estado: Quais as responsabilidades do Estado na garantia da segurança nas escolas e na promoção de uma educação de qualidade para todos os cidadãos?


2. O Desafiante Papel do Educador em um Cenário de Violência e Injustiças

a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, explore as seguintes questões:

A sobrecarga e o desamparo dos educadores: Como a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos e o desamparo institucional contribuem para o sofrimento dos educadores, como no caso do autor do texto que enfrenta um câncer e ainda precisa lidar com a violência nas escolas?


A hipocrisia e as injustiças no sistema educacional: De que forma a hipocrisia e as injustiças no sistema educacional, como a obrigatoriedade de matricular alunos reincidentes em atos de violência, afetam a saúde mental e emocional dos educadores?


A busca por um futuro melhor: Que medidas podem ser tomadas para valorizar a profissão docente, garantir melhores condições de trabalho e criar um ambiente educacional mais justo e humanizado?


b) Reflexões sobre o papel do educador:

A missão do educador: Qual o papel fundamental do educador em um contexto social marcado pela violência e pelas desigualdades? Como os educadores podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica?


A importância do autocuidado: Como os educadores podem cuidar de sua saúde mental e emocional para lidar com os desafios da profissão e manter a força para continuar sua missão?


A busca por apoio e solidariedade: Quais os mecanismos de apoio e solidariedade que podem ser disponibilizados aos educadores para que se sintam amparados e acolhidos em sua árdua missão?

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sábado, 7 de setembro de 2019

INCONGRUÊNCIA PEDAGÓGICA ("A maior incongruência do Universo é gastar tanto tempo disciplinando o FOCO e não FAZER nada a respeito do que se QUER." — Douglas Liandi).




Crônica

INCONGRUÊNCIA PEDAGÓGICA ("A maior incongruência do Universo é gastar tanto tempo disciplinando o FOCO e não FAZER nada a respeito do que se QUER." — Douglas Liandi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O sol ainda estava nascendo quando cheguei ao colégio, carregando comigo o peso de mais um dia de aula e todas as frustrações que acumulei ao longo dos anos. O silêncio dos corredores vazios me dava uma breve sensação de paz, mas eu sabia que, em breve, essa calmaria seria substituída pela rotina exaustiva e desafiadora que me aguardava na sala de aula.

Ao me aproximar da porta, a cena já era familiar: os mesmos alunos problemáticos, aqueles que só apareciam no final do bimestre, empurravam-se e riam alto. Eles vinham pelo lanche gratuito e pela necessidade de evitar as faltas que os condenariam à perda dos benefícios. Eram figuras previsíveis, sempre presentes quando pouco se podia fazer para salvar seu desempenho acadêmico.

Entrei na sala, disposto a ignorar o tumulto da entrada. Mas não demorou muito para que a coordenadora pedagógica, com seu salto ecoando nos corredores, surgisse como sempre, atraída pelo caos. Ao vê-la, os alunos bagunceiros correram para dentro, fingindo uma obediência que duraria apenas o tempo necessário para escapar de qualquer reprimenda mais séria.

Ela iniciou seu discurso habitual sobre responsabilidade e comportamento. Eu, já cansado desse teatro, observei a reação dos alunos. Os menos ruins olhavam com tédio, forçados a ouvir lições que não eram para eles. Já os bagunceiros fingiam arrependimento, sabendo que, assim que a coordenadora saísse, tudo voltaria ao que sempre foi. E foi exatamente o que aconteceu. Mal a porta se fechou, os risos e cochichos retornaram, e o clima de desrespeito instaurou-se novamente.

Tentei retomar a aula, mas era como tentar remar contra uma maré implacável. Senti o peso de um sistema falho sobre meus ombros. Como ensinar em meio a um ambiente que sabotava a própria ideia de educação? Como manter o desejo de transmitir conhecimento quando a desordem era constantemente premiada com estatísticas manipuladas e notas forjadas?

Naquele momento, pensei nas palavras de Napoleão Bonaparte: “Nunca interrompa o seu inimigo enquanto ele está cometendo um erro.” No entanto, era difícil aplicar essa máxima quando o erro não era apenas dos alunos, mas do próprio sistema que permitia e incentivava tal comportamento. A única arma que me restava eram as notas, um recurso cada vez mais insignificante frente à pressão para elevar índices e embelezar relatórios com números falsos.

Nos conselhos de classe, era sempre o mesmo roteiro. A expectativa era que eu, como professor, ajustasse as notas daqueles que mais haviam causado problemas. As coordenadoras, ansiosas por manter a aparência de uma escola eficiente, exigiam que todos os alunos passassem, independentemente de seu real desempenho. Enquanto isso, eu via minha autoridade ser corroída pela conivência com o erro.

E o que restava? Seguir em frente, aula após aula, dia após dia, acreditando que, em meio a esse cenário desolador, ainda havia alunos que queriam aprender. Era por eles que eu continuava, por aqueles poucos olhares que se iluminavam quando algo novo era ensinado, por aqueles que, silenciosamente, ainda acreditavam no poder transformador da educação.

No fim das contas, a verdadeira batalha não era contra os alunos desinteressados, mas contra o sistema que, ao punir o professor e premiar a desordem, minava a própria essência da educação. E, apesar de tudo, eu me recusava a desistir. Porque, no fundo, eu sabia que cada pequena vitória — cada aluno que se importava — era uma semente plantada em solo difícil. E, quem sabe, um dia, essas sementes floresceriam em um mundo mais justo e sábio.

Por ora, seguimos assim, resistindo. Cada aula é uma nova chance, uma nova oportunidade de fazer a diferença. Porque, apesar de tudo, ainda acredito que a educação, mesmo em meio ao caos, tem o poder de transformar.


Com base nesses temas, proponho as seguintes questões discursivas:


O texto destaca a dificuldade de manter a disciplina em sala de aula. Quais os principais fatores que contribuem para a indisciplina escolar e como eles se relacionam com o contexto social mais amplo?

A pressão por resultados é um tema recorrente no texto. De que forma essa pressão impacta a qualidade do ensino e a relação entre professores e alunos?

O professor descreve um sistema educacional que, muitas vezes, parece mais preocupado com números e estatísticas do que com a aprendizagem dos alunos. Quais as consequências dessa visão quantitativa da educação?

O texto aborda a questão da motivação dos alunos. Quais os fatores que podem contribuir para a falta de interesse e desmotivação dos estudantes? Como os professores podem estimular a participação e o engajamento dos alunos?

A escola é retratada como um microcosmo da sociedade. De que forma os desafios enfrentados pelos professores refletem os problemas mais amplos da nossa sociedade?

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sábado, 31 de agosto de 2019

ALTERNÂNCIA ("Na vida não temos só sonhos ou só pesadelos, a alternância entre ambos é que faz a realidade". — Charles Chaplin)



Crônica

ALTERNÂNCIA ("Na vida não temos só sonhos ou só pesadelos, a alternância entre ambos é que faz a realidade". — Charles Chaplin)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há dias em que a escola parece um palco de tragédias e comédias improvisadas. Eu já deveria saber, mas, teimoso que sou, entro em cena acreditando que o roteiro será seguido. Naquela tarde, tudo parecia dentro da normalidade – ou, pelo menos, da normalidade escolar, essa entidade volúvel que muda de forma conforme o vento sopra.

Meu plano era simples: os alunos escreveriam e encenariam pequenas peças. Uma forma de trabalhar literatura de maneira viva, dando-lhes protagonismo. Expliquei as diretrizes, distribuí os grupos, observei um ou outro bocejo disfarçado. Mas era cedo demais para cantar vitória. O teatro verdadeiro aconteceria em outra parte.

De repente, o professor de Educação Física entrou sem cerimônias e, como um diretor autoritário, dissolveu metade do elenco. Os convocados para o ensaio da quadrilha saíram e, com eles, esvaiu-se a concentração dos que ficaram. Em instantes, a janela tornou-se palco de um espetáculo muito mais interessante do que o meu. Os olhos que deveriam estar nas páginas dos roteiros estavam vidrados no pátio, onde o mundo parecia muito mais animado.

Não demorou muito para que a coordenadora, sempre à espreita, surgisse trazendo a diretora. Vieram me pressionar a passar qualquer coisa do livro. Qualquer coisa. A finalidade era simples: fazê-los sentar. O aprendizado era irrelevante, o conteúdo, dispensável. Fiquei ali, parado, refletindo sobre a pobreza do propósito, sobre a afronta ao meu profissionalismo. A grosseria que ouvi me amedrontou, mas segui com meu teatro.

O problema maior era outro: se eu passasse qualquer atividade, teria que prometer nota, pois, sem isso, ninguém sequer pegaria o lápis. Assim, os que ficaram fariam a tarefa – não por interesse, mas por obrigação. Os que estavam no pátio, por sua vez, ficariam isentos. Uma injustiça didática, um tiro no pé da lógica, e eu, no meio desse fogo cruzado, equilibrando pratos para manter uma frágil ilusão de ordem.

Depois do tumulto e de minhas reclamações, providenciaram o retorno dos alunos. O ensaio foi interrompido, os fanfarrões voltaram a contragosto e, enfim, a aula aconteceu – para o descontentamento dos dançarinos frustrados e o evidente constrangimento do professor de Educação Física. O saldo do dia? Duas perguntas martelavam minha mente: quem, afinal, causou prejuízo a quem? E onde estava o apoio pedagógico quando precisei?

Mas a escola tem dessas ironias. No dia seguinte, a cena mudou de tom. Antes mesmo de distribuir a prova da OBMEP, um aluno do fundo da sala, com um ar excessivamente sério, levantou a mão:

— Professor, qual é a resposta da primeira questão?

Se fosse um dia ruim, eu teria suspirado. Mas era um dia bom, e a resposta me veio como um relâmpago:

— Coloque “Idiota útil”.

Risos abafados. Ele insistiu, agora com um brilho travesso nos olhos:

— E o que é um idiota útil?

Pensei por um segundo.

— Não sei conceituar a expressão, mas posso dar um exemplo.

O colega da frente, num misto de curiosidade e cumplicidade, se intrometeu:

— Então dá um exemplo, professor!

Eu sorri.

— Olhe no espelho.

A classe explodiu em gargalhadas. O aluno, é claro, não deixou barato. Disse algo que não ouvi, mas que arrancou um riso debochado da colega ao lado.

Ali, entre risos, provocações e pequenas vinganças verbais, lembrei-me de um velho ditado: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer”.

A escola, no fim, é um grande palco. E, seja em tragédia ou comédia, sou sempre personagem e espectador desse espetáculo que nunca termina.


Preparei 5 questões discursivas e simples para aprofundarmos nossa reflexão sociológica sobre o cotidiano escolar:


1. A crônica descreve um dia em que a aula do professor é interrompida por decisões administrativas e outro dia em que a interação com os alunos é marcada pelo humor. Sob uma perspectiva sociológica, como podemos analisar a relação de poder entre professores, alunos e administração escolar presente na narrativa?

2. O texto relata a pressão da coordenação e da diretora para que o professor "passasse qualquer coisa do livro" com o único objetivo de manter os alunos sentados e em silêncio. Como essa situação reflete a visão da escola como uma instituição focada no controle e na disciplina, em detrimento de outros objetivos pedagógicos?

3. Em um momento da crônica, o professor se sente "no meio de um fogo cruzado, equilibrando pratos para manter uma frágil ilusão de ordem". De que forma essa metáfora ilustra os desafios enfrentados pelos professores no cotidiano escolar e as tensões entre diferentes expectativas e demandas?

4. A crônica utiliza a expressão "Teatro do Absurdo" para descrever o ambiente escolar. Em que medida essa metáfora do "absurdo" nos ajuda a compreender as situações contraditórias e por vezes ilógicas que podem ocorrer nas instituições sociais, como a escola?

5. No final da crônica, o professor questiona: "quem, afinal, causou prejuízo a quem? E onde estava o apoio pedagógico quando precisei?". Considerando a perspectiva sociológica da educação, quais seriam os possíveis "prejuízos" causados pelas situações descritas na crônica para os diferentes atores envolvidos (professores, alunos, administração)? E qual o papel do "apoio pedagógico" em um contexto como esse?**

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