Por Veronica Dutenkefer (20/06/2009)
Esse texto que escrevo precisamente agora é mais um desabafo.
Desabafo de uma profissional que está lecionando há mais de 22 anos e que não sabe se sobreviverá por mais dez anos, que é o tempo que ainda precisarei trabalhar (por mais que ame muito o que faz).
Trago comigo muitas perguntas que não querem calar. E talvez a mais inquietante é: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país????
Constantemente ouço ou leio reportagens com as autoridades educacionais proclamarem a má formação de seus professores. Culpando as universidades, a falta de cursos de formação e culpando-nos evidentemente.
Se a educação neste país não vai bem só existe um culpado: o professor.
E aí vem meus questionamentos:
Como um professor de escola pública pode fazer o seu trabalho se ele precisa ficar constantemente parando sua aula para separar a briga entre os alunos, socorrer seu aluno que foi ferido por outro aluno, planejar várias aulas para se trabalhar os bons hábitos na tentativa vã de se formar cidadãos mais conscientes e de melhor caráter?
Nos cursos de formação nos é passado constantemente a recusa de um programa tradicional e conteudista, mas nossas avaliações de desempenho das escolas, nossos vestibulares e concursos públicos ainda são tradicionais e nos cobra o conteúdo de cada disciplina.
Como pode num país.....num estado...num município haver regras tão diferentes entre a rede particular e pública?
Na rede particular as escolas continuam conteudistas, há a seriação com reprovação, a escola pode suspender ou até mesmo expulsar um aluno que não esteja respeitando as regras daquela instituição.
A rede pública vive mudando o enfoque pedagógico (de acordo com o partido que ganhou as eleições), é cobrado cada vez menos do aluno, não se pode fazer absolutamente nada com um aluno indisciplinado que até mesmo coloca em risco a segurança de outros alunos e funcionários daquela instituição.
Dia a dia....minuto a minuto... os professores são alvos de agressões verbais e até mesmo física pelos alunos. A cada dia somos submetidos a níveis de stress insuportáveis para um ser humano.
Temos que dar conta do conteúdo a ser ensinado + sermos responsáveis pela segurança física de nossos alunos + sermos médicos + enfermeiros + psicólogos + assistentes sociais + dentistas + psiquiatras + mãe + pai ......
E quando ameaçados de morte e recorremos a uma delegacia pra fazer um boletim de ocorrência ouvimos: “Isto não vai adiantar nada!”
Meus bons alunos presenciam o mal aluno fazendo tudo o que não pode ser feito e não acontecendo nada com ele. É o exemplo da impunidade desde a infância.
Meus bons alunos presenciam que o aluno que não fez absolutamente nada durante o ano, passou de ano como ele, que se esforçou e foi responsável.
Houve um ano que eu tinha um aluno que era muito bom. E ele começou a faltar muito e ir mal na escola. Os colegas diziam que ele ficava empinando pipa ao invés de ir pra escola. Um dia, tive uma conversa com ele, e perguntei o que estava acontecendo? E ele me disse: “Prá que eu vou vir prá escola se eu vou passar de ano mesmo assim?”
Então eu procurei aconselhar (como faço com meus alunos até hoje) que ele devia freqüentar a escola, não para tirar notas boas nas provas ou passar de ano. Ele deveria vir a escola para aumentar seu conhecimento que é o único bem que ninguém poderá roubar.Que a escola iria ajudá-lo a aprender e trocar conhecimentos com os outros e ajudá-lo a dar uma melhor formação na vida..
Depois dessa conversa ele não faltou mais tanto....mas nunca mais voltou a ser o excelente aluno que era.
Qual a motivação de ser bom aluno hoje em dia?
Seus ídolos são jogadores de futebol que não falam o português corretamente e que não hesitam em agredir seus colegas jogadores e até mesmo os árbitros. Ensinando que não é necessário haver respeito as autoridades e aos outros.
Ou são dançarinas que mostram seu corpo rebolando na televisão e pousando nuas para ganhar dinheiro.
Para quê eu me matar de estudar se há tantas profissões que não são valorizados e nem respeitadas? ??
Conheci (e ainda conheço e convivo) ao longo de minha carreira na escola pública, inúmeros profissionais maravilhosos. Pessoas que amam a sua profissão, que se preocupam com seus alunos, que fazem trabalhos excepcionais. Que possuem um conhecimento e formação excelentes, mas que estão desgastados e quase arrasados diante da atual situação educacional.
Li a poucos dias num artigo que os cursos de filosofia, matemática, química, biologia e outros todos ligados a área de magistério não estão tendo procura nas universidades.
Lógico!!!!!Quem é que quer ser professor??? ??????
Quem é que quer entrar numa carreira que está sendo extinta, não só pela total desvalorização e respeito, mas também pela falta de segurança que estamos enfrentando nas escolas.
Fiquei indignada com uma reportagem na TV (que aliás adora fazer reportagens sensacionalistas colocando o professor sempre como vilão da história) em que relatava que numa escola um aluno ameaçava os outros com um revólver e num determinado momento o repórter perguntou:”Onde estava oprofessor que não viu isso??!!”
E agora eu pergunto: “O que se espera de umprofessor (ou de qualquer ser humano), que se faça com uma arma apontada pra você ou pra outro ser humano??? Ah...já sei...o professor deveria enfrentar as balas do revólver!!!! Claro!!! As universidades e os cursos de aperfeiçoamento de professores não estão nos ensinando isso..
Vocês tem conhecimento de como os professores de nosso país estão adoecendo??? ?
Vocês sabem o que é enfrentar o stress que a violência moral e física tem nos submetido dia a dia?
Você sabe o que é ouvir de um pai frases assim:
“Meu filho mentiu, mas ele é apenas uma criança!”
“Eu não sei mais o que fazer com o meu filho!”
“Você está passando muita lição para meu filho, e ele é apenas uma criança!”
“Ele agrediu o coleguinha, mas não foi ele quem começou.”
“Meu filho destruiu a escola, mas não fez isso sozinho!”
Classes super lotadas, falta de material pedagógico, espaço físico destruído, violência, desperdício de merenda, desperdício de material escolar que eles recebem e, muitas vezes, não valorizam (afinal eles não precisam fazer absolutamente nada para merecê-los), brigas por causa do “Leve-leite” (o aluno não pode faltar muito, não por que isso prejudica sua aprendizagem, mas porque senão ele não leva o leite.)
Regras educacionais dissonantes de acordo com a classe social dos alunos.
Impunidade.
Mas a educação não vai bem, por causa doprofessor..
Encerro esse desabafo com essa pergunta que li a poucos dias:
Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.
"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
O BOM NESTE PAÍS É SER POLITICO. APOSENTA-SE COM 8 ANOS DE "TRABALHO(?) ".
Sábado Letivo: A Trágica Comédia do Sábado Letivo ("O fraco rei faz fraca a forte gente." — Luís de Camões)
O sábado deveria ser um dia sagrado de descanso. A Bíblia, em Exôdo 20:8-11, é clara: “Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias, e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado de Iahweh, teu Deus”. No entanto, na realidade da educação pública, o sábado se transformou em mais uma extensão do trabalho, uma farsa do descanso merecido. Em vez de reflexão e pausa, somos arrastados de volta à escola, com mais um compromisso imposto sob o nome de reuniões pedagógicas, que pouco têm de pedagógicas, além da nomenclatura.
O que deveria ser um momento de renovação, acaba por ser um pretexto para cumprir formalidades. Essas reuniões, frequentemente chamadas de "parada pedagógica" ou "trabalho coletivo escolar", não passam de um teatro sem real contribuição para nossa formação ou para a qualidade do ensino. Discutem-se assuntos irrelevantes, trocam-se favores, e, por vezes, até se despejam frustrações pessoais, como se o sábado fosse o dia da "lavação de roupa suja". Pergunto-me: onde está a verdadeira educação nesse caos? Onde está o compromisso com o aprendizado e com a reflexão genuína que nos ajude a crescer como educadores?
Já não me surpreende que muitos de nós, professores, participemos dessas reuniões apenas para evitar o corte no salário. Faltar a uma delas é uma dor no bolso, e para quem não deseja enfrentar esse transtorno, até contratar um substituto se torna uma opção, mesmo sabendo que ele está completamente desconectado da realidade da escola. Mas que contribuição um substituto pode dar aos temas tratados ali? E, no final, quem realmente se beneficia dessa farsa? Quem ganha com essas discussões vazias que ocupam nosso sábado sem acrescentar nada de concreto?
Essas reuniões não são mais do que uma formalidade para que os gestores possam aparentar que estão fazendo algo, mesmo quando, na prática, nada está sendo feito para melhorar a educação. O mais triste é perceber que, ao invés de estarmos cada vez mais perto do que realmente importa — o desenvolvimento do aluno, a qualidade do ensino e a formação contínua do professor — estamos cada vez mais distantes. Em vez de gastar o sábado com reuniões que não agregam valor, por que não investir esse tempo em atividades que realmente tragam resultados, que nos fortaleçam intelectualmente e nos renovem para o trabalho? O sistema educacional parece mais preocupado com a quantidade de horas cumpridas do que com a qualidade do que é discutido nessas horas.
Pior ainda é perceber que, no final de um encontro desses, o que se perde é a vitalidade intelectual. O que poderíamos ter aprendido, o que poderíamos ter refletido sobre nossas práticas, se esvai em formalismos que apenas drenam nossa energia. Como disse Luís de Camões, "o fraco rei faz fraca a forte gente". O fraco sistema educacional enfraquece até os mais comprometidos, até aqueles que realmente se dedicam a ensinar.
Infelizmente, a realidade da educação pública hoje gira em torno de manter as aparências, e não de melhorar o ensino. O foco está na quantidade: mais reuniões, mais formalidades, mais metas a cumprir. Mas e a qualidade? Onde está a verdadeira formação, a verdadeira preparação para o trabalho de educar? O tempo que gastamos nessas reuniões poderia ser melhor aproveitado, investido em atividades que realmente nos preparassem para os desafios da sala de aula. A cada sábado desperdiçado, a cada reunião inútil, o desânimo aumenta, e os professores, longe de se sentirem renovados, se sentem cada vez mais desmotivados.
No fim das contas, quem paga o preço por essa farsa somos todos nós. Nós, professores, que dedicamos nossa vida à educação, e os alunos, que acabam pagando com a falta de uma educação de qualidade. O sistema educacional, ao insistir em manter as aparências, nos empurra para um abismo onde a educação verdadeira fica cada vez mais distante.
A verdadeira revolução na educação não passa por mais reuniões, mais exigências. Passa pelo respeito ao nosso tempo, ao nosso conhecimento e à nossa capacidade de ensinar com qualidade. Se, ao invés de perpetuarmos esse ciclo de farsa, investíssemos em formação contínua, em reflexão genuína, em tempo para estudar e nos renovar, talvez a realidade da educação fosse outra. Mas, por enquanto, seguimos nesse jogo de aparências, onde o sábado não é mais um dia de descanso, mas um fardo a ser carregado. O sistema precisa entender que educar vai além das formalidades.
Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:
O texto critica as reuniões pedagógicas obrigatórias aos sábados. Quais as consequências dessas reuniões para a qualidade do ensino e para a vida pessoal dos professores?
Essa questão leva os alunos a refletir sobre a relação entre a quantidade de reuniões e a qualidade do ensino, além de analisar o impacto dessas reuniões na vida pessoal dos professores.
O autor argumenta que essas reuniões servem mais para cumprir formalidades do que para promover a melhoria do ensino. De que forma essa ênfase nas formalidades prejudica a educação?
A questão busca que os alunos compreendam a importância de focar na qualidade do ensino em vez de cumprir burocracias e como essa ênfase em formalidades pode impactar a aprendizagem dos alunos.
O texto menciona a falta de investimento em formação contínua dos professores. Como a falta de investimento em formação pode afetar a qualidade do ensino?
Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da formação continuada dos professores e como ela pode contribuir para a melhoria do ensino.
O autor questiona a eficácia das reuniões pedagógicas obrigatórias aos sábados. Que tipo de atividades poderiam substituir essas reuniões para promover a melhoria da educação?
A questão leva os alunos a propor alternativas para as reuniões pedagógicas, buscando atividades que sejam mais significativas e contribuam para a melhoria do ensino.
O texto destaca a importância do tempo livre para os professores. Como o tempo livre pode contribuir para a qualidade do trabalho docente e para o bem-estar dos professores?
Essa questão estimula os alunos a refletir sobre a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e como isso pode impactar o desempenho dos professores.