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MINHAS PÉROLAS

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O Dia em que o Medo Venceu ("Onde a educação falha, a violência floresce." - Provérbio Africano)

 

O Dia em que o Medo Venceu ("Onde a educação falha, a violência floresce." - Provérbio Africano)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O vídeo, curto e trêmulo, invadiu os grupos de mensagens como um raio em dia de tempestade. A voz embargada, o olhar perdido, a notícia devastadora: Maria dos Prazeres Pereira, diretora da Escola Estadual Professor Francisco Barbosa, em São José de Mipibu, Rio Grande do Norte, entregava os pontos. Pedia exoneração. Vencida.

Não era uma derrota no campo de batalha, com honra e glória. Era uma rendição silenciosa, imposta pela covardia, pela sombra rasteira da ameaça. "Em virtude das ameaças, eu estou passando aqui hoje para me despedir de vocês do cargo de diretora. Eu estou deixando o meu cargo hoje", as palavras, gravadas em vídeo amador, ecoavam a fragilidade de uma fortaleza que ruiu sob o peso da violência.

Pesquisei sobre a Escola Francisco Barbosa, e descobri sua fama de gigante na rede estadual, um colosso com mais de mil almas estudantis. Imagino Maria dos Prazeres à frente daquela nau, timoneira experiente em mares revoltos, tentando manter a rota em meio a ondas de indisciplina e ventos de descaso. Mas, desta vez, a tempestade veio de dentro, urdida nas entranhas da própria escola, naqueles corredores que deveriam ser palco de aprendizado e respeito, se transformaram em trincheiras de medo e intimidação.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (Sinte-RN), em nota oficial, clamava por investigação, por justiça, por punição aos algozes anônimos que, escondidos nas sombras da virtualidade, destilaram o veneno da ameaça. "A escola deve ser um ambiente de respeito, aprendizado e crescimento, e qualquer forma de intimidação contra profissionais da educação deve ser firmemente combatida", dizia o comunicado, ecoando o óbvio ululante, a verdade elementar que teima em ser ignorada.

Mas as palavras do sindicato, por mais justas e necessárias, não alcançavam a dor lancinante que emanava do vídeo de Maria dos Prazeres. Naquelas imagens amadoras, mais do que a despedida de uma diretora, víamos a confissão de uma professora acuada, amedrontada, ferida na alma. — "Vocês venceram sim, vocês venceram", - repetia, em prantos, a voz embargada, direcionando a acusação dolorida aos alunos, aos pais omissos, à violência que se alastra como erva daninha nos jardins da educação.

Ela falava em "recadinhos", em "celular", em "exercícios", pistas esparsas de um crime silencioso, de uma tortura psicológica que culminou na sua renúncia. Maria dos Prazeres confessava o medo, o pavor da "violência", da "postura" daqueles que deveriam ser seus alunos, seus protegidos, e se transformaram em algozes cruéis e implacáveis. — "Tô com medo mesmo, medo da violência, medo da postura de vocês. Eu tô com muito medo", - a frase, repetida com a insistência de um mantra desesperado, expunha a fragilidade de uma educadora diante da barbárie.

E no eco daquelas palavras, pairava a sombra da nossa própria impotência, a constatação amarga de que, por vezes, a escola, refúgio de saber e esperança, pode se tornar palco de crueldade e desesperança. Maria dos Prazeres, ao se render, ao pedir exoneração, não apenas entregou um cargo, mas escancarou uma ferida profunda na alma da educação brasileira, um grito de alerta que ecoa nos corredores da escola Francisco Barbosa e em cada sala de aula do país: até quando a violência vencerá o saber? Até quando o medo calará a voz dos educadores?


https://www.instagram.com/reel/DGeExbZS_bk/?igsh=c2h6bzRpeGhpOXlw (Acessado em 26/02/2025)


Preparei 5 questões discursivas e simples para você refletir sobre a problemática da violência no ambiente escolar e seus impactos na comunidade educativa, sob a perspectiva da sociologia:


1. A crônica descreve um cenário de violência e ameaças que levam à renúncia da diretora. "Sob a ótica da sociologia, quais fatores sociais mais amplos podem contribuir para a ocorrência de violência nas escolas, como a descrita no texto?"

2. O texto menciona a fragilidade da diretora diante das ameaças e a falta de um ambiente de "respeito, aprendizado e crescimento" na escola. "Como a sociologia pode analisar as relações de poder e a dinâmica social dentro das instituições escolares, e de que forma essas relações podem influenciar a ocorrência de casos como o da diretora Maria dos Prazeres?"

3. A crônica questiona "até quando a violência vencerá o saber? Até quando o medo calará a voz dos educadores?". "De acordo com a perspectiva sociológica sobre a educação como instituição social, quais as consequências da violência e do medo no ambiente escolar para o processo de ensino-aprendizagem e para a função social da escola?"

4. O texto destaca a nota do sindicato que "cobra uma investigação rigorosa para punir os responsáveis". "Considerando a sociologia das profissões e do trabalho docente, qual a importância do apoio de entidades de classe e de políticas públicas para proteger os profissionais da educação em situações de violência e ameaça?"

5. Em suma, a crônica expõe uma "ferida profunda na alma da educação brasileira". "Na sua visão sociológica, quais seriam os caminhos possíveis para construir escolas mais seguras, acolhedoras e promotoras de um ambiente de respeito e aprendizado, onde a violência não silencie a voz dos educadores?"

Um comentário:

Claudeci Andrade disse...

https://www.instagram.com/tvtropicalrn/reel/DGfvzbLO0CE/