"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

⁠O GADO NÃO SE ENGANA... A VARA SIM... ("Que a gente se divirta sem se matar, que ame sem se contaminar, que aprenda sem se enganar, que viva sem se vender." — Lya Luft)
            No velho normal, era assim: Havia um tanto de "projetinho" na escola, facilitando a aquisição de nota! O PIA nascera morto! Mas, sempre nos obrigávamos a esse tipo de "necrofilia".
           Muitos papéis consolavam-me e me fizeram sentir útil (doce ilusão). Mas, agora, estou convencido que papel aceita tudo, pois a enorme quantidade de planilhas, relatórios e portfólios não está conseguindo devolver a qualidade da educação pública brasileira. O "negócio" da China "cumpriu seu dever de casa", mascarou todo mundo e limpou as mãos do povo, o álcool é só o disfarce da assepsia. Pilatos também lavou suas mãos, porém não enganou Jesus!!! "Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado. (Orson Scott Card). Li que a maconha está sendo testada contra covid longa. http://impresso.dm.com.br/edicao/20210914/pagina/10 (acessado em 14/09/2021) Não causa mais câncer e nem impotência. Falsa ciência. Ou inversão de valores igual a Novo Normal!? — CiFA

Claudeci Ferreira de Andrade

quarta-feira, 23 de abril de 2025

O Piano que Ela Carrega ("Eu carrego minha raça nos ombros... E peso!" — Solano Trindade)

 

O Piano que Ela Carrega ("Eu carrego minha raça nos ombros... E peso!" — Solano Trindade)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela manhã, o céu exibia um cinza desbotado, como se o dia hesitasse entre começar ou desistir. O portão da escola gemeu baixinho ao se abrir e, por um instante, tudo pareceu comum: a merenda sendo distribuída, o recreio ecoando com gritos e risadas, os bilhetes amassados nos bolsos das mochilas. Mas, para Fernanda, nada mais era comum. Havia semanas que ela carregava um piano nas costas — invisível para quase todos, mas pesado como um mundo inteiro.

Era substituta. E, como todo substituto, trazia consigo o estigma da substituição — aquela sensação de ser apenas uma presença temporária, alguém que está de passagem, que não é “de verdade”. Mas Fernanda era mais que real: era mulher, era preta, era professora de língua. Ensinava como quem costura o tecido rasgado de um país que ainda se recusa a enxergar a beleza de sua própria cor.

No início, foram apenas cochichos. Risos abafados, palavras lançadas por trás dos cadernos. “Tição.” “Carvão de acender churrasqueira.” “Vaca preta.” Ofensas ditas com a mesma naturalidade com que se pronuncia o nome da capital do Brasil. Os olhos dos alunos brilhavam mais de desafio do que de ignorância. Sabiam o que faziam — e faziam porque podiam.

Fernanda tentou dialogar. Tentou ensinar com o afeto de quem acredita que as palavras também curam. Mas descobriu que há dias em que o verbo não basta.

O ponto de ruptura veio quando decidiu reorganizar a sala. Um menino — 13 anos e um olhar que misturava rebeldia com algo mais sombrio — se recusou a trocar de lugar. E então, diante de uma funcionária e de um silêncio que parecia cúmplice, ele cuspiu: “Essa preta zé-ninguém, quem ela pensa que é?”

Naquele instante, o piano pesou ainda mais.

Ela não gritou. Não chorou na frente de ninguém. Apenas saiu da sala, desceu as escadas e foi até a delegacia. Pela segunda vez. “Só sabe o peso do piano quem carrega”, disse ela ao policial, com a dignidade de quem já está cansada de ser forte o tempo todo. Ela só queria paz para ensinar. Apenas isso.

As autoridades prometeram investigar, os pais negaram, a escola emitiu notas oficiais sobre “ambientes acolhedores”, e a vida seguiu. Como sempre segue. Como sempre finge que muda. Mas algo se quebrou por dentro. Talvez não em Fernanda, que já se reconstruíra muitas vezes. Mas em todos que ouviram sua história e permaneceram em silêncio. Esses, sim, ficaram com o estilhaço da vergonha cravado na alma.

Escrevo esta crônica como quem testemunha uma cena insuportável e, por covardia ou impotência, não reage na hora. Agora, tenta, com palavras, redimir-se. Não sei se é possível.

Só sei que, enquanto este país não aprender a amar seus professores — e, sobretudo, suas professoras negras — não haverá reforma educacional que baste, nem currículo que salve. Porque a sala de aula é um espelho. E hoje, nesse espelho, muitos ainda se veem superiores, mesmo estando deitados no chão.

Fernanda não é uma zé-ninguém. É alguém que escolheu lutar onde a maioria desiste. E enquanto houver quem se disponha a carregar esse piano — mesmo em silêncio — ainda haverá música na educação.

Mas que não demore a ajuda, porque até a mais resistente das partituras precisa de pausa.


https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2025/04/23/professora-denuncia-injuria-racial-alunos-em-sala-de-aula.ghtml (Acessado em 23/04/2025)



Esta crônica toca em pontos nevrálgicos da Sociologia, abordando racismo, instituições sociais, dinâmicas de poder e o papel da educação. Com base nas ideias e na narrativa envolvente do texto, preparei 5 questões discursivas simples para instigar a reflexão sociológica:


1. A Socialização do Preconceito: A crônica descreve alunos muito jovens usando ofensas racistas e questiona "onde aprenderam tanto ódio?". Sociologicamente, como podemos analisar a forma como o preconceito e o racismo são transmitidos e aprendidos no processo de socialização das crianças e adolescentes, não apenas na família, mas também em outros espaços sociais?

2. A Instituição Escolar diante do Racismo: O texto revela a sensação da professora de falta de apoio na escola e a atitude das autoridades. Qual é o papel da instituição escolar, do ponto de vista sociológico, na prevenção e no combate ao racismo e à discriminação dentro de seus muros? Como a estrutura e as respostas institucionais podem impactar a experiência de professores e alunos que são alvo de preconceito?

3. O Silêncio e a Cumplicidade Social: A crônica menciona um "silêncio que parecia cúmplice" e a vergonha naqueles que ouviram a história e não reagiram. Sociologicamente, como podemos interpretar o silêncio e a omissão de testemunhas ou de instituições diante de atos de racismo e discriminação? De que maneira a inação pode contribuir para a perpetuação das desigualdades?

4. A Sala de Aula como Espelho da Sociedade: A crônica afirma: "Porque a sala de aula é um espelho". Explique, sob uma perspectiva sociológica, como as dinâmicas, tensões e preconceitos presentes na sociedade mais ampla podem se manifestar e ser reproduzidos no ambiente específico da sala de aula, tornando-o um microcosmo social.

5. Identidade Social e Experiências de Discriminação: O texto descreve Fernanda em suas múltiplas identidades: "mulher, preta, professora de língua" e "substituta". Como a Sociologia estuda a forma como diferentes aspectos da identidade social de uma pessoa (como raça, gênero, profissão) podem se cruzar (interseccionar) e influenciar suas experiências de poder, preconceito ou discriminação na sociedade?

Espero que estas questões baseadas na sua crônica incentivem uma análise sociológica profunda sobre os complexos temas abordados!

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