"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

terça-feira, 9 de agosto de 2022

O ECO DE UM ELOGIO SEM PROCEDÊNCIA. ("A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende de encantar." — Friedrich Nietzsche).

 


O ECO DE UM ELOGIO SEM PROCEDÊNCIA. ("A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende de encantar." — Friedrich Nietzsche)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em um cenário social de intenções complexas, arriscar um elogio genuíno tornou-se um ato de coragem — ou de tolice. Fujo até dos cumprimentos mais simples, temendo que qualquer palavra de um homem "velho, feio e pobre" seja, de imediato, interpretada como assédio. A regra parece ser implacável, e a forma de julgamento, tão superficial quanto injusta.

Enquanto isso, o bonitão — jovem, malhado, bancado pelos pais — desfila cantadas grosseiras, muitas vezes retiradas de estrofes de funk vulgar. Diz e faz horrores, e ainda assim é premiado com sorrisos. O mundo parece chamá-lo de "cantada criativa" ou "música aos ouvidos delas." A realidade, com um toque ácido, é ecoada em versos como os de Annynha Rodrigues: "Solteira: sim, recebendo cantada de gente feia: sempre!". E eu, tentando seguir os passos dos bem-sucedidos, apenas consigo entoar minha própria e melancólica canção: "Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?", chegando caloroso, esperançoso, e recebendo um balde de água gelada. Sou apenas mais um entre tantos, sem fama nem dinheiro, a sentir na pele o preço de uma "aparência" fora dos padrões.

Ainda assim, nem tudo está perdido. Em meio a essa confusão de intenções e percepções, existe uma nuance que me impede de perder a esperança. Raras, sim, mas existem mulheres prudentes, donas de um senso refinado o suficiente para reconhecer e valorizar uma apreciação sincera. Elas, verdadeiramente empoderadas, parecem ser as únicas capazes de uma leitura mais profunda. Não se impressionam com a cantada superficial, mas buscam a honestidade de um coração e a inteireza de um caráter. Talvez a cautela que adotei não seja uma fuga, mas uma seleção silenciosa, uma espera por uma audiência que me ouça sem o ruído do preconceito. É a busca pela "inteira aparência".

E é nesse ponto que a sabedoria ancestral encontra a minha experiência. "Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas." — Sêneca.


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O texto que acabamos de ler nos provoca a uma reflexão muito interessante para a Sociologia. Ele aborda, de forma bastante pessoal, como as nossas características sociais – como a aparência, a idade e a situação financeira – influenciam drasticamente a forma como somos vistos e tratados nas relações interpessoais. O autor levanta um questionamento fundamental: as regras da convivência social são as mesmas para todos? Para a Sociologia, esse é um material riquíssimo para discutirmos conceitos como estereótipos, estratificação social e a construção social da realidade. Ele nos faz pensar sobre como as nossas identidades são moldadas não apenas por quem somos, mas também por como a sociedade nos enxerga. Vamos às questões para a nossa reflexão!


1 - O texto sugere que a forma como um elogio é feito depende mais de quem o recebe do que do elogio em si. Com base na Sociologia, discuta como a aparência, a idade e a riqueza (status social) funcionam como estereótipos que moldam as nossas interações sociais e podem criar regras de conduta diferentes para cada indivíduo.

2 - O autor diferencia o "assédio" que ele teme com a "cantada criativa" do "bonitão". Explique como esses conceitos, que parecem objetivos, podem ser entendidos como construções sociais que dependem de quem os enuncia. O que essa diferença de interpretação revela sobre a influência da hierarquia social nas nossas percepções?

3 - O autor se coloca como um "peixe vivo fora da água fria" e se sente marginalizado por "não ter fama nem dinheiro". A partir do conceito de estratificação social, discuta como a posição social de um indivíduo pode influenciar suas chances de sucesso e a maneira como ele é tratado, mesmo nas relações mais íntimas.

4 - A crônica menciona que o "bonitão" é "premiado com sorrisos" por comportamentos que seriam malvistos em outros. O que esse tipo de situação revela sobre o capital simbólico — a fama, a beleza e o status — e seu papel nas relações sociais? Por que, na Sociologia, esse capital pode ser tão importante quanto o dinheiro?

4 - No final do texto, o autor encontra esperança nas "mulheres prudentes" que buscam a "inteireza de um caráter". Analise como essa busca pode ser vista como uma forma de resistência individual a uma cultura social que, segundo o autor, é superficial e injusta.

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domingo, 7 de agosto de 2022

COISAS SIMPLES APONTAM PARA AS GRANDES. ("Se acha que a competência custa caro, experimente a incompetência." — Miguel Monteiro).




A Autoridade nas Redes e nas Ruas: Uma Análise da Justiça Punitiva ("A justiça sem força é impotente; a força sem justiça é tirânica." — Blaise Pascal)

 


sábado, 6 de agosto de 2022

UM TOLO SÓ DIZ TOLICE ("O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa". Platão)


 

UM TOLO SÓ DIZ TOLICE ("O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa". Platão)

Por Claudeci Ferreira de Andrade 


Hoje, mais uma vez, irritei-me contra Deus a ponto de Lhe dizer tolices: "Senhor, por que permitiste isto na minha vida?"

Naquela ocasião, sentia-me como Jó — o sofredor — cercado por meus “amigos”, mais preocupados em interpretar minha dor do que em acolhê-la. Eram homens aparentemente bem-sucedidos: um mecânico autônomo, um serralheiro próspero e outro que se proclamava profeta, íntimo de Deus. Reunidos, discutiam minha enfermidade com ares de julgamento, como se pudessem decifrar os desígnios divinos.

Ouvi-os em silêncio, suportando o peso da culpa que suas palavras insinuavam. Suas interpretações — ora dogmáticas, ora moralistas — fracassavam nas contradições que se atropelavam. Tentavam justificar minhas dores com certezas ocas, e eu, diante delas, me via mergulhado em perguntas para as quais nem eu tinha resposta.

Foi então que comecei a confirmar o que, no íntimo, já intuía: o juízo de Deus é justo, e o erro — seja qual for — não permanece impune para sempre. Mas, ali, percebia que eu não era o único sobre quem recaía o peso da expiação. Havia também o “bode para Azazel”, símbolo do mistério insondável que transcende nossa compreensão.

Sem uma resposta definitiva, oscilava entre três possibilidades: estaria sendo castigado pelos meus pecados, colhendo as consequências naturais de minha própria tolice? Estaria sendo testado, para que minha fé amadurecesse? Ou seria aquilo tudo uma forma de Deus manifestar Sua glória em minha vida?

Qualquer que fosse a razão, uma convicção se impunha: religião se discute, sim.

E talvez esse tenha sido o maior fruto daquela conversa: o impulso involuntário para um autoexame profundo, uma espécie de colheita espiritual feita no terreno pedregoso da dor. Aquele tempo não foi perdido — serviu para abrir, ou pelo menos não fechar, os sentidos que percebem os ensinamentos de Deus. Se aquilo tudo era, de fato, obra divina, que fosse então necessária e suficiente para me conduzir à humildade e ao regozijo diante de qualquer uma dessas possibilidades.

Mas como aceitar tudo isso, se minha conclusão final foi que Deus não precisa da fé de ninguém para realizar Sua obra a favor de quem Ele quiser? Afinal, estou bem — e, paradoxalmente, é justamente por isso que duvido de tudo.

E é precisamente nessa dúvida que descubro uma liberdade inesperada: se Deus age independentemente da minha crença, então minha responsabilidade no mundo não repousa no medo do castigo nem na esperança da recompensa, mas na dignidade intrínseca de cada ato humano.

Não preciso amar o próximo para merecer salvação — amo porque o amor, por si só, é uma resposta justa à existência. Não devo buscar a justiça para agradar ao divino — mas porque a injustiça desumaniza tanto o oprimido quanto o opressor.

Essa conclusão me liberta do utilitarismo espiritual e me conduz a uma ética mais essencial: agir bem não por cálculo transcendente, mas por discernimento consciente. Talvez seja isso a verdadeira maturidade da alma — perceber que a bondade não precisa de plateia celestial para ser autêntica. 

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QUESTÕES DISCURSIVAS - SOCIOLOGIA

Tema: Religião, Sociedade e Construção de Valores Morais

QUESTÃO 1

O texto apresenta três personagens que tentam explicar o sofrimento do narrador: um mecânico, um serralheiro e um "profeta". Considerando o que estudamos sobre estratificação social, explique como a posição social e profissional de cada um influencia a forma como eles interpretam e julgam a situação do protagonista.

QUESTÃO 2

O autor questiona se deve "amar o próximo para merecer salvação" ou se deve amar "porque o amor, por si só, é uma resposta justa à existência". Baseando-se nos conceitos de solidariedade social, compare essas duas motivações e explique qual delas contribui mais para a coesão social em uma comunidade.

QUESTÃO 3

O texto menciona que "religião se discute, sim" e critica interpretações dogmáticas. Na sua opinião, como o debate aberto sobre questões religiosas pode contribuir para uma sociedade mais democrática e tolerante? Dê exemplos de situações onde o diálogo religioso é importante para a convivência social.

QUESTÃO 4

O narrador critica o "utilitarismo espiritual" - a ideia de fazer o bem apenas esperando recompensas divinas. Relacione essa crítica com o que aprendemos sobre comportamento social: como você acha que uma moral baseada apenas em "prêmios e castigos" afeta as relações entre as pessoas na sociedade?

QUESTÃO 5

O autor conclui que a "bondade não precisa de plateia celestial para ser autêntica". Considerando os conceitos de normas sociais e controle social, explique como uma sociedade pode manter valores éticos e morais mesmo quando as pessoas têm diferentes crenças religiosas ou não têm religião alguma.

EDUQUE-SE SE PUDER ("Tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade." — Victor Hugo)

 


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

BICHO DE GOIABA É GOIABA (Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. -- Rm 7:19)

 


BICHO DE GOIABA É GOIABA (Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. -- Rm 7:19)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela tarde de domingo, ao pegar uma manga madura da fruteira, meus olhos capturaram algo inusitado: pequenos "bichos" se contorciam na polpa dourada. Fiquei surpreso, pois em minha mente simplória, apenas as goiabas eram suscetíveis a tais invasores. Com a fruta ainda em mãos, uma avalanche de reflexões inundou minha mente.

Lembrei-me de uma passagem bíblica que minha avó costumava citar: "Pelos frutos conhecereis a árvore". Jesus, em um de seus sermões, dizia que uma árvore boa não dá maus frutos, assim como um homem de caráter íntegro não age com maldade. Fiquei ali, parado, segurando a manga "bichada", pensando sobre a simplicidade desse ensinamento e como ele se aplica à nossa vida cotidiana.

Como professor de filosofia, muitas vezes me vi desafiado pelos alunos que se declaravam fervorosamente religiosos. Eles chegavam à sala de aula com uma aura de superioridade moral, como se suas crenças os tornassem imunes a qualquer falha de caráter. No entanto, eram frequentemente os mesmos que atrapalhavam as aulas, que não cumpriam com suas obrigações e que mais reivindicavam direitos sem assumir responsabilidades.

Observava-os, dia após dia, pregando amor ao próximo, mas destilando julgamentos aos que consideravam "pecadores". Era como se vissem o mundo em preto e branco, incapazes de compreender os diversos tons de cinza que compõem a complexidade humana. Justificavam-se rapidamente com exemplos bíblicos – Davi, Pedro, todos pecaram, mas foram grandes homens. O problema é que, enquanto eles se agarravam a esses exemplos, muitas vezes se esqueciam de um detalhe fundamental: o arrependimento sincero e a transformação que esses personagens viveram.

Certa vez, durante um debate acalorado sobre ética, um desses alunos proclamou: "Eu amo o pecador, mas detesto o pecado". A frase ficou suspensa no ar, pesada como chumbo. Olhei para ele e perguntei: "E como você separa o dançarino da dança?" O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Vi nos olhos dele a confusão de quem se depara com a própria contradição. Afinal, como amar alguém e detestar uma parte intrínseca de seu ser?

Naquele momento, voltei a pensar na minha manga bichada. Ela não deixava de ser uma manga por estar infectada. Seu valor nutricional não diminuía por conta de suas imperfeições. E não eram justamente essas imperfeições que a tornavam única, real, sem maquiagem? Percebi que todos nós somos como frutas em uma grande árvore da vida. Alguns aparentemente perfeitos por fora, outros visivelmente marcados. Mas quem pode julgar o sabor de um fruto sem antes prová-lo?

Quantas pessoas "bichadas" conhecemos por aí? Não no sentido literal, mas aquelas cujos defeitos não ficam aparentes à primeira vista. Elas parecem perfeitas, até que, de repente, mostram que por dentro estão tomadas por algo que as corrói. E, como essas frutas, essas pessoas podem estragar o ambiente ao seu redor, espalhando desconfiança, fanatismo, ódio disfarçado de moralidade.

Ao final daquela reflexão, guardei comigo uma lição preciosa: o verdadeiro caráter de uma pessoa não se revela em suas palavras pomposas ou em sua aparência imaculada. Ele se mostra nas pequenas ações, na compaixão genuína, na capacidade de reconhecer as próprias falhas e aceitar as dos outros.

Voltei para a cozinha com um novo olhar. Peguei a manga que havia deixado de lado e, com cuidado, removi as partes afetadas. O que restou era doce, suculento e perfeitamente imperfeito. Assim somos nós, pensei. Imperfeitos, às vezes "bichados", mas ainda capazes de oferecer doçura ao mundo. O segredo está em aceitar nossas próprias imperfeições e as dos outros, cultivando não apenas a aparência de bondade, mas seus verdadeiros frutos.

Afinal, a vida é como uma manga. Às vezes, por fora, tudo parece perfeito, mas, por dentro, podemos estar repletos de pequenos defeitos. O que importa, no fim, é o que decidimos fazer com isso. Vamos ignorar e deixar que os "bichos" nos consumam ou reconhecer o problema e tentar nos curar?

E você, caro leitor, que frutos tem colhido em sua jornada? Lembre-se: o que importa não é apenas a árvore que parecemos ser, mas os frutos que efetivamente produzimos.
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Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e detalhadas para as seguintes questões:


Qual a principal reflexão que o autor faz a partir da imagem da manga "bichada"?


Como o autor relaciona a parábola bíblica dos frutos com a hipocrisia que ele observa em algumas pessoas religiosas?


Qual a crítica do autor à visão maniqueísta de bem e mal, frequentemente encontrada em algumas interpretações religiosas?


Qual a importância da aceitação das próprias imperfeições e da compaixão pelos outros, segundo o autor?


Qual a mensagem central que o autor busca transmitir ao leitor por meio dessa narrativa?

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