EDUQUE-SE SE PUDER ("Tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade." — Victor Hugo)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Há um argumento que me assombra, ecoando pelos corredores das escolas como uma sentença fatal, vindo de uma coordenadora pedagógica a fim de passar um aluno sem mérito: — "você quer tê-lo novamente como seu aluno, no próximo ano?" Essa pergunta, carregada de chantagem velada, resume a falência de um sistema. O resultado? O aluno, em tese reprovado em duas matérias, será promovido sem preocupações, pois um simples "trabalhinho" resolverá sua dependência curricular. E é lógico que nós, professores, não queremos, de jeito nenhum, trabalho extra forçado! Afinal, se os alunos sabem que serão aprovados automaticamente, ou melhor, no "grito", por que se importarão com mais uma tarefa no quadro, valendo meros pontinhos?
A partir do terceiro bimestre, a pressão psicológica se intensifica sobre o professor, que se vê obrigado a revisar notas, quando o foco deveria estar no aluno que não alcançou o conhecimento mínimo esperado. A escola e o próprio ato de ensinar perderam seu rumo, movendo-se não pelo aprendizado, mas por estatísticas que os superiores contratam para se estabelecerem.
No quarto bimestre, então, o cenário se agrava. As denúncias de pais e alunos contra os professores aumentam, com acusações banais que chegam a invadir nossa vida pessoal. É uma competição desleal: todos almejam a aprovação a qualquer custo, enquanto os chefes exigem estatísticas bonitas. Nós, professores, queremos apenas fazer nosso trabalho fielmente, mas... É um assédio moral aqui, outra imoralidade ali, uma falta de ética acolá. E assim seguimos, sob a bandeira de "ordem e progresso", mas, na realidade, estamos enchendo o Brasil de analfabetos funcionais. Enquanto isso, os pedagogos, em nome da manutenção de seus empregos, parecem atrair o caos à educação.
Esse analfabetismo funcional, embora gestado dentro dos muros da escola, transborda para a sociedade. Ele se manifesta em adultos que assinam documentos sem ler, que votam sem compreender e que consomem desinformação como se fosse verdade inquestionável. A raiz dessa tragédia educacional reside, muitas vezes, nas metas fabricadas por políticas públicas mal formuladas, que tratam a educação como uma planilha e o aluno como um mero número. A lógica estatística sufoca a lógica pedagógica, invertendo o foco: o fracasso não é evitado pelo sucesso real do aluno, mas pela manipulação dos critérios de avaliação.
A verdade é que essa cultura da aprovação fácil impacta diretamente a cidadania, a capacidade crítica e a inserção no mercado de trabalho de toda uma geração, comprometendo seriamente o futuro do nosso país. A pressão por números, frequentemente imposta por metas macro (sejam de órgãos governamentais ou de mantenedoras privadas que priorizam o "sucesso" em rankings), transforma a escola em uma fábrica de diplomas vazios. Contudo, mesmo diante desse cenário desolador, a faísca da resistência ainda brilha: na teimosia de professores que insistem em ensinar, no esforço de pais que valorizam o conhecimento genuíno e na esperança de alunos que, apesar de tudo, ainda buscam aprender de verdade. Porque, no fundo, eu sei, e creio com convicção: uma criança bem formada resiste à pressão do mundo. E é essa formação integral, enraizada em valores verdadeiros e profundos, que trará a libertação autêntica para nossos filhos.
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O texto que acabamos de ler nos traz uma reflexão superimportante sobre os desafios do sistema educacional brasileiro e a desvalorização do aprendizado em detrimento de outros interesses. O autor, com uma paixão nítida, nos convida a pensar sobre como a busca por estatísticas e a pressão por aprovação a qualquer custo podem estar comprometendo a formação dos nossos estudantes. Ele aborda questões como a autonomia do professor, o papel das instituições de ensino e as consequências do "analfabetismo funcional" para a sociedade. Para a Sociologia, isso é um prato cheio! Nos ajuda a discutir temas como instituições sociais, políticas educacionais, estratificação social, poder e a influência das ideologias no campo da educação. Vamos mergulhar juntos nessas ideias e aprofundar nosso olhar sociológico?
1 - O autor critica a prática de "passar o aluno sem mérito" por meio de um "trabalhinho" e a pressão para evitar a reprovação. Com base nos conceitos de meritocracia e funções sociais da educação (manifestas e latentes), discuta como a busca por estatísticas de aprovação pode desvirtuar o propósito do ensino e quais as consequências para a formação dos indivíduos.
2 - O texto descreve uma "pressão psicológica" sobre o professor e um cenário de "assédio moral" e "falta de ética". Analise, do ponto de vista sociológico, as relações de poder dentro da instituição escolar. Como a busca por "estatísticas bonitas" por parte dos superiores e a expectativa de aprovação por pais e alunos podem gerar conflitos e precarizar as condições de trabalho do professor?
3 - O autor afirma que a escola, ao priorizar números, está "enchendo o Brasil de analfabeto funcional". Explique, a partir da Sociologia da Educação, o que é o analfabetismo funcional e como ele se manifesta na sociedade. Quais são os impactos sociais, econômicos e políticos de uma parcela significativa da população com baixo nível de letramento e compreensão crítica?
4 - O texto sugere que as "políticas públicas mal formuladas" e as "metas macro" transformam a escola em uma "fábrica de diplomas vazios". Discuta como as políticas educacionais e as avaliações em larga escala podem influenciar a prática pedagógica e o currículo escolar. Qual o risco de uma abordagem quantitativa excessiva desconsiderar as particularidades do processo de ensino-aprendizagem?
5 - Apesar do cenário de crise, o autor menciona a "faísca da resistência" em professores, pais e alunos que valorizam o conhecimento genuíno. Como a ação coletiva e a mobilização social podem ser formas de resistência e mudança diante de um sistema educacional que parece desviar-se de seus propósitos originais? Dê exemplos de como a comunidade escolar pode atuar para promover uma "formação integral".
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