"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

SATANÁS, ESTRATÉGIA; DEUS, A VERDADE. ("A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia." (Norman Schwarzkopf)









SATANÁS, ESTRATÉGIA; DEUS, A VERDADE. ("A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia." (Norman Schwarzkopf)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quem trabalha com estratégias quer, antes de tudo, economizar esforço. Tem consciência da insignificância do que oferece, mas procura dar valor àquilo, porque só tem isso para apresentar. No engodo, a embalagem torna-se mais valiosa que o produto. O grande problema é que as pessoas acreditam tratar-se de uma coisa e, depois, descobrem ser outra; decepcionam-se e fogem. Raramente alguém se deixa enganar duas vezes pela mesma isca.

Os objetivos da escola, por si só, deveriam se afirmar, mas acabam sendo endossados por estratégias — basta olhar os planejamentos dos professores. Ninguém precisa vender o que é essencial; o indispensável se procura naturalmente. O que precisa de estratégia para ser aceito é enganoso, e todo engano é passageiro, fútil. O que é necessário, de fato, tem em si mesmo a força do desejo: não exige linguagem apelativa nem artifício, apenas se impõe pelo próprio valor.

Talvez o ponto mais perigoso seja o de confundirmos estratégia com verdade. Quando isso acontece, já não discutimos ideias, mas embalagens; já não educamos, mas seduzimos. A estratégia, nesse sentido, cria um atalho que parece inteligente, mas esconde o vazio de um caminho sem substância. É claro que ninguém está livre da tentação de facilitar a própria vida — todos buscamos atalhos —, mas é justamente aí que mora a diferença entre transparência e manipulação. A escola, quando se deixa cativar pelo discurso estratégico, corre o risco de perder aquilo que deveria ser sua essência: a clareza de que ensinar é difícil, mas necessário. Só o que é verdadeiro permanece; o que depende de truque logo se dissolve.

Estratégia: manto do mal, do engano e da mentira. O bom senso repele qualquer coisa tornada obrigatória. Deus não trabalha com estratégia, mas com a verdade; seu caminho é sempre estreito e trabalhoso. Já a mentira precisa de outra mentira como estratégia para se sustentar e parecer verdade. "Perder tempo em aprender coisas que não interessam priva-nos de descobrir coisas interessantes." — Carlos Drummond de Andrade.

A mentira sempre foi o recurso do enganador para se vender; o verdadeiro, ao contrário, não precisa de embalagem bonita, porque é naturalmente desejável. "Existem em todo o homem, a todo o momento, duas postulações simultâneas, uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de precipitar-se no abismo." — Charles Baudelaire.


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O texto que acabamos de ler nos provoca a pensar sobre a diferença entre essência e aparência, um tema central para a sociologia. Ele nos faz questionar como a nossa sociedade, incluindo a escola, valoriza mais a "estratégia" do que a "verdade". Essa distinção é crucial para entender muitos fenômenos sociais. Vamos aprofundar essa discussão com algumas questões. Respondam de forma discursiva, buscando exemplos do texto e da realidade ao seu redor.


1 - O autor argumenta que "no engodo, a embalagem torna-se mais valiosa que o produto". Como essa ideia se relaciona com a sociedade de consumo? Cite exemplos do nosso cotidiano em que a "estratégia" de marketing parece mais importante que a qualidade real de um produto ou serviço.

2 - O texto afirma que "os objetivos da escola, por si só, deveriam se afirmar, mas acabam sendo endossados por estratégias". Com base nisso, discuta como a instituição escolar pode se afastar de sua função social principal (o ensino) ao adotar lógicas que se assemelham às do mercado.

3 - O autor faz uma dura crítica àquilo que "precisa de estratégia para ser aceito". Refletindo sobre a esfera política, qual seria a diferença entre a comunicação honesta de um projeto e a "linguagem apelativa" que o texto critica?

4 - A crônica contrapõe a "estratégia" com a "verdade", associando a primeira à "mentira" e a segunda a algo "trabalhoso". Em sua visão, como essa distinção pode ser aplicada para analisar a diferença entre um debate público construtivo e a disseminação de fake news?

5 - O texto menciona que "a mentira precisa de outra mentira como estratégia para se sustentar". Como podemos relacionar essa ideia com o conceito de legitimidade na sociologia? Por que um sistema ou uma ideia que se baseia apenas em "estratégias" tem mais dificuldade de se manter no longo prazo?

terça-feira, 20 de setembro de 2022

TRANSGENERIDADE, A PERCEPÇÃO DE SI ("Nas maiores virtudes, as grandezas fundamentais são ilusões no instante da escolha." — Celso Roberto Nadilo)

 


TRANSGENERIDADE, A PERCEPÇÃO DE SI ("Nas maiores virtudes, as grandezas fundamentais são ilusões no instante da escolha." — Celso Roberto Nadilo)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O Novo Normal Escolar tem se mostrado propício para discussões sobre identidades de gênero e sexualidade, e muitas teses de mestrado e doutorado sobre a homoafetividade se aprofundam nesse tema. Essa nova abordagem parece ser uma ciência necessária para o momento atual, que nos convida a repensar a nós mesmos. Contudo, essa evolução levanta um questionamento: será que, no ensino fundamental, os professores "héteros definidos ou para binários tradicionais" serão rapidamente taxados de machistas? É estranho que feministas precisem de machistas para se estabelecer, mas essa parece ser a lógica. No futuro próximo, apenas professores transgêneros atenderiam à demanda de um público mais evoluído e "antenado".


Fica a questão: aqueles que definiram os critérios para classificar o que é machista, feminista ou homofóbico consideraram o equilíbrio? Antigamente, a escola preparava os alunos para o mercado de trabalho; hoje, o foco mudou para o ensino da vida. Enquanto antes as aulas de filosofia e sociologia pouco discutiam sobre "discípulos para iniciação" e o ensino religioso pouco explorava a amizade entre Davi e Jônatas, agora qualquer manifestação de apreço pela individualidade humana é bem-vinda.

A reflexão se aprofunda: é possível conciliar a modernidade com o essencial da educação? Não precisamos abrir mão do respeito, da disciplina ou do estudo sério da filosofia para abraçar novas identidades. Se ensinarmos aos alunos a arte de pensar, a habilidade de dialogar com as diferenças e a consciência histórica das sociedades, poderemos acolher novas identidades e formas de existir sem destruir a base do conhecimento e da moral que sustenta a vida em comunidade.
Valores como a reflexão crítica, a empatia e a disciplina intelectual podem não apenas coexistir com o novo, mas também orientá-lo, impedindo que a transição social se transforme em confusão ou aceitação superficial. A escola poderia, assim, se tornar um espaço onde o ser humano é cultivado em todas as suas dimensões, sem que a evolução social seja confundida com relativismo absoluto.
A ironia do nosso tempo se revela em contrastes. No passado, quando um estuprador era preso, "recomendava-se aos outros detentos que lhe fizessem o mesmo, como se não fossem reeducandos". Hoje, em um cenário de busca pela equidade, somos educados para entender todos os gêneros. No entanto, ainda presenciamos cenas como um padre gritando no meio de uma maratona infantil: "'Quem chegar por último é a mulher do padre!'" Esse tipo de comentário, que reforça estereótipos, contrasta diretamente com a legislação atual, que afirma: "É ideologia de gênero. Discriminá-lo é crime."

[https://pjmedia.com/news-and-politics/matt-margolis/2022/09/21/your-tax-dollars-fund-a-group-pushing-transgender-identity-on-two-year-olds-n1631033

]

[https://pjmedia.com/news-and-politics/lincolnbrown/2022/09/21/the-nea-is-providing-teachers-with-sexually-explicit-information-n1631215

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Como seu professor de Sociologia, preparei cinco questões discursivas e simples para a gente refletir sobre o texto que acabamos de ler. Pensem bem em suas respostas e usem suas próprias palavras para desenvolvê-las.


1. A escola e o "novo normal"

O texto sugere que o foco da escola mudou de "preparar para o mercado de trabalho" para "ensinar para a vida". Explique, com suas palavras, o que essa mudança significa para o autor e quais novos temas, segundo ele, a escola tem abordado.

2. O conflito entre grupos

No início do texto, o autor faz uma observação sobre como feministas e machistas parecem precisar um do outro. Explique o que ele quer dizer com isso e qual é o problema que ele aponta nesse tipo de relação.

3. O papel da reflexão na educação

O autor questiona se a escola pode conciliar a modernidade com o "essencial da educação". Quais valores e habilidades ele propõe, como o "pensar" e o "dialogar", para que a escola consiga abraçar novas identidades sem perder sua base?

4. O paradoxo da liberdade

O texto menciona a ironia de um padre que faz uma piada de mau gosto, mas, ao mesmo tempo, seria considerado crime discriminá-lo. Com base nesse exemplo, discuta a complexidade das leis de gênero e o desafio de equilibrar a liberdade de expressão com a proteção contra a discriminação.

5. A escola como espaço de cultivo

No final, o autor propõe que a escola seja um local onde o humano é cultivado em todas as suas dimensões. O que você acha dessa ideia? Como a escola poderia, na prática, cultivar o respeito, a disciplina e a reflexão crítica, ao mesmo tempo em que acolhe as novas formas de identidade de seus alunos?

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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

PUNIÇÃO SEM JUSTIFICATIVA É VINGANÇA ("Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." — Pitágoras)

 


PUNIÇÃO SEM JUSTIFICATIVA É VINGANÇA ("Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." — Pitágoras)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu procuro enxergar minha atividade profissional não apenas como fonte de renda, mas como contribuição efetiva para a sociedade. Posso até ser um simples professor, mas sei que espalho sementes de coisas boas que ajudam o mundo a se aproximar do que deveria ser. Tenho importância, sim! E, digam o que quiserem a meu respeito, não me deixarei levar por superficialidades. Cada dia me é favorável ao estudo e à aprendizagem, e nisso encontro força para ensinar. Assim, aproveito, ainda que de forma comedida, os dons e talentos que Deus me confiou.

Essa convicção nasce, muitas vezes, de pequenas vitórias: quando um aluno, depois de semanas de silêncio, finalmente me olha e diz que entendeu uma equação; ou quando outro, marcado pelo descaso da família, encontra na sala de aula o primeiro espaço onde sua voz tem valor. É nesses momentos que dor e paixão se entrelaçam no ofício de ensinar. Dor, porque sei que lá fora eles serão lançados à selva real; paixão, porque percebo que, mesmo que por um instante, consegui domesticá-los ao convívio — como um animal arisco que baixa a guarda diante da mão que o alimenta. Mas há o risco: o animal, acostumado à ração fácil, esquece a brutalidade da mata e sucumbe no primeiro embate. Assim também é o aluno poupado de disciplina: sua fragilidade lhe cobra caro quando a vida lhe exige coragem.

Ainda assim, creio que nem tudo está perdido. Nos olhos atentos de alguns vejo a centelha de quem pressente a dureza da selva e se prepara para enfrentá-la. São jovens que, aos tropeços, aprendem que a dor pode ser mestra e a disciplina, companheira de jornada. Se o animal arisco só sobrevive porque nunca esquece o perigo, o aluno desperto aprende a não confundir cuidado com complacência. Não se trata de quebrar sua confiança, mas de treiná-lo para o embate real. Esse equilíbrio frágil, entre acolher e advertir, é a luta diária do professor — uma batalha solitária, que às vezes nos concede vitórias silenciosas. Talvez seja nelas, e apenas nelas, que resista a esperança de que a educação não seja devorada pela própria selva que deveria domar.

Infelizmente, no atual momento de aprovação sem mérito, o professor se vê impedido de corrigir ou punir, temendo represálias administrativas ou até físicas. Portanto, sem a pedagogia da disciplina e apenas com o excesso de mimos, os desavisados do sistema perdem o senso de perigo: "Animal arisco domesticado esquece o risco". Os indisciplinados da educação precisam dos obstáculos da correção para respeitar os mecanismos da Escola.

Nesse novo normal, lamento que não percebam o verdadeiro poder de fogo do professor — não aquele das armas letais, mas o que vem dos diplomas conquistados com mérito. São essas credenciais que reforçam nossa palavra, enquanto outras armas, de fogo real, nas mãos dos alunos, calam diplomas e vozes.


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A leitura desse texto nos convida a uma profunda reflexão sobre a educação na nossa sociedade. Como professor de Sociologia, vejo nele uma série de dilemas e observações que são fundamentais para o nosso estudo. A partir das ideias do autor, preparei cinco questões discursivas para que possamos aprofundar nossa análise.


1 - O autor define sua profissão não apenas como fonte de renda, mas como uma "contribuição efetiva para a sociedade". Que conceitos sociológicos podem ser usados para analisar o papel do professor como agente de transformação social e de que forma essa visão se alinha com o texto?

2 - No texto, a metáfora do "animal arisco domesticado" é utilizada para descrever o processo de aprendizagem e disciplina. Discuta: por que o autor defende que a falta de obstáculos e de "perigo" na escola pode ser prejudicial para os alunos?

3 - O autor critica a "aprovação sem mérito" e a falta de "pedagogia da punição". Explique como o conceito de controle social se aplica a essa visão e quais as possíveis consequências sociológicas da ausência de disciplina no ambiente escolar.

4 - O texto contrasta o "poder de fogo" do professor (diplomas) com o das "armas de fogo" dos alunos. Analise o que essa metáfora revela sobre as relações de poder e a crise de autoridade na educação, de um ponto de vista sociológico.

5 - A frase "a dor pode ser mestra e a disciplina, companheira de jornada" resume uma visão de mundo. Em sua opinião, o que a Sociologia diria sobre o papel do sofrimento e do conflito na socialização de um indivíduo para a vida em sociedade?

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domingo, 18 de setembro de 2022

TIPO E ANTÍTIPO EDUCACIONAL ("A representação é uma ilusão". — Vladimir Safatle)

 


TIPO E ANTÍTIPO EDUCACIONAL ("A representação é uma ilusão". — Vladimir Safatle)

No velho normal, quando os alunos roubavam o giz da caixinha do professor, era para brincar de lecionar em casa. Havia nisso uma ingenuidade quase comovente: imitar o mestre, desenhar no ar rabiscos de explicações inventadas, repetir frases ouvidas em sala e até repreender colegas invisíveis. O giz quebrado em duas partes virava símbolo de autoridade, uma varinha mágica da imaginação infantil que oferecia aos meninos e meninas um gosto antecipado do ofício de ensinar. Essa cena, aparentemente banal, guardava uma doçura nostálgica — e hoje, à distância, torna-se dolorosa, porque expõe o quanto se perdeu no tempo.

Hoje, no entanto, roubam para jogar uns nos outros. Com o pincel de quadro branco, a irreverência ganhou crueldade: o professor não pode descuidar um instante, sob risco de encontrar no quadro palavrões ou indiretas zombeteiras. Gastar a tinta do pincel, aliás, é tomado como uma metonímia maldita: é desgastá-lo inutilmente, como se o próprio professor fosse a vítima desse consumo vingativo. O giz daquele tempo, quando arremessado, ainda trazia uma sombra de representação do mestre; agora, o gesto é apenas rejeição nua e crua. Na escola do novo normal, seguem brincando — mas, desta vez, com a própria carreira do professor.

E é justamente dessa comparação que nasce a ferida mais funda: antes, a imitação carregava uma centelha de respeito inconsciente, ainda que disfarçada em jogo; agora, converte-se em desdém. A travessura que sugeria desejo de aprender transformou-se em agressão simbólica, como se o professor fosse apenas mais um alvo descartável. A mudança não é apenas de comportamento, mas de sentido: onde havia possibilidade de sonho, restou apenas a caricatura amarga de uma autoridade desacreditada.

Mesmo aqueles que, em casa, encenavam o papel de professor jamais desejaram sê-lo de verdade. Os animais brincam de caçar porque querem ser bons caçadores; entre eles o faz-de-conta é treino, preparação para a vida. Já os meus alunos, ao brincarem com minha profissão, não buscavam futuro algum — apenas riam do presente. E talvez aí esteja a verdadeira desnaturação: não no riso em si, mas na incapacidade de convertê-lo em ensaio de vida.


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Como seu professor de Sociologia, achei a análise desse texto excelente para a nossa disciplina. Ele nos permite refletir sobre as profundas transformações sociais que impactam até mesmo o ambiente escolar. A partir da leitura, elaborei cinco questões discursivas e simples para que vocês possam aplicar conceitos sociológicos e aprofundar a discussão.


1 - O texto aborda a diferença entre o "velho normal" e o "novo normal". Em uma perspectiva sociológica, como podemos interpretar a mudança de comportamento dos alunos em relação ao professor e à profissão? Cite um conceito que ajude a explicar essa transformação.

2 - O autor utiliza a metonímia da tinta do pincel para representar o desgaste do professor. Discuta, com base no texto, como objetos e ações simples podem adquirir um significado simbólico na sociedade, refletindo valores e conflitos de um determinado período.

3 - A brincadeira dos alunos com o giz, no "velho normal", era vista como uma imitação "quase comovente". Que tipo de relação social e de poder era sugerida por essa atitude, em contraste com a rejeição explícita do "novo normal"?

4 - O texto afirma que os animais brincam com um objetivo (treino para a vida), enquanto os alunos brincam sem um propósito. Relacione essa ideia com a socialização e com a perda de valores na sociedade contemporânea, discutindo a importância do "faz-de-conta" no desenvolvimento social.

5 Considerando o papel do professor como agente de socialização, quais seriam as possíveis causas sociológicas para a "desnaturação" ou desvalorização de sua figura, conforme sugerido pelo autor?

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sábado, 17 de setembro de 2022

FANÁTICO É INCOERENTE ("A incoerência faz parte da vida daqueles que não entendem as palavras de Deus." — Pr. Gabriel Amorim)

 


FANÁTICO É INCOERENTE ("A incoerência faz parte da vida daqueles que não entendem as palavras de Deus." — Pr. Gabriel Amorim)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O Deus vendido pelos charlatões igrejeiros não quer que façamos algo errado, mas concede o que o pastor julga aceitável. Quando insistimos muito em algo “não tão errado”, recebemos a chamada “misericórdia”. É como a mãe que pressente o perigo e não quer deixar o filho ir ao rio, mas acaba cedendo após sua insistência. Quando ele se afoga, ela se vê eternamente culpada pela tragédia, como se sua omissão fosse um “pecado deliberado”: não soube dizer não na hora certa.

Afinal, quem pode julgar a Deus? Ele também não sabe dizer não? Os fanáticos, cegos em sua incoerência, continuam repetindo que Deus permite aquilo que Ele mesmo não deseja.

Eis a parábola que desnuda a perversidade da culpabilização: a mãe condenada a carregar sozinha a dor da tragédia, como se um instante de fraqueza apagasse todo o amor de uma vida inteira. O mesmo raciocínio distorcido é usado para culpar os fiéis, fazendo-os acreditar que qualquer deslize é sinal de maldição, como se Deus fosse um juiz vacilante e punitivo. A crueldade desse mecanismo não se limita à teologia: instala no íntimo a angústia de nunca acertar, de viver eternamente em dívida. Talvez o maior pecado seja justamente este: transformar a fé em tortura e a consciência em cárcere.

Esse cárcere religioso se estende à vida social, onde o medo de pensar, discordar e dialogar aprisiona a liberdade. A mesma intolerância que silencia fiéis também cala cidadãos, convertendo o debate em guerra. Não é por acaso que muitos repetem, como dogma, que política, religião e futebol não se discutem. Com esse tipo de gente, nada se discute — tudo vira briga, pois não sabem respeitar nem a si mesmos, muito menos aos outros.

Do outro lado, existem os civilizados, capazes de discutir qualquer tema e aceitar que os pensamentos divergem. O desafio é cultivar esse espaço de diálogo. Não se trata de unanimidade, mas da arte de escutar, discordar e, ainda assim, preservar a dignidade da conversa. A verdadeira civilidade não nasce do silêncio imposto, mas da coragem de enfrentar ideias contrárias sem transformar diversidade em adversidade. Como já disse Jadson Ferreira: "Não deixe a diversidade se transformar em adversidade."


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O texto que acabamos de ler nos provoca a uma reflexão profunda sobre o papel da religião e o comportamento humano em sociedade. O autor usa exemplos fortes e comparações diretas para questionar como a fé, o diálogo e a intolerância se relacionam em nosso dia a dia. Para continuarmos nossa discussão de forma construtiva, preparei cinco questões que nos ajudarão a analisar as ideias do texto sob uma perspectiva sociológica. Pensem com calma e baseiem suas respostas em seus conhecimentos e nas reflexões propostas pelo autor.

1 - O texto aborda a ideia de que a fé, quando manipulada, pode gerar um sentimento de culpa e angústia. Com base em seus estudos de Sociologia, como você explica o papel das instituições religiosas na criação e manutenção de normas sociais, e de que forma a "culpabilização" pode ser uma ferramenta de controle social?

2 - A parábola da mãe e do filho que se afoga é usada para ilustrar a perversidade de um raciocínio que culpa o indivíduo por tragédias. De que maneira essa lógica se manifesta em outras áreas da nossa sociedade, além da religião? Cite um exemplo e explique a relação.

3 - O texto afirma que a intolerância religiosa está ligada à intolerância em outras áreas. Por que, segundo o autor, o medo de discordar sobre religião é o mesmo que leva as pessoas a evitarem discutir política e futebol?

4 - O autor faz uma distinção entre pessoas que "não discutem" esses temas e as "civilizadas" que os discutem. Com suas próprias palavras, defina o que o texto entende por diálogo civilizado e qual a sua importância para o convívio em sociedade.

5 - A frase final, "Não deixe a diversidade se transformar em adversidade", resume a mensagem principal do texto. Em que sentido a diversidade de ideias, opiniões e crenças pode ser vista como uma ameaça para alguns grupos, e por que o autor defende que essa visão é um obstáculo para a verdadeira civilidade?

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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O CERTO É ERRADO E O ERRADO É CERTO ("Ainda que as manteigas derretam e os leites azedem, faremos bom proveito da gordura e das sobremesas." — augusto andrade)

 


O CERTO É ERRADO E O ERRADO É CERTO ("Ainda que as manteigas derretam e os leites azedem, faremos bom proveito da gordura e das sobremesas." — augusto andrade)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A educação formal oferece iscas em lugar de ensinamentos para a vida, pois sua matriz curricular é abstrata demais para adolescentes em busca de sentido. Nesse cenário, todos nós nos encaixamos na descrição de Richard Bach: "Aprender é descobrir aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você o sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você."

Mas a coerência do professor, paradoxalmente, pode trair sua própria intenção: verdades acabam soando como mentiras ao disputar espaço com mentiras que parecem verdades. Essa instabilidade nos torna injustos até na forma de nos revoltarmos contra o erro.

É nesse paradoxo que se abre o abismo. O mestre, ao tentar libertar, pode acabar aprisionando. A coerência, que deveria ser guia, transforma-se em espelho quebrado — cada estilhaço refletindo uma verdade distorcida. Romper o ciclo exige mais do que denunciar manipuladores externos: é preciso a coragem de encarar o reflexo interior, arrancando as máscaras que sustentam nossa conivência. Libertar-se não é caminho reto nem confortável, mas passo necessário para compreender a aparição do “monstro” como revelação, e não como metáfora distante.

Então ele surge: o monstro de nossos sonhos, gestado nas fissuras de nossas ilusões. Alimenta-se da justiça sufocada, do medo negado e da esperança azeda. Sua tarefa não é apenas derrubar manipuladores, mas desnudar a farsa da nossa cumplicidade.

E não, ele não precisa nos arrancar do "banquete de fezes". Basta obrigar-nos a reconhecer que as sobremesas, embora exalem “DELICIOSO CHOCOLATE”, pertencem ao grotesco. A verdadeira questão não é como escapar dos manipuladores, mas como romper com o cárcere de nós mesmos — porque, em alguma medida, também os somos.


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O texto que acabamos de ler nos provoca a pensar sobre o papel da educação, a complexidade das relações sociais e, principalmente, sobre a nossa responsabilidade nesse processo. Ele usa metáforas fortes para questionar o que entendemos por verdade, liberdade e manipulação. Para que possamos aprofundar a discussão, preparei cinco questões baseadas nas ideias principais do texto. Lembrem-se de que não há respostas certas ou erradas, mas sim a busca por uma reflexão crítica e bem fundamentada.


1 - O autor questiona a educação formal, dizendo que ela oferece "iscas em lugar de ensinamentos para a vida". Com base na sua experiência e nos seus conhecimentos de Sociologia, como você interpreta essa crítica?

2 - A citação de Richard Bach sugere que a aprendizagem está mais ligada à redescoberta do que à aquisição de conhecimento novo. Na sua opinião, de que forma essa ideia se relaciona com a crítica do texto à "matriz curricular abstrata"?

3 - O texto afirma que a coerência do professor pode se tornar um paradoxo, fazendo com que as verdades se misturem com as mentiras. De que maneira a relação de poder entre professor e aluno pode influenciar essa dinâmica?

4 - A metáfora do "monstro de nossos sonhos" representa a necessidade de uma revelação interna. Analise como o "monstro" atua para desmascarar a nossa própria cumplicidade e por que isso é crucial para a nossa libertação.

5 - O texto finaliza com a reflexão de que a questão não é apenas escapar dos manipuladores, mas reconhecer que também "os somos". Explique essa ideia e discuta um exemplo do seu cotidiano em que você percebe essa cumplicidade.

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