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MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

PUNIÇÃO SEM JUSTIFICATIVA É VINGANÇA ("Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." — Pitágoras)

 


PUNIÇÃO SEM JUSTIFICATIVA É VINGANÇA ("Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos." — Pitágoras)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu procuro enxergar minha atividade profissional não apenas como fonte de renda, mas como contribuição efetiva para a sociedade. Posso até ser um simples professor, mas sei que espalho sementes de coisas boas que ajudam o mundo a se aproximar do que deveria ser. Tenho importância, sim! E, digam o que quiserem a meu respeito, não me deixarei levar por superficialidades. Cada dia me é favorável ao estudo e à aprendizagem, e nisso encontro força para ensinar. Assim, aproveito, ainda que de forma comedida, os dons e talentos que Deus me confiou.

Essa convicção nasce, muitas vezes, de pequenas vitórias: quando um aluno, depois de semanas de silêncio, finalmente me olha e diz que entendeu uma equação; ou quando outro, marcado pelo descaso da família, encontra na sala de aula o primeiro espaço onde sua voz tem valor. É nesses momentos que dor e paixão se entrelaçam no ofício de ensinar. Dor, porque sei que lá fora eles serão lançados à selva real; paixão, porque percebo que, mesmo que por um instante, consegui domesticá-los ao convívio — como um animal arisco que baixa a guarda diante da mão que o alimenta. Mas há o risco: o animal, acostumado à ração fácil, esquece a brutalidade da mata e sucumbe no primeiro embate. Assim também é o aluno poupado de disciplina: sua fragilidade lhe cobra caro quando a vida lhe exige coragem.

Ainda assim, creio que nem tudo está perdido. Nos olhos atentos de alguns vejo a centelha de quem pressente a dureza da selva e se prepara para enfrentá-la. São jovens que, aos tropeços, aprendem que a dor pode ser mestra e a disciplina, companheira de jornada. Se o animal arisco só sobrevive porque nunca esquece o perigo, o aluno desperto aprende a não confundir cuidado com complacência. Não se trata de quebrar sua confiança, mas de treiná-lo para o embate real. Esse equilíbrio frágil, entre acolher e advertir, é a luta diária do professor — uma batalha solitária, que às vezes nos concede vitórias silenciosas. Talvez seja nelas, e apenas nelas, que resista a esperança de que a educação não seja devorada pela própria selva que deveria domar.

Infelizmente, no atual momento de aprovação sem mérito, o professor se vê impedido de corrigir ou punir, temendo represálias administrativas ou até físicas. Portanto, sem a pedagogia da disciplina e apenas com o excesso de mimos, os desavisados do sistema perdem o senso de perigo: "Animal arisco domesticado esquece o risco". Os indisciplinados da educação precisam dos obstáculos da correção para respeitar os mecanismos da Escola.

Nesse novo normal, lamento que não percebam o verdadeiro poder de fogo do professor — não aquele das armas letais, mas o que vem dos diplomas conquistados com mérito. São essas credenciais que reforçam nossa palavra, enquanto outras armas, de fogo real, nas mãos dos alunos, calam diplomas e vozes.


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A leitura desse texto nos convida a uma profunda reflexão sobre a educação na nossa sociedade. Como professor de Sociologia, vejo nele uma série de dilemas e observações que são fundamentais para o nosso estudo. A partir das ideias do autor, preparei cinco questões discursivas para que possamos aprofundar nossa análise.


1 - O autor define sua profissão não apenas como fonte de renda, mas como uma "contribuição efetiva para a sociedade". Que conceitos sociológicos podem ser usados para analisar o papel do professor como agente de transformação social e de que forma essa visão se alinha com o texto?

2 - No texto, a metáfora do "animal arisco domesticado" é utilizada para descrever o processo de aprendizagem e disciplina. Discuta: por que o autor defende que a falta de obstáculos e de "perigo" na escola pode ser prejudicial para os alunos?

3 - O autor critica a "aprovação sem mérito" e a falta de "pedagogia da punição". Explique como o conceito de controle social se aplica a essa visão e quais as possíveis consequências sociológicas da ausência de disciplina no ambiente escolar.

4 - O texto contrasta o "poder de fogo" do professor (diplomas) com o das "armas de fogo" dos alunos. Analise o que essa metáfora revela sobre as relações de poder e a crise de autoridade na educação, de um ponto de vista sociológico.

5 - A frase "a dor pode ser mestra e a disciplina, companheira de jornada" resume uma visão de mundo. Em sua opinião, o que a Sociologia diria sobre o papel do sofrimento e do conflito na socialização de um indivíduo para a vida em sociedade?

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