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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

SATANÁS, ESTRATÉGIA; DEUS, A VERDADE. ("A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia." (Norman Schwarzkopf)









SATANÁS, ESTRATÉGIA; DEUS, A VERDADE. ("A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia." (Norman Schwarzkopf)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quem trabalha com estratégias quer, antes de tudo, economizar esforço. Tem consciência da insignificância do que oferece, mas procura dar valor àquilo, porque só tem isso para apresentar. No engodo, a embalagem torna-se mais valiosa que o produto. O grande problema é que as pessoas acreditam tratar-se de uma coisa e, depois, descobrem ser outra; decepcionam-se e fogem. Raramente alguém se deixa enganar duas vezes pela mesma isca.

Os objetivos da escola, por si só, deveriam se afirmar, mas acabam sendo endossados por estratégias — basta olhar os planejamentos dos professores. Ninguém precisa vender o que é essencial; o indispensável se procura naturalmente. O que precisa de estratégia para ser aceito é enganoso, e todo engano é passageiro, fútil. O que é necessário, de fato, tem em si mesmo a força do desejo: não exige linguagem apelativa nem artifício, apenas se impõe pelo próprio valor.

Talvez o ponto mais perigoso seja o de confundirmos estratégia com verdade. Quando isso acontece, já não discutimos ideias, mas embalagens; já não educamos, mas seduzimos. A estratégia, nesse sentido, cria um atalho que parece inteligente, mas esconde o vazio de um caminho sem substância. É claro que ninguém está livre da tentação de facilitar a própria vida — todos buscamos atalhos —, mas é justamente aí que mora a diferença entre transparência e manipulação. A escola, quando se deixa cativar pelo discurso estratégico, corre o risco de perder aquilo que deveria ser sua essência: a clareza de que ensinar é difícil, mas necessário. Só o que é verdadeiro permanece; o que depende de truque logo se dissolve.

Estratégia: manto do mal, do engano e da mentira. O bom senso repele qualquer coisa tornada obrigatória. Deus não trabalha com estratégia, mas com a verdade; seu caminho é sempre estreito e trabalhoso. Já a mentira precisa de outra mentira como estratégia para se sustentar e parecer verdade. "Perder tempo em aprender coisas que não interessam priva-nos de descobrir coisas interessantes." — Carlos Drummond de Andrade.

A mentira sempre foi o recurso do enganador para se vender; o verdadeiro, ao contrário, não precisa de embalagem bonita, porque é naturalmente desejável. "Existem em todo o homem, a todo o momento, duas postulações simultâneas, uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de precipitar-se no abismo." — Charles Baudelaire.


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O texto que acabamos de ler nos provoca a pensar sobre a diferença entre essência e aparência, um tema central para a sociologia. Ele nos faz questionar como a nossa sociedade, incluindo a escola, valoriza mais a "estratégia" do que a "verdade". Essa distinção é crucial para entender muitos fenômenos sociais. Vamos aprofundar essa discussão com algumas questões. Respondam de forma discursiva, buscando exemplos do texto e da realidade ao seu redor.


1 - O autor argumenta que "no engodo, a embalagem torna-se mais valiosa que o produto". Como essa ideia se relaciona com a sociedade de consumo? Cite exemplos do nosso cotidiano em que a "estratégia" de marketing parece mais importante que a qualidade real de um produto ou serviço.

2 - O texto afirma que "os objetivos da escola, por si só, deveriam se afirmar, mas acabam sendo endossados por estratégias". Com base nisso, discuta como a instituição escolar pode se afastar de sua função social principal (o ensino) ao adotar lógicas que se assemelham às do mercado.

3 - O autor faz uma dura crítica àquilo que "precisa de estratégia para ser aceito". Refletindo sobre a esfera política, qual seria a diferença entre a comunicação honesta de um projeto e a "linguagem apelativa" que o texto critica?

4 - A crônica contrapõe a "estratégia" com a "verdade", associando a primeira à "mentira" e a segunda a algo "trabalhoso". Em sua visão, como essa distinção pode ser aplicada para analisar a diferença entre um debate público construtivo e a disseminação de fake news?

5 - O texto menciona que "a mentira precisa de outra mentira como estratégia para se sustentar". Como podemos relacionar essa ideia com o conceito de legitimidade na sociologia? Por que um sistema ou uma ideia que se baseia apenas em "estratégias" tem mais dificuldade de se manter no longo prazo?

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