Pesquisar neste blog ou na Web
MINHAS PÉROLAS
domingo, 5 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
A (Lei)tura ex...amin(ativa)
Crônica
A (LEI)TURA EX...AMIN(ATIVA)
terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade
— Tenho que ler mais uma vez para lhe falar alguma coisa sobre o texto.
Foi ela virar as costas, e em nome do zelo, recolhi aquela cópia preciosa do meio daquela papelada, como um garimpeiro limpando suas pepitas. De repente, passou um vulto na janela, reacenderam minhas esperanças, corri até a porta para ver, era a colega da sala ao lado: departamento pedagógico. Chamei-a, pedi que lesse a crônica, ainda naquela tarde, para comentar comigo. Foi rápido, menos de dez minutos, ela retorna à sala de projetos, assenta-se à minha frente e com um ar de suspense, fez caras e bicos. Eu estava apreensivo, mas aguardei em silêncio até que ela me dissesse alguma coisa; finalmente:
— Olha, a crônica está muito boa, gostei muito! Só esse final que poderia ser mudado, pode desagradar alguns políticos.
Levantou-se e saiu. Não tive nenhum argumento iminente! Naquele instante, ela fez referência apenas ao óbvio! Então refleti pelo resto de tarde e parte da noite: Como gostaria que meu leitor tivesse modos tão ampliados de ler para realizar leituras mais extensivas, de forma que possa estabelecer vínculos cada vez mais estreitos entre o texto e outros textos, construindo referências sobre o funcionamento da literatura e entre esta e o conjunto cultural! Ou estou exigindo demais?
Este assunto é muito sério! Para você vê, ontem havia deixado um rascunho desta história que estou lhe narrando agora, em cima de minha escrivaninha, com o título: (Lei)tura Ex...amin(ativa). Minha esposa leu e perguntou:
— Como seria essa leitura "examinativa"?
Respondi que é o exame textual como prática daquele que sabe, de fato, atingir o pensamento alheio e visualizar com amplidão o objeto do texto, ou melhor, é um processo vivo de apuração tão profunda que vá até os elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e o conhecimento prévio do leitor ou entre o texto e outros textos já lidos.
— E como adquirir essa leitura? – perguntou-me novamente.
Continuei respondendo que a leitura competente faz parte da luta pela dignidade humana, é mais uma responsabilidade que um privilégio, para ser mais específico, é uma técnica de leitura particular da criatividade de cada um. E que não é difícil constatar que as manifestações mais substanciosas vêm geralmente daqueles que se aprofundam no conhecimento criterioso da realidade abjetiva. É o que vemos na vida de trabalho e de esforço das pessoas comuns e/ou das bem dotadas, num extraordinário empenho que as leva à superação de si mesmas, ou em termos, dos seus próprios limites.
Se elas me compreenderam, não sei, o importante é que nunca mais lerão esse texto como o fizeram, agora sempre em nível mais profundo.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 19/08/2009
Código do texto: T1761917
Código do texto: T1761917
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
|
Comentários
Comentar
01/09/2009 16:00 - Míriam Diniz
Pois é, menino... Difícil, não? Para quem está acostumado a ler "coisinhas" vai examinar o que? Adorei a crítica as companheiras. Andar encima do muro é mais oportuno. Parabéns! Beijos e até breve, voltarei é certo.
ALCANÇANDO AS VITÓRIAS (Dobradinha brasileira)
Crônica
ALCANÇANDO AS VITÓRIAS (Dobradinha brasileira)
Claudeci Ferreira de Andrade
Já era sabido que nosso Personagem Atleta tinha uma pergunta favorita nos locais de inscrição:
— A Vitória vai correr?
Tratava-se de uma cobiçada jovem. A princípio, ninguém entendia qual era sua preocupação, pois somava condições físicas superiores, por ter mais tempo de atletismo, e, também, porque nessa modalidade, mulher não disputa o mesmo prêmio com homem, mas ele não conseguia imprimir uma velocidade superior a da Vitória. Ele a tinha como uma espécie de puxadora. Mas, por que ele preferia ser puxado num correr tão lenta? E o pior, ele não reagia a nenhum incentivo dos espectadores, corria sempre bem concentrado. Em quê? Não sabemos, quero dizer, não sabíamos até que, de tão manso, no final de uma dessas “provas de rua”, foi flagrado numa fotografia, na qual apareciam o Personagem Atleta e a Vitória; pela disposição das imagens, percebeu-se claramente que ele não fora convidado para posar, estava um pouco desajeitado, porém seu olhar estava bem direcionado nas partes inferiores da moça. Agora as peças do quebra-cabeça começaram a se organizar. É verdade, ela corre sempre com esse shortinho de lycra rosa, curtinho! Desse jeito, ele nem precisava de muita imaginação para ficar preso por alguns momentos de devaneios. Ainda, passando a fotografia de mão em mão e em meio comentários maldosos, alguém concebeu uma ideia brilhante para ajudar o Personagem Atleta, era um teste de atração fatal.
— Mas, que ideia brilhante é esta? — perguntou um dos que ali estavam em meio às gargalhadas.
O outro explicou o plano que era convidá-la, com os mesmos trajes, para na próxima competição, fazer o percurso no "carro madrinha". Assim o fizemos, e ela aceitou, nem precisou muito dinheiro! O carro foi preparado de forma que ela ficasse bem exposta como quem ia apontando o caminho. Estava com o pé direito enfaixado para dissimular, ou melhor, adotava um comportamento de fachada. É chegada a hora, e o carro “isca” estava diante do pelotão pronto para a largada. Quem estava bem na frente, logo atrás do carro isca, era o Personagem Atleta! Parecia-nos sedento para mordê-la.
Foi dada a largada, para a prova de 10 km, que contava com a participação de 400 atletas. Era o aniversário de uma das cidades satélite de Goiânia. Por ser feriado, o beirado de todo percurso estava repleto de muitas pessoas. Todos os demais atletas tinham motivação suficiente para fazer uma boa corrida. Porém, o nosso Personagem Atleta tinha motivação extra. Depois de alguns minutos, ele foi visto no km 5 de boca aberta, babando, todavia liderando a prova, pois o carro o puxava e controlava a sua velocidade, de maneira alguma ele queria perder o objeto de vista. E com essa mesma obsessão, tivemos de aplaudi-lo! Ganhou uma competição pela primeira vez. Campeão! A Vitória e a vitória foram conquistadas!
Como ajudar alguém alcançar a vitória quando esse alguém só quer a Vitória?
Já era sabido que nosso Personagem Atleta tinha uma pergunta favorita nos locais de inscrição:
— A Vitória vai correr?
Tratava-se de uma cobiçada jovem. A princípio, ninguém entendia qual era sua preocupação, pois somava condições físicas superiores, por ter mais tempo de atletismo, e, também, porque nessa modalidade, mulher não disputa o mesmo prêmio com homem, mas ele não conseguia imprimir uma velocidade superior a da Vitória. Ele a tinha como uma espécie de puxadora. Mas, por que ele preferia ser puxado num correr tão lenta? E o pior, ele não reagia a nenhum incentivo dos espectadores, corria sempre bem concentrado. Em quê? Não sabemos, quero dizer, não sabíamos até que, de tão manso, no final de uma dessas “provas de rua”, foi flagrado numa fotografia, na qual apareciam o Personagem Atleta e a Vitória; pela disposição das imagens, percebeu-se claramente que ele não fora convidado para posar, estava um pouco desajeitado, porém seu olhar estava bem direcionado nas partes inferiores da moça. Agora as peças do quebra-cabeça começaram a se organizar. É verdade, ela corre sempre com esse shortinho de lycra rosa, curtinho! Desse jeito, ele nem precisava de muita imaginação para ficar preso por alguns momentos de devaneios. Ainda, passando a fotografia de mão em mão e em meio comentários maldosos, alguém concebeu uma ideia brilhante para ajudar o Personagem Atleta, era um teste de atração fatal.
— Mas, que ideia brilhante é esta? — perguntou um dos que ali estavam em meio às gargalhadas.
O outro explicou o plano que era convidá-la, com os mesmos trajes, para na próxima competição, fazer o percurso no "carro madrinha". Assim o fizemos, e ela aceitou, nem precisou muito dinheiro! O carro foi preparado de forma que ela ficasse bem exposta como quem ia apontando o caminho. Estava com o pé direito enfaixado para dissimular, ou melhor, adotava um comportamento de fachada. É chegada a hora, e o carro “isca” estava diante do pelotão pronto para a largada. Quem estava bem na frente, logo atrás do carro isca, era o Personagem Atleta! Parecia-nos sedento para mordê-la.
Foi dada a largada, para a prova de 10 km, que contava com a participação de 400 atletas. Era o aniversário de uma das cidades satélite de Goiânia. Por ser feriado, o beirado de todo percurso estava repleto de muitas pessoas. Todos os demais atletas tinham motivação suficiente para fazer uma boa corrida. Porém, o nosso Personagem Atleta tinha motivação extra. Depois de alguns minutos, ele foi visto no km 5 de boca aberta, babando, todavia liderando a prova, pois o carro o puxava e controlava a sua velocidade, de maneira alguma ele queria perder o objeto de vista. E com essa mesma obsessão, tivemos de aplaudi-lo! Ganhou uma competição pela primeira vez. Campeão! A Vitória e a vitória foram conquistadas!
Como ajudar alguém alcançar a vitória quando esse alguém só quer a Vitória?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 18/08/2009
Código do texto: T1760423
Código do texto: T1760423
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
Comentários
CONFISSÃO DE UM ANJO (A consequência do pecado de um anjo da guarda)
Crônica
CONFISSÃO DE UM ANJO (A consequência do pecado de um anjo da guarda)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Acompanhei, ao departamento pedagógico da subsecretaria, o professor-tutor Ci. Vi Ci quando entrou para entregar um levantamento do número de alunos, de salas e a capacidade das mesmas, para o reordenamento de rede escolar. Ele procurou pela senhora Li, coordenadora do grupo de técnicos auxiliares das escolas dessa regional (dupla pedagógica, tutores), para receber as boas-vindas como um servo bom e fiel, mas a cara dela estava para poucos amigos. Ele, por sua vez, estava apreensivo, pois não sabia se tinha realizado a tarefa como deveria. Afinal, recebera ordem truncada, não fora um documento escrito (ofício). Contudo, sentou-se à mesa que a ilustre estava atendendo e quebrou o gelo.
— Bom dia! Aqui estão as informações.
— Onde estão os Gestores das escolas de sua responsabilidade?
– perguntou Li corpo a corpo.
Ele respondeu exatamente o que ela esperava ouvir, pois não havia nenhum Gestor ali.
— Foram convocados e até assinaram meu relatório de visitas, aqui está (eram três folhas abordando o objetivo das visitas do tutor), se não compareceram, é porque julgaram não ser tão importante assim!
Vi Ci pôr à mesa três folhas de relatório devidamente assinadas, porque a coordenadora nem sequer estendeu a mão para pegá-las. Assim, depois de um minuto de embaraçoso silêncio, Li concorda:
— Então, vamos fazer o que dá para fazer já que eles não vieram.
Percebi que ela não estava disposta; pareceu-me estressada. Mas, organizou seus formulários e começou o interrogatório, parecia uma delegada, criando armadilhas para pegar o culpado.
— Quais as medidas das salas? Por onde começa a numeração das salas? Quantas salas são? Que escola é essa? Quais turmas funcionam na sala nº. 1 nos três turnos? Blá blá blá...?
De vez em quanto, entre um telefonema e outro, ela voltava à mesa para mais um raud. Senti-me na obrigação de abrir a contagem para salvar quem estava na “lona”, porém vi Ci, desta vez, levantar-se cambaleando para o golpe final.
— Você não me pediu quais turmas funcionam em tais e tais salas, nos três turnos, mas posso telefonar para as escolas e providenciar essas informações que deseja, agora.
Foi aí que ela esbofou, como um soco fatal, usando palavras numa organização não muito didática:
— Eu estou cheia desses tutores e, se depender de mim, não vou escolher você para o próximo ano (2004).
Eu não sabia verdadeiramente o que se passava na mente dela, porque o anjo seu era outro, contudo era uma “competição” desleal. Assim, justifiquei-me e roubei aquelas folhas de relatório.
Durante o recesso de final de ano, vi Ci, por várias vezes, falando ao Pai, pedindo que eu o ajudasse na escolha: continuar na função de tutor ou voltar à regência em sala de aula. Impossível, não fui autorizado ajudá-lo! Cometi um pecado, por isso o Pai não me promoveu, agora sou o anjo dela.
Acompanhei, ao departamento pedagógico da subsecretaria, o professor-tutor Ci. Vi Ci quando entrou para entregar um levantamento do número de alunos, de salas e a capacidade das mesmas, para o reordenamento de rede escolar. Ele procurou pela senhora Li, coordenadora do grupo de técnicos auxiliares das escolas dessa regional (dupla pedagógica, tutores), para receber as boas-vindas como um servo bom e fiel, mas a cara dela estava para poucos amigos. Ele, por sua vez, estava apreensivo, pois não sabia se tinha realizado a tarefa como deveria. Afinal, recebera ordem truncada, não fora um documento escrito (ofício). Contudo, sentou-se à mesa que a ilustre estava atendendo e quebrou o gelo.
— Bom dia! Aqui estão as informações.
— Onde estão os Gestores das escolas de sua responsabilidade?
– perguntou Li corpo a corpo.
Ele respondeu exatamente o que ela esperava ouvir, pois não havia nenhum Gestor ali.
— Foram convocados e até assinaram meu relatório de visitas, aqui está (eram três folhas abordando o objetivo das visitas do tutor), se não compareceram, é porque julgaram não ser tão importante assim!
Vi Ci pôr à mesa três folhas de relatório devidamente assinadas, porque a coordenadora nem sequer estendeu a mão para pegá-las. Assim, depois de um minuto de embaraçoso silêncio, Li concorda:
— Então, vamos fazer o que dá para fazer já que eles não vieram.
Percebi que ela não estava disposta; pareceu-me estressada. Mas, organizou seus formulários e começou o interrogatório, parecia uma delegada, criando armadilhas para pegar o culpado.
— Quais as medidas das salas? Por onde começa a numeração das salas? Quantas salas são? Que escola é essa? Quais turmas funcionam na sala nº. 1 nos três turnos? Blá blá blá...?
De vez em quanto, entre um telefonema e outro, ela voltava à mesa para mais um raud. Senti-me na obrigação de abrir a contagem para salvar quem estava na “lona”, porém vi Ci, desta vez, levantar-se cambaleando para o golpe final.
— Você não me pediu quais turmas funcionam em tais e tais salas, nos três turnos, mas posso telefonar para as escolas e providenciar essas informações que deseja, agora.
Foi aí que ela esbofou, como um soco fatal, usando palavras numa organização não muito didática:
— Eu estou cheia desses tutores e, se depender de mim, não vou escolher você para o próximo ano (2004).
Eu não sabia verdadeiramente o que se passava na mente dela, porque o anjo seu era outro, contudo era uma “competição” desleal. Assim, justifiquei-me e roubei aquelas folhas de relatório.
Durante o recesso de final de ano, vi Ci, por várias vezes, falando ao Pai, pedindo que eu o ajudasse na escolha: continuar na função de tutor ou voltar à regência em sala de aula. Impossível, não fui autorizado ajudá-lo! Cometi um pecado, por isso o Pai não me promoveu, agora sou o anjo dela.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 17/08/2009
Código do texto: T1759365
Código do texto: T1759365
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
Comentários
SER CRISTÃO OU "CRISTUDO", EIS A QUESTÃO! (O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem. — Confúcio )
Crônica
SER CRISTÃO OU "CRISTUDO", EIS A QUESTÃO! (O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem. — Confúcio )
Claudeci Ferreira de Andrade
— "Eu sou o pastor fulano de tal" — ele começou, — "da igreja aqui perto. Minha filha [a fulana], estuda neste colégio há três anos. Ela tem apenas dezesseis anos e já é funcionária pública no Programa Jovem Cidadão. Cursa o primeiro ano do Ensino Médio no turno matutino; esta semana, ela faltou, por motivo de força maior."
Ele fez uma pausa, como se estivesse reunindo forças para o que viria a seguir. — "Estou aqui para denunciar o professor dela que a reprovou no ano passado. Agora ele anda dizendo umas coisas esquisitas que, acredito, vai reprová-la de novo. Ele disse, em sala de aula, que vai trabalhar para desenvolver as competências dos alunos. Então, ele está chamando minha filha de incompetente?" —Sua voz tremia de indignação. — "Ele falou que adota a filosofia educacional cujo centro é o aluno. Nisso também, eu queria saber se ele não dá importância à matéria de estudo, e as outras coisas? Minha filha falou que ele leu um texto na sala, afirmando que o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. Isso é antibíblico, absurdo!"
Ele continuou, cada palavra sua estava carregada de emoção: — "A Bíblia ensina que desde a transgressão de Adão, as crianças nascem com uma tendência para o mal, que se fortalece, ainda mais, com o passar dos tempos. Em desafio a isso, cremos ser possível converter esta tendência para o bem, até a perfeição, somente quando o indivíduo aceita Jesus."
Ele fez uma rápida pausa, olhando para a diretora. — "Uma educação que não preencha as necessidades e ajude o homem, tão dessemelhante de Deus, a cumprir o propósito para o qual foi destinado [amar, servir a Deus e a seu semelhante] não tem razão de ser. Ele também fica cantando as alunas com elogios, o incrível é que nenhuma delas quis testemunhar contra ele, deve ter alguma coisa por trás disso! Senhora gestora, estou fazendo esta denúncia não só por minha filha, mas também pelos outros. Ouvi dizer que ele é professor de Língua Portuguesa e fala muito errado, besteira até, na sala. Será que ele não sabe, a língua é um dom Divino que precisa ser trabalhado para promover o bem, pois além de expressar as ideias e os pensamentos, forma a consciência? Ele deve ensinar que cada um tem de prestar conta de cada palavra emitida. Também em uma outra aula, ele expôs um cartaz contendo os órgãos sexuais e falou de camisinha, isso é papel da família; ensinou para minha filha que o homem hoje é resultado do desenvolvimento evolutivo das associações humanas, com essas ideias do evolucionismo, extrapolou a vontade de Deus. Sabe, para mim, o aluno deveria aprender que as normas de seu ambiente deveriam ser aprovadas à luz da Palavra de Deus e que a instrução ideal provém quando se combina o natural com o sobrenatural. Será que a senhora diretora não conhece a extrema importância de um professor para a concretude de uma educação ideal! Pois, ninguém subestime a influência extraordinária que o bom professor exerce sobre a mente dos alunos. Por isso, mudanças profundas terão que acontecer aqui ou, então, eu vou à Secretaria de Educação Estadual, pedir um professor que possua ideais nobres, instintos generosos e normas éticas elevadas para que minha filha manifeste características tais. Sou membro do Conselho Escolar e tenho este direito."
O pai saiu apressado sem, nem mesmo, ouvir o que eu tinha para lhe dizer e deixou-me a visão de que a escola é a "prostituta da sociedade". Depois, a gestora confirmou minhas impressões dizendo: — "Eu acho que ele estava falando de você! Não preciso lhe dizer mais nada."
Ela aformoseou de boca torta um sorriso cínico e baixou a cabeça.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 16/08/2009
Código do texto: T1756883
Código do texto: T1756883
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
Comentários
Comentar
16/08/2009 11:27 - Erik Masters
Sou cristão, evangélico e o que vi na atitude desse pai foi um tremendo desrespeito ao que prega a Palavra, pois em momento algum ele respeitou seu semelhante. Alguns fanáticos acabam por denegrirem a imagem do verdadeiro evangélico,aquele que ama o próximo e privilegia o bem-estar entre irmãos. É lamentável, mas existem... aos montes.
GRAMÁTICA É SÉRIO (O alfabetizado é escravo e o analfabeto é miserável e o semianalfabeto tolo)
Crônica
GRAMÁTICA É SÉRIO (O alfabetizado é escravo e o analfabeto é misirável e o semianalfabeto tolo)
terça-feira, 30 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade
Era de costume, a professora pedagoga de formação parcelada, como "boa profissional" que era, sempre chegava mais cedo para escrever os recados da semana no quadro de avisos da sala dos professores. Apesar de serem recados úteis, ninguém os lia; um ou outro passava apenas os olhos e ria porque, quase sempre, estavam subscritos: à direção. Planejei usar, como desculpa, a crase mal empregada e dizer que o recado não era para mim, mas para a direção. Achei que os outros pensavam o mesmo. De tão cansada e desestimulada por não vê nada, do planejado acontecendo, ela então foi ao extremo quando, numa segunda-feira, ao me aproximar para ler os anúncios daquela semana, deparei-me com um forte apelo, em letras garrafais, colocado na parte superior do quadro, bem destacado: “LEIÃO”. Foi em um instante, enquanto fui ao bebedouro dos alunos tomar um copo d’água, que quando retornei, logo aquele quadro de avisos chamou-me a atenção novamente, agora com mais força. Um colega havia interpretado o então atrevido apelo, com uma boa pitada de humor, usando uma conjugação verbal um tanto estranha: “Se não puder leiar então leiam”. Disseram-me que a frase foi arte do professor Joaquim. Eu já tinha visto a conjugação do verbo Xerocar e, mais artisticamente, eu Tvjo que significa: ver televisão na primeira pessoa do presente do indicativo, mas naquele momento, tive que refletir um pouco mais sobre aquela locução verbal numa espécie de futuro do subjuntivo: “...puder leiar...”! Porém, para chegar alguma conclusão, precisei pensar em outra direção, não gramaticalmente. Questionei, para mim mesmo, a qualidade da formação acadêmica do profissional da educação, ou melhor, questionei minha qualidade profissional. Ao sair da sala dos professores, perguntei ao professor coordenador de turno Joaquim: Por que um bom número de profissionais da educação pública mantém seus filhos nas escolas particulares? Você não acha incoerente? Eu queria saber se esse comportamento tinha a ver com a qualidade de ensino público.
— Eu colocaria minha filha para estudar numa escola pública sem receio algum! E você Rapelle?— pergunta ele para a coordenadora pedagógica em questão, na busca de apoio.
— Meus filhos estudam em uma escola municipal e minha conclusão final é: não existe escola ruim e/ou professor ruim, mas, aluno ruim.
Então me perguntei novamente: E o que é aluno ruim? Fui resmungando até a sala em que eu ia ministrar minha primeira aula daquela noite. Era uma turma de 8a série que tinha aluno cujo seu próprio nome não sabia escrever corretamente. Nessa turma, propus-me, com a ajuda da coordenadora pedagógica, ensinar os tipos de redação; no final do mês, então, pedi um texto dissertativo para somar nota àquele primeiro bimestre. Investi muito esforço e paciência para corrigir, folha por folha, os textos que me entregaram.
No dia seguinte, ao devolvê-los corrigidos para que eles tomassem consciência das deficiências textuais, fui coroado com um abaixo assinado, contendo muitas assinaturas, reprovando-me como professor deles. Pelas conversas informais no pátio e pelas confidências até pensava que tinha alguns bons estudantes, ali! Fui traído!
Passaram-se os dias; não pude me esquecer daquele dia, no qual, bem intencionado, havia decidido ensiná-los melhor, motivado pela reflexão feita sobre os erros ortográficos da professora coordenadora, responsável pelos os anúncios para os professores. E então, me perguntei quem era o ruim: eu, ou a escola, ou o aluno?
Hoje depois de seis meses, retornei àquela escola para rever os amigos que ali deixei. O quadro de funcionários já não é o mesmo, mas o professor Joaquim continua lá com o mesmo espírito de humor, agora está lecionando matemática, contudo me contou um fato interessante, pareceu-me que ainda se lembrava da teoria de Rapelle: “... ruim é o aluno”.
— Professor, tenho uma novidade para lhe contar, — disse-me ele entusiasmado — este ano vieram duas moças bonitas do colégio vizinho, ambas as moças acabaram de concluir o terceiro ano do Ensino Médio, magistério, foram colegas na mesma sala: uma veio para assistir aulas de reforço na 8a série porque se sentia fraca; a outra veio lecionar matemática para a mesma 8a série porque se achava muito forte.
Não me convenceu. Ele, no final, se contradisse sem sentir. Já na saída, depois de termos cruzado com um senhor distinto.
— Você viu esse senhor educado que passou aqui agora por nós! — disse Joaquim — É o pai da jovem professora de matemática da 8a série, minha colega. Ele é um político muito influente na cidade e consegue muitas coisas para nossa escola!
Lamento pela evidente conclusão que o alfabetizado é escravo e o analfabeto é miserável e o semianalfabeto tolo.
Claudeci Ferreira de Andrade
Era de costume, a professora pedagoga de formação parcelada, como "boa profissional" que era, sempre chegava mais cedo para escrever os recados da semana no quadro de avisos da sala dos professores. Apesar de serem recados úteis, ninguém os lia; um ou outro passava apenas os olhos e ria porque, quase sempre, estavam subscritos: à direção. Planejei usar, como desculpa, a crase mal empregada e dizer que o recado não era para mim, mas para a direção. Achei que os outros pensavam o mesmo. De tão cansada e desestimulada por não vê nada, do planejado acontecendo, ela então foi ao extremo quando, numa segunda-feira, ao me aproximar para ler os anúncios daquela semana, deparei-me com um forte apelo, em letras garrafais, colocado na parte superior do quadro, bem destacado: “LEIÃO”. Foi em um instante, enquanto fui ao bebedouro dos alunos tomar um copo d’água, que quando retornei, logo aquele quadro de avisos chamou-me a atenção novamente, agora com mais força. Um colega havia interpretado o então atrevido apelo, com uma boa pitada de humor, usando uma conjugação verbal um tanto estranha: “Se não puder leiar então leiam”. Disseram-me que a frase foi arte do professor Joaquim. Eu já tinha visto a conjugação do verbo Xerocar e, mais artisticamente, eu Tvjo que significa: ver televisão na primeira pessoa do presente do indicativo, mas naquele momento, tive que refletir um pouco mais sobre aquela locução verbal numa espécie de futuro do subjuntivo: “...puder leiar...”! Porém, para chegar alguma conclusão, precisei pensar em outra direção, não gramaticalmente. Questionei, para mim mesmo, a qualidade da formação acadêmica do profissional da educação, ou melhor, questionei minha qualidade profissional. Ao sair da sala dos professores, perguntei ao professor coordenador de turno Joaquim: Por que um bom número de profissionais da educação pública mantém seus filhos nas escolas particulares? Você não acha incoerente? Eu queria saber se esse comportamento tinha a ver com a qualidade de ensino público.
— Eu colocaria minha filha para estudar numa escola pública sem receio algum! E você Rapelle?— pergunta ele para a coordenadora pedagógica em questão, na busca de apoio.
— Meus filhos estudam em uma escola municipal e minha conclusão final é: não existe escola ruim e/ou professor ruim, mas, aluno ruim.
Então me perguntei novamente: E o que é aluno ruim? Fui resmungando até a sala em que eu ia ministrar minha primeira aula daquela noite. Era uma turma de 8a série que tinha aluno cujo seu próprio nome não sabia escrever corretamente. Nessa turma, propus-me, com a ajuda da coordenadora pedagógica, ensinar os tipos de redação; no final do mês, então, pedi um texto dissertativo para somar nota àquele primeiro bimestre. Investi muito esforço e paciência para corrigir, folha por folha, os textos que me entregaram.
No dia seguinte, ao devolvê-los corrigidos para que eles tomassem consciência das deficiências textuais, fui coroado com um abaixo assinado, contendo muitas assinaturas, reprovando-me como professor deles. Pelas conversas informais no pátio e pelas confidências até pensava que tinha alguns bons estudantes, ali! Fui traído!
Passaram-se os dias; não pude me esquecer daquele dia, no qual, bem intencionado, havia decidido ensiná-los melhor, motivado pela reflexão feita sobre os erros ortográficos da professora coordenadora, responsável pelos os anúncios para os professores. E então, me perguntei quem era o ruim: eu, ou a escola, ou o aluno?
Hoje depois de seis meses, retornei àquela escola para rever os amigos que ali deixei. O quadro de funcionários já não é o mesmo, mas o professor Joaquim continua lá com o mesmo espírito de humor, agora está lecionando matemática, contudo me contou um fato interessante, pareceu-me que ainda se lembrava da teoria de Rapelle: “... ruim é o aluno”.
— Professor, tenho uma novidade para lhe contar, — disse-me ele entusiasmado — este ano vieram duas moças bonitas do colégio vizinho, ambas as moças acabaram de concluir o terceiro ano do Ensino Médio, magistério, foram colegas na mesma sala: uma veio para assistir aulas de reforço na 8a série porque se sentia fraca; a outra veio lecionar matemática para a mesma 8a série porque se achava muito forte.
Não me convenceu. Ele, no final, se contradisse sem sentir. Já na saída, depois de termos cruzado com um senhor distinto.
— Você viu esse senhor educado que passou aqui agora por nós! — disse Joaquim — É o pai da jovem professora de matemática da 8a série, minha colega. Ele é um político muito influente na cidade e consegue muitas coisas para nossa escola!
Lamento pela evidente conclusão que o alfabetizado é escravo e o analfabeto é miserável e o semianalfabeto tolo.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 15/08/2009
Código do texto: T1755025
Código do texto: T1755025
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
MEU NOME, MINHA HONRA (O cara tinha o meu próprio nome!)
MEU NOME, MINHA HONRA (O cara tinha o meu próprio nome!)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Em nome da beleza, faz-se de tudo até passar fome! Porém, existem pessoas que pensam que é “bonito ser feio” e se valem de seus traços naturais para tirar proveito em algumas situações da vida. Como se não bastasse sua feiura tridimensional, um determinado sujeito levantou-se da cadeira de espera, com um ar ríspido e nervoso, usando passadas largas e pisadas fortes, dirigiu-se ao balcão da clínica que estávamos há horas e perguntou à moça recepcionista:
Em nome da beleza, faz-se de tudo até passar fome! Porém, existem pessoas que pensam que é “bonito ser feio” e se valem de seus traços naturais para tirar proveito em algumas situações da vida. Como se não bastasse sua feiura tridimensional, um determinado sujeito levantou-se da cadeira de espera, com um ar ríspido e nervoso, usando passadas largas e pisadas fortes, dirigiu-se ao balcão da clínica que estávamos há horas e perguntou à moça recepcionista:
— Que hora vou ser atendido?
— Já lhe falei, – disse a moça enfadadamente – o atendimento aqui é por ordem de chegada.
— Pois é por isso mesmo, – retrucou ele – por ordem de minha “chegada”, pois mudo o critério de atendimento, agora é por grau de beleza, não vê que sou o mais bonito aqui! (risos).
— Eu falei de chegada e não de sua “chegada” – brincou a moça, jogando com as palavras, mas ele não estava para brincadeira.
Foi aí que olhei mais atentamente para o sujeito. Queria ver se algum traço, daquele que se dizia lindo, se assemelhava com algo em mim, queria me sentir bem as suas custas. Mas que figura mal traçada! Olhei seus cabelos lambidos, nada! Sua cara avolumada, nada! Suas roupas mascadas, nada! Enfim, seu aspecto pipa, nada! Era mesmo desalinhado de cima a baixo! Desejei que ele se virasse de perfil, mais uma vez, para que eu pudesse confirmar minha estética superior, esguia. Todavia, o homem apesar de muito querer ser atendido rapidamente, não discutiu mais e fez finca-pé para sair, quando a moça esbofou em um grito:
— Já lhe falei, – disse a moça enfadadamente – o atendimento aqui é por ordem de chegada.
— Pois é por isso mesmo, – retrucou ele – por ordem de minha “chegada”, pois mudo o critério de atendimento, agora é por grau de beleza, não vê que sou o mais bonito aqui! (risos).
— Eu falei de chegada e não de sua “chegada” – brincou a moça, jogando com as palavras, mas ele não estava para brincadeira.
Foi aí que olhei mais atentamente para o sujeito. Queria ver se algum traço, daquele que se dizia lindo, se assemelhava com algo em mim, queria me sentir bem as suas custas. Mas que figura mal traçada! Olhei seus cabelos lambidos, nada! Sua cara avolumada, nada! Suas roupas mascadas, nada! Enfim, seu aspecto pipa, nada! Era mesmo desalinhado de cima a baixo! Desejei que ele se virasse de perfil, mais uma vez, para que eu pudesse confirmar minha estética superior, esguia. Todavia, o homem apesar de muito querer ser atendido rapidamente, não discutiu mais e fez finca-pé para sair, quando a moça esbofou em um grito:
— Espere, seu Claudeci, nós vamos atendê-lo, agora é sua vez.
Mexi-me na cadeira novamente para aquela direção, pois ouvi meu nome, a palavra mais doce que meus ouvidos já provaram, porém foi difícil digerir. Ele voltou ao balcão com rapidez, enquanto eu conferia seu andar gravemente cambaleante, porque puxava da perna direita. O cara tinha o meu próprio nome! Então comecei refletir melhor, como um artesão diante de uma porção de massa de modelar disforme, querendo construir uma obra perfeita. Agora era uma questão de honra ao nome. De repente um raio de luz convenceu-me; é verdade, o nome Claudeci tem o mesmo morfema lexical de Claudicar, que significa manquejar, por isso, este nome é mais dele que meu! Assim, nessa introspecção, esforcei-me para me desvencilha totalmente daquela figura mal educada, porém não pudia, uma força moral nos unia. E agora já consigo ver que seus olhos tinham o formato dos meus! Seus sapatos eram tão grandes quanto os meus! E não é que ele pisava um pouco para fora como faço quando caminho! O médico dele era exatamente o meu médico! O seu problema deveria ser semelhante ao meu! Ele demorou ali, ao meu alcance visual, por apenas mais dois minutos, mas o suficiente para eu perceber, também, que a sua camisa era do mesmo vermelho que a minha. Agora eu como um artista comecei a trabalhar sua própria imagem, e meu olhar salvador restaurou-me também a alma, porque já admitia sua lógica. Ele tinha razão quando disse que era o mais bonito, pois estava me elogiando também, por extensão. O que não entendi até hoje, é por que fui atendido só depois dele se cheguei primeiro, e o atendimento era por ordem de chegada?! Tudo se acomoda a um ponto de vista cativo.
Mexi-me na cadeira novamente para aquela direção, pois ouvi meu nome, a palavra mais doce que meus ouvidos já provaram, porém foi difícil digerir. Ele voltou ao balcão com rapidez, enquanto eu conferia seu andar gravemente cambaleante, porque puxava da perna direita. O cara tinha o meu próprio nome! Então comecei refletir melhor, como um artesão diante de uma porção de massa de modelar disforme, querendo construir uma obra perfeita. Agora era uma questão de honra ao nome. De repente um raio de luz convenceu-me; é verdade, o nome Claudeci tem o mesmo morfema lexical de Claudicar, que significa manquejar, por isso, este nome é mais dele que meu! Assim, nessa introspecção, esforcei-me para me desvencilha totalmente daquela figura mal educada, porém não pudia, uma força moral nos unia. E agora já consigo ver que seus olhos tinham o formato dos meus! Seus sapatos eram tão grandes quanto os meus! E não é que ele pisava um pouco para fora como faço quando caminho! O médico dele era exatamente o meu médico! O seu problema deveria ser semelhante ao meu! Ele demorou ali, ao meu alcance visual, por apenas mais dois minutos, mas o suficiente para eu perceber, também, que a sua camisa era do mesmo vermelho que a minha. Agora eu como um artista comecei a trabalhar sua própria imagem, e meu olhar salvador restaurou-me também a alma, porque já admitia sua lógica. Ele tinha razão quando disse que era o mais bonito, pois estava me elogiando também, por extensão. O que não entendi até hoje, é por que fui atendido só depois dele se cheguei primeiro, e o atendimento era por ordem de chegada?! Tudo se acomoda a um ponto de vista cativo.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 14/08/2009
Código do texto: T1754328
Código do texto: T1754328
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
A BABILÔNIA DE BRANCO (O pecado justificado)
Crônica
A BABILÔNIA DE BRANCO (O pecado justificado)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Por que está assim impecável, toda no linho branco?!
— Hoje sou a pregadora oficial em minha igreja, é santa ceia! Não estou bem assim?
Claro, é que a última vez que vi alguém todo vestido de linho branco, fiquei impressionado, esse não poderia ser uma pessoa comum porque não era Réveillon; talvez um fantasma! Porque de longe me parecia muito estranho, mas era meio-dia, na porta de um dos restaurantes mais movimentados de Goiânia! O que um fantasma faria ali em pé, escorado no portal, olhando para a rua? Seria um pagodeiro! Não, pagodeiro geralmente é negro, ele era loiro de olhos claros!
À medida que fui me aproximando, reconsiderei, pode ser um Anjo! Por que não? Hoje, nos tempos finais, os Anjos visitam nosso meio! Ou não é assim que diz a Bíblia? Mas, as asas que vi eram apenas os reflexos da luz da porta desajustada. Por um instante, subiu-me às narinas um cheiro de incenso, então, agora me pareceu um pai-de-santo! Não, não podia ser, era muito jovem para isso! O cheiro vinha do detergente da lavanderia ao lado, foi fácil descobrir. Um garçom? Também não seria, pois eles não gostam de sair à rua uniformizados! Era um marinheiro que havia deixado o quepe na mesa do almoço, enquanto dava uma olhadinha aqui fora? Não, não tinha nenhuma divisa nos ombros! Eu vi quando se virou para sair. Então, desceu em direção ao açougue, do mesmo lado da rua, um pouco abaixo, mas, também, não era açougueiro porque ele vestia linho, e os seus sapatos estavam polidos! Na outra quadra, do outro lado da rua, avistei a enfermaria do Hospital São Lucas, que ficava nos fundos, desta vez, pensei que poderia ser um enfermeiro ou médico, as chances diminuíram quando levei em conta sua maleta preta na mão direita e óculos pretos no rosto, e, por último, também não entrou lá. Ele tirou do bolso da camisa um cigarro e continuou descendo a rua fumando. Não, um agente de saúde fumante não é coerente! Lembrei-me que os cabeleireiros também usam branco, porém não era o caso aqui, apesar do homem ter uns movimentos bastante delicados, ele era alto.
E agora?! Diminuiu os passos, eu já estava a quase três metros atrás dele, quando olhou para mim, tentei disfarçar, olhando para baixo, todavia entendi que ele, apenas, queria se certificar que não estava sendo observado, nada percebendo, entrou rapidamente em uma porta de vaivém e desapareceu.
Entretanto, para mim, a identificação daquele homem seria uma confirmação que o branco significa pureza e transmite paz, podendo o uniforme ser coerente com a função do indivíduo. Sentei-me em um banco da praça, de onde pudesse ver quem entrava e saia daquela porta que não parava de abanar. O local era um motel com placa de hotel, isto é, um lugar de encontros amorosos camuflados. Entravam e saiam constantemente pessoas acompanhadas. Por que o homem de branco entrou sozinho e até agora ninguém saiu sozinho?
Às quinze horas, duas horas depois, quando já me preparava para desistir, de repente, uma mulher alta, mais ou menos da mesma estatura do referido homem, saiu de lá, sozinha, usando óculos pretos no rosto e uma maleta preta na mão direita, e com a outra mão empurrava um carrinho de bebê, contudo, a moça trajava-se como babá de família rica, vestia-se de branco; mas era uma saia tão curta e transparente que julguei ser uma prostituta Moderna, ou melhor, como dizem na gíria delas, uma delivery girl! Seus cabelos curtinhos, como costumam usar os homens, completaram os itens que me confirmavam a impressão de que tudo aquilo não passava de um cuidadoso disfarce. Caminhou fazendo o percurso de volta, ela andou tão rapidamente que não tive condições de acompanhá-la de perto! Porém, consegui, de relance, avistá-la quando entrou no mesmo restaurante, ali se misturou às outras mulheres que se trajavam mais ou menos parecidas. A cor branca predominava.
Agora, quando vejo alguém vestido de branco me pergunto: Quem era o homem de branco e qual a sua ocupação profissional? Neste mundo negro, ainda tem professor que veste jaleco branco para disfarçar o pó de giz, quem dera fosse a carapuça, pois o que é branco não é sujo.
Por que está assim impecável, toda no linho branco?!
— Hoje sou a pregadora oficial em minha igreja, é santa ceia! Não estou bem assim?
Claro, é que a última vez que vi alguém todo vestido de linho branco, fiquei impressionado, esse não poderia ser uma pessoa comum porque não era Réveillon; talvez um fantasma! Porque de longe me parecia muito estranho, mas era meio-dia, na porta de um dos restaurantes mais movimentados de Goiânia! O que um fantasma faria ali em pé, escorado no portal, olhando para a rua? Seria um pagodeiro! Não, pagodeiro geralmente é negro, ele era loiro de olhos claros!
À medida que fui me aproximando, reconsiderei, pode ser um Anjo! Por que não? Hoje, nos tempos finais, os Anjos visitam nosso meio! Ou não é assim que diz a Bíblia? Mas, as asas que vi eram apenas os reflexos da luz da porta desajustada. Por um instante, subiu-me às narinas um cheiro de incenso, então, agora me pareceu um pai-de-santo! Não, não podia ser, era muito jovem para isso! O cheiro vinha do detergente da lavanderia ao lado, foi fácil descobrir. Um garçom? Também não seria, pois eles não gostam de sair à rua uniformizados! Era um marinheiro que havia deixado o quepe na mesa do almoço, enquanto dava uma olhadinha aqui fora? Não, não tinha nenhuma divisa nos ombros! Eu vi quando se virou para sair. Então, desceu em direção ao açougue, do mesmo lado da rua, um pouco abaixo, mas, também, não era açougueiro porque ele vestia linho, e os seus sapatos estavam polidos! Na outra quadra, do outro lado da rua, avistei a enfermaria do Hospital São Lucas, que ficava nos fundos, desta vez, pensei que poderia ser um enfermeiro ou médico, as chances diminuíram quando levei em conta sua maleta preta na mão direita e óculos pretos no rosto, e, por último, também não entrou lá. Ele tirou do bolso da camisa um cigarro e continuou descendo a rua fumando. Não, um agente de saúde fumante não é coerente! Lembrei-me que os cabeleireiros também usam branco, porém não era o caso aqui, apesar do homem ter uns movimentos bastante delicados, ele era alto.
E agora?! Diminuiu os passos, eu já estava a quase três metros atrás dele, quando olhou para mim, tentei disfarçar, olhando para baixo, todavia entendi que ele, apenas, queria se certificar que não estava sendo observado, nada percebendo, entrou rapidamente em uma porta de vaivém e desapareceu.
Entretanto, para mim, a identificação daquele homem seria uma confirmação que o branco significa pureza e transmite paz, podendo o uniforme ser coerente com a função do indivíduo. Sentei-me em um banco da praça, de onde pudesse ver quem entrava e saia daquela porta que não parava de abanar. O local era um motel com placa de hotel, isto é, um lugar de encontros amorosos camuflados. Entravam e saiam constantemente pessoas acompanhadas. Por que o homem de branco entrou sozinho e até agora ninguém saiu sozinho?
Às quinze horas, duas horas depois, quando já me preparava para desistir, de repente, uma mulher alta, mais ou menos da mesma estatura do referido homem, saiu de lá, sozinha, usando óculos pretos no rosto e uma maleta preta na mão direita, e com a outra mão empurrava um carrinho de bebê, contudo, a moça trajava-se como babá de família rica, vestia-se de branco; mas era uma saia tão curta e transparente que julguei ser uma prostituta Moderna, ou melhor, como dizem na gíria delas, uma delivery girl! Seus cabelos curtinhos, como costumam usar os homens, completaram os itens que me confirmavam a impressão de que tudo aquilo não passava de um cuidadoso disfarce. Caminhou fazendo o percurso de volta, ela andou tão rapidamente que não tive condições de acompanhá-la de perto! Porém, consegui, de relance, avistá-la quando entrou no mesmo restaurante, ali se misturou às outras mulheres que se trajavam mais ou menos parecidas. A cor branca predominava.
Agora, quando vejo alguém vestido de branco me pergunto: Quem era o homem de branco e qual a sua ocupação profissional? Neste mundo negro, ainda tem professor que veste jaleco branco para disfarçar o pó de giz, quem dera fosse a carapuça, pois o que é branco não é sujo.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 13/08/2009
Código do texto: T1752519
Código do texto: T1752519
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
Comentários
03/01/2010 13:31 - Dinis
Estou complementando o texto anterior que ficou incompleto: " que matutar, quem realmnete era o homem de branco." Parabéns por essa lacuna de curiosidade! Um lápso nosso,ou mesmo do destino, nossos textos às vezes se perdem, pelos caminhos da vida. Estou também fazendo uma metáfora do que Li de sua autoria, O Cordel de Lourdinha e gostei muito. Mais uma vez parabéns. Um grande abraço, com muita ternura. DINIS
03/01/2010 13:08 - Dinis
Claudeci: Em primeiro lugar, fiquei muito grato pela sua visita; a qualquer momento sinta-se à vontade para tal. O seu texto Babilonia de Branco, é muito interessante e nos deixe uma incógnita. Parabéns, pela obrigação que tenho agora
Assinar:
Postagens (Atom)
Sábado Letivo: A Trágica Comédia do Sábado Letivo ("O fraco rei faz fraca a forte gente." — Luís de Camões)
O sábado deveria ser um dia sagrado de descanso. A Bíblia, em Exôdo 20:8-11, é clara: “Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias, e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado de Iahweh, teu Deus”. No entanto, na realidade da educação pública, o sábado se transformou em mais uma extensão do trabalho, uma farsa do descanso merecido. Em vez de reflexão e pausa, somos arrastados de volta à escola, com mais um compromisso imposto sob o nome de reuniões pedagógicas, que pouco têm de pedagógicas, além da nomenclatura.
O que deveria ser um momento de renovação, acaba por ser um pretexto para cumprir formalidades. Essas reuniões, frequentemente chamadas de "parada pedagógica" ou "trabalho coletivo escolar", não passam de um teatro sem real contribuição para nossa formação ou para a qualidade do ensino. Discutem-se assuntos irrelevantes, trocam-se favores, e, por vezes, até se despejam frustrações pessoais, como se o sábado fosse o dia da "lavação de roupa suja". Pergunto-me: onde está a verdadeira educação nesse caos? Onde está o compromisso com o aprendizado e com a reflexão genuína que nos ajude a crescer como educadores?
Já não me surpreende que muitos de nós, professores, participemos dessas reuniões apenas para evitar o corte no salário. Faltar a uma delas é uma dor no bolso, e para quem não deseja enfrentar esse transtorno, até contratar um substituto se torna uma opção, mesmo sabendo que ele está completamente desconectado da realidade da escola. Mas que contribuição um substituto pode dar aos temas tratados ali? E, no final, quem realmente se beneficia dessa farsa? Quem ganha com essas discussões vazias que ocupam nosso sábado sem acrescentar nada de concreto?
Essas reuniões não são mais do que uma formalidade para que os gestores possam aparentar que estão fazendo algo, mesmo quando, na prática, nada está sendo feito para melhorar a educação. O mais triste é perceber que, ao invés de estarmos cada vez mais perto do que realmente importa — o desenvolvimento do aluno, a qualidade do ensino e a formação contínua do professor — estamos cada vez mais distantes. Em vez de gastar o sábado com reuniões que não agregam valor, por que não investir esse tempo em atividades que realmente tragam resultados, que nos fortaleçam intelectualmente e nos renovem para o trabalho? O sistema educacional parece mais preocupado com a quantidade de horas cumpridas do que com a qualidade do que é discutido nessas horas.
Pior ainda é perceber que, no final de um encontro desses, o que se perde é a vitalidade intelectual. O que poderíamos ter aprendido, o que poderíamos ter refletido sobre nossas práticas, se esvai em formalismos que apenas drenam nossa energia. Como disse Luís de Camões, "o fraco rei faz fraca a forte gente". O fraco sistema educacional enfraquece até os mais comprometidos, até aqueles que realmente se dedicam a ensinar.
Infelizmente, a realidade da educação pública hoje gira em torno de manter as aparências, e não de melhorar o ensino. O foco está na quantidade: mais reuniões, mais formalidades, mais metas a cumprir. Mas e a qualidade? Onde está a verdadeira formação, a verdadeira preparação para o trabalho de educar? O tempo que gastamos nessas reuniões poderia ser melhor aproveitado, investido em atividades que realmente nos preparassem para os desafios da sala de aula. A cada sábado desperdiçado, a cada reunião inútil, o desânimo aumenta, e os professores, longe de se sentirem renovados, se sentem cada vez mais desmotivados.
No fim das contas, quem paga o preço por essa farsa somos todos nós. Nós, professores, que dedicamos nossa vida à educação, e os alunos, que acabam pagando com a falta de uma educação de qualidade. O sistema educacional, ao insistir em manter as aparências, nos empurra para um abismo onde a educação verdadeira fica cada vez mais distante.
A verdadeira revolução na educação não passa por mais reuniões, mais exigências. Passa pelo respeito ao nosso tempo, ao nosso conhecimento e à nossa capacidade de ensinar com qualidade. Se, ao invés de perpetuarmos esse ciclo de farsa, investíssemos em formação contínua, em reflexão genuína, em tempo para estudar e nos renovar, talvez a realidade da educação fosse outra. Mas, por enquanto, seguimos nesse jogo de aparências, onde o sábado não é mais um dia de descanso, mas um fardo a ser carregado. O sistema precisa entender que educar vai além das formalidades.
Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:
O texto critica as reuniões pedagógicas obrigatórias aos sábados. Quais as consequências dessas reuniões para a qualidade do ensino e para a vida pessoal dos professores?
Essa questão leva os alunos a refletir sobre a relação entre a quantidade de reuniões e a qualidade do ensino, além de analisar o impacto dessas reuniões na vida pessoal dos professores.
O autor argumenta que essas reuniões servem mais para cumprir formalidades do que para promover a melhoria do ensino. De que forma essa ênfase nas formalidades prejudica a educação?
A questão busca que os alunos compreendam a importância de focar na qualidade do ensino em vez de cumprir burocracias e como essa ênfase em formalidades pode impactar a aprendizagem dos alunos.
O texto menciona a falta de investimento em formação contínua dos professores. Como a falta de investimento em formação pode afetar a qualidade do ensino?
Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da formação continuada dos professores e como ela pode contribuir para a melhoria do ensino.
O autor questiona a eficácia das reuniões pedagógicas obrigatórias aos sábados. Que tipo de atividades poderiam substituir essas reuniões para promover a melhoria da educação?
A questão leva os alunos a propor alternativas para as reuniões pedagógicas, buscando atividades que sejam mais significativas e contribuam para a melhoria do ensino.
O texto destaca a importância do tempo livre para os professores. Como o tempo livre pode contribuir para a qualidade do trabalho docente e para o bem-estar dos professores?
Essa questão estimula os alunos a refletir sobre a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e como isso pode impactar o desempenho dos professores.